Qualis - ISSN - 1806 - 1362 / DOI 10.17143 / abed1995
 




 

Cartas ao Editor

A "Teoria da Distância Transacional" de Michael G. Moore

Francisco José da Silveira Lobo Neto

A aplicação do conceito de transação (transaction) de Dewey à educação a distância, permitiu uma primeira elaboração teórica na Inglaterra do início dos anos 70. É a partir dela que Moore constrói esta reflexão básica fixando parâmetros conceituais importantes para a prática da educação a distância.

Sem pretender - nem caberia aqui - discutir os fundamentos e desdobramentos das contribuições teóricas do texto, desejo apenas ressaltar o quanto de aproximação essencial entre educação "presencial" e "a distância" se manifesta, no momento mesmo em que Moore - competentemente - aponta para as diferenças.

A verdade é que, na identificação da transaction deweyana com a relação interativa, a base do processo educacional se afirma em qualquer nível, qualquer modalidade, qualquer circunstancia de espaço e tempo. A questão na educação a distância, como na educação em geral, é a de ser uma prática essencialmente social, - portanto transacional / interativa. Caso contrário não é educação.

Ao apresentar o diálogo como concretização dessa transação e tecer com acuidade as relações entre alunos - professor - conteúdo no processo pedagógico, Moore nos conduz a um aprofundamento crítico desse mesmo processo que, a distância, implica em grau mais complexo de mediação, sublinhando a importância dos meios de comunicação. E, especialmente, de maneira muito peculiar ele põe em evidência as possibilidades de mediação pedagógica da teleconferência.

É neste ponto que vamos encontrar uma preciosa referência: "acima de tudo, diz ele, há grande potencial para apoio e geração de conhecimento entre os colegas". Este aspecto, tão fundamental na natureza transacional da educação, em sua característica de prática social onde o diálogo professor-aluno tem como pressuposto essencial a relação de cada aluno com os outros alunos, merece de todos nós leitores deste estimulante trabalho de Moore, um compromisso de investigação para aplicação concreta em nossos programas.

Por outro lado, creio ser importante apontar um aspecto mais geral e decorrente da leitura do texto de Moore: a busca de referenciais teóricos não é ociosa para a construção de uma prática. Continua a ser muito pouco prática a posição dos que se pretendem tão práticos que dispensam a teoria como um impertinente atraso na velocidade necessária de realização. Além disso, todos sabemos pela experiência de nossas práticas que se não nos apropriamos de seus fundamentos teóricos, nem por isso nossas práticas deixam de tê-los. Ainda que à nossa revelia, apesar de nossa ignorância.

O importante é saber que nem o diálogo, nem a transação pedagógica ocorrem pela presença da mais nova geração de equipamentos que possibilitem a teleconferência. Estas só ocorrem na relação das pessoas que se comprometem em "teleconferenciar" significativamente. Para isso é necessário que dominem referenciais teóricos e de análise. Afinal, como finaliza Moore seu artigo: "nas mãos de professores progressistas, [é possível que] a teleconferência [ e outra forma de mediação ] crie a oportunidade não apenas para a redução da distância, mas também para o aumento da autonomia dos alunos".

Publicada em: 30/08/2002

 

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