Universidade Aberta busca ampliar inclusão educacional
16/01/2006
Muitos são os desafios do governo brasileiro em relação à Educação Superior no país. A restrita oferta de vagas e a falta de condições ideais para que os jovens possam ingressar em uma universidade se apresentam como grandes obstáculos. Para se ter uma idéia, segundo as últimas estatísticas do MEC (Ministério da Educação), apenas 10% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos têm acesso à graduação. Uma porcentagem muito inferior se comparada à de países vizinhos como Argentina (40%), Venezuela (26%), Bolívia (20,60%) e Chile (20,6%).
A meta do Plano Nacional de Educação, porém, é que até 2011 este índice alcance 30%. Uma perspectiva ousada se consideramos o atual panorama do Ensino Superior e a crise das universidades federais. Para atingir este objetivo, ações de grande porte já começaram a ser implementadas. Uma das mais ambiciosas e representativas é a UAB (Universidade Aberta do Brasil) que, na opinião de especialistas, significa a saída para a democratização do acesso ao Ensino Superior. Será verdade?
O projeto visa oferecer graduação gratuita a todos os 5.561 municípios brasileiros, permitindo que as 55 universidade federais e os 30 centros federais de educação tecnológica (Cefets) garantam uma educação a distância (EAD) pública e de qualidade em todo o território nacional. No entanto, o governo tem um conceito diferente de EAD. A idéia do MEC é incentivar a presença dos estudantes em pólos locais de estudos como forma de suporte educacional. O mesmo vale para os núcleos de Informática, já que nem todos os futuros universitários terão computadores com acesso à Internet.
Mas, para que a proposta saia do papel, o MEC contará com o apoio da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), do Fórum das Estatais pela Educação e, ainda, dos municípios e estados do país. "A iniciativa tem uma enorme capacidade de enfrentar dois dos problemas mais graves do Brasil: a desigualdade social e a regional. E a ajuda dos colaborados é essencial para vencermos esta luta", garante o secretário de Educação a Distância do MEC, Ronaldo Mota.
Este processo de parceria só ficará definido após o dia 13 de abril, prazo final para que os municípios e as universidades federais encaminhem suas propostas ao Ministério da Educação. "Será um compartilhamento de responsabilidades", explica o secretário. Os municípios serão responsáveis pela implementação dos pólos, da infra-estrutura, dos recursos tecnológicos, dos tutores e da equipe administrativa. Já a União tomará conta dos processos burocráticos como a formulação dos cursos; material didático; e pagamentos de tutores e professores envolvidos. "Desta forma, poderemos ampliar o atendimento em um nível que jamais alcançamos", comemora Mota.
Após esta etapa, o MEC começará a traçar os caminhos que a UAB vai percorrer em seus primeiros anos de vida. A princípio, será necessário conjugar a demanda por parte dos municípios com a capacidade de oferta do sistema federal. E, assim, partir para a implementação efetiva do projeto. A expectativa é de que as aulas se iniciem no primeiro semestre letivo de 2007. "Os programas que já estão em andamento, como o Pró-Licenciatura. Progressivamente farão parte do projeto global da Universidade Aberta", destaca.
Antes, porém, terá início em março de 2006 um curso piloto de Administração da UAB nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, Pará, Maranhão, Ceará e Distrito Federal.
Qualidade x oferta
Segundo o secretário, a qualidade dos laboratórios e dos cursos é que determinarão o sucesso da UAB. "Por isso, analisaremos criteriosamente todos os processos da implementação do projeto, desde a construção dos pólos até a elaboração do conteúdo programático dos cursos. E mais, os cursos passarão por uma avaliação e se não atenderem os padrões de qualidade estipulados pelo MEC não serão aprovados", argumenta Mota.
As ofertas dos cursos vão depender da demanda dos municípios. No entanto, serão priorizados os cursos de capacitação de professores para atender uma necessidade do Ministério da Educação. "É verdade que daremos uma prioridade para os cursos de licenciatura, mas não é verdade que as ofertas da Universidade Aberta se restringirão a eles", assegura o secretário. "Este é um fator que só poderemos identificar com mais rigor a partir do dia 13 de abril."
