Jogos Educativos aplicados a e-Learning:
mudando a maneira de avaliar o aluno

 

 

 

Raphael Winckler de Bettio, M.Eng.
Universidade Federal de Santa Catarina
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção
Laboratório de Ensino a Distância
raphael@led.br

 

Alejandro Martins, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção
Laboratório de Ensino a Distância
martins@led.br

 

(formato doc)

 

 

 

Resumo. Com o atual crescimento da utilização de ferramentas de ensino a distância baseadas na Web, surgiu a necessidade de se aplicar novas metodologias de avaliação do grau de aprendizado do aluno. A aplicação de métodos modernos de avaliação tende a tornar o ensino a distância mais eficiente e a utilização de jogos como ferramentas de avaliação pode ser considerada uma nova metodologia a ser estuda e seguida.

 

Palavras-chave: Ensino a Distância, Objetos de Aprendizado, Avaliações.

 

1. CONSIDERAÇÕES SOBRE AVALIAÇÃO

 

Segundo Perrenoud (1999, p.9):

“...a avaliação não é uma tortura medieval. É uma invenção mais tardia, nascida com os colégios por volta do século XVII e tornada indissociável do ensino de massa que conhecemos desde o século XIX, com a escolaridade obrigatória”.

 

A partir da criação da escola obrigatória surgiu a necessidade de se avaliar a capacidade e o aprendizado dos alunos, a fim de que se pudesse decidir quais alunos deveriam passar para o próximo estágio e quais deveriam repetir o estágio atual. A escola evoluiu, o meio de ensinar também, mas o modo de avaliar continua arcaico.

Muitos autores, durante a evolução da didática e da pedagogia, tentaram apontar mudanças que deveriam ser incorporadas à escola tradicional, para que as avaliações realmente seguissem um modelo moderno, dinâmico, não enfatizando o aluno mais fraco, ou o aluno mais forte, e sim moldando o ensino de maneira que todos alunos conseguissem aprender.

Conforme Perrenoud (1999, p.10):

“...desde que a escola existe, pedagogos se revoltam contra as notas e querem colocar a avaliação mais a servido do aluno do que do sistema. Essas evidências são incessantemente redescobertas, a cada geração crê-se que “nada mais será como antes”. O que não impede a seguinte de seguir o mesmo caminho e de sofrer as mesmas desilusões”.

 

Como o próprio Perrenoud (1999) evidencia, a dificuldade em mudar o modelo de avaliação está no próprio modelo de ensino e não apenas na avaliação. Ele alerta que modificar as escalas de notação, as tabelas, as médias, tudo isso é muito fácil, mas essas mudanças não afetam o modelo radical como o sistema ensino funciona. O que realmente é importante é criar um novo modelo de avaliação, que seja mais formativa, menos seletiva, mudando-se, assim, todo o modelo de avaliação e conseqüentemente a escola como um todo.

Até o momento atual, a própria escola não mudou, os modelos didáticos evoluíram, porém a maneira como o aluno era impulsionado para um novo estágio continuou a mesma. A avaliação, de uma maneira cruel, avalia pessoas diferentes de maneiras iguais. Para que o modelo de avaliação pudesse ser modificado, seria necessário adequar todo o sistema de ensino, onde pessoas diferentes deveriam ser ensinadas e avaliadas de maneiras distintas, pois números não definem pessoas, conhecimento sim.

Corroborando com está idéia, Gadotti (1987) afirma que:

“...eu diria que Pedro Demo se aproxima da filosofia educacional de Rubens Alves que, ao invés de avaliar suas aulas em termos de rendimento escolar, se pergunta, ao final delas, se seus alunos conseguiram viver mais felizes, se o conhecimento aprendido lhes trouxe alguma nova alegria de viver, se eles sentiram sabor em saber mais”.

 

Pedro Demo é um homem à frente de seu tempo, em 1941 já evidenciava que as avaliações deveriam estar centradas na certeza em saber que o conhecimento foi adquirido e não na necessidade de passar para o próximo estágio.

