Elaboração de Software sobre Educação Ambiental: Considerações Técnico-Pedagógicas
Nelly Moulin
Universidade Salgado de Oliveira -UNIVERSO
nmoulin@attglogal.net
André Monat
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
monat@uerj.br
(Texto original com imagens: clique aqui)
RESUMO
A construção do software multimídia(CD-ROM) sobre meio ambiente foi precedida de levantamento da percepção de professores do ensino fundamental sobre suas dificuldades técnicas e pedagógicas na utilização didática de material eletrônico e de hipertextos. Entre as preocupações técnicas na construção do software situam-se o design de página, a apresentação do conteúdo, estratégias de vinculação do material produzido a outros materiais disponíveis na Internet. A tela do computador também não deve estar sobrecarregada de imagens, nem deve criar dificuldades para que o aluno encontre os meios de implementar sua navegação. As preocupações pedagógicas voltaram-se para as dificuldades que professores das áreas exatas e de letras poderão enfrentar para lidar com o Tema Transversal meio ambiente. Para esses professores foi construído no CD-ROM “o cantinho do Professor” um espaço em que o professor usuário do software multimídia encontra informações básicas de ordem legal, normativas sobre a preservação ambiental, contidas na Constituição Brasileira e nos PCN; conceitos básicos sobre educação ambiental; operações de Pensamento; Referências Bibliográficas e Bibliografia Complementar; e Sites de maior interesse para fins de pesquisa.
Palavras-chave
planejamento de software educativo; produção de material instrucional multimídia; uso didático de software multimídia.
Introdução
Podemos considerar que, neste início de século XXI, é ainda incipiente a produção e a utilização de software multimídia para fins educativos. Por um lado, ainda estão sendo buscados os melhores caminhos para a produção desse tipo de material instrucional, pois os melhores modelos para a produção de material impresso, cuja leitura é de certa forma "linear", não podem ser utilizados com sucesso para a produção de software. Por outro lado, o professor acostumado ao uso de material impresso na mediação pedagógica, sente dificuldade quando se trata de se familiarizar com a "navegação" permitida pelo material eletrônico.
Em entrevistas informais com professores de Ensino Básico, de diferentes escolas das cidades do Rio de Janeiro e de São Gonçalo, confirmamos nossas suspeitas com relação à existência de dificuldades, tanto de natureza técnica, como de natureza pedagógica, na utilização de software nas atividades de ensino/aprendizagem.
Tendo em vista colaborar para a construção de diretrizes que auxiliem a construção de software educativo, assim como para dirimir as dificuldades apresentadas pelos professores que o utilizam, este artigo relata os tipos de dificuldades encontradas e a forma como foram consideradas na construção de um software educativo multimídia sobre Meio Ambiente.
RESULTADOS DO SURVEY
O levantamento realizado, nas cidades do Rio de Janeiro e de São Gonçalo, entre professores que utilizam software multimídia em sua prática pedagógica teve por objetivo identificar possíveis dificuldades encontradas no manejo técnico e de navegação, assim como conhecer a suas opiniões sobre a inclusão no CD-ROM de orientação para utilização pedagógica do conteúdo.
Os resultados do survey indicaram que os professores receberiam com bastante entusiasmo a orientação para aproveitamento didático do material multimídia, assim como permitiram identificar dificuldades técnicas que imediatamente foram assimiladas e serviram de orientação na elaboração do CD-ROM sobre Educação Ambiental.
PREOCUPAÇÕES DE ORDEM TÉCNICA
Quando se escreve um material em forma de hipertexto é importante ter em mente a razão de se utilizar este tipo de texto em lugar de se preparar um artigo ou livro de formato convencional. Hipertextos devem fugir ao estilo linear de leitura e, sendo assim, são muito apropriados quando trabalhamos com muitas informações entrelaçadas, e quando queremos transmitir informações em pequenos textos de grande impacto.
Desta forma, um compêndio exaustivo sobre um determinado assunto ainda é primazia de livros e material impresso, já que a relutância ao uso de telas de computadores por muitas horas (mesmo no caso de e-books) ainda é muito grande.
O planejamento de hiperterxtos, como páginas de Internet por exemplo, deve levar em consideração os seguintes aspectos (Nielsen, 2000):
Design de Página - A estética e a identidade visual devem ser balanceadas com a sobrecarga que o design pode sofrer nas telas, em função de animações ou imagens muito complexas. No CD-ROM sobre Educação Ambiental, a animação do ciclo da água, por exemplo, mostrou-se pesada e de grande demanda de recursos. No entanto, devido a importância central do tema, tal animação foi considerada essencial ao produto final.