Cultura da EAD x cultura brasileira
Foram, aproximadamente, 30 tentativas frustradas para a criação da Universidade Aberta do Brasil. Será, desta vez, o momento de sua consolidação? Especialistas crêem que sim, embora alertem para empecilhos como a falta de cultura do povo brasileiro em utilizar a Educação a Distância e possíveis barreiras geradas pela máquina pública, em decorrência do ano eleitoral. "A expectativa é a melhor. Sem dúvida, a UAB trará muitos benefícios ao Ensino Superior do país, mas essa resposta só virá à tona em 2007. Até lá, temos muitos obstáculos a enfrentar. Entre eles, o resultado das eleições presidenciais de 2006, fator determinante para o sucesso desta empreitada", afirma o presidente da ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância), Frederic Michael Litto.
Em sua opinião, a consolidação da UAB está ligada ao resultado das eleições, pois o atual governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva foi responsável pela expansão da EAD no país. "Ao contrário do que aconteceu durante os oito anos em que Fernando Henrique Cardoso ficou no governo, Lula adotou uma série de medidas para o desenvolvimento da educação e encontrou na EAD uma ferramenta propulsora para esta expansão e qualidade do ensino", explica o professor Litto.
Ainda que a Educação a Distância tenha apresentado um crescimento significativo nos últimos anos, a ferramenta enfrenta ainda resistências. "Existe ainda uma crença muito forte de que a EAD seja uma educação de segunda linha. Isto porque esta não é uma cultura com a qual a comunidade universitária, de uma forma geral, está familiarizada", argumenta a reitora da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), Margarida Salomão.
Estes mesmos problemas, segundo Margarida, certamente se repetirão com a implementação da Universidade Aberta do Brasil. "Tudo que é novo gera uma natural desconfiança. Por isso, até que o projeto demonstre os seus efetivos resultados, terá que trabalhar com as objeções políticas que certamente surgirão por parte de alguns", diz. A reitora ressalta, ainda, que a Educação brasileira atravessa um momento de informatização e que, por isso, considera o movimento irreversível. "Temos que nos preocupar com a qualidade da formação, e não com suas alternativas", assegura.
Exemplos de sucesso
A Universidade Aberta é um modelo institucional que já existe em muitos outros países, uns até com grande representatividade na educação mundial. Um exemplo disso é a Universidade Aberta Britânica (Open University UK), do Reino Unido. A instituição oferece cursos gratuitos nas mais diversas áreas e atende, anualmente, mais de 800 mil alunos. No entanto, é reconhecida pela excelência de seus cursos e, hoje, é considerada uma das melhores universidades da Europa, concorrendo, inclusive, com as de ensino presencial.
A brasileira Andréia Inamorato dos Santos, 29 anos, teve a oportunidade de conferir de perto o sucesso desta iniciativa. Ganhou uma bolsa do governo britânico e, atualmente, cursa o Doutorado em Técnicas Educacionais na instituição. "A qualidade dos cursos realmente é o principal êxito da Universidade Aberta do Reino Unido. E foi por este motivo que optei por ela", conta. Além disso, a estudante alerta que a única coisa que a diferencia das demais instituições de ensino é o formato de como as aulas são conduzidas. "E mais: os estudantes podem usufruir algumas vantagens que o ensino convencional não proporcionaria. Por exemplo, os estudos podem ser realizados no horário que melhor lhes convier."
Segundo Andréia, a iniciativa do Governo Federal em implantar no Brasil um projeto similar ao do Reino Unido pode ser uma boa alternativa para enfrentar os problemas de exclusão geográfica do país. "A EAD pode ser uma forma de permitir com que as pessoas estudem sem as barreiras geográficas. Esta ferramenta permite que a Educação seja mais democratizada, oferecendo o Ensino Superior para todos, independente de sua classe social e econômica", assegura.
Mas, será que o sucesso do projeto também poderá ser similar ao alcançado pelo Reino Unido? O Brasil, na opinião da estudante, tem grande potencial para conquistar este reconhecimento e atingir a meta dos 30% de jovens na graduação. No entanto, é preciso que a UAB seja bem organizada e estruturada. "E muito mais do que isso: investir na qualidade dos cursos", conclui.
Fonte: Universia