TCD2 012 - PRÁTICAS DE ENSINO SUPERIOR ON-LINE: O PAPEL DO TUTOR NESTE CENÁRIO

Izabella Saadi Cerutti Leal Reis
Universidade Anhembi Morumbi
bella@anhembi.br

Tema: Educação a distância nos Sistemas Educacionais
Categoria: Educação Universitária


RESUMO

Este artigo apresenta práticas de ensino superior à distância, aplicadas ao Programa Sexta-free na Universidade Anhembi Morumbi, a partir da visão de um tutor que utiliza recursos de ambiente virtual de aprendizagem em suas atividades, afim de promover momentos de interação e colaboração que favoreçam a construção de conhecimento. Diante do número significativo de alunos é possível também analisar obstáculos desta modalidade na intervenção da prática docente, com comentários sobre mudanças nos tipos de tarefas desenvolvidas e responsabilidades exigidas.

Palavras Chaves: Educação a distância, ambiente virtual de aprendizagem, Internet, tutoria.


1. INTRODUÇÃO

As transformações sociais contemporâneas apresentam em sua essência indubitáveis parâmetros informacionais, que interferem diretamente no modo de pensar e de agir dos indivíduos. Haja vista que vivemos hoje dentro da chamada sociedade do conhecimento, em que as organizações educacionais, políticas, empresariais etc., dependem da capacidade de gerar, processar e utilizar informações.
A informação representa o principal ingrediente da nova ordem social, alimentada pelo fluxo das mensagens que trafegam no interior das redes. Os desafios atuais da sociedade exigem o desenvolvimento e a qualificação profissional continuada de todo cidadão em vários setores do conhecimento humano. Nesse contexto, as Universidades, em geral, que aplicam metodologias apenas na modalidade presencial não terão mais condições de atender a esta demanda. É preciso acompanhar este período de transição, investindo numa educação mais centrada no sujeito coletivo, que reconhece a importância do outro, a existência de processos coletivos de construção do saber. Os educadores contemporâneos destacam a relevância de que sejam criados ambientes virtuais de aprendizagem que propiciem o desenvolvimento interdisciplinar do conhecimento.
Nesse processo de mudanças vem-se confirmando a necessidade de que novos cenários de ensino sejam criados, construindo didáticas específicas de acesso crítico à informação, colaborando com a melhoria da qualidade da aprendizagem e expandindo as oportunidades de educação dos cidadãos. Aprender continuamente é uma imposição para os profissionais que se defrontaram com a constante necessidade de reciclagem, não só para enfrentar os desafios tecnológicos e o diálogo com as gerações mais jovens, como também para compreender o acelerado processo de mudanças pelo qual o mundo está passando.
As pessoas vêem sentido em se reciclarem para poder dar conta de novos desafios pessoais e profissionais, pois percebem que, se não mudarem, ficarão culturalmente defasadas. Isso faz com que estejam atentas a novas informações e atualizações disponíveis. Percebem que é preciso acompanhar a velocidade da circulação da informação, imprimir rapidez nas respostas e corrigir continuamente a aprendizagem, promovendo intercâmbios incessantes de conhecimento, acesso a novos conteúdos e, principalmente, participar da exploração didática das possibilidades de navegação que fazem hoje da rede web um ambiente de aprendizagem dos mais estimulantes.
É no sentido de atender às necessidades humanas na era da informação que foi formatado o Programa Sexta-free, oferecendo aos alunos dos cursos superiores de curta duração a possibilidade de cursar disciplinas na modalidade de educação a distância ou e-learning, utilizando os recursos da Internet para a aprendizagem, oferecendo maior oportunidade de acesso ao conhecimento. A partir deste Programa os alunos conseguem maior flexibilidade de horário, ou seja, às sextas-feiras àqueles que optarem pelo programa não precisam comparecer à Instituição, e com isso passam a ter mais tempo para investir em outros cursos que complementem sua formação.

