Qualis - ISSN - 1806 - 1362 / DOI 10.17143 / abed1995
 




 

Cartas ao Editor

Carta ao Editor Em ref. ao artigo do Marcos Formiga

Lina Romiszowski

A análise do Marcos Formiga sobre Educação a Distância (EAD) em escolas e empresas, levanta alguns pontos para reflexão, principalmente para os educadores. Por que?

Parece que o mundo corporativo está investindo mais na idéia de que conhecimento é poder, que conhecimento tem um caráter dinâmico e que os modernos sistemas de EAD têm muito a oferecer para isso.

No mundo escolar/educacional, mesmo sendo pedagoga, por formação e atuação - e talvez até por isso mesmo - tenho que admitir que ainda não assimilamos bem a idéia de que a velha discussão "presencial ou a distância" está quase superada. A discussão hoje, é sobre o que, para que e como podemos fazer para termos uma educação de qualidade, seja presencial ou a distância.   

A legislação ajuda (embora nem sempre) a estabelecer as políticas gerais, mas não é suficiente para garantir a eficiência e a eficácia da aprendizagem e do ensino. O uso das tecnologias interativas em educação ajuda a vencer as limitações de tempo físico e espaço - constituindo-se num campo vasto para experiências educacionais. Tais experiências necessitam muito mais do que a aquisição e distribuição da tecnologia, mesmo computadores conectados à Internet, em combate à exclusão digital. Precisamos desenvolver políticas e estratégicas que criem e sustentem as oportunidades de aprendizagem para os cidadãos, vencendo a exclusão social - o grande estigma da sociedade brasileira.

O artigo do Marcos ajudou a direcionar a minha reflexão para dois aspectos que considero fundamentais para a aprendizagem-ensino a distância de qualidade: a preparação de recursos humanos e a implementação e difusão das experiências.

1) A qualificação de recursos humanos para a EAD precisa ser adequada e contínua. Os profissionais envolvidos, sejam professores ou outros, precisam conhecer bem as relações entre ensino, aprendizagem e educação. Isto, a princípio, parece muito fácil, mas na prática não o é e tem sido negligenciado, apesar de algumas iniciativas governamentais importantes. Conhecer a relação requer competências que não se adquirem por acaso. A ausência de uma macro visão educacional tem favorecido uma certa improvisação para os sistemas de EAD, que inclui o despreparo para decisões de infraestrutura. Há pessoas e até organizações que adquirem ferramentas tecnológicas que não atendem em nada à sua realidade educacional, achando que estão fazendo EAD. E, quando a coisa não funciona em termos educacionais, tendem a responsabilizar a EAD, com se esta se limitasse à aquisição de ferramenta tecnológica. 

A qualidade de projetos de EAD está diretamente ligada a seus recursos humanos, a grande força criativa para desenvolver sistemas pedagogicamente consistentes, que privilegiam os   valores sociais e culturais. Profissionais capazes não correm o risco de copiar nenhum modelo estrangeiro, pois sabem considerar suas realidades. Mas também são perspicazes para não rejeitar o estudo de experiências relevantes de outros contextos, como base de conhecimento.

EAD hoje tem funções importantes de atualização de informações, desenvolvimento de novos talentos e habilidades, de competências específicas que ajudem o aluno, seja criança ou adulto, a crescer pela construção do seu próprio conhecimento. A EAD pode atender a uma aprendizagem mais contextualizada, mais favorável a esta realidade de pessoas e organizações, ávidas por novas aprendizagens, novas formas de representações, novos conhecimentos e práticas. Mas para isso acontecer, faz-se necessário um real aproveitamento das tecnologias, o que traz uma demanda por profissionais preparados e com vários tipos de experiência, como, por exemplo: conteudista, designer instrucional, webdesigner, desenhista gráfico, avaliador interno e externo, professor/ tutor/facilitador, gestor. A terminologia e as funções específicas podem variar de realidade para realidade, mas devem ter uma orientação lógica e sistêmica que facilite o trabalho diversificado e ao mesmo tempo integrado.

Isto ainda  é problemático entre nós. Um exemplo é a crescente necessidade de qualificação de professores e ao mesmo tempo a pouca atualização dos currículos dos cursos universitários, inclusive os de pedagogia. Será que os conteúdos que ajudam na relação entre aprendizagem, ensino e educação com uso de novas tecnologias estão sendo bem explorados nestes contextos? O que poderia ser feito para melhorar a situação atual?

2) E quanto à implementação e difusão das experiências de EAD, como inovações educacionais? Estes aspectos precisam ser incorporados ao próprio planejamento dos sistemas de EAD. A implementação de inovações educacionais requer políticas e estratégias específicas para que os modelos criados e as experiências desenvolvidas sejam conhecidas, avaliadas e melhoradas, quando necessário. 

Qualquer sistema de EAD, pela sua própria característica, pode trazer vantagens ou desvantagens, até pela tecnologia que utiliza. Mas as desvantagens sempre podem ser minimizadas por um projeto pedagógico consistente. A implementação, um processo que reflete a situação no seu momento atual, pode ser uma excelente fonte de dados para ajustamentos, em tempo hábil, muitas vezes transformando desvantagens em vantagens.

Quanto à difusão, especificamente, às vezes as pessoas rejeitam uma inovação simplesmente porque desconhecem o seu valor. Conhecer e participar da inovação é essencial, pois do contrário os próprio envolvidos poderão dificultar ou até impedir o sucesso da experiência. Um eficiente processo de difusão de uma inovação, poderá responder a questões referentes à forma pela qual a escola/organização educacional traduz as necessidades e problemas dos alunos e como isto está sendo comunicado na prática; até que ponto os usuários têm participação ativa na inovação; quais as consequências da inovação e como tal impacto é afetado pelas suas carcterísticas de tamanho, custo, estratégias didática, por exemplo; quais os pontos-chaves interconectando os envolvidos no processo de inovação; como os pesquisadores/profissionais, atuando como agentes de mudança, se integram para iniciar, desenvolver e avaliar a inovação educacional.

Publicada em: 29/09/2003

 

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