O TRABALHO DE TUTORIA ASSUMIDO
PELO PROGRAMA DE  EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
DA UNIVERSIDADE DE UBERABA -
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

 

Marisa Mayrink Santos Ferreira
Universidade de Uberaba
marisa.mayrink@uniube.br

  

Raul Sérgio Reis Rezende
Universidade de Uberaba
raul.rezende@uniube.br
[1] 

 

(formato doc)

 

 

 

INTRODUÇÃO 

A principal tarefa da educação e, conseqüentemente da escola ao construir, reconstruir, ampliar e socializar o conhecimento, é a de formar cidadãos. Tal propósito nos reporta à contribuição que realiza no sentido de levar as pessoas à uma atuação crítica e criativa no contexto social de que fazem parte, exercendo seus direitos e, no mesmo nível, procurando ser de verdade, pessoas mais felizes. 

Por não ser a cidadania algo pronto e acabado, como um "pacote a mais" a ser oferecido pela escola, urge ressaltar aqui o papel primordial da escola e tarefa maior dos docentes, no que diz respeito à construção, à mediação e à provocação desse processo.

Cientes que somos de que o ensino  não é apenas um mero movimento de transmissão que termina quando a coisa que se transmite é recebida, mas sim apenas o começo do cultivo de tudo o que foi semeado, é que ousamos neste trabalho, pensar, propor e ir além  da semeadura.

 

 

APRESENTAÇÃO

 

Pretendemos com este trabalho relatar como nós, enquanto equipe de Tutoria e Acompanhamento do Programa de Educação a Distância da Universidade de Uberaba, pensamos, estruturamos e estamos desenvolvendo o trabalho de acompanhamento para cursos a distância, enfatizando especificamente o trabalho do professor/tutor responsável por esses cursos, independente da mídia a ser adotada,  oferecidos dentro e/ou fora da Universidade.

Cientes de que, desde o início das inúmeras discussões para a elaboração de nossa proposta de trabalho, é fundamental promover o máximo de interação entre alunos e professores, partimos para a estruturação de um projeto, colocando no centro de nossas atenções o papel e a figura do profissional que iria assumir a promoção destas intenções. Dessa forma, a atuação do professor-tutor/formador/orientador (independente da forma como se queira nomear, decisão esta aliás, que cabe à cada instituição que se propõe a fazer um trabalho de EAD) em cursos a distância, revelou-se para nós não como mero estilo de compensação de problemas inerentes ao processo de ensino-aprendizagem a distância, mas sim como o suporte necessário para o fortalecimento e a edificação de todo o trabalho de interação a ser desenvolvido, em prol da construção da cidadania, dentro de qualquer curso.

 

 

DISCUSSÃO

Entendemos por interação, um evento complexo, dialético e interacionista, que depende inteiramente dos elementos e de seus contextos, das pessoas e dos lugares e que constitui uma ferramenta importantíssima para a construção do conhecimento. Na prática, ela é a ação recíproca entre dois sujeitos: múltiplos olhares para um mesmo fato, o que vai sempre exigir uma mediação pedagógica.

Tais pensamentos encontram-se fundados principalmente no aparato teórico de uma concepção de educação assumida pelo Programa de Educação a Distância da Universidade de Uberaba, que privilegia um projeto pedagógico sustentado por uma visão de educação centrada no aprendiz, e que portanto pretende concretamente desenvolver uma prática educativa de interação pedagógica cujos objetivos, conteúdos e resultados obtidos devem se identificar com aqueles que caracterizam a educação como projeto e processo humanos.

Fruto de todas estas discussões assumimos um conceito de tutoria que revela um pouco de nossas preocupações e permanentes ações, expresso no Guia do Aluno, do curso de Cafeicultura Irrigada (2001, p. 19):

 

"É um sistema de ação docente que propicia a mediação (interação que se utiliza de um canal de comunicação: correio, rádio, TV e outros) e a facilitação da aprendizagem, em educação a distância, com o fim de acompanhar e assessorar todo o processo de construção do conhecimento dos alunos envolvidos, tanto no aspecto pedagógico-motivacional como no que diz respeito ao conteúdo específico, de forma a garantir a qualidade do processo ensino-aprendizagem."