A descrição de avaliação conferida pelo próprio Pedro Demo salienta o que realmente uma avaliação deveria representar para os alunos. Ele descreve o prazer em fazer uma avaliação e não a necessidade de ser avaliado quando ressalta:

“...a avaliação qualitativa deve levar em conta principalmente a qualidade de vida atingida e o envolvimento: Na qualidade não vale o maior, mas o melhor; não o extenso, mas o intenso; não o violento, mas o envolvente; não a pressão, mas a impregnação. Qualidade é estilo cultural, mais que tecnológico; artístico, mais que produtivo; lúdico, mais que eficiente; sábio, mais que cientifico. Por isso, não pode ser medido quantitativamente, como não se pode medir a intensidade da felicidade”.

 

Vários autores escrevem sobre avaliação moderna, pode-se enveredar em vastas discussões sobre essas citações. O problema descrito por estes autores, como sendo o culpado pela falta de adequação no modelo de avaliação, é a rigidez do sistema de ensino.

Levando-se em consideração que esta proposta está diretamente ligada a um novo paradigma na educação – o ensino a distância – e que este modelo ainda está em evolução, pode-se afirmar que o problema de rigidez é menos intenso e então chegar a conclusão que existe a possibilidade de mudança no modelo de avaliação. Assim, transformando a maneira de como se avaliam os alunos e proporcionando-lhes auto-suficiência, não mais avaliando com intenção de passar para o próximo estágio, pode-se mostrar aos mesmos que eles aprenderam, que vale a pena estudar e que esses conhecimentos poderão ser utilizados durante toda a sua vida.

Um começo para a mudança já pode ser verificado em Perrenoud (1999): “Nenhum médico se preocupa em classificar seus pacientes, do menos doente ao mais gravemente atingido. Nem mesmo pensa em lhes administrar um tratamento coletivo”.

 

2. UTILIZANDO OBJETOS DE APRENDIZADO

 

Mas, mudar o modelo de avaliação ainda não é o suficiente, deve-se transformar o modo como se avalia de uma maneira que os alunos façam as avaliações de uma forma mais prazerosa e conseqüentemente mais proveitosa. Existem milhares de maneiras de avaliar uma pessoa, sem que esta esteja respondendo a questões clássicas do tipo múltipla escolha ou certo e errado. Pode-se utilizar meios computacionais para promover o aprendizado e também para avaliar em que nível do mesmo o aluno se encontra. Uma solução seria a utilização de ambientes gráficos, que em alguns momentos podem ser chamados jogos educativos.

Poderia-se modelar um método de avaliação baseada em Objetos de Aprendizado, que podem ser considerados qualquer recurso digital que possa ser reutilizado para o suporte ao ensino. A principal idéia dos Objetos de Aprendizado é quebrar o conteúdo educacional em pequenos pedaços que possam ser reutilizados em diferentes ambientes de aprendizagem, em um espírito de programação orientada a objetos.

A ligação entre Objetos de Aprendizado – OA – e Avaliações trariam um ganho significativo ao aluno, o mesmo poderia, por exemplo, identificar quais OAs deveriam ser estudados para melhorar o percentual de aprendizado de um determinado assunto.

Sendo que cada OA já possui sua própria avaliação, o modelo descrito assim pode ser visualizado graficamente na figura 1.


Figura 1: Objetos de Aprendizado e Avaliação

3. JOGOS EDUCATIVOS

 

A utilização de jogos educativos em conjunto com a aplicação de modelos de avaliação modernos tende a melhorar o processo ensino-aprendizagem e proporcionar ao aluno uma maneira lúdica de aprender.

Conforme Silveira (1998, p.02):

“...os jogos podem ser empregados em uma variedade de propósitos dentro do contexto de aprendizado. Um dos usos básicos e muito importantes é a possibilidade de construir-se a autoconfiança. Outro, é o incremento da motivação. (...) um método eficaz que possibilita uma prática significativa daquilo que está sendo aprendido. Até mesmo o mais simplório dos jogos pode ser empregado para proporcionar informações factuais e praticar habilidades, conferindo destreza e competência”.

 

Caso seja possível transformar a avaliação tradicional, de forma que os alunos não se sintam mais pressionados a fazê-la, e sim empolgados em aprender algo novo, uma etapa será ultrapassada. Desta forma, os resultados das avaliações serão mais conclusivos, podendo assim direcionar os alunos ao aprendizado individualmente, de uma maneira que todos possam aprender.

