ESTUDO SOBRE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

Abril/2004

 

Marta de Campos Maia
Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
FGV-EAESP – mmaia@fgvsp.br

Fernando de Souza Meirelles
Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
FGV-EAESP – meirelles@fgvsp.br

 

TC – D2

Resumo
O estudo dos diversos modelos utilizados nos cursos a distância nas principais Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras pode estimular a análise dos profissionais envolvidos com a Educação a Distância (EAD) que estejam enfrentado um processo de escolha de uma metodologia para melhor servir aos estudantes que não podem ou optam por não vir para o campus da IES. O principal objetivo deste estudo é analisar como as tecnologias de informação e comunicação (TIC) estão sendo utilizadas nos processos educacionais nos cursos a distância nas IES no Brasil.

Palavras Chave:
Educação a Distância, Metodologia de ensino; Tecnologia de Informação e Comunicação.


1.            Introdução

O “capital” da sociedade do conhecimento não será mais a matéria-prima ou bens produzidos e acumulados, mas sim o conhecimento, de acordo com Drucker (1999) e Toffler (1990). Assim, do mesmo modo que demandamos por mais bens materiais, nesta nova sociedade deveremos demandar por mais conhecimento. A sociedade da informação sintetiza o surgimento de um paradigma técnico/econômico, no qual a informação é o insumo central.

A ampliação do conhecimento acumulado pela sociedade tem sido expressiva nos últimos tempos. Mas, conforme citado por Valente (2002), o fato de termos abundância de informação, não significa que as pessoas têm mais conhecimento. O conhecimento é produto do processamento da informação. Mas como será possível incentivar esse processamento e como ele acontece? Será que ele pode ocorrer espontaneamente ou necessita de auxílio de pessoas mais experientes que possam facilitar o processamento da informação ou a sua organização de modo a torná-la mais acessível?

De acordo com Evans (2002), todo processo educacional diz respeito à tecnologia. Nesse sentido, a Educação a Distância tem se desenvolvido paralelamente, juntamente com as tecnologias de comunicação, utilizando meios como o correio, rádio, televisão, telefone e, agora, utilizando as novas tecnologias chamadas de tecnologias de informação e comunicação (TICs). As tecnologias educacionais são as maneiras as quais nós entendemos como usar ferramentas particulares, como a impressa, as salas de aula, os retroprojetores, os computadores, para propósitos educacionais.

A pedagogia moderna afirma que se deve estimular o aluno a buscar soluções em grupo, por meio de diálogo entre alunos e professores e do estudo a partir de questões que impliquem o desenvolvimento de destrezas cognitivas de avaliação, análise e síntese; e não mais a memorização inerte (Fiorentini, 2002).

Neste sentido, a tecnologia deve ser utilizada como um catalisador de uma mudança do paradigma educacional. Um paradigma que promove a aprendizagem ao invés do ensino, que coloca o controle do processo de aprendizagem nas mãos do aprendiz e, que auxilia o professor a entender que a educação não é somente a transferência de conhecimento, mas um processo de construção do conhecimento pelo aluno, como produto do seu próprio engajamento intelectual ou do aluno como um todo (Neitzel, 2001).

 

2.            Objetivos da Investigação

Apesar de existir há mais de 150 anos no mundo, somente nas duas últimas décadas a educação a distância se tornou alvo de estudos e pesquisas acadêmicas, de forma sistematizada, segundo Maia & Abal (2001).

Cabe destacar a importância de um levantamento dos cursos a distância que inclua os cursos já autorizados e credenciados pelo MEC, uma vez que provavelmente estes cursos já estejam no “formato padrão”, ou seja, já estejam adequados ao formato padrão de educação a distância adotado pelo governo brasileiro. Metade das 32 IES que possuem cursos ou programas aprovados e certificados pelo MEC obteve sua aprovação recentemente, e destas, 17 fizeram parte deste estudo.

Outra razão a ser destacada é a necessidade de se criar uma massa crítica no que se refere à EAD no Brasil. O país não tem como suprir no modo presencial a enorme demanda educacional a curto prazo e, por esta razão, o MEC tem se empenhado fortemente na aprovação e certificação dos cursos de graduação a distância, o que confirma a necessidade de um trabalho de pesquisa que apresente de forma descritiva as principais questões metodológicas necessárias à sua aprovação e certificação (Maia, 2003). Resumidamente, o objetivo desta pesquisa é analisar os processos educacionais permeados pela tecnologia de informação e comunicação que são utilizados pelas IES nos cursos a distância no Brasil.

