TCD1 004 - AMBIENTES DE APRENDIZAGEM COOPERATIVA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

LUPION TORRES, Patrícia - PUCPR/SENAR-PR patorres@terra.com.br

MOREIRA MATOS, Elizete Lúcia - PUCPRPR eluma@rla01.pucpr.br

TC – D1 – 2º Seminário Nacional ABED de Educação a Distância

 

Resumo

O presente artigo apresenta o uso do ambiente de aprendizagem colaborativa, EUREKA , no Programa Rio Limpo. Tal programa visava a preservação e recuperação dos rios paranaenses e utilizou-se do EUREKA para formar educadores ambientais e técnicos. A metodologia proposta foi a da aprendizagem colaborativa, onde por meio da troca entre pares, pretendeu-se formar uma real consciência ecológica, formar o cidadão ambiental. A informação é uma arma importante, que pode interferir nas relações do ser humano com a natureza, por isto neste programa foi considerado imprescindível criar canais de comunicação, para a disseminação de conceitos relativos ao meio ambiente, fundamentais para que os indivíduos percebam o papel inalienável que lhes cabe, de sujeitos fazedores da história atual. Cada cidadão, desempenha um papel histórico, que poderá , em muito, contribuir para com o desenvolvimento sustentável do planeta.

Palavras–chaves: Aprendizagem Colaborativa, Educação Ambiental e Ambiente Virtual.


1. Introdução

A proposta de utilização de um ambiente virtual de aprendizagem, nasceu da necessidade de capacitar educadores ambientais e técnicos do Sistema SEMA/ IAP/ SUDHERSA para atuarem como multiplicadores no Programa Rio Limpo. Tal programa visava mobilizar a população paranaense no sentido da preservação e conservação de seus recursos hídricos, fazendo com que a sociedade como um todo assumisse um compromisso com o futuro, ou seja com a garantia da qualidade de vida das gerações que nos sucederão.
TORRES e BOCHNIAK destacam que “todos precisamos zelar pelo planeta em que vivemos, tendo plena consciência de que zelar por ele inclui e significa, também e principalmente, zelar por nós mesmos”.(2003, p.3)
As conseqüências do uso sem critérios dos recursos naturais desafiam a capacidade de renovação e de suporte de todo o meio ambiente. Parece-nos claro que a degradação da natureza pela ação do homem, gerou uma situação de vulnerabilidade muito próxima do limite do irreversível.
Neste programa de conscientização sobre a importância da preservação dos rios e mananciais paranaenses, é fundamental tornar claro que se cada instância tem papel próprio a cumprir, cabe a todas, indistintamente, o papel de desempenhá-lo e – quando for o caso – de exigir o cumprimento do papel que caiba a outra instância, ou seja , todos devem pessoal e grupalmente assumir o papel de Sujeitos Fazedores da História dos dias atuais. “Porque cada cidadão, por ação ou por omissão desempenha um papel histórico, que apenas a ele lhe compete, exclusivamente”. (TORRES e BOCHNIAK, 2003. p.6)
Foi, assim , tendo a convicção que é na educação que se encontra a resposta para o desenvolvimento de uma política ambiental que pode: (a) prover uma reorganização do conhecimento e de práticas profissionais e sociais e (b) integrar segmentos estratégicos da sociedade em prol da consolidação de uma cultura ambiental pertinente, que desenvolveu- se a proposta de usar um ambiente de aprendizagem colaborativa no Programa Rio Limpo. (TORRES e CERVI, 2003. p.9).
Armazenar conhecimentos, qualificações, valores e sistemas surge como respostas para enfrentar a turbulenta corrida contra a degradação ambiental. Cada vez mais é preciso criar meios para que o conhecimento seja acessível e mobilizado de forma mais rápida. A tecnologia tem buscado esse caminho por meio do desenvolvimento de sistemas de comunicação que permitam vencer o espaço tempo, que tenham interatividade e motivem os usuários no manuseio da informação. O termo, derivado do latim, in formattio, carrega em si o sentido de em-formação. Terrou explica que “daí derivou o sentido atual de informação – sendo a enformação feita em vista de uma informação. Esse sentido original e seu derivado explicam e justificam o uso do termo informação para designar as grandes técnicas de difusão e a liberdade ou as atividades sócias fundamentais de que essas técnicas são ou podem ser os instrumentos principais.”(TERROU,1964, p.7).
Segundo RAMOS, o domínio da informação está diretamente ligado ao poder de interferir e reorientar as relações humanas e da sociedade com a natureza. (1995, p.14)
Portanto, é com a influência dos meios de comunicação e da maneira como trabalham a informação, que a humanidade tem contato com a realidade ambiental do planeta. Para MORIN, a informação, quando bem transmitida e compreendida, traz inteligibilidade, condição primeira necessária, mas não suficiente, para a compreensão. (MORIN,2002)
A criação de canais de comunicação é imprescindível na disseminação de conceitos relativos ao meio ambiente, não se limitando apenas a informar mas, sensibilizar, educar e conscientizar os diversos setores da sociedade acerca da problemática ambiental. Construir indivíduos estimulando sua participação efetiva e capacidade de intervenção, sujeitos de espírito crítico e questionador que, acima de tudo, manifestem tais atitudes em seu comportamento cotidiano. Ambientes virtuais e suas futuras formatações serão a grande saída para ancorar e dar suporte para o processo de formação desses sujeitos fazedores da história atual.