Os jogos podem ser utilizados para esse fim, pois segundo Silveira (apud CAM95) “os jogos educativos podem despertar no aluno: motivação, estimulo, curiosidade, interesse em aprender (...) o aluno constrói seu conhecimento de maneira lúdica e prazerosa”.

Os jogos educativos vem sendo utilizados como forma de ensino em diversos sites distribuídos por toda a Internet, abaixo pode-se visualizar alguns exemplos recentes.

A tela capturada do jogo que pode ser visualizado na Figura 2 é utilizado em um site denominado OnLine University com a intenção de ensinar questões relacionadas a direito. Ele pode ser considerado um jogo simples, já que apenas utiliza recursos gráficos para demonstrar ao aluno se uma questão foi respondida corretamente ou erroneamente. Entretanto, fazendo-se uso do site é possível notar que apenas essa diferença já transforma a avaliação, dando-lhe um aspecto lúdico.

 

Figura 2: Jogos Educativos MrOnLiver

Fonte: http://www.onlineuniversity.com.br/

A idéia de utilizar jogos para ensinar algo pode ser aplicada aos mais diversos fins, por exemplo, o site Lipor – site ecológico – utilizou-se desse recurso para mostrar aos visitantes “como separar o lixo”. (vide figura 3)


Figura 3: Jogos Educativos Ecológicos

Fonte: www.lipor.pt/Paginas/ecojogos/ecojogo_ecoponto.htm

 

O site não evidencia se o padrão de comportamento do visitante está sendo armazenado, mas o resultado deste tipo de coleta de dados poderia tornar-se um relatório importante sobre como os visitantes do site estão preparados para selecionar o lixo. A idéia de utilizar jogos para avaliar está crescendo, já que é muito mais fácil uma pessoa “brincar” de arrastar itens, como neste caso, do que responder a um questionário tradicional.

Outros jogos mais tradicionais também podem ser encontrados distribuídos na rede, jogos como o famoso caça-palavras. (vide figura 4)


Figura 4: Jogos Educativos Caça-Palavras

Fonte: games.yahoo.com/games/gen/puz/

 

Segundo Martins (2002, p.1):

“...em nosso cotidiano utilizamos várias formas de jogo: o dos sentidos, em que a curiosidade nos leva ao conhecimento; os jogos corporais expressos na dança nas cerimônias e rituais de certos povos; o jogo das cores, da forma e dos sons, presente na arte dos imortais; o jogo do olhar. Enfim, ele está aí,fazendo arte de nossas vidas. A intensidade do poder do jogo é tão grande que nenhum ciência conseguiu explicar a fascinação que ele exerce sobre as pessoas”.

 

Deste modo, acredita-se que a utilização de jogos na educação virá a melhorar o modo de ensinar, o modo de avaliar e também o modo de aprender, mudando a visão do aluno em relação a educação.

 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A utilização de modelos pedagógicos modernos aplicados a avaliações deve ser considerada uma mudança necessária. A aplicação de técnicas computacionais voltadas a jogos educativos pode melhorar o desempenho e a capacidade das avaliações de demonstrar o quanto o aluno aprendeu. Assim, valendo-se desta característica, o ensino pode ser aprimorado, proporcionando ao aluno um aprendizado mais eficaz e eficiente.

 

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

DEMO, P. Avaliação Qualitativa. Cortez Editora e Editora Autores Associados, 1941. 

GADOTTI, M. Pensamento pedagógico brasileiro. Editora Ática, 1987. 

MARTINS, J. G.; MOCO, S. S.; MARTINS, A. R.; BARCIA, R. M. Realidade Virtual Através de Jogos na Educação. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós Graduação em Engenharia da Produção. 2001. 

PERRENOUND, P. Avaliação: da excelência a regulação das aprendizagens. Entre duas Lógicas. Tradução Patrícia Chittoni Ramos. ArtMed Editora. Porto Alegre. 1999. 

SILVEIRA, R. S; BARONE, D. A. C. Jogos Educativos computadorizados utilizando a abordagem de algoritmos genéticos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Informática. Curso de Pós-Graduação em Ciências da Computação. 1998.