 

3.            Referencial Teórico

Vários autores apontam características básicas do processo de Educação a Distância que, apesar da falta de homogeneidade, permitem uma formulação mais clara do conceito:

Segundo Keegan (1996), os elementos centrais dos conceitos de EAD são: separação física entre professor e aluno, que distingue o EAD do ensino presencial; influência da organização educacional (planejamento, sistematização, plano, projeto e organização rígida), que a diferencia da educação individual; uso de meios técnicos de comunicação, usualmente impressos, para unir o professor ao aluno e transmitir os conteúdos educativos; comunicação de mão-dupla, onde o estudante pode beneficiar-se da iniciativa no diálogo; possibilidade de encontros ocasionais com propósitos didáticos e de socialização; e participação de uma forma industrializada de educação, potencialmente revolucionária.

Este tipo de educação/aprendizado transforma a relação tradicional na sala de aula. O conceito de autoridade do professor e seu domínio sobre o processo de ensino transformam-se em compartilhamento do aprendizado. Surge uma nova interface entre alunos e professores, mediada pelas tecnologias computacionais, como a Internet. Neste novo modelo de educação, os instrutores desempenham mais o papel de facilitadores do que de especialistas, pois os cursos serão menos estruturados e mais personalizados, cabendo aos próprios alunos cuidar de sua instrução. Estes conceitos reforçam a idéia de que os alunos aprenderão por fazer e não por memorização (Maia, 2003).

 

4.      Objetivos da Investigação e Metodologia da Investigação

A educação a distância é um tema ainda novo quando pensamos na educação superior vigente no país. Por esta razão, a pesquisa exploratória é essencial para o desenvolvimento da pesquisa em questão, pois pode prover novas idéias e descobertas.

Yin (2001) define o estudo de caso como o método que examina o fenômeno de interesse em seu ambiente natural, pela aplicação de diversos métodos de coleta de dados, visando obter informações de múltiplas entidades. Por esta razão, foi utilizada a estratégia de pesquisa de estudo de casos, com múltiplas análises de casos, na qual cada IES analisada é tratada como uma unidade de análise. A questão básica desta pesquisa é: Como são utilizadas as tecnologias de informação e comunicação nos processos educacionais nos cursos a distância nas IES brasileiras?

Tamanho da Amostra

As IES escolhidas para participar do estudo foram selecionadas por estarem entre as já credenciadas pelo MEC e também por terem uma comprovada experiência na Educação a Distância. Além disso, utilizam as TICs como forma de distribuição de conteúdo e/ou suporte e comunicação com o aluno. Fizeram parte desse estudo 50 IES. Foram realizadas entrevistas e visitas em 40 IES. As demais IES enviaram informações através do preenchimento do questionário, ou participaram do estudo em questão, dando entrevistas por telefone. Algumas delas também enviaram informações complementares por e-mail. Apenas 3 entrevistas não foram consideradas válidas para o estudo em questão, ou seja, das 50 IES que participaram deste estudo, apenas foram analisadas 47 IES.

 

5.      Resultados da Pesquisa

As informações coletadas nas 50 IES (47 validadas) estudadas foram analisadas individualmente e posteriormente agregadas por semelhanças. Nesta análise de semelhanças levou-se em consideração as questões básicas propostas no protocolo de estudo de caso.

Composição da Amostra

A composição da amostra é a seguinte: 38% de universidades particulares, 34% de universidades públicas estaduais e 66% de públicas federais. Separando a amostra por região do país, temos a seguinte distribuição (gráfico 1):


Gráfico 1: Amostra por Região Brasileira

1.      Objetivos e Cursos Oferecidos

Quanto à área de conhecimento dos cursos analisados, a amostra está distribuída da seguinte forma: Cursos voltados para formação de Professores – 22; Cursos na área de Administração de Empresas – 13; Cursos na área de Tecnologia – 7 e Cursos voltados para áreas diversas – 5

Observa-se que os cursos de Graduação são os mais freqüentes nesta amostra, representam cerca de 39% da amostra. O curso de Graduação é também o mais numeroso. O grande número de cursos de graduação a distância encontrado em todas as regiões do Brasil pode ser explicado pela demanda lançada pela LDB (Lei 9.394/96), de formação de professores para as primeiras séries do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª séries, que estabeleceu que “até o fim da Década da Educação (2006) somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço” (MEC, 2003).

2.      Alunos

Número de alunos matriculados/formados

Nas IES analisadas, hoje estão inscritos em cursos a distância 80.929 alunos, a grande maioria deles nos cursos de Graduação a distância, um total 68.640 alunos (cerca de 85% do número total de alunos). Os cursos de Graduação e de Especialização juntos representam cerca de 92% do número de alunos inscritos (tabela 1).

Tabela 1: Número de Alunos Matriculados e já Formados a Distância

3.      Prazo e Certificação

Uma das dificuldades apontadas pelos entrevistados diz respeito ao tamanho de cada disciplina a distância, em termos de horas. O curso de Graduação é o mais extenso curso da amostra, com uma média de 3.264 horas-aula.

Quanto à certificação dos cursos oferecidos, cabe destacar que ainda não existe nenhum curso totalmente a distância que seja certificado e autorizado pelo MEC. Também não há no país nenhum curso de Mestrado, nem de Doutorado a distância autorizado pelo MEC.

Dentre os cursos credenciados, analisados neste trabalho, cerca de 84% são cursos oferecidos por IES públicas. Apenas um dos cursos analisados possui certificação pelo CEE – Conselho de Educação Estadual. Esta IES explica que não solicitou o reconhecimento do MEC porque está exercendo o seu direito de autonomia para emissão de seus certificados.

4.      Metodologia de Ensino/Desenho do curso

a.      Disponibilização dos Materiais

Observa-se que os cursos cujo material é impresso ou entregue em CD-ROM são cursos semipresenciais (tabela 2), nos quais o material é distribuído pelo próprio tutor/professor do curso. Nota-se nitidamente a preferência das IES pela distribuição dos seus cursos de forma impressa (53% da amostra). Algumas IES disponibilizam seus materiais na Internet, no formato de apostilas virtuais (24%) e o aluno decide se imprime ou não o conteúdo do curso. Mas, durante as entrevistas, os coordenadores dos cursos afirmaram que cerca de 90% dos alunos imprimem todo material disponível na Internet.

A disponibilização de apostilas virtuais é somente verificada nos cursos semipresenciais que utilizam a Internet associada a outros recursos (11% da amostra). Os cursos cujo material impresso é distribuído para os alunos através de apostilas, livros, guias ou apenas materiais de aula, são freqüentemente cursos semipresenciais (66%), para os quais o material é distribuído pelo próprio tutor/professor do curso. Apenas 24% dos cursos estudados não disponibilizam seus materiais de forma impressa, deixando a decisão de impressão do conteúdo a cargo do aluno.

Tabela 2: Material Utilizado entre as diferentes formas de Interação

b.     Tutores

O tutor deve interagir com o aluno, atuar como moderador e facilitador das discussões. Deve ser alguém capaz de gerar dinâmica entre os participantes. O papel do tutor é ser um animador, um conselheiro, ser provocador, buscar os alunos que estão desanimados. Deve ter discernimento para visualizar a situação, e sem crítica tentar direcionar a discussão. O aluno necessita que o tutor esteja com ele, porque é esta uma forma de criar vínculo.

Sabe-se que a tutoria é muito cara, pois exige do tutor uma postura constantemente ativa, motivadora e animadora do grupo e isto demanda muitas horas de trabalho. Além deste fato, um único tutor atende a um grupo de 20 a 30 pessoas, em média. Quanto maior o número de alunos matriculados em cursos EAD, maior o valor gasto com a tutoria.

A média encontrada foi de 33 alunos por tutor. Cerca de 65% dos cursos analisados possuem uma relação considerada adequada para os padrões do MEC, ou seja, menor ou igual a 30 alunos por tutor.

5.      Ambiente de Aprendizagem

a.      Formas de Interação entre Aluno e Professor

Ao considerar que a melhor tecnologia é a que alcança os alunos aonde quer que eles estejam é mais fácil entender porque nas IES participantes, a interação entre professores/tutores e alunos é realizada quase sempre (cerca de 98% das IES) via Internet, telefone ou fax. O que varia de um curso para o outro é a possibilidade de interação presencial, durante os encontros ou aulas.

Nota-se que todos cursos de mais longa duração, como os de Graduação e Mestrado, oferecem, exclusivamente oportunidades de encontros presenciais, nos quais alunos e professores/tutores interagem de forma presencial, associados ao suporte oferecido pelas ferramentas da Internet.

Os meios utilizados para comunicação entre o professor e o aluno são diversos e, dependendo do veículo de comunicação adotado, ou da combinação deles, resulta uma maior ou menor interação entre os agentes.

b.     Suporte ao aluno

Ao todo, 98% dos cursos analisados utiliza a Internet como forma de interação aluno/professor/tutor, independentemente de ser um curso totalmente a distância ou não. Nos cursos totalmente a distância, esta interação pode ocorrer de formas diversas, tais como através de videoconferência (4% da amostra) ou web radio (2% da amostra) - tabela 3. Os recursos computacionais mais utilizados, além da Internet, são: CD-ROM, que é comumente utilizado para disponibilizar o conteúdo dos cursos; videoconferência, que permite que o professor esteja num local, o aluno em outro local distante, mas permite a comunicação síncrona entre eles e também teleconferência, que funciona como a videoconferência, mas não permite a interação síncrona entre os participantes.

Importante ressaltar que os cursos semipresenciais utilizam de forma mais intensa os recursos computacionais disponíveis.

O recurso computacional mais comumente utilizado (tabela 3) para disponibilização dos cursos e, também, para dar suporte aos alunos é puramente a Internet (42,6%). A ferramenta Internet é também utilizada em diversas combinações, como em associação com CD-ROM, ou associada à videoconferência e à teleconferência, ou seja, o recurso Internet está associado à praticamente todos os cursos presentes nesta amostra. Apenas um dos cursos estudados não disponibiliza aos seus alunos nenhum recurso computacional.

Tabela 3: Recurso Computacional utilizado e os cursos analisados

6.      Ensino

Estruturação dos Cursos

Normalmente, os alunos aprendem de forma mais eficaz quando têm a oportunidade de interagir uns com os outros. A interação entre eles acarreta na resolução de problemas em grupo. A grande maioria dos cursos oferecidos é semipresencial (70%) e apenas os cursos de Aperfeiçoamento, Especialização e Extensão oferecem cursos totalmente a distância.

Quanto ao número de alunos inscritos nas duas modalidades (semipresencial e distância) encontrou-se na amostra analisada uma distribuição bem desigual: 11% dos alunos estão matriculados em cursos totalmente a distância, o que equivale a 9.022 alunos. O restante dos alunos, 71.907 está matriculado em cursos semipresenciais.

 

7.      Tecnologias Utilizadas:

Plataforma/ambiente

A maior parte das universidades (55%), optou por usar uma plataforma desenvolvida internamente ao invés de comprar uma das plataformas disponíveis no mercado.

Em todos as modalidades de cursos analisados é possível encontrar IES que utilizem plataforma própria, ou seja, desenvolvidas internamente. Alguns projetos de plataforma para gerenciamento de cursos a distância foram desenvolvidos no Brasil, como Ambiente AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem – desenvolvido pela UNISINOS; AulaNet – desenvolvida pela PUC-RJ; TelEduc – desenvolvida pela UNICAMP; Projeto Virtus – desenvolvido pela UFPE e VIAS-K – desenvolvido pela UFSC.

As IES que utilizam plataformas próprias, cerca de 45%, oferecem cursos semipresenciais.

 

8.      Sistema de Avaliação dos Alunos

Os alunos a distância têm necessidade de refletir sobre o que estão aprendendo; precisam examinar as suas estruturas existentes de conhecimento e como as novas informações são adicionadas a estas. O ideal seria a aplicação de avaliações constantes, realizada antes, durante e depois dos cursos para que falhas no decorrer do desenvolvimento e durante o processo de ensino pudessem ser repensadas e solucionadas. Mas, não é isso que se verifica na prática. Apenas algumas IES estão agindo desta forma, preocupando-se e avaliando o processo como um todo. A grande maioria limita-se a avaliar apenas o aluno no final do processo.

Ao todo, 77% dos cursos analisados aplicam avaliações finais de forma presencial, o que além de ser uma exigência do MEC para a certificação, também indica a preocupação com o problema da possível falsa identidade da pessoa que está fazendo a prova. