TCA1-001
INTEGRAÇÃO DE TÉCNICAS DE EAD EM AULAS, PROJETOS E CAPACITAÇÃO DE PROFESSORES DE ENSINO MÉD
IO

Cristiana Mattos Assumpção
Colégio Bandeirantes
cmattos@colband.com.br

Tema A- Formação de Profissionais para Educação a Distância
Categoria 1. Educação Fundamental, Média e Tecnológica

 

Resumo: Visando aumentar o nível de uso da tecnologia na educação, o Colégio Bandeirantes está criando um programa de capacitação institucionalizado, o EduTechnoBand. O programa visa superar desvantagens presentes no modelo atual de capacitação e encorajar uma mudança sistêmica e sustentável. O uso de técnicas de ensino à distância e a plataforma TelEduc da Universidade de Campinas servem duplo propósito: a) extender, complementar e enriquecer o trabalho presencial, e b) servir de modelo para como se ensina integrando tecnologia, para que este possa ser replicado em sala de aula.


Palavras Chaves: capacitação, tecnologia na educação, TelEduc.


1. Introdução

Com a invasão da tecnologia no âmbito educacional, novos desafios estão sendo enfrentados pelos administradores, professores, funcionários, alunos e até mesmo pais de alunos. O próprio papel da escola na sociedade está sendo repensado. Como preparar os alunos para viverem em uma sociedade onde a única certeza é a incerteza de como será o mundo que enfrentarão? A tecnologia não pára de evoluir. Cada mês que passa traz tecnologias mais compactas, potentes, acessíveis e ubíquas. Os jovens de hoje não sabem o que é ter crescido sem uma televisão em casa, sem telefone, até mesmo sem celular. (Tapscott, 1997) Como preparar professores para dar aula para um público alvo que cresceu de forma tão diferente da sua própria formação? A nossa proposta é justamente usar os recursos mais modernos que esta tecnologia oferece para capacitar professores a se adaptarem a esta nova forma de ensinar.

a. Educação e Globalização: mudanças de paradigma no ensino

De acordo com Maia (2001), a transformação da sociedade industrial em sociedade do conhecimento exige a formação de profissionais preparados para atividades do mundo atual, onde a mobilidade figura como resultado da rápida depreciação do patrimônio cultural. Pela sua natureza, os instrumentos das novas tecnologias favorecem o desenvolvimento de metodologias educacionais que propiciem a busca incessante do auto-aprimoramento, no sentido de educação continuada, uma vez que permitem a atualização ágil de conteúdos.
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, com 55 entidades educacionais, na qual foram levantados os principais aspectos que poderiam garantir o sucesso dos alunos de hoje no século XXI teve como resultado a citação em terceiro lugar das habilidades em computação e tecnologia de mídia, só perdendo para habilidade de leitura básica, escrita e habilidade matemática e bons hábitos profissionais, como ser responsável, pontual e disciplinado (Tajra, 2001).
Em seu livro A Terceira Onda, Toffler (1995) mostra que a humanidade está passando por uma terceira fase de grande mudança em sua evolução, sendo que a primeira onda foi quando a humanidade passou de nômade a agrícola, a segunda onda ocorreu quando de agrícola a humanidade passou para a era industrial, e agora estas civilizações industriais estão passando para uma civilização onde o conhecimento a ser um meio dominante de produção de riquezas. E neste contexto, os jovens estão mais confortáveis com as ferramentas de poder, as tecnologias de comunicações (Tapscott, 1997). Pela primeira vez na história, houve uma inversão de poder, onde a geração mais jovem está mais preparada em termos técnicos do que a geração mais antiga. Daí a importância dos educadores reavaliarem o papel da educação e o seu papel como professor.
Apesar desta aparente inversão ser intimidante, apenas ter conforto com a tecnologia não é suficiente para desenvolver cidadãos e líderes preparados. O papel do professor continua sendo fundamental neste novo paradigma do ensino, onde os pesquisadores estão encorajando o uso da conectividade da tecnologia para ensinar de forma construtivista, com os alunos sendo parceiros na construção do conhecimento (Heide e Stilborne, 1999). Mas Vygotsky já alertava que para a criança ou jovem chegar de uma zona de conhecimento adquirido para outra de conhecimento a ser aprendido, ele precisa passar por uma ponte, a qual ele chama de “Zone of Proximal Development” (zona de desenvolvimento proximal). Dentro desta zona há amparos (“scaffolding”) que orientam a jornada do aprendiz. Eventualmente estes amparos são retirados à medida que o aprendiz vai ficando mais confortável nesta nova zona de conhecimento (técnica chamada de “fading” – dissipação). É exatamente aí que entra o papel do professor. Com seu preparo, maturidade e experiência, o professor está capacitado a orientar o jovem aprendiz, ajudando-o a atravessar estas pontes.
De conteudista, a educação precisa passar a incluir o ensino de habilidades tais como buscar informações, avaliar criticamente a fonte e veracidade destas informações, sintetizar as principais idéias, construir um conhecimento tanto individualmente como em equipe, e outras. Outra mudança que está ocorrendo na educação é o que o professor também precisa passar por um processo de aprendizagem contínua, trabalhando juntamente com os seus alunos no desenvolvimento do conhecimento.
Os computadores possuem diferentes tipos de utilidades, compatíveis com o mundo em que vivemos: em constante mutação e interativo (Tajra, 2001). Ainda segundo esta autora, por meio do computador podemos desenvolver simultaneamente várias habilidades, facilitando a formação de indivíduos polivalentes e multifuncionais. A Internet teve um impacto fundamental no processo educacional, pois não só permite a integração de diversas mídias, afetando como as pessoas podem se expressar e comunicar, mas também permite a interação entre pessoas de diferentes níveis em diferentes regiões geográficas, derrubando assim as paredes da sala de aula. É para esta nova realidade que estamos preparando os professores.