2. O Ambiente Eureka da PUCPR

O Eureka surgiu de um projeto de pesquisa tendo com o objetivo de implementar um ambiente baseado na Web para aprendizagem colaborativa com a finalidade de promover educação e treinamento à distância usando a Internet. Sua arquitetura nasceu formatada para proporcionar a criação de comunidades virtuais para dar suporte a cursos e/ou treinamentos que tradicionalmente são presenciais.
O ambiente Eureka foi desenvolvido pelo Laboratório de Mídias Interativas – LAMI da PUCPR por meio de um acordo tecnológico com a Siemens - Telecomunicações e da lei 8.248 de incentivo à informática do Ministério da Ciência e Tecnologia. O convênio com a Siemens iniciou-se em Outubro de 1998, e finalizou em Outubro de 2001. Durante esse período o sistema foi utilizado pelas duas empresas em treinamento a distância, para cursos de extensão a distância, parcerias e para o apoio aos cursos de graduação presenciais.
Atualmente o Eureka está vinculado ao CEAD (Coordenação de Ensino a Distância) na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, continuando, assim, o processo de pesquisa e desenvolvimento sobre o ambiente.
O Eureka é um ambiente de Aprendizagem Colaborativa a Distância via Internet destinado a estabelecer comunidades virtuais de aprendizagem e trabalho. Compõe-se de vários módulos para comunicação, administração e suporte de conteúdo. Os módulos foram configurados para possibilitar interatividade entre o grupo inserido na sala virtual, permitindo desta forma a construção colaborativa do conhecimento.
Além disso, a ferramenta integra outras funções indispensáveis nesse ambiente, tais como: Fórum de discussões, Chat-room, Conteúdo, Correio Eletrônico, Edital, Estatísticas e Links.
Este ambiente oferece interatividade e permite que ela seja ampliada segundo as formas com as quais os processos são conduzidos. A tecnologia em si não sustenta o aprendizado, mas com a participação ativa de coordenação funciona como elemento catalisador de colaboração, motivação e apreço pela atividade em desenvolvimento e define de forma significativa e decisiva o fator de sucesso.