2. TUTORIA

O fato de a educação a distância exigir um diferente perfil de docente para atuar no processo de ensino-aprendizagem tem motivado diversos professores a rever conceitos e práticas de ensino exercidas durante anos de experiência com docência de ensino presencial.
Em relação as habilidade exigidas para o tutor, denominação geralmente atribuída ao professor on-line, a competência tecnológica não é a principal, mas é essencial para agir com naturalidade, agilidade e aptidão no ambiente tecnológico que irá utilizar. Ao novo professor cabe atuar de uma forma muito mais importante, como uma espécie de arquiteto cognitivo, projetando os caminhos que os estudantes deverão percorrer na grande rede hipertextual que é o currículo hoje.
Das atividades normalmente desenvolvidas por um professor na educação convencional, uma parte deixa de existir. A exposição de matéria na lousa, e todas as restantes se modificam, pois a interação com os alunos não se limita mais ao contato pessoal. Ao assumir o papel de tutor no Ensino à Distância, ele se põe à disposição do aluno para auxiliá-lo na construção do próprio caminho: não mais dá aulas; agora, ele orienta e reorienta a aprendizagem dos alunos, ajuda no esclarecimento de suas dúvidas, identifica dificuldades, sugere novas leituras ou atividades, constitui comunidades de aprendizagem capazes de desenvolver projetos em conjunto, de se comunicar e aprender colaborativamente.
A tutoria representa, para os docentes que estão acostumados com o ensino presencial, um enriquecimento de seu próprio papel, fato que eles só reconhecem após algum tempo de vivência na nova situação. Normalmente, ao iniciar o exercício desse novo papel, o docente se sente menos dirigente e mais gerenciador: afinal, no ensino presencial, ele está acostumado a definir o caminho que os alunos deverão seguir e como e quando farão isso.
Enfim, com a mudança da sala de aula convencional para a sala de aula virtual, surgem novos papéis que não necessariamente o mesmo professor executará todos de uma só vez. Uma boa estratégia é uma divisão de trabalho em equipe, com cada professor especializado em determinadas atividades (tutoria, produção de material, coordenação de grupos de discussão, orientação e apoio tecnológico, etc.).

3. O PROGRAMA SEXTA-FREE

A metodologia aplicada ao Programa Sexta-free está basicamente apoiada aos recursos de aprendizagem virtual que estão disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem adotado pela Instituição, a partir do qual o aluno acessa o conteúdo das aulas e as atividades propostas pelo professor. As aulas são semanais, disponibilizadas sempre às sextas-feiras, daí a sugestão para o nome do Programa “Sexta-free”, uma vez que neste dia da semana o aluno não precisa comparecer a Instituição, a não ser que tenha optado por fazer esta mesma disciplina na modalidade presencial.
Para atuar em ambientes virtuais como este é preciso um novo perfil de professor, presente no processo de ensino-aprendizagem como mediador, alguém que conduza a turma para produção de novos conhecimentos. Segundo Belloni (1999) em EaD como na aprendizagem aberta e autônoma da educação do futuro, o professor deverá tornar-se parceiro dos estudantes no processo de construção do conhecimento, isto é, em atividades de pesquisa e na busca da inovação pedagógica.
O tutor, no caso do Programa do Programa Sexta-free, precisa ser uma pessoa ativa, dinâmica, que no decorrer da disciplina, de acordo com o feedback que for obtendo dos alunos, promova debates polêmicos e de interesse do grupo, sempre relacionados aos conteúdos da aula, propiciando assim momentos de interação que favoreçam o processo de aprendizagem.
Para potencializar os momentos de interação o professor conta ainda com ferramentas de chat (comunicação síncrona), onde pode discutir temas de interesse, esclarecer dúvidas ou apresentar convidados, especialistas sobre o tema proposto, tudo isso em tempo real. A grande dificuldade percebida no uso desta ferramenta está por parte dos alunos, que muitas vezes não conseguem conciliar a agenda com o horário programado para estar on-line, sincronamente, com o professor. Para tanto, como regra geral, os horários são agendados antecipadamente e sempre com mais de uma opção no mesmo dia, de preferência um horário pela manhã e outro pela noite, oferecendo maior flexibilidade aos alunos.
O interessante nos cursos a distância é a exploração da flexibilidade dos horários de acesso ao ambiente virtual de aprendizagem, tanto pelo aluno quanto pelo professor. Os sistemas baseados na total flexibilidade de acesso possuem recursos de programação mais sofisticados, capazes de criar arquivos de todos os passos vencidos pelos alunos, as respostas aos exercícios por eles realizados, tarefas e lições cumpridas, pesquisas realizadas na Internet etc., para depois serem acompanhados integralmente pelo professor.
Além dos momentos de interação, o professor precisa preocupar-se em mostrar que está presente, mesmo que virtualmente, transmitindo segurança e tranqüilidade aos alunos para que não se sintam sozinhos ou abandonados no ambiente virtual. Para tanto, mensagem de motivação, avisos, notificações ou informações sobre aulas e eventos de interesse do grupo são postadas, no mínimo uma vez por semana, pelo tutor. Com estas ações alterara-se o aspecto visual do curso e a cada acesso o aluno visualiza um layout diferente do anterior, garantindo a ele que alguém passou por ali.
Por medida de segurança o professor também precisa estar atento e registrar todos documentos dos alunos (atividades, mensagens, etc.) gerados ao longo do curso. No caso do ambiente virtual usado no Programa, exceto a ferramenta de correio eletrônico não grava as informações dentro do sistema, as demais geram inclusive relatórios de participação. Em vista disso, evita-se o uso do correio eletrônico para que não haja problemas futuros de comunicação e o aluno ou professor não tenham como justificar a falta de um documento, por exemplo. Essa preocupação é sensata, pois tudo que é feito pelos alunos é analisado e posteriormente computado na avaliação
Por outro lado, os alunos não se sentem prejudicados por terem que usar moderadamente o correio eletrônico, pois o sistema reserva um espaço próprio para comunicação assíncrona com o tutor e com a equipe técnica de apoio ao curso. As mensagem ficam registradas no sistema assim como funciona um FAQ, ou seja, tanto as perguntas como as respostas ficam disponíveis para que qualquer um consulte.
Ao oferecer ao aluno uma elevada flexibilidade em termos de espaço, tempo e ritmo de estudo, foram respeitadas as necessidades e preferências de cada um, produzindo, conforme se observou, um aumento na busca de como aprofundar o estudo por meios que podem ser classificados como “personalizados”. Isso significa que os alunos apresentaram significativa autonomia durante o processo de trabalho com as disciplinas on-line.
Outra atribuição concedida ao professor e de grande importância é a avaliação dos alunos. Ao longo do curso, eles são avaliados tanto pela sua participação em ferramentas de comunicação síncrona, ou seja, um bate papo com o professor, ou um chat com especialista, como também através de atividades formalmente desenvolvidas, que podem ser desde um comentário no fórum de discussão até um trabalho em grupo.
Ao desempenho obtido na participação on-line soma-se a nota da prova que é obrigatória e presencial, ao final do curso. Para ser aprovado o aluno precisa na somatória destas duas notas obter no mínimo a média estipulada pela Instituição.
Diante de todos estes recursos os alunos sentem-se bastante motivados a participar das aulas, gerenciando inclusive sua própria aprendizagem, uma característica muito exigida de pessoas que participam de cursos à distância. Há ainda aqueles que se sentem perdidos, não conseguem utilizar a autonomia concedida como ponto favorável, o que muitas vezes é até compreensível, pois durante toda a vida aprender se resumia em ser ouvinte, o único personagem ativo do processo era o professor que “despejava” conteúdos acreditando ser a transmissão a melhor forma de ensinar.
Dessa forma, aprender a aprender, autonomia e iniciativa foram competências que as estratégias de ensino a distância aplicadas ao Programa Sexta-free propiciaram aos alunos. Quando o aluno assume o comando de seu próprio desenvolvimento em atividades que lhe são significativas e lhe despertam o prazer observa-se que aprender torna-se um ato de alegria e contentamento, no qual o cognitivo e o afetivo estão unidos um ao outro. Os meios a distância, no entanto, muito mais que nos presenciais, dependem da autonomia de forma estrita na sucessão de seus estados de mudanças.

