Considerações sobre os resultados da aplicação de um Modelo de Avaliação para cursos de Formação Continuada no ensino a distância
Taciana Maria Isoni[1]
Mestre em Engenharia de Produção
tacianai@uai.com.br
RESUMO
As
iniciativas em Educação a Distância no Brasil têm poucos relatos de histórico
e de avaliação. Em se tratando de uma área recente no Brasil, a importância
de rigoroso acompanhamento e avaliação são necessários tanto para o
aprimoramento das técnicas e metodologias utilizadas, como também para a
consolidação e credibilidade da própria Educação a Distância no Brasil. Um
outro fator de grande importância deste estudo se refere ao fato de existirem
poucas iniciativas em formação de professores a distância, em escolas
privadas, utilizando recursos de alta tecnologia como a videoconferência. Este
artigo apresenta um resumo dos resultados obtidos em
pesquisa em um curso de formação continuada a distância para
professores de uma rede de escolas particulares, que podem
contribuir com informações sobre a qualidade das interações entre os
participantes do curso, fator decisivo para seu sucesso.
1.
INTRODUÇÃO
Avaliação
é componente fundamental de qualquer processo ou instituição cujo trabalho
seja educação. No caso específico de programas de Educação a Distância,
diante da falta de um modelo consolidado e de uma tradição no Brasil, isso se
torna ainda mais relevante. Alves (1994, p. 149) é categórico ao afirmar que
“uma das grandes falhas do processo educacional é a falta de controle
qualitativo dos sistemas, tanto presencial, como por ED.
Do ponto de vista tecnológico, a presença da informática nos processos de capacitação tem gerado grandes avanços nos procedimentos de treinamento a distância ou treinamento independente com ajuda do computador.
É
cada vez maior o número de empresas que descobrem as vantagens do treinamento a
distância para a capacitação e atualização de seus funcionários, não
somente por conta da redução dos custos, mas principalmente pela possibilidade
de envolver um grande número de pessoas ao mesmo tempo e em regiões distantes.
Neste
artigo serão abordados os resultados de um modelo de Avaliação
proposto em um curso de capacitação de professores a distância em um contexto
institucionalizado e sistêmico, propondo um
modelo centrado no curso, que busca os elementos envolvidos no planejamento,
construção, elaboração, aplicação e avaliação, correlacionando os itens
e destacando sua interdependência.
O
modelo foi testado em um curso de
capacitação em Formação Continuada para 972 professores, com a duração de
um ano e meio e carga horária de 180 horas de duração especialmente modulado
para as escolas de uma rede privada de ensino situada em cinco estados
brasileiros.
Os
dados obtidos através dos tabulação dos resultados desta pesquisa se propõe
a fundamentar futuros trabalhos a fim de possibilitar uma modelagem pedagógica
que proporcione uma maior aprendizagem colaborativa e interações sociais em
cursos de formação continuada a distância.
Aos
educadores e à sociedade interessa a avaliação da educação (HOLMBERG, 1981,
p.108), atendendo à necessidade de manter a qualidade educacional a mais alta
possível e assegurar que as verbas investidas produzam os resultados adequados.
Segundo o autor, as abordagens de
avaliação devem ser as seguintes:
a)
Objetivos, níveis de desempenho e sucesso dos alunos;
b)
Validação dos cursos por especialistas;
c)
Avaliação do mercado de trabalho e/ou das etapas acadêmicas seguintes;
d)
Atitudes dos alunos;
e)
Custo-Benefício.
Eastmond
(1994) propõe uma avaliação sistêmica que inclui 4 etapas:
a)
Escolha a estratégia de avaliação;
b)
Condução de avaliação formativa – relatórios freqüentes de
aspectos rotineiros de um curso em andamento;
c)
Condução de avaliação somativa – relatórios globais com objetivos
institucionais
d) Divulgação dos resultados – para as providências apontadas possam ser tomadas.
