Notas Estatísticas
As Notas Estatísticas do Censo da Educação Superior, publicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), têm como objetivo contextualizar os dados coletados anualmente, destacando tendências, alterações metodológicas e aspectos relevantes da edição mais recente do levantamento.
Elaboradas para apoiar a interpretação qualificada dos resultados, essas notas oferecem uma visão ampliada do cenário do ensino superior no Brasil, com dados sobre matrículas, oferta e distribuição de cursos, perfil dos estudantes, titulação docente, entre outros indicadores. Constituem, assim, uma ferramenta fundamental para pesquisadores, gestores, formuladores de políticas públicas e toda a sociedade, promovendo transparência e compreensão dos dados educacionais.
No contexto da Educação a Distância (EaD), essas notas se tornam ainda mais relevantes. Permitem acompanhar de forma precisa a rápida expansão da modalidade, bem como compreender seus impactos, desafios e oportunidades. Ao interpretar os dados com recortes específicos da EaD, é possível identificar mudanças estruturais no sistema de ensino superior, contribuindo para a formulação de políticas e estratégias voltadas à qualidade, à inclusão e à inovação na modalidade.
A edição mais recente das Notas Estatísticas evidencia a manutenção do crescimento expressivo da Educação a Distância (EaD). Em 2023, a modalidade EaD concentrou 66% dos ingressantes no ensino superior, totalizando 3.314.402 estudantes, o que consolida sua posição como principal via de expansão, diversificação e interiorização da educação superior no país.
A seguir, destacamos e analisamos brevemente alguns gráficos selecionados das Notas Estatísticas do Censo da Educação Superior de 2023, com ênfase especial nos dados relacionados à Educação a Distância (EaD). Esses recortes visuais permitem compreender com mais clareza as principais dinâmicas e transformações da modalidade no cenário educacional brasileiro atual.
Fonte: Brasil (2024, p. 14).
O Gráfico 6 evidencia uma significativa transformação no cenário do ensino superior brasileiro entre 2013 e 2023. Enquanto, no início do período, a modalidade presencial concentrava a grande maioria dos ingressantes, observa-se uma inflexão significativa a partir de 2018, quando os cursos a distância passaram a registrar um crescimento contínuo. Em 2023, a Educação a Distância (EaD) respondeu por 66% dos ingressos em cursos de graduação, com mais de 3,3 milhões de estudantes, consolidando-se como a principal via de acesso ao ensino superior no país. Esse avanço reflete mudanças nas preferências dos estudantes, maior flexibilidade proporcionada pela modalidade e um movimento consistente de interiorização e democratização do acesso à educação superior. Em 2023, de cada três estudantes que ingressam no ensino superior no Brasil, dois (2/3) escolhem um curso a distância.

Fonte: Brasil (2024, p. 21).
O Gráfico 16 evidencia de forma clara a concentração da oferta de cursos de graduação a distância nas instituições privadas de ensino superior, que em 2023 responderam por 95,9% das matrículas nessa modalidade. Em contraste, as instituições públicas representaram apenas 4,1%, revelando uma significativa desproporção na participação por categoria administrativa.
Esse dado reforça a constatação de que o crescimento expressivo da Educação a Distância no Brasil nas últimas décadas tem sido impulsionado majoritariamente pelo setor privado, que expandiu rapidamente sua infraestrutura, plataformas tecnológicas e estratégias de captação de estudantes. Por outro lado, a baixa participação das instituições públicas pode estar relacionada a fatores como restrições orçamentárias, limites legais de vagas e maior tempo de adaptação às transformações tecnológicas e regulatórias.
A discrepância também levanta debates importantes sobre equidade no acesso, já que a presença limitada da EaD pública pode dificultar que estudantes de baixa renda ou de regiões remotas tenham alternativas gratuitas na modalidade. Ampliar a oferta pública de EaD, especialmente por meio da Universidade Aberta do Brasil (UAB) — que reúne universidades federais, institutos federais, universidades estaduais e centros universitários estaduais — e das Universidades Virtuais — como a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) e UnAC (Universidade Aberta Capixaba) —, e pode ser um caminho estratégico para democratizar ainda mais o ensino superior no Brasil.
Fonte: Brasil (2024, p. 23).
O Gráfico 19 evidencia uma transformação estrutural no perfil das graduações tecnológicas no Brasil ao longo da última década. Em 2013, a modalidade presencial concentrava a maior parte das matrículas, enquanto a Educação a Distância (EaD) ainda representava uma participação menor nesse segmento. No entanto, a partir de 2018, e especialmente a partir de 2019, observa-se um crescimento acelerado e sustentado das matrículas na modalidade a distância.
Em 2023, essa mudança se consolidou: a EaD passou a representar a ampla maioria das matrículas em cursos tecnológicos, com mais de 1,67 milhão de estudantes, frente a apenas 356 mil na modalidade presencial. Esse movimento reflete não apenas uma mudança nas preferências dos estudantes, mas também respostas do setor educacional à demanda por flexibilidade, escalabilidade e maior acesso à formação profissional e tecnológica.
As graduações tecnológicas, com duração mais curta e foco em competências específicas para o mundo do trabalho, dialogam de forma particularmente intensa com o potencial da EaD. A oferta a distância permite atingir públicos diversos, muitas vezes trabalhadores em busca de requalificação, pessoas de regiões afastadas dos centros urbanos ou estudantes que necessitam de modelos educacionais mais adaptáveis às suas rotinas.
Esse crescimento também impõe desafios importantes em termos de qualidade, regulação, infraestrutura tecnológica e articulação com o setor produtivo, especialmente no que diz respeito à realização de atividades práticas e estágios supervisionados. O avanço da EaD nesse segmento reafirma seu papel estratégico na ampliação do acesso à educação superior de natureza tecnológica no Brasil.
Referência
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep. Censo da Educação Superior 2023: notas estatísticas. Brasília, DF: Inep, 2024.
Notas Estatísticas 2023