 

3. Ambiente Virtual e o Trabalho Colaborativo

O trabalho colaborativo em um ambiente virtual é uma forma inovadora de se trabalhar, ensinar e aprender. A partir daí a geração de possibilidades pode se ampliar abrindo janelas e mostrar oportunidades de novos cenários de saberes. A possibilidade de aproximar pessoas sem que seja preciso deslocamentos para compartilhamento de idéias é o que torna esse ambiente um importante recurso na busca da construção coletiva do conhecimento, minimizando tempo, custos, encurtando distâncias, traduzindo, com isso, um valor agregado fundamental nos dias de hoje.
O trabalho colaborativo como fonte geradora de entusiasmo, tem entrado nas organizações para sustentar a solução de problemas e para transpor limites internos, importando e exportando saberes. Esta logística do conhecimento faz com que as pessoas se empenhem em criar aptidões. Há um entusiasmo nesse sentido que é bom para a organização e cria um ritmo de motivação para aprender.
Desta forma, a ferramenta permite uma relação ao tempo e espaço com acesso a informação e participação de qualquer parte do mundo, em qualquer hora e em qualquer lugar. Isso vem a desmitificar formas tradicionais de desenvolvimento de estudos, atividades, tarefas, apresentando um novo cenário, possibilitando a realização de atividades integradas em tempo real, bem como a obtenção de informação por meio de hipertextos.
O ambiente permite o desenvolvimento de habilidades por meio da Interatividade que fomenta o raciocínio lógico e treina a mente facilitando a operacionalidade com eficiência e rapidez permitindo a navegação fácil nos conteúdos, planejamento de atividades, discussões virtuais, correio eletrônico, fóruns virtualizados e acesso a biblioteca de links para atividades de pesquisas. Isto tudo incita os participantes não só ao envolvimento com os processos de trabalho, como também, a colaborarem de forma segura com logística dos conhecimentos.
A comunicação em ambientes virtuais é de fundamental importância para o sucesso do processo, pois, a comunicação não é apenas relacional, mas deve estar integrada sempre com o processo colaborativo para que se possa conseguir uma sintonia fina do grupo, um senso de responsabilidade e de união.
Para se conseguir a comunicação integrada é preciso gerenciar por objetivos. O coordenador deve apontar rumos para que a colaboração seja focada em objetivos específicos fazendo a convergência das idéias para um mesmo alvo. Embora as contribuições sejam diversificadas, as linhas de convergências devem ser mantidas, daí a importância do coordenador em direcionar o processo para que o grupo mantenha o foco nos objetivos. É exatamente por esse caminho que se estabelece a relação de colaboração.
O desenvolvimento das potencialidades individuais e coletivas se dá na medida em que se oferece a oportunidade de se desenvolver atividades autônomas, para as quais os participantes do grupo são os planejadores e os executores das ações. A possibilidade de atividades autônomas favorece ainda o senso de responsabilidade, uma vez que a qualidade dos resultados das atividades depende exclusivamente do próprio grupo. O envolvimento do grupo e a co-responsabilidade nas ações favorecem a ampliação da aprendizagem específica, bem como da cultura geral segundo seus interesses e oportunidades que se apresentem e que tenham relação com o tema explorado. Desta forma os grupos se auto-organizam e se integram criando o elemento facilitador, ou seja, uma pré-disposição para atividade colaborativa tanto no campo dos estudos como no das atividades profissionais. A sincronicidade se dá ainda pelo fato do grupo ter uma visão sistêmica da tarefa, o que possibilita o acesso a novas inter-relações profissionais com os participantes, independente de localização, tempo e espaço.
As atividades desenvolvidas em ambientes virtuais, embora autônomas, devem ser coordenadas para que o foco nos objetivos não seja desviado, apesar da atividade ser colaborativa a alimentação motivacional, bem como técnica é fundamental para garantir o sucesso dos acontecimentos. A figura do coordenador como sujeito da estimulação para obtenção de sincronicidade, apontando novos rumos, criando vínculos de responsabilidade com relação ao trabalho produzido é fundamental para realização dos objetivos individuais e coletivos.
Levando-se em conta que hoje as empresas são instituições que aprendem e que seu aprendizado depende a sua sobrevivência no mercado competitivo e que, a cada dia, se faz necessário descentralizar e aumentar os padrões de qualidade de seus funcionários, independente de suas localizações geográficas, o fornecimento de competência muito das vezes fica inviabilizado por questões de custos operacionais. No entanto, a necessidade de se desenvolver e qualificar profissionais mesmo diante das dificuldades fica, cada vez mais premente frente à competitividade estabelecida.
Os métodos de ensino tradicionais ou desenvolvimento de trabalho e treinamento necessitam que o instrutor e os participantes estejam presentes na mesma classe de aula ou no mesmo local de trabalho ou treinamento. Os custos de transporte e acomodação para os participantes podem consumir facilmente o seu orçamento de treinamento. Adicionalmente, compatibilizar as datas, evitando conflitos nas agendas pessoais dos participantes pode ser uma tarefa quase impossível. Não se pode esquecer também o tempo não produtivo que ocorre em viagens de ida e volta para o local de trabalho ou treinamento. A saída estratégica para o problema foi a de buscar uma nova forma de educação: a educação por meios virtuais, que permitiu a redução de custos viabilizando projetos mais rapidamente.

