A
Linguagem Emocional em Ambientes Telemáticos: Tecendo a Razão e a Emoção na
formação de Professores
Adriana Rocha Bruno
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –
PUC-SP
arbruno@ajato.com.br
Resumo
O
trabalho aqui apresentado teve por objetivo desenvolver uma investigação, à luz
da Linguagem Emocional, buscando desvelar de que forma os educadores
tecem/articulam a razão e a emoção nos cursos de formação de professores em
ambientes telemáticos.
Os
cursos a distância em ambientes telemáticos ainda estão, em sua maioria, sendo
desenvolvidos por meio da linguagem
escrita.
Pressupõe-se que a linguagem utilizada,
bem como a emoção dos sujeitos da aprendizagem envolvidos nestes cursos, podem
favorecer as relações e interações nestes ambientes, onde o tipo de Linguagem
Emocional utilizada pode contribuir no processo de construção do conhecimento.
O
conceito e reflexão acerca do uso da Linguagem Emocional nos Ambientes
Telemáticos tem como propósito o imbricamento, a articulação entre a emoção e a
razão, mediadas pela linguagem, suscitando assim o desenvolvimento de um outro
olhar para os cursos de formação de educadores nesses ambientes de
aprendizagem.
O
uso de uma Linguagem Emocional afetuosa/amorosa, nos cursos de formação de
educadores em ambientes telemáticos, pode ser considerado um diferencial
significativo para a aprendizagem, por criar um espaço operacional mais
favorável às inter-relações, à mediação pedagógica e ao desenvolvimento dos
processos reflexivos, auxiliando a construção do conhecimento.
Palavras-Chaves: emoção, linguagem, ambientes
telemáticos.
Neste trabalho pretendo
apresentar as contribuições que a pesquisa desenvolvida pela PUCSP
(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), acerca da Linguagem Emocional
em Ambientes Telemáticos traz para os cursos de formação de educadores por meio
de ambientes telemáticos de aprendizagem.
A investigação teve como
cenário o “Curso
de Especialização em Desenvolvimento de Projetos Pedagógicos com o Uso das
Novas Tecnologias” parceria entre a PUC-SP e o Proinfo (Programa Nacional de
Informática na Educação), destinado à formação processual (e em serviço), de
professores-multiplicadores, para a apropriação das novas tecnologias, pautada
na construção do conhecimento e na articulação teoria-prática.
Participaram do curso alunos-professores
de todas as regiões do Brasil e alguns professores da América Latina, ocorrido no período de agosto
de 2000 a outubro de 2001, por meio do ambiente telemático Teleduc do
NIED-Unicamp.
Foram analisadas três conferências
realizadas com 35 alunos-professores deste curso pelo fórum de discussão, com
duração de cinco a quinze dias cada uma. Os conferencistas eram Professores
Doutores convidados a desenvolverem conferências, sobre temas pertinentes
a educação e aos objetivos presentes no Projeto do curso.
1. Considerações Iniciais
Estamos
vivendo a Era do Conhecimento. Para
alguns, o momento atual é de transição entre a Era da Informação e o
Conhecimento. As transformações advindas
deste processo já se apresentam em nosso cotidiano nos mais diversos segmentos
da sociedade.
O fio condutor desse
processo se faz pela comunicação, centrado no uso da linguagem como meio de
interação.
A linguagem tem
sido explorada nas mais diversas formas possíveis nesses ambientes: visuais,
orais e escritas. Pessoas estão se encontrando e se reencontrando, fazendo uso
desse veículo. São chats (bate-papos), correios eletrônicos, fóruns de
discussão, enfim, ambientes devidamente concebidos para que os indivíduos se
expressem, se comuniquem, num processo de interação recursiva.
