ABED ABED

Curso a distância para docente cresce 270%

04/11/2008

Aumento de matrículas em licenciaturas e pedagogia foi verificado em cinco anos; cursos presenciais cresceram 17%

Formação a distância para professores da educação básica divide pesquisadores; segundo o MEC, faltam 246 mil docentes no país

 

Enquanto as matrículas em cursos presenciais para formação de professores para educação básica estão quase estagnadas, a modalidade a distância vive uma explosão: em cinco anos, foram 270% de aumento.
No mesmo período, as matrículas presenciais (em licenciaturas, normal superior e pedagogia) cresceram apenas 17%.
A modalidade em que os alunos não vão todos os dias às faculdades tem sido uma opção para combater o déficit de professores na educação básica do país. Segundo o Ministério da Educação, faltam 246 mil docentes no país; 300 mil não são formados na área de atuação.
Especificamente em pedagogia (que forma educadores para ensino infantil e primeira fase do fundamental), houve até um recuo de matrículas no sistema presencial, de 4%, enquanto os cursos a distância cresceram 183%. Assim, para cada três matrículas presenciais nessa área, já há uma a distância.
Os dados foram tabulados com base no Censo da Educação Superior por Jaime Giolo, ex-diretor do Inep (instituto de estudos do MEC) e docente da Universidade de Passo Fundo (RS) -2006 é o último ano com informações disponíveis.

Divergências
A formação a distância para professores da educação básica divide os pesquisadores. "É uma resposta precária à necessidade de formação de professores", afirma o coordenador da pós-graduação em educação da USP, Romualdo Portela.
Giolo se mostra contrário. Para ele, um dos problemas é que o futuro professor não convive, durante o curso, com situações como enfrentamentos e conversas em sala, o que poderá pesar quando for efetivamente um docente.
A ex-secretária estadual de Educação de São Paulo e diretora-presidente do Instituto Protagonistes, Rose Neubauer, discorda. "Ou continuamos com falta de professores ou utilizamos a tecnologia para aumentar o número", diz.
Nos cursos a distância, centenas de alunos podem ver uma aula ao mesmo tempo, via satélite, que complementa as apostilas e a internet.
Para Neubauer, o ensino a distância permite, inclusive, que haja melhoria na qualidade. "Um bom professor pode dar aula ao mesmo tempo a um número incontável de alunos".
Estudo divulgado no ano passado pelo MEC mostrou que os calouros de cursos de pedagogia a distância tiveram notas melhores que os de presenciais no Enade (antigo provão). A situação, porém, se inverte com os formandos dos cursos.

Mais alunos
"Com a modalidade, chegamos a 39 locais do país", diz a assessora pedagógica da Universidade Metodista de SP, Adriana Barroso de Azevedo. Em pedagogia, são 1.500 alunos (mais que no presencial).
Outra instituição que possui mais alunos em pedagogia a distância do que no presencial são as Faculdades COC. A escola tem 148 pólos em 22 Estados; oito na capital paulista.
"Os alunos desses pólos poderiam fazer o presencial, mas preferem a flexibilidade da modalidade", diz o diretor da escola, Jefferson Fagundes. "Também pesam as mensalidades".
No COC, pedagogia presencial custa R$ 350 e R$ 176 no a distância. Na Metodista, os valores são R$ 383 e R$ 207.
Aluna de pedagogia a distância, Lilian Georgeto, 34, diz que escolheu o curso por "comodidade". Ela mora em Osasco (Grande SP). "Tenho dois filhos, não poderia ir à faculdade todos os dias. O curso é bom, tenho contato com colegas do país todo. Mas sinto falta da convivência com professores".
Segundo o secretário de Educação a Distância do MEC, Carlos Eduardo Bielschowsky, a intenção é que a modalidade "complemente" a presencial.
"Ela supre os locais onde não há um bom curso. É ideal também para professores que estão em serviço e não podem parar para se formar", diz.
Bielschowsky afirma que esse é o público preferencial da Universidade Aberta do Brasil, criada em 2005 e que possui 100 mil matriculados.
A modalidade também será utilizada pelo governo estadual paulista, por meio da Universidade Virtual de SP. "Levaremos cursos da USP, Unesp e Unicamp a todo o Estado. Isso seria praticamente inviável pelo presencial", diz o secretário de Ensino Superior, Carlos Vogt.