A avaliação sistêmica das necessidades de
cursos a distância implica em decisões que devem ser analisadas cuidadosamente
Eastmond (1994, p.91) sugere que as seguintes alternativas sejam consideradas:
a)
A avaliação por equipe
interna ou externa;
b)
Quais as informações são
mais importantes – coleta de dados implica em custos, ou financeiros ou de
tempo e energia. Decisões sobre equipamentos, currículo, marketing afetam o
curso como um todo e os limites da avaliação devem estar claros desde o
planejamento;
c)
Quem
são as pessoas ou grupos envolvidos – freqüentemente avaliações trazem a
tona questões de ordem política, onde interesses de grupos podem ser afetados.
O melhor é colocar o assunto na mesa cedo, no estágio de planejamento;
d)
Comprometimento da Instituição e Garantia da qualidade – antes de
iniciar qualquer estudo de avaliação de necessidade formal, a garantia
do comprometimento da instituição é crucial. O projeto deve ser
detalhado no início ao fim e a obtida a necessária aprovação administrativa.
Um comitê de consultores internos, com representantes de várias áreas da
instituição pode colaborar para a transparência do trabalho e pressionar para
a implantação das possíveis mudanças sugeridas;
e)
Coleta de dados – existem muitas maneiras de obter os dados, além dos
tradicionais questionários: observação participativa, registro de vários
sites, entrevistas, convivência com os alunos, consulta aos dados da instituição,
grupos de discussão e participação;
f)
Análise dos Dados – As informações devem ser estruturadas de forma a se
tornarem o mais claras possível e no caso de várias fontes e múltiplos tipos
de informação necessita de cuidadosa análise por um pesquisador qualificado
e;
g)
Concluindo
a avaliação – as informações do relatório devem ser consideradas pelo
planejamento do curso e mesmo que outras questões apareçam no decorrer do
programa, deve-se ter em mente que as respostas não são definitivas, mas
registros
de um processo em movimento. Registros que podem
destacar pontos de excelência no programa e necessidade de
ajustes.
Willis
(1996) menciona 2 (dois) tipos de avaliação para cursos a distância:
Formativa
– é um processo a ser considerado em todos os estágios da instrução que
permite ao instrutor aprimorar o curso em andamento. Facilita a adaptação do
curso e do conteúdo e identifica falhas no planejamento e necessidade de
ajustes.
Somativa
– avalia a eficácia global de um produto ou curso, possibilita alavancar o
desenvolvimento de um plano de revisão, pode ser a base de informação para o
planejamento de um novo curso ou programa mas não vai afetar os estudantes do
curso em questão, uma vez que é feito após o término do mesmo.
A
avaliação sistêmica das necessidades de cursos a distância implica em decisões
que devem ser analisadas cuidadosamente Willis (1996) recomenda a avaliação
dos seguintes itens:
a)
Uso da tecnologia – familiaridade, problemas, aspectos positivos,
atitudes no uso da tecnologia;
b)
Formatos das aulas
– eficácia das exposições do professor, discussões, perguntas e respostas,
qualidade das questões ou problemas levantados nas aulas, incentivo aos alunos
se expressarem;
c)
Manutenção de um bom ambiente para a realização das aulas –
relacionado a condução do aprendizado dos alunos;
d)
Quantidade e
qualidade das interações cm outros alunos e com o instrutor;
e)
Conteúdo do curso
– relevância, adequação do conteúdo, organização;
f)
Atividades – relevância, grau de dificuldade e tempo requerido,
rapidez das respostas, nível de legibilidade dos materiais impressos;
g)
Testes – freqüência, relevância, quantidade da matéria,
dificuldade, retorno das avaliações;
Estrutura de suporte – Facilitadores, tecnologia, bibliotecas, disponibilidade
dos instrutores;
i)
Produção dos
alunos – adequação, propriedade, rapidez, envolvimento dos alunos;
j)
Atitudes dos
alunos – freqüência, trabalhos apresentados, participação nas aulas;
k)
Instrutor – contribuições como líder das discussões, efetividade,
organização, preparação, entusiasmo, abertura aos pontos de vista dos
alunos.
2.
DESENVOLVIMENTO
2.1
Descrição da pesquisa
A
pesquisa citada neste trabalho é classificada como aplicada e sua forma de
abordagem quantitativa. Em relação aos objetivos é caracterizada como
pesquisa descritiva, tendo em vista como seus procedimentos técnicos os
levantamentos realizados para tabulação dos dados que foram base para as análises
do modelo de avaliação. A diretriz principal deste trabalho são considerações
a respeito dos resultados obtidos através da aplicação de um modelo proposto
de avaliação do Programa de Formação Continuada de Professores de Educação
Básica a distância em uma rede de ensino particular.