Autoria de Conteúdo – Deve-se escrever em forma de páginas e textos curtos com informações secundárias em páginas de suporte. Explicações do tipo pop-up são de extrema valia para rápidas definições.
Estratégias de Vinculação – É recomendável ligar o material produzido a outros materiais disponíveis na Internet. O CD-ROM sobre Educação Ambiental tem textos vinculados a uma série de organizações que pesquisam, escrevem e atuam na área de meio ambiente.
A tela do computador também não deve estar sobrecarregada de imagens, nem deve criar dificuldades para que o aluno encontre os meios de implementar sua navegação. No desenvolvimento do CD-ROM procuramos fotografias ou desenhos que realmente tornassem os temas analisados mais tangíveis. Em suma, foi privilegiado o uso adequado dos recursos multimídias que não estão a disposição do material impresso convencional.
PREOCUPAÇÕES DE ORDEM PEDAGÓGICA
Considerando a temática do software - meio ambiente - nossa atenção voltou-se para o fato de que, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (2000) - a educação ambiental deve ser tratada como um Tema Transversal, o que significa que deve estar presente em todas as disciplinas, de todas as séries do Ensino Básico, sendo desaconselhado que o seu conteúdo seja sistematizado vindo a constituir uma disciplina.
Como disciplina, a presença do tema Meio Ambiente estaria limitada a um determinado tempo, de determinada série escolar, quando o que se pretende é que o assunto tenha uma presença constante no currículo. Tratado como tema transversal, será abordado em diversas disciplinas e atividades com a preocupação comum de desenvolver nos alunos capacidades de “observação e compreensão da realidade de modo integrado” (PCN, 2000 a, p.65)
Desse modo, o software irá além da transmissão da informação e da formação de uma consciência crítica, para atingir uma atitude prática educativa que os leve, efetivamente, a atuar adequadamente de modo a transformar e a preservar a natureza.
Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000 b) recomendam que:
Do ponto de vista de atitudes e comportamentos, o professor e a escola como um todo devem proporcionar ocasiões de ensinar procedimentos de modo que os alunos possam tomar decisões, atuar de fato e exercer posturas que demonstrem a aquisição e o exercício de valores relativos à proteção ambiental e à garantia da qualidade de vida para todos (p.65).
Essa postura acompanha a posição de diversos autores (Brugger, 1994; Dias, 1993; Layrargues, 1999; Reigota, 1994) que consideram que “conhecer para preservar” é insuficiente para a promoção de uma educação que se pretenda crítica e transformadora da realidade. Isto significa que a escola tem que levar o aluno para além do discurso, incluindo em seu planejamento ações educativas que levem a reconhecer e a evitar a degradação, ao mesmo tempo em que promovam a consolidação de hábitos de proteção, preservação, conservação e recuperação do meio ambiente.
Ações Educativas nas Diferentes Disciplinas
Inferimos, então que conforme a área de conhecimento de sua formação, os professores se sentiriam mais ou menos familiarizados com o tema meio ambiente. Supomos que, entre os que sentiriam maior facilidade no tratamento dos conteúdos estariam professores de Geografia, Ciências Naturais e de Biologia. Outros, porém, receberiam de bom grado sugestões de como abordar o tema em sua aulas.
Ainda, com relação aos PCN, consideramos relevantes as recomendações ali contidas para que o ensino do tema seja motivo para desenvolvimento de habilidades de pensamento, de atitudes e de valores voltados para a proteção e preservação ambiental.
Foi criado então no CD-ROM o “Cantinho do Professor” – um espaço em que o professor usuário do software multimídia encontra: informações básicas de ordem legal, normativas sobre a preservação ambiental, contidas na Constituição Brasileira e nos PCN; conceitos básicos sobre educação ambiental; operações de Pensamento; Referências Bibliográficas e Bibliografia Complementar; e Sites de maior interesse para fins de pesquisa.
Bases Conceituais
Os conceitos de meio ambiente e seus correlatos adotados no CD-ROM foram baseados nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que por sua vez seguem as concepções vigentes, divulgadas oficialmente e pelas autoridades no assunto (Reigota, 1999).
Os principais conceitos trabalhados foram: Ambiente, Degradação Ambiental, Proteção Ambiental, Preservação, Conservação e Recuperação
Operações de Pensamento
As operações de pensamento abordadas no “cantinho do professor” foram eleitas a partir de recomendações contidas nos textos do PCN relativos ao meio ambiente. Assim, foram sugeridos procedimentos para o desenvolvimento das habilidades de observação, descrição, classificação e comparação. Além disso, houve preocupação em sugerir atividades que levam a formação de atitudes e de valores positivos com relação ao ambiente.