 

Conclusão

Desta forma, o Eureka como um ambiente de aprendizagem colaborativa, trazendo uma nova forma de ensino e trabalho colaborativo destaca-se como uma ferramenta facilitadora de excelente qualidade. Por meio do Eureka o desenvolvimento de atividades tornou-se mais dinâmico, auto-sustentado e colaborativo por natureza. A riqueza pedagógica dos ambientes virtuais é por si só um elemento transformador de motivação e entusiasmo para fomentar a prática colaborativa.
Embora, estando diante de uma ferramenta rica em recursos pedagógicos facilitadores para aprendizagem e trabalho, a criatividade do coordenador ou professor na sua utilização é fundamental.
Insira-se neste contexto o estabelecimento de um canal de comunicação por meio de informações pertinentes que sirvam de “faísca” provocadora. Que esta capacidade de provocar, questionar, interferir, seja fomentada para que se obtenha a reorganização do conhecimento e a consolidação de novos conceitos concebidos a partir da participação do grupo. Neste contexto, no Programa Rio Limpo, o ambiente virtual de aprendizagem assume o papel de alimentar seu público, técnicos e educadores ambientais, com informações a respeito do meio ambiente ao mesmo tempo em que procura instigar sua capacidade de intervenção no meio, a fim de contribuir também para sua atuação como multiplicadores. A partir disso, o canal de comunicação criado passa a ser fio condutor do processo de evolução e amadurecimento do grupo, que necessita de constante motivação para a garantia de resultados positivos.
Por isso a referência à criatividade do coordenador ou professor. A máquina por si só não é criadora de conhecimentos, necessita de interação humana. A criatividade do professor e sua ação motivadora para gerar criatividade, tal qual na sala de aula é o requisito fundamental para que se consiga atingir os objetivos também nos ambientes virtuais.
O professor como mediador das atividades geradoras de conhecimento, tem que manter a mente aberta para o universo das possibilidades, pois, só assim poderá encontrar o tempo do devir, a mutabilidade, o verbo transformador, o poder gerador capaz de mover a permanência, a visão medíocre aprisionadora do pensamento estagnado, para poder fazer fluir o tempo da ação inovadora. O homem – sujeito fazedor da história atual – é tudo que existe por traz da máquina e, só a ele cabe descortinar as janelas do conhecimento e fazer entrar a luz das possibilidades e estabelecer um tempo de esperanças, um tempo de um novo aprender.

 

Referências


EUREKA. Um ambiente de aprendizagem cooperativa baseado na Web para Ensino à Distância. Página Web disponível em: http://www.lami.pucpr.br/eureka/
MATOS, E. L. M. e GOMES, P. V. Uma experiência de virtualização universitária: o Eureka na PUCPR. Curitiba: Editora Champagnat, 2003.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro; 6. ed.- São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO,2002
RAMOS, L. F. A. Meio ambiente e meios de comunicação. São Paulo: Annablume, 1995.
TERROU, F. A informação. Coleção Saber Atual. Tradução de Geraldo Gerson de Souza. São Paulo, 1964, Difusão Européia do Livro,.
TORRES, P. L. e BOCHNIAK, R. Pensar e fazer o rio limpo: educação formal. Curitiba: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR, 2003.
TORRES, P. L. e CERVI, R. M. Pensar e fazer o rio limpo: educação não-formal. Curitiba: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR, 2003.