4. CONCLUSÕES

As competências científica e pedagógica do professor ainda são fundamentais para um bom desempenho do aluno no processo educacional como um todo, independente do meio em que está atuando, numa sala de aula presencial ou virtual, é preciso que ele tenha consciência do processo de transformação e assimilação de conhecimentos para poder criar estratégias eficazes de aprendizagem.
A vivência de experiências, isto é, ser tutor é bastante significativo e engrandecedor profissionalmente, pois além de ser um desafio por exercer um papel não totalmente definido pela sociedade é preciso vencer diversos paradigmas sedimentados ao longo da carreira docente adquiridas com a prática em sala de aula presencial.
Outra prioridade importante apresentada pelo Programa diz respeito à interação coletiva on-line correspondente ao conjunto das atividades pedagógicas baseadas fundamentalmente na concepção de aprendizagem em rede, em que o aluno, independentemente do professor, interage livremente com os demais participantes do seu grupo, aumentando sua responsabilidade e participação nos estudos. Nos sistemas de ensino on-line que priorizam a reciprocidade da ação entre os alunos, observa-se uma tendência acentuada nos mesmos de trocar cada vez mais informações entre si.
Em síntese, a possibilidade de conciliar os recursos oferecidos pelas tecnologias da informação e comunicação com os princípios já existentes de educação a distância, vêm a contribuir com o Programa Sexta-free, pois possibilitam um trabalho cooperativo, colaborativo e interativo, sobretudo permitem uma atualização constante das informações, como no caso da aprendizagem permanente.

5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BELLONI, Maria Luiza. Educação a Distância. São Paulo: Cortez Editores Associados, 1999.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede (A era da informação: economia, sociedade e cultura); Volume 1, São Paulo: Editora Paz e Terra, 2a. ed., 1999.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência - o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.
LITTO. Frederic. Para o professor, o trabalho mais nobre. Disponível na Internet: http://www.uol.com.br/amcc/ead/ead15.htm. Recuperado em 22/08/2002.
MORAN, José M. Mudanças na Comunicação Pessoal: gerenciamento integrado da comunicação pessoal, social e tecnológica. São Paulo: Paulinas, 1998.
PETERS, Otto. Didática do Ensino a distância. Trad. Ilson Kayser. Rio Grande do Sul: Editora Unisinos, 2001.