Desenvolvimento de Atitudes e Valores
Quando estamos tratando de Educação Ambiental, o desenvolvimento de atitudes e valores é tão importante ou mais do que a aquisição de conhecimentos científicos e tecnológicos. Com essa visão, oferecemos no CD-ROM as seguintes sugestões:
- A habilidade de observação pode ser utilizada para levar o aluno a perceber a relação entre qualidade de vida e ambiente saudável; a utilização adequada e inadequada dos recursos naturais; e outros problemas.
- A habilidade de comparação pode levar o aluno a perceber as inúmeras diferenças entre as áreas beneficiadas pelo saneamento, contrastando com as áreas em que o esgoto é exibido em céu aberto.
- O passo seguinte é sugerir que o aluno assuma uma postura crítica com relação ao uso inadequado do meio ambiente, reforçando a responsabilidade e o papel do homem na utilização adequada e na preservação do meio ambiente;
- As observações e comparações devem resultar na formação de valores que ressaltem as relações entre fatos e conseqüências.
- Presença de vegetação relacionada com baixa poluição do ar;
- Saneamento básico e higiene relacionados com água de boa qualidade;
- Valorização do uso adequado de recursos naturais;
- Criticas ao consumismo que leva ao esgotamento de recursos: desperdício de água, de alimentos, de energia, de material escolar, de objetos de uso pessoal;
- Propaganda negativa que leva ao consumismo e ao desperdício.
Atividades Curriculares Permanentes
Além da formação de valores voltados para a preservação do Meio Ambiente, a escola deve passar da teoria à prática, promovendo o exercício desses mesmos valores, ou seja, transformando os valores em ações, e as ações em hábitos solidamente incorporados pelos indivíduos. No volume 9 dos PCN, referente ao tema “Meio Ambiente”, encontramos a seguinte recomendação:
que o aluno participe de atividades cotidianas de cuidado e respeito aos ambientes coletivos, tais como jogar lixo no cesto e não no chão, utilizar o banheiro de modo a mantê-lo limpo, manter a organização e valorizar os aspectos estéticos nas dependências da escola (p.68).
Nesse sentido, sugerimos que algumas práticas educativas sejam planejadas para serem implantadas, como projetos da escola ou de determinada turma, como um terrário, um viveiro de plantas ou um serviço de manutenção e renovação das plantas na escola.
Entre as atividades propostas foram incluídas ações pedagógicas de caráter coletivo e permanente abrangendo toda a escola, tais como a manutenção de um jardim ou horta, a coleta seletiva de lixo, as coleções de “coisas” (cartões postais; rochas; selos) ou Museu da Natureza voltado para o meio ambiente. Essas atividades constituem formas de fugir dos eventos meramente pontuais, que festejam datas cívicas com o plantio de uma árvore.
CONCLUSÕES
Construir um CD-ROM sobre meio ambiente, dentro de um contexto de educação ambiental para divulgação em geral e que poderá ser utilizado como material de apoio para o Ensino Fundamental mostrou-se um desafio múltiplo:
Primeiro havia a necessidade de comunicar, de forma clara e simplificada, os conceitos envolvidos, tais como: evapotranspiração, radiação solar, absorção de água pelo solo, aquecimento global, e outros que são fundamentais para o entendimento dos fenômenos ambientais.
Segundo, houve preocupação de que tanto os conceitos, como também as conseqüências da interação do homen com os fenômenos ambientais fossem abordados de uma perspectiva que favorecesse a formação da consciência preservacionista e que estimulasse uma postura ativa em relação aos problemas ambientais.
O terceiro desafio foi constituído pela forma de comunicação adotada – o hipertexto e a multimídia – e pela necessidade de adequação à escrita característica dessa mídia.
Finalmente, aceitamos o desafio de inserir no próprio software, informações e sugestões que podem apoiar o trabalho pedagógico do professor na utilização do CD-ROM para fins didáticos.
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
BRUGGER,P. Educação ou adestramento ambiental? Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1994.
DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1993.
LAYRARGUES, P.P. A resolução de problemas ambientais locais ou a atividade-fim da educação ambiental? In: Marcos Reigota (Org.) Verde Cotidiano: o meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP&A, 1999, 131-148.
MEC/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros curriculares nacionais: meio ambiente e saúde. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
NIELSEN, Jacob. Projetando websites. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2000.
REIGOTA, M. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 1994.
REIGOTA, Marcos. (Org.) Verde cotidiano: o meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.