  

Desta forma temos procurado atuar efetivamente na implementação da modalidade de educação a distância assumido pela Universidade de Uberaba com o objetivo de assessorar e acompanhar todo o processo de construção do conhecimento dos alunos envolvidos. Para tal, definimos como horizonte de ações, os limites e as possibilidades de um acompanhamento que envolve tanto os aspectos pedagógicos-motivacionais como os relacionados aos conteúdos específicos. Assim, temos estruturado um trabalho, onde necessariamente atuam  num mesmo curso, tutores/formadores pedagógicos e tutores/formadores especialistas.

Os primeiros cuidam dos aspectos pedagógicos relacionados com a motivação, a orientação, a estimulação e a facilitação da aprendizagem autônoma dos alunos. Eles podem portanto ser ou não especialistas nos conteúdos específicos do curso no qual atuam. Podemos citar como exemplo concreto, para melhor ilustrar essa proposta, o trabalho que nós desenvolvemos no curso de Cafeicultura Irrigada[2] como tutores pedagógicos, pois não dominamos os conteúdos do referido curso e

nem temos formação específica nesta área,  mas temos conseguido desenvolver

uma interlocução muito interessante, transitando tranqüilamente entre todos os alunos matriculados, que militam na área do café.

Inclusive, o fato de termos freqüentado, de dois anos para cá, eventos científicos, tais como congressos, simpósios, feiras e dias de campo com profissionais do ramo agrícola, tem nos aproximado mais e melhor, não só de nossos alunos mas do próprio espírito do curso.

 Os segundos, como especialistas no(s) conteúdo(s) trabalhado(s) cuidam dos aspectos relacionados ao seu conteúdo específico. Aqui é necessário que o tutor tenha formação na área do curso em que atua, o que não o obriga a ser um dos conteudistas do mesmo.

Seu trabalho envolve as questões específicas do(s)  conteúdo(s), quer por solicitação voluntária ou não do(s) aluno(s) ou por acompanhamento dos caminhos, dos problemas e/ou dos trabalhos apresentados, ao longo do curso.

 

 

CONCLUSÃO

 

No curso de Cafeicultura Irrigada, acima citado, procuramos trazer os mais renomados profissionais do ramo, o que tem servido de fator de credibilidade e de aceitação do mesmo, tanto no mercado nacional como também no estrangeiro (temos um aluno em Stamford, nos Estados Unidos e outro em Sidney, na Austrália).            

Neste trabalho torna-se importante ressaltar a convivência agradável e enriquecedora que tem sido a por nós vivida, enquanto profissionais de áreas bem diferentes com a do café (uma pedagoga e o outro engenheiro civil), com os profissionais do ramo agrícola. Como saldo positivo desta dobradinha, tem se fortalecido e ampliado os conhecimentos do grupo de tutores como um todo como também tem nos dado a clareza de que acertamos ao fazermos a escolha, por este tipo de acompanhamento dos nossos alunos.

Cada vez mais temos nos certificado de que, educação, na modalidade a distância, também  se faz com pessoas e entre pessoas.

 Se utilizamos de várias e diversificadas mídias – a impressa, o correio, a Internet ou o telefone, é apenas como meio de facilitação e de agilização de nossas comunicações e de nossas relações. O mais importante tem acontecido, sem dúvida, entre todas as pessoas envolvidas: alunos, tutores pedagógicos, tutores especialistas, coordenador, supervisor técnico, conteudistas, especialistas no desenho próprio do conteúdo para esta modalidade de educação e outros.

Afinal, como nos asseguram os integrantes da comissão Assessora para Educação Superior a Distância, no Relatório Final da Comissão(2002, p. 14):

 

         "...O aluno é sempre o foco de um programa educacional e um dos pilares para garantir a qualidade de um curso a distância é a interação de professores e alunos, hoje muito facilitada pelo avanço das TiCs (tecnologias de Informação e Comunicação) (...) a interação é um componente fundamental no processo de construção do conhecimento"...