b. Formação de Professores

Atualmente o modelo de capacitação de professores na área de tecnologia em educação tende a não ser institucionalizado ou sistêmico. A seguir faremos uma comparação do modelo teórico de capacitação atual predominante (esquema 1), e o modelo teórico que estamos propondo (esquema 2) na tentativa de superar os problemas identificados (Assumpção, 2002).

Esquema 1: Modelo Atual de Capacitação (vantagens e desvantagens)

Neste modelo não somente o impacto é isolado a um ou poucos professores, mas também é inconsistente. Professores diferentes podem escolher locais e provedores de capacitação diferentes, trazendo assim de volta para a escola um repertório diferente de conhecimento. Isto pode dificultar o alinhamento das diferentes habilidades que os professores adquiriram.
Outra desvantagem é o fato destes cursos serem genéricos, criados para aprendizes de qualquer instituição ou interesse. O que os professores trazem de volta não necessariamente se encaixará na cultura específica da escola.
A outra desvantagem para a escola é que o que os professores produzem em seus cursos geralmente não é diretamente aplicável na sala de aula, portanto não é algo que vá beneficiar a escola por um tempo.
Em suma, este modelo, enquanto vantajoso para o professor que está buscando crescimento profissional, ao oferecer tantas opções, não beneficia a escola como instituição. A distância entre o que os pesquisadores fazem e o que acontece na sala de aula continua a ser grande, e os professores buscando seu aprimoramento acabam tendo que dividir mais ainda seu tempo limitado para objetivos diferentes e dedicando menos tempo ao seu trabalho na escola.
Não há consistência entre os esforços das diferentes instituições que estão envolvidas com capacitação, consistindo de esforços isolados e genéricos, cada um tendo sua própria visão e missão institucional.
Professores têm que investir seu próprio tempo e dinheiro para buscar capacitação, tirando assim da escola neste processo. Está na hora de examinar se os benefícios que as escolas ganham deste modelo valem os custos.



Esquema 2: Modelo Proposto de Capacitação

 

c. O novo perfil do professor no século 21

Quem está lidando com tecnologia nas escolas há anos já percebeu que não basta colocar computadores dentro da sala de aula (CEO Forum 1999; CEO Forum 2000; OTA Report on Teachers and Technology: Making the Connection 1995; PCAST 1997; Greene 2000). Os professores ainda são os principais instrumentos de influência no processo de aprendizagem do aluno. Se o professor não for capacitado a utilizar estas ferramentas tecnológicas de maneira inovadora e bem preparada, a presença dos computadores pouco fará para melhorar a qualidade do ensino na instituição.
Educadores têm que repensar seus processos e dinâmicas de ensino. Para auxiliá-los nesta mudança, a capacitação deve ser elaborada seguindo a recomendação destes relatórios: a) gerar metas realistas e atingíveis, b) capitalizar no uso de todos os recursos, c) unir a capacitação às reais necessidades do professor e do aluno, d) modelar boas práticas, e) encorajar o “learning by doing” (aprender fazendo) e f) provendo recursos, incentivos e suporte contínuo (ambientes de aprendizagem). A capacitação também deve ajudar os professores a aprenderem como usar a tecnologia, deixando-os experimentar diferentes maneiras de aplicá-la e dar aos professores oportunidades de descobrir o que podem fazer.
O professor precisa se tornar um modelo do novo tipo de aluno que está surgindo nesta era da informação (Maia 2001), onde para poder ajudar seus alunos em um mundo altamente mutável, ele precisa se tornar um aprendiz e pesquisador (“life long learner”). A capacitação deve ajudá-lo a adquirir estas novas habilidades.

