Design e e-learning
Professor Romiszowski,
Enquanto designer instrucional envolvida com e-learning, permaneço sempre ansiosa em trazer minha contribuição e participar de discussões sobre os artigos da RBAAD, mas nem sempre consigo fazer isto. A edição anterior, dedicada ao Design Instrucional para e-learning, no entanto, colocou-me "contra a parede" e aqui estou, meio às comemorações do Natal, a escrever. Além disto, esta edição trás à tona a velha questão do desconhecimento do trabalho do designer instrucional, no caso, a nossa participação no e-learning. Veremos isto mais adiante, porém.
Minha vontade inicial era resumir numa carta o que este número trouxe de informação e conhecimento. Mas, todos sabemos o quão estamos sempre aquém na tarefa de cumprir todos nossos anseios e compromissos. Assim, optei por selecionar apenas alguns dentre os artigos e me concentrar neles, vendo-os como oportunidades para reflexão e, quem sabe, suporte para re-alinhamento de rumo frente à questão da aprendizagem eletrônica.
Vou começar enfocando o artigo do
Pfromm Netto e a carta do
Stefanelli que colocam um "holofote" de ênfase na questão da QUALIDADE e nos lembram nossa responsabilidade no design de e-learning. Os autores, ambos educadores, manifestam-se indignados com o que têm visto por aí sob forma de aprendizagem à distância, e houve mesmo a sugestão da aplicação dos rigores da lei para alguns produto "vendidos" como e-learning, infelizmente, como se houvessem leis que pudessem ser aplicadas. Então, surge a questão: que padrões podem servir para aferir a qualidade de um treinamento em mídia eletrônica? Isto nos faz pensar na questão de padrões de qualidade, e aqui usando as palavras de
Stefanelli (embora em outro contexto), "com um sentimento dicotômico de exultação e medo".
Bem, algumas coisas já poderíamos estabelecer como padrões básicos, além do código de ética, tudo muito amarrado ao entendimento de nossa responsabilidade enquanto designers e educadores "intervindo no mundo" (Paulo Freire). Mas, de qualquer maneira, não há como padronizar heurísticas e, portanto, sempre haveremos de nos espantar com alguns produtos que são oferecidos com e-learning.
Em seu artigo, um "quase manifesto",
Pfromm relaciona os desafios a enfrentar para unir aprendentes, ensinantes e tecnologia e destaca o que ele chama de "formas bizarras de proceder" e o que chama de "aranzel de pseudo-técnicas" no ensino-aprendizagem presencial e a distância.
Stefanelli, por sua vez, ressalta que a metodologia da programação orientada a objetos está sendo transferida para a educação sem o devido cuidado em planeja-la adequadamente para o processo de ensino-aprendizagem e para as idiossincrasias do ambiente educacional. Ambos os autores estão certos ao destacar a necessidade de zelarmos pela qualidade dos cursos oferecidos e, claro, manifestar indignação. A baixa qualidade de alguns produtos podem por a perder todo o esforço em fazer com que a EaD brasileira se caracterize pelo uso honesto e competente dos recursos tecnológicos.
E já que estou abordando a questão da tecnologia, aproveito para enfocar o artigo do
Beto Lucena, que fala sobre processos e máquinas ligadas ao e-learning. Vamos começar pelo que é destaque no artigo: o uso do hipertexto e da tecnologia WEB pelos designers, o que - segundo o autor - são tecnologias que devem ser melhor conhecidas para serem melhor aproveitadas. Gostaria de observar que foi este artigo o que mais me instigou a escrever, já que nele identifiquei importantes questões a serem discutidas. Vou recorrer à caixa de giz para lembrar o que tem sido amiúde a relação do professor com a tecnologia: alguns detestam colocar as mãos na caixa e sujá-las para escrever no quadro negro. Há muito os educadores usam a tecnologia para enriquecer aulas e torná-las mais interessantes e dinâmicas; mas a tecnologia é sempre olhada apenas como ferramenta de suporte ao nosso trabalho, como se fossemos - ou o conteúdo que ensinamos - o centro do processo. Os paradigmas mudaram e parece que muito educador não consegue perceber ainda o quanto as novas tecnologias têm características que as permitem assumir papel mais relevante no processo de ensino-aprendizagem; dentre outras coisas, porque o aprendizado pode ser construido no passo do aluno, na hora e no local em que ele está disponível para aprender. Parece que
Lucena quer dizer é para "metermos a mão" na caixa de giz da tecnologia digital, sem medo de sujá-la e ele está com razão em relação a isto. Entender sobre as novas tecnologias é fundamental e, como diz o artigo, estas precisam estar enraizadas na cultura de desenvolvedores de e-learning.
Lucena escolheu algumas das novas tecnologias para abordar: o LMS, os padrões AICC e SCORM e os - tão difíceis de conceituar - objetos de aprendizagem. Foi relevante o autor ter incluido estes objetos no rol das novas tecnologias, já que ainda existem alguns educadores restritos à associação de tecnologia aos conceitos de hardware e software. L.O. - Learning Object é um conceito cada vez mais usado e que, ao que tudo indica, sua conceituação permanece em construção, gerando ainda muita dúvida quanto a seu significado.
Quanto aos ambientes de e-learning, gostaria de incluir nesta carta menção aos LCMS - Learning Content Management Systems, porque LMS - Learning Management Systems - citados por
Lucena - e LCMS coexistem se complementando em diversas aplicações de e-learning. Se a intenção é tornar educadores e designers mais versados em tecnologia, gostaria de sugerir leitura a um artigo ("LMS and LCMS: What's the Difference?" de Leonard Greenberg), que destaca semelhanças e diferenças entre estes dois sistemas.
Como era de se esperar, e assim como todos os autores na edição passada da RBAAD,
Lucena deu o necessário destaque ao planejamento e ao projeto da aprendizagem eletrônica já que, como qualquer produto, o e-learning também carece de um projeto/design e de um desenvolvimento bem feitos para alcançar seus objetivos.
Tomando todos os artigos escolhidos, podemos facilmente constatar que a relação ensino-aprendizagem a distância e tecnologia ainda está longe de estar resolvida, se é que isto será possível em algum momento no futuro.
Stefanelli, como mencionado antes, sugere que a tecnologia está "dando as cartas" quando escreve que se está simplesmente transportando a metodologia da programação orientada a objetos para a educação. No entanto, lembra
Lucena, isto está sendo feito sem um maior domínio da ferramenta por parte dos designers.
Não há como deixar de observar a quantidade de designers que
Lucena relaciona como envolvidos com o e-learning. É aqui que gostaria de comentar a minha surpresa ao ler a descrição do autor sobre a atuação do designer instrucional nesta área. Empolgado em sua luta pela valorização da tecnologia,
Lucena acabou por restringir a ação do designer instrucional, deixando-nos fora da essência de nosso trabalho no planejamento, projeto e na avaliação de aprendizagem a distância. Acredito ser oportuno, prof. Romiszowski, que o próximo número da RBAAD contenha um glossário onde a atuação do designer instrucional, seja na educação presencial, na EAD ou específicamente no e-learning, seja melhor esclarecida.
Continuando minhas considerações sobre os artigos, observei que tecnologia, planejamento e projeto são também os assuntos principais dos dois últimos artigos enfocados. Interessante perceber a ênfase que a Dra. Lewis atribui à questão da usabilidade dos ambientes de aprendizagem eletrônica. Às vezes, um educador ou designer pode ficar tão "ofuscado" pelo teor de tecnologia de um ambiente de e-learning que pode se esquecer de avaliar se o aprendiz vai mesmo ser bem sucedido na tarefa de aprender algo através deste ambiente. Lewis facilita nossa vida ao avaliar, criticamente, um ambiente bastante conhecido, nos ajudando a saber o que devemos buscar e o que evitar nos mesmos.
Vou concluir esta carta mencionando outra questão da maior relevância no processo de aprendizagem eletrônica e que foi abordado por Noronha: a comunicação. Noronha propõe aumentar a eficiência e a efetividade de um ambiente através da adoção de uma tecnologia para estruturar e gerenciar a comunicação, tecnologia esta que, conforme o autor, pode ajudar na geração de pensamento criativo pela comunidade aprendente. Este é um ponto para reflexão: se a comunicação é um dos elementos-chave no processo, estruturá-la pode ajudar ou prejudicar? E, se ajuda, o faz até que ponto? Gostaria de saber de outros educadores a respeito da utilização da CE em seus projetos de e-learning.
Enquanto aguardo reações aos artigos publicados e à esta carta, vou concluir a leitura dos outros artigos da RBAAD. Estou certa que teremos uma rica oportunidade de crescer em conhecimento através de nossas discussões aqui. Até mais, então.
M. Isabel Rodriguez - 15/02/2004
Publicada em: 02/03/2004