Rede pública investe no ensino a distância

Cerca de 80% das vagas se concentram nas particulares, mas universidades públicas começam a investir mais na área

Governo federal já tem 100 mil alunos matriculados na Universidade Aberta do Brasil; em SP, intenção é oferecer 6.600 vagas em 2009

O ensino a distância é dominado pela rede privada, mas o setor público também tem criado projetos nessa área.
O governo federal criou em 2005 a UAB (Universidade Aberta do Brasil), que já possui 100 mil alunos matriculados. O foco é a formação de professores de educação básica.
Segundo o secretário de Educação a Distância do MEC, Carlos Eduardo Bielschowsky, a intenção é que a modalidade "complemente" a presencial.
"Não é nossa intenção que o ensino presencial seja substituído. Mas a educação a distância pode atender os locais onde não há um bom curso. É ideal também para professores que estão em serviço e não podem parar para se formar", disse.
A modalidade também será utilizada pelo governo estadual paulista, a partir do ano que vem, por meio da Univesp (Universidade Virtual de SP).
"Levaremos cursos da USP, Unesp e Unicamp a todo o Estado, o que seria praticamente inviável pelo modelo presencial", diz o secretário de Ensino Superior do governo José Serra (PSDB), Carlos Vogt. A intenção é oferecer 6.600 vagas na graduação já em 2009.
Apesar dos projetos do setor público, a rede privada ainda concentra quase 80% das matrículas da modalidade.
"Com ela, chegamos a 39 locais do país", diz a assessora pedagógica da pró-reitoria de ensino a distância da Universidade Metodista de SP, Adriana Barroso de Azevedo.
Em pedagogia, são 1.500 estudantes. "Já são mais matrículas que o nosso presencial. Só assim podemos oferecer nossos cursos para várias regiões".
Outra instituição que possui mais alunos em pedagogia a distância do que no presencial são as Faculdades COC. A instituição tem 148 pólos em 22 Estados; oito na capital paulista, onde há o maior número de escolas superiores do país.
"Os alunos desses pólos, em tese, poderiam fazer curso presencial, mas preferem a flexibilidade do curso a distância", diz o diretor da Faculdade Interativa COC, Jefferson Fagundes.
Segundo Fagundes, também pesa a diferença na mensalidade. No COC, pedagogia presencial custa R$ 350, contra R$ 176 no a distância. Na Metodista, os valores são R$ 383 e R$ 207.
Aluna de pedagogia a distância, Lilian Kelly Georgeto, 34, diz que escolheu o curso por "comodidade". Ela mora em Osasco (Grande SP).
"Tenho dois filhos. Não poderia ir à faculdade todos os dias. Estudo enquanto um dorme e outro vai à escola. O curso é bom, tenho contato com colegas do país todo. Mas sinto falta da convivência com os professores."

CONTRA

Qualidade de curso ainda é duvidosa, diz pesquisadora
Coordenadora do Preal (Programa de Promoção e Reforma Educativa da América Latina e Caribe), a pesquisadora Denise Vaillant afirma que a formação inicial dos professores deve ser feita em "escolas reais, e não virtuais". A uruguaia aponta falta de qualidades em cursos a distância.

FOLHA - Como a senhora avalia os cursos a distância para formação de professores? 
DENISE VAILLANT
 - O problema é que muitos desses cursos têm qualidade duvidosa. A formação inicial dos professores exige atividades presenciais em centros de práticas. A formação de docentes requer trabalhos em grupo, prática nas escolas, o que não é possível fazer a distância. O que é possível é oferecer cursos de formação continuada a distância. 

FOLHA - Se são tão criticadas, porque eles crescem tanto?
VAILLANT
 - Como há muitas carências para a formação de professores, há demanda pelos cursos. Nem toda oferta é ruim, há propostas com potencial. 

FOLHA - Algum país da região criou bons projetos? 
VAILLANT
 - Chile e Colômbia têm bons modelos de formação, mas de educação continuada. Para a formação inicial, não há experiência na América Latina suficientemente avaliada e com resultados

FAVOR


Quem diz que curso presencial é bom?, questiona professor

Professor da USP e presidente da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), Frederic Litto rebate as críticas em relação à qualidade dos cursos a distância para formação de professores. "Até agora, ninguém mostrou dados quanto a isso. Nem dá para considerar." O americano, que coordenou até 2006 a Escola do Futuro da USP, questiona ainda a qualidade dos cursos presenciais de formação docente. "Quem disse que são bons?"


FOLHA - Por que o ensino a distância cresce tanto nessa área? 
FREDERIC LITTO
 - Há muitos professores no Brasil sem o curso superior. Como tirá-los do trabalho para fazer a atualização? Só pode ser com a flexibilidade do ensino a distância.


FOLHA - Uma das críticas à modalidade é que os alunos têm pouca convivência universitária, o que pode influenciar no momento de dar aulas. Como o senhor avalia isso?
LITTO
 - A maioria dos estudantes já são professores. Eles já conhecem a prática e precisam da teoria. Como o curso de pedagogia é bastante teórico, ele pode ser a distância. E complementado com estágios. 

FOLHA - Há críticas também quanto à qualidade. 
LITTO
 - Até agora, ninguém mostrou dados quanto a isso. Aliás, quem disse que os cursos presenciais são bons?


Fonte: Folha de S.Paulo
Voltar

Associados mantenedores

WhatsApp