Na educação tal veículo
passa a fazer parte dos ambientes de aprendizagem. Uma
das propostas inovadoras nesse sentido encontra-se na Educação a Distância por
meio de ambientes telemáticos. Esse segmento está sendo incorporado aos cursos
universitários nas mais diferentes áreas e também aos cursos de formação
continuada destinados a educadores de todas as áreas do conhecimento,
suscitando mudanças paradigmáticas em todos os envolvidos no processo.
Diversas abordagens para a aprendizagem nesses ambientes emergem
desse contexto. Algumas delas como a Broadcasting e virtualização da sala de
aula tradicional, segundo Valente (2001), não se caracterizam pela interação,
cujo aspecto é devalorizado.
Valente (Ibid.) propõe uma abordagem denominada “estar junto virtual”, que “envolve múltiplas interações no sentido de
acompanhar e assessorar constantemente o aprendiz para poder entender o que ele
faz e, assim, propor desafios que o auxiliem a atribuir significado ao que está
desenvolvendo. Estas interações criam meios para o aprendiz aplicar,
transformar e buscar outras informações e, assim, construir novos
conhecimentos.”
O olhar aqui proposto refere-se a esse tipo curso em ambientes
telemáticos, que promovam a interação, onde a dialogicidade seja uma das
principais fontes de construção, aproximando os seres relacionais, e portanto
do tipo “estar junto virtual”.
A educação nos ambientes
telemáticos deve se pautar na relação interativa entre os sujeitos envolvidos (
professores e alunos) para a construção do conhecimento, considerando os
indivíduos em sua totalidade, e como seres relacionais em constante
transformação.
O processo de “trans”
formação do professor está relacionado à mudanças posturais.
Freire (1987), ao nos
apontar a questão da não neutralidade da prática educativa, exigindo definição,
decisão, ruptura, posição, por parte do professor, infere-nos a necessidade de
mudanças posturais desse educador, e que possivelmente só se transformará a
partir do desenvolvimento do pensamento crítico reflexivo desse profissional,
articulando os aspectos emocionais com os racionais, como estamos propondo em
nossos estudos.
Devemos
entender que mudança de postura não envolve apenas o campo profissional, mas o
ser por inteiro. Não mudamos nossa postura apenas no trabalho; a mudança
envolve discussão mais complexa, por exemplo: nenhum educador consegue
desenvolver projetos dentro de uma linha sócio-construtivista se não estiver consumido por inteiro, e principalmente
em sua vida pessoal, pelos preceitos nela contidos.
O repensar contínuo e
coletivo frente a necessidade de mudanças no paradigma atual, provoca reflexões
relevantes acerca de aspectos, como: a abertura ao novo e a tudo que ele
proporciona; a percepção dos aprendizes enquanto sujeitos ativos em interação
com o meio; a superação da intransponibilidade cultural, temporal, espacial,
por meio da aproximação e interação com o outro; o tempo cognitivo, onde o chrónos e o kairós precisam ser vistos/compreendidos por outros olhares, ante
a virtualidade; enfim, questões inumeráveis que se descortinam diante de nossos
olhos e revelam a impossibilidade de continuarmos enxergando o mundo de hoje
pelas lentes do antigo paradigma.
Essa proposta porém, não é
um fator isolado na formação do professor, e nem tem a pretensão de transformar
sozinha a educação ou o professor, mas é interessante
notar que o uso dessas tecnologias nos ambientes de aprendizagem tem
viabilizado a concretização de situações de igualdade e/ou aproximação
cognitiva, entre os sujeitos construtores do conhecimento, professor e aluno,
que muitas vezes apresentavam-se distantes na prática.
Um dos caminhos para esse cultivo está na formação continuada dos
professores, mas as condições para isso envolvem fatores diversos, e dentre eles
estão as ferramentas utilizadas para que esse educador se transforme, e esse artigo propõe um olhar
para a linguagem emocional.