 

 

O trabalho de tutoria por nós tutores pedagógicos e tutores especialistas, desenvolvido com os alunos do ramo do café, tem nos aproximado cada vez mais como profissionais que somos, embora de áreas tão distintas e tem nos dado também a delimitação exata de nossos horizontes de atuação com os alunos. Assim tem ficado, cada vez mais fácil atuar em conjunto e tem facilitado ao aluno na hora que o mesmo precisa de ajuda, tanto no sentido de suas dúvidas quanto ao material de estudo como nos aspectos gerais do curso como um todo e em seu papel como sujeito no processo de sua própria aprendizagem. Como vemos afirmado, no Guia do Tutor Especialista, do curso de Cafeicultura Irrigada da Universidade de Uberaba (2001, p. 06):

 

"Na modalidade de Educação a Distância existem três elementos fundamentais que se interagem: o aluno, o material didático e o professor/tutor. Independentes da concepção de educação e da mídia utilizada, todas as experiências em educação a Distância ressaltam a importância do sistema de tutoria para acompanhar, motivar, orientar e estimular a aprendizagem autônoma do aluno, utilizando metodologias e meios adequados para facilitar a aprendizagem"...

 

 

Através de diálogos, de confrontos, da discussão entre diferentes pontos de vista, das diversificações culturais e/ou regionais e do respeito entre formas próprias de se ver e de se postar frente à conhecimentos e à situações problema que são levantados, temos procurado desenvolver enquanto equipe de tutoria e acompanhamento, um trabalho que realmente revele a nossa preocupação com o outro, o aluno – agente ativo do processo, que está construindo o seu conhecimento e, não recebendo, passivamente, informações por nós transmitidas.

Atuando em outros cursos, inclusive de formação de docentes, em serviço, da Universidade de Uberaba,  e diferentes mídias, por exemplo na Internet, dentro do ambiente Teleduc[3], temos agido, enquanto tutores, da mesma forma com outros profissionais e temos percebido o alcance de nossos esforços em dialogar com diferentes pessoas, facilitados pela tecnologia.

Participando em eventos científicos, tanto na área da educação como também na agrícola temos contado informalmente ou relatado em comunicações formais, nossas vivências e um pouco do nosso trabalho e de nossas preocupações teóricas e práticas no assessoramento do processo com o aluno e, temos sentido o interesse das pessoas em conhecer mais de perto e questionar sobre o como fazemos e o quanto temos investido em educação a distância, tanto no sentido político como no pedagógico, no tocante ao acompanhamento e a preparação  cuidadosa de toda situação ensino-aprendizagem. 

 

 

 

 

Bibliografia

 

BARBOSA, Ivanilda. Programa de Educação a Distância da UNIUBE. Uberaba. 2001.

EQUIPE de Tutoria e Acompanhamento/EAD/UNIUBE. Guia do Tutor Especialista - Curso de Cafeicultura Irrigada. Uberaba: Gráfica Universitária, 2001.

MEC/SESU. Relatório final da Comissão Assessora para Educação Superior a Distância (Portaria Ministerial n.º 335/2002). Brasília, Agosto 2002.

Ministério da Educação http://mec.gov.br

NÓVOA, Antonio (org.). Profissão Professor. Porto: Porto editora, 1992.

Universidade Virtual de Educação a Distância - UniRede http://www.unirede.gov.br

RIOS, Terezinha Azêredo. Compreender e ensinar - por uma docência da melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2001.

 



[1] Ambos são professores da Universidade de Uberaba e atualmente constituem a equipe de Tutoria e Acompanhamento do Programa de Educação a Distância da Universidade de Uberaba. Ele tem formação em Engenharia Civil e ela é Pedagoga.

[2] O curso de Cafeicultura Irrigada tem sido oferecido nas formas de Especialização – 420 horas, Aperfeiçoamento –180 horas e Extensão, no mínimo de 90 horas, desde julho de 2001, tendo como mídia básica o material impresso e com critérios e exigências legais assumidos em seu projeto. Ele tem como objetivo oferecer aos profissionais da área cafeeira a oportunidade de se prepararem para a utilização e aplicação de novas tecnologias de irrigação da cultura do café, contribuindo para a expansão, o aumento, a melhoria da qualidade e maior rentabilidade da produção cafeeira.

[3] O TelEduc é um ambiente de apoio ao ensino-aprendizagem on-line que está sendo adotado para utilização nos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade de Uberaba. Este ambiente, desenvolvido no Nied (núcleo de Informática Aplicada à Educação) da UNICAMP, é voltada para criação, participação e administração de cursos na Web.