Governo brasileiro avalia laptop de US$ 100
14/12/2006O preço está um pouco acima do prometido (US$ 150), mas ainda assim começa a se concretizar o projeto idealizado por Nicholas Negroponte, pesquisador do MIT (Massuchussets Institute of Technology) e fundador do MIT MediaLab: promover a inclusão digital por meio da distribuição de laptops de US$ 100 a crianças de países com grande número de excluídos digitais. Para tanto, o pesquisador norte-americano criou uma ONG chamada OLPC (One Laptop Per Child ou, em português, um laptop por criança), com o objetivo de colocar em prática a idéia.
No final de novembro, Negroponte esteve no Brasil e apresentou ao presidente Luís Inácio Lula da Silva o primeiro laptop produzido pela organização. O modelo será testado por pesquisadores brasileiros, integrantes de um Grupo de Trabalho instituído pelo governo federal para definir os aspectos educacionais do projeto e validar a plataforma. Além do equipamento produzido pela OLPC, participam da análise equipamentos desenvolvidos por outras instituições. O vencedor assumirá a produção do computador portátil a ser distribuído a alunos e professores de escolas públicas dos ensinos Fundamental e Médio.
Para que os notebooks educacionais possam ser distribuídos a crianças e professores da rede pública é preciso que, antes, o Governo Federal escolha um dos modelos que estão sendo desenvolvidos por várias empresas. Hoje, os computadores do projeto são produzidos por uma empresa de Taiwan, a Quanta. Mas a proposta da ONG é que cada país fabrique suas máquinas para contribuir com a produção econômica nacional.
De todo modo, o Brasil foi o primeiro país a receber o produto final da OLPC para a realização de testes. O privilégio não foi concedido à toa: o governo brasileiro vem apoiando a idéia desde o início, além de ser um dos defensores do uso de software livre. Depois do Brasil, o mesmo equipamento deve ser analisado pelos governos da Argentina, Nigéria, Líbia e Tailândia.
Para a realização da análise, já em dezembro, três centros de pesquisas brasileiros receberam 50 unidades do equipamento e, em janeiro, outras mil máquinas chegarão ao país para a realização de testes nas escolas. Na atual fase de desenvolvimento do projeto, o laptop criado pela OLPC tem custo de US$ 150, mas a meta é chegar a apenas cinqüenta dólares até 2010. Tanto o governo brasileiro quanto a OLPC acreditam que a distribuição de computadores aos professores e alunos é o maior projeto de inclusão digital já criado no mundo.
Pequeno e potente
Mesmo aparentemente frágil, o computador portátil projetado pela OLPC tem as crianças como potenciais usuários e, por isso mesmo, é muito resistente. A máquina possui duas "antenas" que permitem conexão sem fio com redes de banda larga, além da possibilidade de se conectar com seu vizinho mais próximo, criando uma rede local. No projeto idealizado pelo governo federal, o sinal da banda larga seria transmitido por escolas, prefeituras, centros comunitários e outros locais, o que será feito por meio de ações governamentais e/ou parcerias com a iniciativa privada.
Além disso, o computador portátil pode ser usado mesmo em locais sem energia elétrica, já que utiliza uma fonte de energia manual: uma espécie de cordão que se puxa para carregá-lo, como o dos cortadores de grama. Isso permite que o "projeto educacional", como diz Negroponte, chegue a regiões remotas do planeta. Outra das vantagens do equipamento é que ele funciona inclusive sob a luz do sol e tem baixo consumo de energia, estimado como algo entre 1/10 ou 1/20 do consumo de um laptop comum.
Testado por especialistas
Ainda em novembro, o site IDG Now, especializado em tecnologia, realizou uma série de testes com o equipamento da OLPC; e os resultados foram animadores. O site comprovou o peso do equipamento (1,5 kg) propagado pela OLPC, o que facilita seu transporte por crianças, o que é facilitado ainda mais pela existência de uma alça plástica.
A conclusão foi de que o notebook funciona muito bem para algo dito tão limitado pelo próprio Negroponte. Como era de se esperar, o teclado é apertado e mal comporta os dedos de adultos. O acessório apresenta as modificações já reveladas pela OLPC, como a retirada da tecla Caps Lock e inclusão de caracteres regionais, como o "Ç", por exemplo.
Logo abaixo, o touch pad – onde o ponteiro do mouse é controlado – tem o triplo do tamanho dos encontrados nos notebooks convencionais, o que também facilita seu manuseio pelas crianças. Mesmo orgulhoso do trabalho de sua organização, Negroponte é direto sobre aspectos do XO que deverão mudar. Sobre o teclado, por exemplo, ele afirma que o material emborrachado usado não é aderente o suficiente e deverá ser trocado. Além disso, ao invés de dar relevo, o fabricante afundou sutilmente os botões, falhando no intuito de ajudar crianças a encontrar as letras.
Concorrência
Ao mesmo tempo em que o Grupo de Trabalho indicado pelo governo federal inicia a análise do laptop produzido pela OLPC, pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista), liderados pelo professor Eduardo Morgado, projetaram uma máquina tão barata quanto. Chamado Cowboy, o equipamento promete ser uma alternativa ao projeto norte-americano: é menor que um laptop convencional, funciona com uma versão mais simples do Windows e tem capacidade de processamento similar a um PC Pentium 3.
O Cowboy, cujo protótipo foi feito a um custo de US$ 250 (podendo chegar a menos de US$ 200 em escala industrial), tem acesso à internet sem fio e à rede de dados utilizada pela telefonia celular tradicional, exatamente como o modelo da OLPC. A diferença está no sistema operacional. De acordo com os idealizadores do projeto, a escolha do Windows se deu por sua popularidade e pelo fato de o Linux ainda não ter se firmado como alternativa viável aos usuários comuns de computadores.
O projeto Cowboy levou um ano para ser concluído e consumiu cerca de R$ 80 mil em investimentos em pesquisa. Desde sua concepção, o objetivo dos idealizadores foi buscar simplicidade e conforto para os usuários. A tela tem 10 polegadas, mas pode ser substituída por um monitor ou mesmo uma TV. O sistema operacional utilizado é o Windows CE, hoje encontrado em handhelds, e o chip é fabricado no Brasil.
Fonte: SENAC-SP