2. A
Linguagem Emocional: tecendo a razão e a emoção
Somos seres autopoiéticos1, ou seja, somos
organismos complexos e possuimos mecanismos de auto-organização
sistêmico-recursiva, onde por meio das relações interativas com o meio, com as
circunstâncias que nos envolvem, modificamos nossas estruturas e, assim, nos
transformamos, preservamos a nossa organização e a nossa identidade e mantemos
a vida.
O estudo das emoções foi,
por muito tempo, desprezado pela Ciência. Alguns estudiosos se dedicaram ao
tema somente no final do século XIX e início do XX, mas nunca houve dedicação
suficiente para que os estudos se aprofundassem ou continuassem.
A partir da década de 60 os
estudos dedicados à emoção e sentimentos são retomados e passam a ter um maior
aprofundamento depois da década de 80.
Desse modo,
temos hoje um quadro bastante diversificado quanto ao estudo das emoções. A
Neurociência, Neuroanatomia, a Biologia, a Psicologia: clínica, social,
discursiva, e a Ciência Cognitiva, entre outras áreas, têm dedicado seus
estudos à emoção.
Segundo Damásio
(2000:74/75), emoções “...são conjuntos
complexos de reações químicas e neurais, formando um padrão; todas as emoções
têm algum papel regulador a desempenhar (...) estão ligadas à vida de um
organismo (...) e seu papel é auxiliar o organismo a conservar a vida.”
É importante ressaltarmos a
ênfase apresentada por muitos estudiosos no que se refere às emoções como foco
de conservação da vida (para alguns estudiosos articulados à homeostasia), aspecto
do organismo que deve funcionar harmoniosamente para auxiliar a sobrevivência
do ser humano.
Para Maturana (2001:129) as
emoções são “disposições corporais
dinâmicas que especificam os domínios de ações nos quais os animais, em geral,
e nós seres humanos em particular, operamos num instante.”
Essa dinâmica do emocional
funciona como base para toda e qualquer ação humana, enfatizando aqui a linguagem
e a razão, que independente do espaço operacional, se faz num espaço
especificado por uma emoção.
Assim, podemos conceituar a
emoção por: reações (respostas) do organismo diante de fatores decorrentes de
mudanças internas ou externas, conscientes ou inconscientes apresentadas,
considerando as múltiplas circunstâncias, como: fisiológicas, relacionais,
pessoais, cognitivas, afetivas, sociais etc, em congruência com os aspectos
ontogênicos e filogênicos da existência humana, que se caracterizam principalmente
pela conservação da vida.
A emoção e os
estados emocionais estão presentes na vida e no organismo de todos os seres humanos. Sua
diferenciação e classificação se faz possível, basicamente, por meio da
consciência que, através da linguagem
torna possível a compreensão, a decodificação, a nomeação das emoções
produzidas e vividas pelo ser. Porém, a expressão consciente das emoções se
apresenta em articulação com a cultura e a história do ser humano. Temos assim
culturas que se expressam diferentemente de outras, por valorizarem a expressão
de algumas emoções e de outras não. A partir disso, podemos entender que a
expressão de uma emoção pode ser aprendida, mas não a emoção em si.
Damásio (2000:75) afirma que a expressão das emoções está ligada ao aprendizado e à cultura, mas chama-nos a atenção ao fato de que as emoções “...são processos determinados biologicamente, e dependem de mecanismos cerebrais estabelecidos de modo inato, assentados em uma longa história evolutiva”.
Encontramos em
Bisquerra (2000) aditivos a esse respeito, pontuando a função das emoções como
motivadora, adaptativa, informativa e social; ressaltando que a cultura e a
sociedade regulam as expressões das emoções.
Para esse autor, algumas atitudes ou episódios emocionais
vivenciados repetidas vezes podem desenvolver “atitudes cognitivas emocionais”,
ou seja, situações consecutivas de tristeza em demasia podem desencadear um
processo de depressão.
Acredito que o trabalho
desenvolvido nos ambientes de aprendizagem, poderá auxiliar na identificação,
valoração e expressão das emoções, porém, as emoções em si, como disposições
biológicas, ocorrerão/fluirão no organismo.
Desse modo, podemos entender que há possibilidade de aprendermos a
valorizar determinadas emoções em decorrência das situações e circunstâncias
experenciadas. Tais vivências levam-nos a desejar repetir ou não, a
manifestação de emoções específicas.
Maturana (1998:15)
chama-nos a atenção para o fato de que “ao
nos declararmos seres racionais vivemos uma cultura que desvaloriza as emoções,
e não vemos o entrelaçamento cotidiano entre razão e emoção, que constitui o
nosso viver humano, e não nos damos conta de que todo sistema racional tem um
fundamento emocional.”
A linguagem se faz a partir
de interações recorrentes entre o ser humano e o mundo. Essas interações estão
consubstanciadas, impregnadas da história de cada elemento em interação. Desse
modo, a linguagem se faz entre sujeitos, em conversação, considerando-se o
aspecto ontogênico dos seres, permeados pela emoção.
Os diversos conceitos de
linguagem apontam-nos a relação extremamente imbricada entre a expressão e a
comunicação, onde “a expressão manifesta
o eu, a comunicação é procura do tu, tendendo o eu e o tu a unir-se na unidade
do nós.” ( Gusdorf, 1970:53)
Se nos utilizamos da
linguagem (corporal, oral e escrita) para nos comunicarmos e nos expressarmos
ao mundo, e do mesmo modo, lemos, sentimos, enxergamos e percebemos o mundo por
meio da linguagem, esse processo consciente está impregnado de emoção, sendo
essa, em diversas circunstâncias, a indutora de ações e reações expressas pela
linguagem.
“Para o surgimento da
linguagem, então, precisa-se de uma história de encontros recorrentes entre
organismos que possibilite a coordenação conjunta de ações do conviver cotidiano
deles.” (Gonzáles,
1993:30)
Assim, podemos
inferir a respeito da ligação entre razão, emoção e linguagem, onde razão e emoção se utilizam da linguagem como
veículo de expressão e de comunicação entre eu, o mundo e o outro; lembrando
que esse outro pode se apresentar no diálogo consigo mesmo (interno), ou seja,
com o outro eu, e todo esse processo está promovendo manifestações emocionais.
Temos presenciado, como
educadores nos ambientes de aprendizagem, situações que refletem a dificuldade
na inter-relação educador/educando. Ouvimos constantemente as manifestações de
insatisfação, tanto por parte de educandos quanto de educadores, no que se
refere ao desentendimento entre o que um e/ou outro expressa no seu linguajar
nesse processo relacional.
Esse aspecto é de suma
importância para a reflexão do que entendemos por linguagem emocional.
Maturana (1997:170)
explicita que: “...a existência humana se
realiza na linguagem e no racional partindo do emocional.”
Se o simples domínio e
articulação de palavras e/ou da linguagem, sustentadas na racionalidade, fosse
suficiente para nos fazermos entender, nos aproximar dos outros e ainda
interagir com o mundo, poderíamos dizer que esses problemas não mais existiriam
atualmente, uma vez que o uso de técnicas de apropriação e domínio da linguagem
seriam facilmente manipuladas.
Porém, Maturana deixa claro na
afirmação acima, a linguagem e o racional partem do emocional, e portanto
envolvem outros aspectos que o simples “domínio de técnicas” para o “con-viver”
pelo “con-versar” humanos.
Articular, entrelaçar,
imbricar: linguagem, razão e emoção passa a ser, desse ponto de vista, o grande
desafio; e propõe-se que essa tecitura se dê pelo que chamamos de Linguagem
Emocional.
A Linguagem Emocional é
compreendida como um meio, uma forma, um dispositivo, um sistema intencional de
expressar e comunicar emoções, mediado/permeado/viabilizado pela linguagem
(conversação), para a relação de encontro, de contato, entre os sujeitos
aprendentes em processo contínuo de transformação. Assim, a Linguagem Emocional reflete,
sistematicamente, as múltiplas formas em que os seres humanos estabelecem
relações, utilizando-se das diversas linguagens, considerando o fator emocional
como importante desencadeador das transformações decorrentes deste processo.
As transformações
propostas nos ambientes de aprendizagem geram mudanças nesse espaço operacional
(ambientes de aprendizagem). Podemos então considerar que quando mudamos as
emoções, ou quando induzimos determinadas emoções, transformamos o ambiente ou
espaço operacional, e consequentemente interferimos e transformamos o processo
reflexivo e as ações entre os sujeitos autopoiéticos.
Esses
aspectos se desvelaram nas investigações desenvolvidas no “Curso de
Especialização em Desenvolvimento de Projetos Pedagógicos com o Uso das Novas
Tecnologias – PUC-SP/Proinfo”, onde o “tom” utilizado
pelo mediador pedagógico (conferencista) no
início e no processo de interação influencia o tipo de resposta do
interlocutor.
O processo de
indução de emoções pode ser desencadeado pelo uso atento e adequado de
diferentes linguagens, e desse modo, não aprendemos a ter/sentir emoções, mas sim a
expressá-las. Somos seres emocionais por natureza. Na educação, educadores e
educandos expressam, no seu con-viver, suas emoções, espontaneamente, na
maioria das situações vivenciadas nos ambientes de aprendizagem.
Encontramos em Wallon
(1941/1994:124), nos estudos acerca da emoção e afetividade, uma característica
importante das emoções, que esse autor denomina de contágio das emoções:
“Entre
as atitudes emocionais dos sujeitos que se encontram no mesmo campo de
percepção e de ação, institui-se muito primitivamente uma espécie de
consonância, de acordo ou de oposição. O contato estabelece-se pelo mimetismo
ou contraste afetivos. É assim que se instaura uma primeira forma concreta e
pragmática de compreensão, ou melhor, de participacionismo mútuo. O contágio
das emoções é um fato comprovado variadíssimas vezes. Depende do seu poder
expressivo, no qual se basearam as primeiras cooperações de tipo gregário, e
que incessantes permutas e, sem dúvida, ritos coletivos transformaram meios
naturais em mímica mais ou menos convencional.” (apud: Almeida, 1999:39)
Wallon fala-nos do
contágio das emoções pelo mimetismo, entre sujeitos no mesmo campo de percepção
e ação. A partir disso podemos inferir sobre a indução de emoções, nos diversos
ambientes e situações, entre os seres relacionais, inclusive nos ambientes
telemáticos.
Entendemos que a
característica da emoção explicitada por Wallon como contágio emocional, em
congruência aos aspectos explicitados por Damásio e Maturana, apresenta
subsídios relevantes ao uso da linguagem emocional na educação, especialmente
no que se refere à forma de despertar/provocar reações/emoções no outro.
Assim, entendemos que
pelo mimetismo emocional as reações de um sujeito da aprendizagem provocam no
interlocutor outras reações (respostas) convergentes (na mesma direção), ao
passo que pelo contraste emocional a resposta se dará
por reações defensivas dos sujeitos relacionais.
Muito temos
refletido e estudado sobre a formação de professores. Porém, o aspecto
emocional na formação dos educadores não teve e não tem tido a devida
valorização e atenção.
Constantemente
estudamos e refletimos insistentemente a necessidade de transformação dos
professores, mas como nos diz Nóvoa (1992:25) “... a formação não se constrói por acumulação (de cursos, de
conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade
crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade
pessoal. Por isso é tão importante ‘investir na pessoa’ e dar um estatuto ao
‘saber da experiência’.”
Ao mesmo tempo, estamos vivendo e pensando a formação de
professores no mundo atual e portanto, devemos refletir esse processo na era
tecnológica, que tem trazido mudanças profundas nas formas de relações humanas
emergentes.
Byington
(1996:68/69) assinala que “...a posição
corporal e a atitude dos alunos são expressivas e nos auxiliam a identificar o
que ocorre em sua psique (...) por isso dizemos que o corpo, como tudo mais, é
simbólico e requer o conhecimento e a atenção do professor.”
Nos ambientes
telemáticos a observação corporal ainda é restrita/limitada. Por nos
utilizarmos, em grande parte dos casos, da comunicação por meio da linguagem
escrita, os aspectos corporais observáveis, que envolvem olhar, expressão oral,
gestual, tátil, tornam-se inviáveis. Portanto, há necessidade de que os
professores nesses ambientes dediquem especial atenção às comunicações escritas
expressas pela Linguagem Emocional no processo de interação.
Novamente
surgem questionamentos acerca da linguagem utilizada nesses ambientes de
aprendizagem. Não estamos tratando de Linguagens de programação, mas sim da
linguagem utilizada para a comunicação/ conversação entre os indivíduos. O
linguajar que possibilita essa interação entre os seres envolvidos ainda se dá
predominantemente pela escrita. Muitos associam esse momento como “a volta da
comunicação por cartas”, porém de uma forma muito mais rápida e eficiente.
Sabemos
que a interação via computador, mais específicamente, a Internet, não deve ser
comparada à interação presencial. São diferentes sim; e não queremos aqui
qualificá-las, pois entendemos que não é esse o objetivo desse estudo, porém,
devemos fazer algumas reflexões à luz de aspectos significativos:
- precisamos aprender a trabalhar com o “e” e não apenas com o “ou”; ou
seja, não precisamos optar, por exemplo entre o presencial “ou” o virtual. Não
há substituição de um pelo outro, mesmo porque acreditamos na necessidade de
encontros presenciais pontuais, mediando os cursos a distância;
- podemos estabelecer uma relação afetiva, emocional, mesmo a distância.
Devemos considerar o uso da linguagem emocional para que essa dinâmica
relacional possa de fato abrir espaços de transformações entre os sujeitos
envolvidos;
- sendo o professor, o mediador desse processo, há necessidade de uma
mediação pedagógica permeada por uma linguagem emocional congruente, para que o
fluir das conversações interativas seja consubstanciado de emoções expressas
conscientemente, podendo assim abrir canais para e efetivação dos processos
reflexivos e críticos, transformando os espaços operacionais e os sujeitos da
aprendizagem.
3. Considerações Finais
Não há modelos, receitas ou signos na
linguagem emocional. Há sim uma proposta de construção de ambientes de
aprendizagem em que se considere e vivencie as emoções, expressas no linguajar
das conversações, como mediadoras do processo de construção do conhecimento,
facilitando a dinâmica relacional entre os seres, o meio e suas circunstâncias.
Compreendemos
que nos ambientes de aprendizagem a linguagem emocional está presente nas
conversações estabelecidas por todos os sujeitos em interação. No entanto quero
chamar a atenção ao aspecto da intencionalidade no uso da Linguagem Emocional
pelo mediador pedagógico, que pode representar um diferencial significativo
para o processo de construção do conhecimento, como ficou evidenciado em minhas
pesquisas.
Especialmente
nos ambientes telemáticos, onde a expressão/ comunicação ocorre pela linguagem
escrita, o cuidado com o uso de uma Linguagem Emocional intencional, que possa
induzir e/ou desenvolver emoções que convirjam em aproximação, reciprocidade,
interação, deve ser melhor considerado.
Nos cursos a distância em
ambientes telemáticos, o uso intencional de uma linguagem emocional merece
cuidado e atenção. Os cursos em ambientes telemáticos devem considerar a abordagem do “estar junto virtual”, que pressupõe
a criação de um ambiente de aprendizagem interativo, onde a construção do
conhecimento seja um ato contínuo e um compromisso assumido por todos os
sujeitos aprendentes.
A partir dessa concepção,
o cuidado e atenção com a Linguagem Emocional dos mediadores pedagógicos deve
ser um ponto importante a ser observado e desenvolvido. O uso intencional de
uma Linguagem Emocional que possa provocar, instigar, “induzir”, contagiar
todos os participantes a movimentos de aproximação recursiva, na busca contínua
de “quebrar couraças” que bloqueiam muitas vezes a exposição de emoções, se faz
necessário e pode auxiliar no processo de construção do conhecimento.
Os ambientes
telemáticos permitem o “disfarce” de emoções e sentimentos, uma vez que o uso
da linguagem escrita possibilita-nos “filtrar”, camuflar, o que queremos ou não
expressar.
Os estudos
desenvolvidos neste trabalho indicaram que a mediação pedagógica nesses
ambientes de aprendizagem, deve privilegiar as interações recorrentes entre
todos os envolvidos, buscando na linguagem emocional sustentação para que os
campos operacionais se abram em canais explicitos de comunicação
intersubjetivas.
Desse modo, a
linguagem emocional utilizada pelo mediador pedagógico pode abrir espaço para
que emoções e sentimentos sejam desvelados, criando então um espaço operacional
mais coeso, mais hamônico e propício às inter-relações emergentes, e
consequentemente, possibilitando construções e reflexões mais complexas.
Esta proposta
contribui para a construção de ambientes de aprendizagem onde os sujeitos
aprendentes sitam-se mais seguros a expressar seus sentimentos e emoções, e aprofundem
suas reflexões. O uso de uma Linguagem Emocional congruente pode instigar
trocas mais efetivas entre os envolvidos, propiciando a construção de ambientes
colaborativos de aprendizagem e quem sabe, comunidades de aprendizagem.
Somos
seres racionais e emocionais. A aceitação e compreensão desse fato só trará
benefícios a todos nós. Trabalhar a formação de educadores partindo desse novo
olhar, é respeitá-lo por inteiro, é percebê-lo como sujeito, também aprendente,
que precisa, assim como seus alunos, experenciar, vivenciar e expressar suas
emoções. É buscar a coerência entre a teoria e a prática no saber fazer, saber
conhecer, mas fundamentalmente, no saber ser integralmente.
“...Viver é afinar o instrumento
De dentro prá fora, de fora prá dentro
A toda hora, a todo o momento
De dentro prá fora, De fora prá dentro...”
Walter Franco (1991)
Notas
[1]
“Autopoiese é uma palavra composta das
palavras gregas ‘para si mesmo’ e ‘produzir’” (Maturana, 1997:133).
Maturana e Varela desenvolveram conceitos sobre sitemas autopoiéticos e
organizações autopoiéticas. Para maiores detalhes ver as obras desses dois
autores.
2- Nem todas as referências
telemáticas estão disponibilizadas no ambiente (Internet) com data e página.
3 Para mais detalhes ver
Revista Educação. Ano 27 – nº 240 – Ed. Segmento, abril/2001, p. 40-51
BRUNO,
Adriana Rocha. A Linguagem Emocional em
Ambientes Telemáticos: tecendo a razão e
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Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo, da Pontifícia Universidade
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BISQUERRA, R. A. Educación
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das emoções ao
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ESPIRITO SANTO, R. C. Pedagogia
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do Sertão. Música gravada por Leila Pinheiro, 1991.
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___________. Pedagogia
da autonomia. 1ª ed. São Paulo: Editora Paz e Terra
(Coleção Leitura), 1996.
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J.E.M. Emoção como fundamento das
interações humanas: um estudo a partir das obras de Humberto Maturana. s.n.
Dissertação (Mestrado em Psicologia da Educação) – Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo/PUCSP, São Paulo, 1993.
GOLEMAN, D. Inteligência Emocional: A Teoria
Revolucionária que redefine o que é ser Inteligente. Trad. Marcos
Santarrita. 12ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
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