2. Proposta Band: modelo presencial complementado por EAD

O Colégio Bandeirantes vem desenvolvendo um programa de capacitação interno de Tecnologia na Educação (EduTechnoBand – www.colband.com.br e http://teleduc.colband.com.br) baseado nas últimas pesquisas e recomendações de pesquisadores na área de implementação de tais programas em escolas e nos currículos de diversas universidades de renome na escolha dos temas a serem explorados (Valente, 2002). A proposta vem seguindo os seguintes passos:

Início do trabalho: 2o semestre de 2002

Módulo temático piloto
Criando um grupo tecnológico interdisciplinar - "Technology Team" que representa os diferentes departamentos do Colégio.

Grupo: 12 professores (pelo menos um de cada departamento da escola)

Objetivos: criar um grupo de tecnologia interdisciplinar (Technology Team) para auxílio na capacitação global oferecida a partir de 2003. Este grupo tinha conhecimentos prévios em uso de tecnologias como ferramenta no ensino e se colocou a disposição para participar em 2003, como monitores e / ou colaboradores, junto à coordenação, dos diferentes módulos de capacitação.


Metodologia de trabalho com o grupo-piloto

1. Palestras com especialistas: embasamento teórico e contatos visando futuras parcerias Universidades-Bandeirantes.
2. Trabalhos individuais e coletivos de forma presencial e complementada online: criação de um grupo reflexivo.
3. Intenso uso da Internet e seus recursos para comunicação e desenvolvimento de trabalhos e pesquisas: aprofundamento de conhecimentos e experiências.
4. Elaboração e vivenciamento de atividades que envolveram uso de tecnologias como ferramentas no ensino-aprendizagem: pré-testagem de atividades para os módulos temáticos.
5. Elaboração de um espaço colaborativo virtual (site EduTechnoBand) para os participantes de 2003 poderem interagir e trocar experiências, incluindo a confecção de material didático, tutoriais, WebQuests, e mecanismos de avaliação diferenciados.
6. Levantamento e pesquisa de bibliografia especializada e "sites" no uso de tecnologias na educação.

Este trabalho teve como meta criar, de maneira colaborativa e integrada, módulos de capacitação para os professores do Colégio Bandeirantes, levando-se em conta a realidade de nossa instituição e a demanda de nossos clientes (alunos).

A importância da análise dos questionários de levantamento de interesse dos professores

O grupo-piloto trabalhou em cima das expectativas e necessidades mais freqüêntes dos professores, cujo levantamento foi obtido a partir da análise de questionários de levantamento de necessidades que foram aplicados nos diferentes departamentos no final de 2002.

A capacitação em 2003

Duração de cada módulo temático: Módulos I e II

Cada módulo teve a duração de 2 meses (8 encontros), sem interrupções.
Desta forma, no primeiro semestre de 2003 - abril e maio - Módulo I, e no segundo semestre de 2003 - setembro e outubro - Módulo II.

Tivemos um mês anterior a cada módulo para planejamento e organização geral da equipe e dos participantes, e um mês após cada módulo para procedimentos de avaliação e revisão do trabalho desenvolvido, bem como publicação interna de cada trabalho. Com isso, cada módulo teve a duração de 4 meses, no total, desde a sua organização até a sua conclusão/avaliação.
Os módulos III e IV entrarão em vigor em 2004, continuando com o mesmo grupo de participantes de 2003 e planejados pela mesma equipe.

A capacitação em 2004

Em 2004, seguiremos o mesmo esquema de 2003, tendo um módulo por semestre para dar tempo de desenvolver plenamente o material:

1o Semestre de 2004

Módulo III - Março/Abril

2o Semestre de 2004

Módulo IV - Setembro/Outubro

3. Uso do TelEduc para complementar os encontros presenciais

A limitação de tempo dos encontros e a necessidade de acessar de casa o material sendo produzido levaram à escolha de uma plataforma de EAD como ambiente complementar de trabalho. Os critérios usados na escolha final do TelEduc foram sua fundamentação pedagógica (ferramentas verdadeiramente úteis para a educação) e acessibilidade (o ambiente pode ser instalado gratuitamente e é open source).
Foi notado durante a implementação dos dois primeiros módulos que os professores participantes necessitavam de mais tempo e acesso ao material para poder completar os projetos propostos. A maior frustração para eles era o fato de não conseguirem terminar como gostariam os projetos com os quais estavam tão entusiasmados em desenvolver.
O ambiente TelEduc não só servirá para complementar o curso de capacitação, como também será usado para complementar alguns cursos curriculares e projetos. Os professores participantes serão encorajados a experimentar usar esta ferramenta em suas aulas para organizarem o material (o aluno poderá ter acesso em casa às apresentações do professor); tirarem dúvidas dos alunos e outras aplicações que acharem viáveis e práticas.