2.2
Critérios do Modelo de Avaliação
Na
construção deste modelo de avaliação levou-se em consideração os seguintes
critérios: Adequação aos alunos, Estratégia Pedagógica, Planejamento,
Materiais e a Avaliação dos alunos.
Aspectos
como a experiência prévia ou o patamar de conhecimento do tema, a cultura, a
linguagem e o contexto foram levados em consideração. A estrutura de suporte técnico
e as mídias utilizadas também foram um outro importante fator avaliado.
A
modelagem do curso foi planejada a partir do diagnóstico inicial obtido pelos
resultados da primeira etapa de implementação do modelo de avaliação, um
questionário inicial para avaliar qual seria o mais adequado conjunto de mídias
utilizada para alcançar de maneira uniforme todos os participantes,
e oferecer fácil acesso aos materiais referentes aos conteúdos específicos
necessários ao desempenho com a qualidade desejada.
2.3
As Mídias utilizadas
A pesquisa O curso contou com as seguintes mídias:Cartazes, banners, material impresso, Vídeo- aulas, Videoconferências e um ambiente de suporte on-line exclusivo para interações professor aluno, aluno – aluno, aluno - monitoria do curso.
O curso foi composto por 70% de material impresso, 20% de videoconferências, e 10% de vídeos-aula com entrevistas gravadas com os consultores e autores dos livros didáticos utilizados no Programa. As informações de cada mídia são adequadas às suas características, com a parte impressa funcionando como base do conteúdo e o vídeo expandindo e buscando uma variedade de situações reais como elemento auxiliar e motivador da aprendizagem. A videoconferência foi utlizada para realização das aulas e proporcionar uma maior socialização do conhecimento.
O
uso destas mídias na Educação Continuada é uma grande interrogação, tanto
no Brasil como no exterior, sendo objeto de inúmeras investigações na busca
de ambientes adequados, composto dos diversos serviços oferecidos pela
Internet, capazes de estimular diferentes sentidos do estudante e adequar o
processo de aprendizagem significativa
2.3.1
A utilização do recurso da videoconferência
A
interpretação dos resultados da tabulação do questionário estruturado
demonstra alguns aspectos em relação a videoconferência, sempre apontando-a
como fator de integração e alavancagem dos processos interativos.
Conforme
a pesquisa 60 % dos professores participantes do curso consideram a videoconferência
um momento rico para elucidação de questões relevantes da área, com observações
espontâneas coletadas no questionário e no ambiente de suporte Cap on line que
revela este recurso como um importante fator de comunicação e esclarecimento
de dúvidas. Os professores reconhecem a utilidade do recurso como via de
interatividade com os outros colegas da instituição.
A
videoconferência, enquanto meio de comunicação, era a alternativa mais
inovadora para os alunos. A opção por uma estratégia de comunicação que
possibilitasse interação, com estrutura própria de recepção, foi
viabilizada, sendo que 80% dos alunos assistiram a 2 videoconferências por área
no primeiro módulo do curso, totalizando 40 videoconferências realizadas no
primeiro ano de realização do programa.
2.3.3
A utilização do Ambiente de Suporte - on - line
Ao
longo do Programa foram recebidas 1196 mensagens e 42% são relatos de
participações espontâneas, trocas de mensagens afetivas entre os
participantes, demonstrando familiaridade com a mídia e descontração de
acordo com o demonstrado na tabela abaixo.
Os
resultados revelam que somente 50%
dos professores estão utilizando o recurso (correio eletrônico) de suporte técnico
pedagógico demonstrando um baixo nível de interatividade. O professor
demonstra estar em um processo de assimilação das novas mídias e do modelo de
curso em Educação a Distância.
Observa-se
que 14% das mensagens tratavam sobre conteúdo, significando a interação dos
alunos em busca de mais esclarecimentos, representando interesse e envolvimento
no curso. Muitas questões sobre a metodologia (9%) e logística (18%) do curso
foram encaminhadas com sugestões de acordo com a realidade das escolas o que
demonstra o empenho e a pro- atividade dos participantes do curso em solucionar
os problemas.
A
comunicação entre alunos, monitores e consultores se deu principalmente através
de correio eletrônico e de um aluno (professor participante do curso) designado
para a função de coordenador de logística, este professor também ficou
responsável por receber todo o material vindo pelo malote da escola, conferir,
reproduzir na quantidade correta e distribuir aos outros alunos do curso.
Acreditamos
que existe uma grande dificuldade
dos professores em se adaptar a modalidade de educação a distância,
utilizando toda as possibilidades de interação para esclarecer as dúvidas em
relação a compreensão das orientações referentes as atividades propostas.
O
percentual significativo de 38% de mensagens referentes a falta de material
representa a dificuldade em ajustar a logística de envio e retorno do material
para as escolas e estabelecer a melhor forma de comunicação. 3% apontam
problemas com o sinal da videoconferência, diminuindo a qualidade das transmissões,
prejudicando o desempenho da interatividade do Programa.
2.3.4
Utilização do material impresso
Em
relação a utilização dos materiais impressos 40% dos professores concordaram
que é possível se preparar para o debate das reuniões coletivas presenciais
ou pr videoconferência, pois o material foi recebido com antecedência
de pelo menos 15 dias.
Considerações
Finais
.A
nova visão do emprego da Educação a Distância na Educação Continuada,
resgata o significado original da palavra Tecnologia (do grego
tecnhé) que é o saber fazer com
e não, a significação atual, designando máquinas e equipamentos, pura e
simplesmente. Onde o emprego de novas e modernas mídias como videoconferência,
canais de voz e microcomputadores compõem uma nova realidade, com inúmeras
possibilidades de realização do processo de aprendizagem.
Para
modelagem de ambientes de educação a distância utilizando mídias integradas
torna-se necessário a organização prévia das atividades, desde preocupações
com o design até a implementação e avaliação pelos alunos. Quanto
maior o controle que o aluno tiver sobre a velocidade do curso, mais fácil será
adaptar seu cotidiano ao tempo necessário de dedicação ao estudo. Os
cronogramas e os materiais, devem sempre ser produzidos com o objetivo de
promover tranqüilidade e maior organização do participante do curso no período
que antecede ás atividades propostas.
Devem
ser produzidos manuais com orientações referentes a toda a estrutura do curso
e entregues aos alunos antes do início do mesmo. É
fundamental a formação do professor orientador do curso em metodologias de
Educação a Distância, a mesma consideração se faz a respeito da necessidade
de uma capacitação dos professores do curso para adequada utilização dos
recursos disponíveis em cada programa ou curso em questão.
Cursos
de formação Continuada a distância com a duração de 180 horas requerem uma
logística de produção e distribuição complexa. Especialmente para públicos
situados em diferentes localidades. Um profundo estudo dos processos e
procedimentos internos da instituição deve ser realizado anteriormente ao início
do curso.
Referências
Bibliográficas:
ALVES, João Roberto Moreira. A Educação a distância no Brasil:síntese histórica e perspectivas. Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação, 1994.
EASTMOND, Nick., acessing needs, developing instruction, and evaluating results in distance education. In WILLIS, BARRY. Distance Education – strategies and tools. Englewood Cliffs (New Jersey):
HOLMBERG, B. Educación a distancia: situación y perspectivas. Buenos Aires: Editorial Kapeluz, 1985.
WILLIS,
BARRY. Distance education at a Glance (1996) Series of Guides prepared by
Engineering Outreach at the University of Idaho. URL: http://www. Uidaho.edu/evo/distglan.html
9acessado em 05.09.1997).
[1] Taciana Isoni é coordenadora dos cursos de Formação Continuada dos professores da Rede de Escolas Marista dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Tocantins, Espírito Santo e Goiás. Professora de Metodologias para a Educação a Distância: na Faculdade Marista de Minas Gerais. Mestre em Engenharia de Produção com ênfase em Gestão de Informática na Educação pela UFSC - SC, com pesquisa em Formação de Professores a distância.