FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 
EM CURSOS A DISTÂNCIA: NOVAS PERSPECTIVAS 
DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

 

 

Lúcia Regina Goulart Vilarinho
Universidade Estácio de Sá  

lvilarinho@estacio.br

 

Iêda Carvalho Sande
Universidade Estácio de Sá  

Icsande@wnt.com.br

 

Luiz Alberto Ambrósio Nogueira Junior
Universidade Estácio de Sá

laanj@bol.com.br
 

 

(formato doc)

 

 

RESUMO

 

Este artigo apresenta os resultados parciais de uma pesquisa que está sendo conduzida no âmbito de um curso de especialização, voltado para a formação de profissionais de ensino na área da informática educativa, oferecido a distância. Sua coordenação está a cargo de uma universidade federal tendo apoio do MEC/Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO). Os objetivos básicos deste estudo são: (a) determinar o perfil do usuário do curso e suas expectativas em relação ao mesmo; e (b) analisar o desenvolvimento das atividades de ensino - aprendizagem a partir das percepções dos cursistas e do que se encontra na literatura especializada sobre cursos “on-line”. Para alcançar estes objetivos definiu-se uma metodologia de acompanhamento constante do processo, na perspectiva de estudo de caso, englobando a aplicação de questionário e entrevistas nos encontros presenciais do curso e a observação das atividades conduzidas no ambiente virtual. Até o presente momento, do conjunto de seis instrumentos de coleta de dados elaborados para a pesquisa, já foram aplicados quatro, a saber: um questionário de sondagem e três entrevistas, todos com seus dados já tabulados. Estes, portanto são resultados parciais, analisados em suas partes e no todo que já compõem.

Palavras Chave: Formação Continuada do Professor; Educação a Distância; Ensino–aprendizagem.

 

 

1. Formação continuada de professores: velho problema, novos desafios no    contexto da educação a distância

 

Desde a década de sessenta vem sendo destacada a importância da formação continuada em face das aceleradas mudanças, geradas pelas conquistas da ciência e da tecnologia (TRIGUEIRO, 1969 e FURTER, 1983). Passados quarenta anos verifica-se a atualidade dessa questão, hoje ainda mais complexa em função da expansão das novas tecnologias, computador e rede, em quase todos os setores da atividade humana, inclusive no educacional, onde sabidamente encontram grandes resistências (MORAES, 2000). Na educação emergem como “inovações”, provocando rupturas ainda pouco estudadas.  Pode-se mesmo afirmar que a sua utilização em processos de ensino-aprendizagem tem sido feita sem uma consistente (re)elaboração de suas bases epistemológicas. Assim, é valido admitir que muito se tem a pesquisar sobre as mudanças, radicais ou não, que estão sendo produzidas com a introdução dessas tecnologias na educação formal.  Em qualquer esforço de pesquisa, porém, cabe relembrar que nos anos 60/70, fortificou-se uma “pedagogia tecnicista”, fundada na psicologia comportamentalista (SKINNER, 1972; GAGNÉ, 1976)  que colocava os meios instrucionais como fins em si mesmo na apresentação e desenvolvimento dos conteúdos de ensino.

Foi, pois, considerando a atualidade da problemática da formação continuada de docentes, hoje se deparando com a necessidade de acompanhar as mudanças exigidas pela sociedade ao mesmo tempo em que precisa romper as resistências às novas possibilidades que se abrem com a utilização das tecnologias, sem retornar ao tecnicismo educacional, que se tomou como problema de investigação um curso de especialização em Informática Educativa (360 horas) oferecido on-line a professores de redes públicas de ensino.

Este curso, coordenado por uma universidade federal, atende a propósitos do Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO), atingindo todos os estados das regiões sul e sudeste, tendo como objetivo mais amplo formar professores para atuarem como multiplicadores em duas dimensões: a primeira dirigida àqueles que visam trabalhar junto aos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE) dos estados, capacitando outros docentes a desenvolverem projetos educacionais que envolvem a informática no contexto de suas escolas; a segunda voltada para os professores que desejam implementar práticas educacionais nos laboratórios de Informática Educativa já existentes no seu espaço de trabalho.

Para desvelar o problema de estudo – um curso de formação continuada de docentes oferecido on-line – formulou-se as seguintes questões: (a) quem são os profissionais que procuraram o curso? (b) que expectativas eles apresentam em relação ao curso? (c) como esses sujeitos vêem a formação on-line no que tange aos principais componentes de seu processo didático: objetivos do curso; ferramentas e ambiente virtual; tempo para a aprendizagem; temas e textos de estudo; proposta de atividades; relação teoria- prática; papel do tutor; papel do aluno na aprendizagem a distância; momentos presenciais; e avaliação da aprendizagem e do curso como um todo?

Os achados aqui apresentados são parciais, pois o curso em tela só estará concluído em março de 2003. No entanto, face ao esquema de pesquisa que está sendo conduzido, com a coleta e análise de dados em estágio bem avançado, alguns resultados já podem ser apresentados e comentados.

Espera-se com este trabalho oferecer subsídios à compreensão de alguns desafios que se apresentam à formação continuada de professores conduzida a distância.

 

2. Procedimentos metodológicos do estudo

 

A pesquisa se configura como um estudo de caso na medida em que se projeta pra a análise, a qual se espera abrangente, de uma unidade social, tomada como um todo.  Esta unidade está sendo dissecada com o objetivo de ser compreendida em seus próprios termos, o que exige uma abordagem qualitativa (REY, 2002) dos dados obtidos no processo de pesquisa.

 Tendo em vista a dificuldade de se alcançar o universo dos sujeitos inscritos no curso, num total de 200, optou-se por trabalhar com uma amostra intencional, englobando 26 sujeitos, todos eles vinculados às redes públicas do estado e do município do Rio de Janeiro. Esta amostra não probabilística foi assim definida em função da facilidade que um dos pesquisadores tem de estar em contato direto com os participantes nos momentos presenciais, todos eles realizados na cidade do Rio de Janeiro; essa pesquisadora é tutora do curso em questão. Embora se saiba que as amostras intencionais se tornam mais vulneráveis à subjetividade e à influência do investigador; elas apresentam vantagens pois são obtidas com maior rapidez e facilidade (BUNCHAFT; KELLNER, 1998), daí ser aceito o seu uso.

Para responder às questões de estudo, definiu-se os seguintes passos metodológicos:

(1o) processo de levantamento das percepções dos cursistas em relação à formação on-line. Neste sentido, até o presente momento, foram aplicados, nos momentos presenciais, um questionário de sondagem e três das cinco entrevistas previstas de serem conduzidas até o final do curso, obedecendo-se à seguinte seqüência: primeiro momento – questionário; segundo, terceiro e quarto momentos, respectivamente entrevistas I, II e III. Todos os instrumentos foram elaborados em conjunto pelos pesquisadores após: a leitura cuidadosa do projeto do curso; a navegação no ambiente virtual de modo a com ele se familiarizar; e estudo de textos que tratam de formação continuada e do ensino on–line. Os instrumentos construídos foram submetidos à apreciação de dois especialistas na área da educação a distância. As perguntas do questionário de sondagem, fechadas e abertas, buscaram essencialmente obter um perfil resumido dos cursistas e determinar suas expectativas em relação à formação. Já as entrevistas, constituindo um “continuum”, se voltaram para a percepção dos sujeitos quanto ao processo de formação que estão vivenciando. Nelas também são apresentadas questões abertas e fechadas, focalizando elementos que se destacam no processo didático on–line. Assim, a entrevista I congregou questões que investigam o que os sujeitos pensam sobre os objetivos do curso, suas ferramentas e o ambiente virtual; a entrevista II englobou perguntas relativas ao tempo para aprendizagem, aos textos e temas de estudo e às propostas de atividades; a entrevista III concentrou suas questões na relação teoria – prática: no papel do tutor e no papel do aluno em situação de ensino à distância. A entrevista IV, já aplicada mas ainda sem os resultados tabulados, indaga sobre os momentos presenciais e o processo de avaliação nas suas dimensões: aprendizagem do cursista e processo global de ensino. A entrevista V, que ainda não tem seu roteiro, focalizará todas as questões anteriores que não ficaram devidamente esclarecidas, concretizando uma espécie de recuperação de “aspectos perdidos”.

 (2o) observação de campo conduzida no ambiente virtual. A observação de campo é procedimento bastante usual nas pesquisas que se valem da abordagem qualitativa. Implica na presença do pesquisador no contexto de estudo, realizando uma observação apurada, a qual é detalhada no diário de campo (RIZZINI et al, 1999). Como se trata de uma formação on–line, considerou-se que tal observação deveria se ajustar ao ambiente virtual. Desse modo, definiu-se que os pesquisadores teriam de “navegar” sistematicamente, pelo menos uma vez por semana, no ambiente virtual do curso, observando a movimentação e a produção dos cursistas e o atendimento dos tutores. Nesta “navegação” pode-se, entre outros aspectos, observar a troca de experiências e de informações entre os diferentes atores, dimensionar os acessos, o teor das dúvidas, a profundidade das discussões dos textos, as ferramentas mais valorizadas. Embora a  observação seja livre, os pesquisadores, tanto nas navegações individuais ou em grupo, estão tendo a preocupação de anotar o que estão vendo, para poderem organizar a sua discussão.

(3o) análise dos dados coletado. As questões fechadas de todos os instrumentos vêm sendo tabuladas, gerando gráficos que facilitam a visualização  do conjunto das respostas obtidas, portanto estão sofrendo um tratamento quantitativo. Já as questões abertas ou de resposta livre, estão sendo analisadas à luz da técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 1992), através da qual se verifica que temas ou idéias se apresentam como mais recorrentes no contexto do grupo de respostas oferecidas em uma determinada pergunta. As anotações relativas à observação de campo estão sendo discutidas a partir de algumas abordagens teóricas, previamente selecionadas, que se voltam especificamente para as questões desta pesquisa. Assim, buscou-se neste estudo tecer a complementaridade entre a abordagem quantitativa e a qualitativa (SANTOS FILHO, 1997; ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2000)   

(4o) conclusões da pesquisa. Constitui a última etapa da pesquisa e nela espera-se aliar o rigor da análise dos resultados à criatividade dos pesquisadores, no sentido de identificar os limites e as possibilidades da formação continuada de professores on-line. É provável que as conclusões finais exijam a revisão de alguns pontos do presente artigo; entende-se, no entanto, que esta demanda é inerente a todo processo de pesquisa, pois como situa Minayo (1999): “nada existe eterno, fixo, absoluto. Portanto não há nem idéias, nem instituições e nem categorias estáticas. Toda vida humana é social e está sujeita a mudança, a transformação; é perecível” (p.67 / 68). Cabe salientar que os resultados aqui expressos não podem ser generalizados; devem ser entendidos como um olhar questionador de três pesquisadores sobre um determinado objeto de investigação. Trata-se de um esforço de aproximação da realidade, pois é no questionamento constante da realidade e na não aceitação de resultados definitivos que se dá a renovação do conhecimento (DEMO, 1992).

 

3. O Ambiente virtual de uma formação continuada de professores

 

O ambiente oferecido pelo curso é o e-Proinfo, um espaço virtual que utiliza a Internet e permite diversas ações, tais como cursos a distância, complemento a cursos presenciais, projetos de pesquisa, projetos colaborativos e outras formas de apoio ao processo ensino-aprendizagem.

O e-Proinfo apresenta os sites do Participante e do Administrador. No primeiro os interessadas podem se inscrever e participar de cursos ou outras propostas oferecidas por instituições conveniadas, tendo acesso a conteúdos, informações e atividades organizadas por módulos, além de poderem interagir com coordenadores, instrutores, orientadores, professores, monitores e colegas. Neste ambiente virtual existem recursos para as atividades, entre eles: Tira-dúvidas, Notícias, Avisos, Agenda, Diário e Biblioteca. Há também ferramentas para a interação, a saber: e-mail, chat, fórum de discussões e banco de projetos, e para avaliação de desempenho, como questionários e estatísticas de atividades.

Os conteúdos do curso oferecem subsídios à construção de projetos de aprendizagem. Neste sentido, são desenvolvidos seminários temáticos sobre aspectos metodológicos e psico-pedagógicos do ensino-aprendizagem  e oficinas relativas a aspectos tecnológicos. Cada seminário é organizado a partir da leitura de textos, de debates com questões problematizadoras elaboradas pelos professores  para todas as turmas do curso. Merece destaque a exigência da monografia, que tem como tema: Projetos de Aprendizagem Mediados por Ambientes Virtuais. Serão feitos dois estudos de caso: o projeto de aprendizagem do curso; e o projeto de aprendizagem na escola. A revisão bibliográfica é desenvolvida durante os seminários; o registro do percurso (diário de bordo) faz parte da monografia, a qual deve conter conclusões sobre o trabalho realizado. 

Os cursistas do Rio de Janeiro foram organizados em 6 grupos de trabalho e escolheram os seguintes temas de pesquisas: Formação de Liderança; Música; RPG (Jogos Interativos); Água; Saúde, Nutrição e Hábitos Alimentares; Atividade Física.

Esta proposta se caracteriza como semi-presencial, envolvendo: o encontro de abertura; encontros com assistentes; trabalho cooperativo e atendimento a distância  via internet (eproinfo). Sua carga horária total é de 588 horas, supondo  8 horas de atividades diária para cada aluno. Esse total se distribui da seguinte forma: Workshop de abertura (24 horas); encontros com assistentes de aprendizagem (24 horas); atividades a distância com acompanhamento diário (540 horas). Os assistentes de aprendizagem foram indicados pelos Programas Estaduais respectivos e atuam nos NTE’s como mediadores locais e a distância. A implementação do curso foi precedida de uma capacitação em EAD para os multiplicadores que atuariam como assistentes de aprendizagem, com a participação dos professores orientadores. Ficou previsto que a cada quinzena os alunos teriam contatos presenciais com seus assistentes de aprendizagem, o que não vem acontecendo, uma vez que, até agora, os encontros estão sendo mensais, sendo que no mês de dezembro não houve reunião presencial.

Os requisitos para um professor participar do curso são: experiência como professor regente; dominar do uso do computador / rede; liberação de 20 horas semanais para os estudos do curso; ter interesse em ser multiplicador de conhecimentos de informática na educação.

A interação está sendo basicamente feita através do forum,  ferramenta mais utilizada, sendo que as questões são comuns a todos os grupos. Os tópicos para a discussão são apresentados pelo orientador; os temas que emergiram  são: Sobre nós mesmos (um espaço onde o cursista pode falar de sua vida particular); Café com bobagens (onde se fala do cotidiano) e Mãos a obra (discussão sobre os projetos). A observação virtual dessa interação evidencia uma participação diferenciada dos grupos.  No tópico Mãos à Obra, verifica-se o seguinte resultado: (a) projeto de aprendizagem - o grupo de cursista que escolheu o tema RPG – jogos interativos é o que está com maior número de acessos; (b) seminário - o tema aprendizagem cooperativa foi o que englobou mais acessos; e (c)  oficina – a que tratou da construção da home page recebeu maior número de entradas.

 

 

4. Principais pressupostos teóricos do estudo

 

Entre os aspectos que definem hoje a importância de estudos continuados de docentes pode-se destacar: a precária formação recebida nos cursos de magistério e a rápida obsolescência dos conhecimentos, pedagógicos ou relativos ao próprio ensino. A formação continuada tem sido objeto de estudos distintos e entre eles pode-se citar o de Carvalho e Simões (1995) que analisaram 30 artigos sobre este tema. Neste estudo as autoras salientam que essa formação tem se expressado através de quatro dimensões, a saber: reciclagem, treinamento, aperfeiçoamento e educação permanente. Elas criticam essas dimensões afirmando que não dão conta dos três eixos centrais do processo de formação continuada: (a) a pessoa e a experiência do professor; (b) a profissão e seus saberes; e (c) a escola e seus projetos (NÓVOA, 1992). Afirmam que os conceitos – chave predominantes no discurso expresso nos artigos analisados referem-se, entre outros pontos, às seguintes questões: articulação dos saberes docentes; processo de conhecimento na ação; reflexão na ação; e reflexão sobre a reflexão na ação.              

Para Ramos (1991) a formação continuada se caracteriza como trabalho coletivo, isto é, trabalho com e não trabalho para professores. O confronto de saberes e práticas de todos os componentes do grupo dá margem à instauração de um sistema de trocas cujo resultado se reveste em desenvolvimento individual. A essência desse processo de formação reside no seu caráter crítico-pedagógico.

Não se pode esquecer, no entanto, que a formação continuada que nos interessa especificamente é a conduzida on-line. Para Palloff e Pratt (2002) a incorporação do computador na sala de aula redefiniu a educação a distância. No ensino on-line, ainda que o professor defina e dirija o conteúdo do curso, há espaço para que os alunos o explorem de forma colaborativa, segundo seus interesses. Os estudantes se transformam em sujeitos concreto-ativos, isto é, aprendem através de experiências concretas que lhes são propostas. Em muitas situações tais experiências de aprendizagem começam com a prática e terminam com a teoria, como acontece nos trabalhos em conjunto ou colaborativos, nas discussões, na elaboração de projetos, na leitura e resposta a estudo de caso, em  dramatizações e em simulações. Assim, os resultados de um processo on-line não podem “ser medidos pelo número de fatos memorizados ou pela quantidade de matéria decorada mas, avaliados pela profundidade do conhecimento e pelas novas competências adquiridas” (PALLOFF e PRATT, op.cit. p.28). 

Esses dois pontos cruciais – a formação continuada não pode ser um “pacote instrucional”, mas deve ser sobretudo produção reflexiva e crítica de conhecimento na ação; e – a formação continuada on-line deve ensejar a aprendizagem colaborativa, valorizando os interesses específicos de cada aprendiz, partindo da prática para a teoria e a esta retornando para atualizar a ação, estão sendo tomados como pressupostos teóricos básicos no estudo deste caso.  Ao final da pesquisa espera-se poder indicar os acertos e as dificuldades que a proposta teve para conduzir a formação continuada na vertente de “construção colaborativa do conhecimento crítico-reflexivo sobre a ação na ação”.

 

5. Os resultados parciais já encontrados

 

. Quem são os profissionais que procuraram o curso e o que esperavam dele?

 

A resposta a essa questão da pesquisa veio através da tabulação dos dados do questionário de sondagem, aplicado no primeiro encontro presencial a 25 participantes (96% dos sujeitos).

           Trata-se um grupo predominantemente feminino (87%); mais da metade (61%) só tem curso de graduação (39% fez algum tipo de pós-graduação lato-sensu); também mais da metade (57%) tem sua formação na área das ciências humanas e sociais; a grande maioria (70%) atua em colégios ou escolas estaduais (30% pertence à rede municipal); um grupo significativo (65%) está em sala de aula; todos têm experiência de magistério (100% com mais de seis anos) e acesso à internet ,sendo que a maioria deles (78%) concretiza esse acesso via telefone; 91% tem computador;  menos da metade (48%) já usa o computador como ferramenta de ensino-aprendizagem; 83% acessa o curso de casa.

Perguntados sobre o que esperam do curso, 96% revelou que deseja vir (ou continuar) a ser multiplicador.  Na pergunta do questionário sobre “como viam o curso”, indicaram visualizá-lo na perspectiva de crescimento / enriquecimento profissional.

 

. Como esses sujeitos estão vendo a sua formação on-line?

 

As entrevistas (I, II e III), aplicadas nos momentos presenciais que se seguiram ao primeiro encontro, já oferecem algumas respostas.

  Da entrevista I, respondida por 19 cursistas (73% dos participantes), inferiu-se que o objetivo geral do curso  foi considerado adequado pela totalidade (100%) desses respondentes. Verificou-se, também, que o curso atende às pretensões profissionais – 90% se posicionou favoravelmente. Um significativo percentual de sujeitos (74%) disse que as ferramentas de aprendizagem eram compatíveis com as propostas do curso. Em contrapartida, 58% dos sujeitos afirmou ter dificuldade de compreender a organização do ambiente virtual e também um grupo expressivo (48%) se queixou da dificuldade de manusear essas ferramentas. Neste particular, a ferramenta situada como a mais difícil foi o gerenciador (47% dos usuários assim se posicionou). Para outros 48% a quantidade de ferramentas é insuficiente. Merece destaque o fato do fórum ter sido apontado como a ferramenta preferida para obter conhecimentos; a mais prazerosa; e que concentra maior número de horas de estudo (63, 53 e 33% respectivamente).

 Na entrevista II, respondida por 13 sujeitos (portanto, apenas 50% da amostra inicial),  um percentual elevado (67%) afirmou ser inviável dedicar 20 horas semanais de estudos ao curso; aliado a esse problema verificou-se, também, que o horário preferido para acessar o curso é o noturno (73%). A quantidade de textos indicados para estudo foi situada como adequada (53%); a qualidade foi considerada muito boa (73%). O conteúdo dos textos foi qualificado de genérico (87%). Para 54% desses respondentes a autonomia da aprendizagem foi favorecida; já 33% afirmou que estava se ajustando ao processo interativo virtual. Segundo um percentual elevado (73%) o pensamento crítico foi favorecido pelas atividades do curso.

E, finalmente, na entrevista III, cujas perguntas foram mais abertas, mas respondidas por apenas 11 sujeitos (43% da amostra inicial), obteve-se as seguintes informações básicas: (10 ) a totalidade desses respondentes considera que o curso concretiza a relação teoria-prática, sendo que sete docentes  (63%) esclareceram que esta relação se dá na construção dos mapas conceituais, nas aprendizagens colaborativas, na montagem dos quadros cognitivos , nos seminários e no uso adequado das ferramentas; (20 ) mais da metade do grupo (seis cursistas – 54%) registrou que é importante que o tutor participe do planejamento do curso; (30 ) sete alunos  (63%) indicaram que gostariam de ser tutor ou por que já possuem essa experiência, ou por que gostariam de possuí-la. As últimas perguntas dessa entrevista levantaram: (a) funções básicas do tutor - esclarecer dúvidas (54%);  interagir com os alunos (54%); ajudar o grupo em suas atividades (45%); estar engajado nas atividades do curso (36%); estar atualizado (27%); colaborar com sugestões e críticas (18%); incentivar constantemente os alunos (18%); e ser claro (18%);  (b) requisitos básicos para o aluno fazer um curso a distância - saber administrar o tempo (73%); dispor de tempo (54%); ter interesse (36%); ter conhecimentos sobre a EAD e suas ferramentas (36%); ser dedicado (27%); ser organizado (27%); saber manusear o computador (18%); ter disciplina (18%); gostar de conhecimentos e de ler (18%); e (c) dificuldade do aluno em curso a distância – falta de tempo (100%); dificuldade financeira (36%); dificuldade de acessar a internet (27%).

     Embora ainda faltem os resultados da entrevista IV e V, já se pode antever as dificuldades e acertos dessa formação.

 

6. As conclusões que já se evidenciam

 

      O grupo iniciante (26 sujeitos) possuía os requisitos básicos para participar da experiência. Além da formação superior, todos têm computador e acesso à rede, visualizando a proposta como possibilidade de crescimento profissional ou oportunidade para se tornarem multiplicadores, seja em NTEs ou na própria escola. Perceberam o objetivo do curso como adequado e factível.  Assim, as condições essenciais ao bom desenvolvimento da proposta estavam presentes no começo do curso. No entanto, no decorrer da pesquisa dois problemas foram detectados: a desistência de alunos e a baixa interatividade em determinadas ferramentas do ambiente virtual. Por que ocorreram estes problemas?

Considerando todos os dados coletados nos instrumentos (questionário e três entrevista) e os obtidos através da observação do contexto de aprendizagem, algumas explicações  podem ser oferecidas.

 A primeira refere-se ao ambiente virtual, tido como de difícil compreensão. É indispensável que o aluno adquira intimidade com o gerenciador, condição sine qua non para as atividades de aprendizagem. Talvez fosse interessante promover um período de adaptação ao ambiente virtual antes do início do curso.

A segunda está intimamente relacionada ao tempo que o aluno trabalhador (no caso, o professor) possui para estudar. Sem a diminuição da carga horária de trabalho, o que leva a grande maioria dos cursistas a acessarem o curso a noite, após o desgaste das atividades diárias de magistério, e sem uma obrigatoriedade de horário para entrar e navegar no ambiente virtual (todos juntos), o que se observa é a diminuição do entusiasmo e, consequentemente, do rendimento. Os próprios cursistas admitiram que para se ter sucesso em curso dessa natureza é preciso, além de ter tempo para estudar, saber administrar o tempo.  Portanto, o elemento tempo é peça-chave neste tipo de proposta. Cabe, pois, repensar a seleção de cursistas em função do fator tempo nas suas múltiplas dimensões.

 A terceira explicação considera o conteúdo do curso. Pela observação de campo verificou-se que as exigências iniciais de leitura eram suaves: tratavam-se de textos bem pequenos. Depois,  as leituras se tornaram mais abrangentes, porém genéricas, mas de quantidade suficiente e de boa qualidade, conforme indicação dos alunos. Tendo em vista que na EAD é valiosa a aprendizagem que parte de problemas ou enfoques práticos para daí trabalhar-se a teoria, voltando-se sempre à prática, caberia indagar: teria sido esta abordagem adequada? Os textos mais lights no início do curso não poderiam ter estimulado um ritmo mais lento de aprendizagem? As exigências de leitura não deveriam ser bem maiores desde o início do curso para imprimir um ritmo mais intenso ao trabalho?

A quarta explicação refere-se à necessidade do tutor participar do planejamento do curso. Tendo em vista o elenco bem rico de atividades que o tutor deve desempenhar, indicado pelos próprios cursistas, cabe indagar se não seria indispensável que ele participasse, ou pelo menos acompanhasse, a estruturação do curso. É provável que a sua prática de orientação seja facilitada pela compreensão mais ampla do curso como um todo.

Paralelamente, não se pode omitir os registros positivos dos alunos sobre diversos aspectos do curso. Para esses sujeitos a relação teoria-prática está sendo concretizada em diversos momentos. Esta relação também pôde ser observada no campo, quando os pesquisadores acompanharam as atividades de construção dos projetos individuais. Por outro lado, também afirmaram que o curso favorece o pensamento crítico e a autonomia, destacando o fórum como o espaço mais favorecedor da interação.

Em função desses resultados e conclusões parciais, algumas sugestões podem ser oferecidas: (a) melhor seleção do aluno para a formação continuada via EAD: (b) período de adaptação ao ambiente virtual, preparatório ao curso propriamente dito; (c) participação dos tutores no planejamento do curso, ou no mínimo no período de adaptação ao ambiente virtual; (d) compatibilizar o conteúdo do ensino (textos de leituras) com a aprendizagem colaborativa definidora do uso das novas tecnologias em educação.

 

 

Referências

 

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BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1992.

BUNCHAFT, G.; KELLNER, S. R. Estatística sem mistérios. Petrópolis (RJ): Vozes, 1998.

CARVALHO, J.M. ; SIMÕES, R.H.S. O processo de formação continuada de professores: uma construção estratégico-conceitual expressa n os periódicos brasileiros. Caderno de Pesquisa do Programa de Pós-graduação da  Universidade Federal do Espírito Santo, v. 1, n.1, p. 11-39.

DEMO, P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez, 1992.

FURTER, P.  Educação e vida. Petrópolis(RJ): Vozes, 1983.

GAGNÉ, R. M. Como se realiza a aprendizagem. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1976.

MORAES, M. C. O paradigma educacional emergente. Campinas (SP): Papirus, 2000.

MINAYO, M. C. De S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo – Rio de Janeiro: Hucitec- Abrasco , 1999.

NÓVOA, A. (Coord.) Os professores e sua formação. Lisboa: dom Quixote,1992.

PALLOFF, R.M.; PRATT, K. Construindo comunidades de aprendizagem no ciberespaço. Porto Alegre: Artmed, 2002.

REY, G. Pesquisa qualitativa em psicologia: caminhos e desafios. São Paulo: Pioneira, 2000.

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RIZZINI, I. et al. Pesquisando: guia de metodologias de pesquisa para programas sociais. Rio de Janeiro: Editora Universitária Santa Úrsula,1999.

SANTOS FILHO, J. C. dos. Pesquisa quantitativa versus pesquisa qualitativa: o desafio paradigmático. IN GAMBOA, S. S. Pesquisa educacional: quantidade –qualidade. São Paulo: Cortez, 1997.

SKINNER, B. F. Tecnologia do ensino. São Paulo: Herder, 1972.

TRIGUEIRO, D.M. Um mundo novo, uma nova educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v 53, n.113, p.9-18, jan /mar, 1969