Avaliação

O sistema de avaliação que se pretende adotar possui as seguintes características gerais: ser contínuo, ser qualitativo e quantitativo, ser reflexivo (auto-avaliação dos participantes), ser presencial (documentos impressos) e virtual (rubricas online).
Como principais instrumentos de avaliação, serão utilizados questionários, entrevistas, análise de e-mails e participação geral em atividades planejadas como chats, fórum e encontros presenciais durante cada módulo de capacitação.
A abrangência do processo de avaliação esta esquematizada abaixo.

Esquema 3: Processo de Avaliação do Programa

 

 

4. O programa (EduTechnoBand)

 

Temas
MÓDULO I: Introdução à Tecnologia na Educação
Como ensinar com tecnologia
Teorias de Aprendizagem
Estratégias de Sala de Aula
Tipos de Software (conteúdo vs. ferramenta)
Projeto de Trabalho
MÓDULO II: Integrando a Internet no Ensino
Criando Projetos Interdisciplinares (WebQuests)
Ferramentas de Gerenciamento do Trabalho Online
Ferramentas de Autoria para Web
Trabalhando com Alunos em Grupos
Avaliando Projetos
 
MÓDULO III: Ensino à Distância
O que é EAD
EAD no Ensino Fundamental e Médio
Ambientes e Ferramentas EAD
O Professor e Tutor
Avaliação no Ambiente EAD
Planejamento de Materiais Multimídia
Planejamento pedagógico
Planejamento técnico
 
MÓDULO IV: Usando Multimídia na Educação
Imagens
Áudio
Vídeo
Animações
Desenvolvendo Projetos Integrados
Avaliação Qualitativa

Tabela 1. Programação do EduTechnoBand.

A partir do fechamento do programa em termos de planejamento de cada módulo, especialistas são consultados e contactados para contribuir para o programa. À medida que o programa fôr se desenvolvendo, estudaremos possibilidades de formar parcerias com Universidades e Instituições de Ensino Superior para poder oferecer aos nossos professores um reconhecimento maior pelo trabalho que estão desenvolvendo, eventualmente até criando um novo modelo de pós-graduação. Esperamos promover assim um reconhecimento institucional do profissional quanto a esta nova capacitação no sentido de oferecimento de oportunidades inéditas, como criação de disciplinas optativas virtuais para os estudantes de dentro e de fora da escola.

 

5. Referências Bibliográficas

Assumpção, C. (2002) Earth2Class: The Role of Technology in Providing Structure for Science Content Delivery from the Research Scientist to the Secondary (6 – 12) Classroom Teacher. Dissertação, Teachers College, Columbia University.

CEO Forum (1999). Professional Development: A Link to Better Learning, Washington D.C., CEO Forum.

CEO Forum(2000). School Technology and Readiness, Washington D.C., CEO Forum.

Greene, B. R. (2000). Teachers' Tools for the 21st Century: A Report on Teachers' Use of Technology, National Center for Education

Statistics. [Online] http://nces.ed.gov/pubs2000/2000102.pdf

Heide, A. e Stilborne, L. (1999) Guia do Professor para a Internet: Completo e Fácil. Editora Artmed, São Paulo, SP.

Maia, C. (2001) Guia brasileiro de educação à distância 2000/2001. Editora Esfera, São Paulo, SP.

OTA (1995). Teachers and Technology: Making the Connection. Washington, DC, U.S. Office of Technology Assessment.

PCAST. (1997). Report to the president on the use of technology to strengthen K-12 education in the United States. Washington, DC,

President's Committee of Advisors on Science and Technology and Panel on Educational Technology: 135.

Tajra, S. (2001) Informática na Educação: Novas Ferramentas Pedagógicas para o Professor da Atualidade. Editora Érica, São Paulo, SP.

Tapscott, D. (1997) Growing up digital: the rise of the net generation. McGraw-Hill Professional Publishing, New York, NY.

TelEduc – site do projeto: http://teleduc.nied.unicamp.br/teleduc/

Toffler, A. (1995) A Terceira Onda. Editora Record, São Paulo, SP.

Valente, J. A. (2002) O computador na Sociedade do Conhecimento. NIED, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP