Aluno é agente ativo
05/03/2007
Há alguns anos, o produtor de TV Alexandre Pinho recebeu a tarefa de fazer um vídeo sobre a criação de camarão. Na mesma época, Alexandre estudava Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Ele tinha que fazer imagens da desova dos camarões, que acontece apenas durante uma época do ano e tinha que comparecer às aulas, independente de camarões ou desovas. "A natureza não pode esperar, sabe?", diz. Então Pinho se deparou com um dilema que muitos universitários também enfrentam: "ou eu trabalhava para pagar a faculdade, ou eu ia para aula e perdia as oportunidades no mercado de trabalho".
O agora ex-aluno de Jornalismo da PUCRS e de Letras/Italiano na UFSC desistiu definitivamente da educação presencial porque não conseguia compatibilizar seu trabalho de produtor de TV com as aulas. Devido à falta de tempo, hoje Pinho é aluno da 1ª fase de Administração a distância da UFSC. Além dessa graduação, a universidade também oferece os cursos de Matemática e Física.
Os cursos de graduação a distância ou não-presenciais são uma modalidade de ensino em que o aluno quase não vai à faculdade e, às vezes, só o faz para realizar provas e apresentar trabalhos. Pinho conta que seu curso de Administração exige 30% de aulas presenciais, coisa que, segundo ele, supre o que ele sente mais saudade dos cursos presenciais: os colegas. "Sinto falta de encontrar os colegas, só nos encontramos durante as provas e seminários. Até porque a vida universitária não é só correr atrás do diploma, mas também as amizades que fazemos", diz.
As atividades presenciais costumam acontecer nos pólos, unidades de ensino conveniadas com a faculdade. Em março, o reitor da UFSC, Lúcio Botelho, irá inaugurar quatro novos pólos de EaD da UFSC: Chapecó, Pouso Redondo, Braço do Norte e Praia Grande. Com esta etapa, a UFSC completa 10 pólos em todo o Estado, faltando inaugurar ainda os pólos de Palhoça, Joinville e Canoinhas, previstos para o segundo semestre de 2007.
Para suprir não somente a ausência física dos colegas, mas também a do professor, os cursos a distância se valem de diversos recursos tecnológicos, como internet, bate-papo virtual, áudio ou videoconferência, rádio e TV. "A educação a distância é melhor que a presencial porque ela exige a elaboração de materiais de apoio muito mais eficientes do que a presencial, que só conta com a mediação aluno-professor", afirma o especialista em EaD, Fernando Spanhol. "O professor de EaD parte do pressuposto que o aluno não é um cidadão zerado, ele tem alguma bagagem de conhecimento. Por isso, pra EaD dar certo basta organização do aluno e do professor", completa.
"No curso presencial, o aluno geralmente é apenas receptor de informações, mas na EaD, o aluno se torna um agente ativo, pesquisa mais. Não deixa para fazer isso só no TCC", afirma Pinho. "Nós temos que nos apropriar de ferramentas contemporâneas para aprender. Que turma presencial faria uma comunidade no orkut para discutir assuntos de aula, por exemplo?", completa. O estudante de administração também acredita na importância dos tutores a distância, que ficam na universidade, acessíveis por e-mail, portal da instituição na internet ou telefone.
Os cursos a distância também contam com um processo de seleção. Para ingressar no curso de matemática, por exemplo, são avaliados os conhecimentos em Português, Matemática e Redação. O colegiado de cada curso delibera sobre as regras dos processos seletivos.
Preconceito
Um decreto do final do ano de 2005 regulamentou a equivalência irrestrita entre diplomas presenciais e a distância. O especialista em EaD condena aqueles que ainda duvidam da equivalência de qualidade entre as duas modalidades de ensino. "Muita gente não sabe, mas a maioria das pessoas que conserta aparelhos de televisão, por exemplo, aprendeu a fazer seu trabalho através de cursos a distância. E nós nunca tivemos preconceito de mandar consertar uma TV com essas pessoas", reflete.
Em 2005, havia 82 cursos de graduação e tecnológicos a distância credenciados no Brasil e mais de 109 mil alunos matriculados, segundo o Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância de 2006.
Fonte: Universidade Aberta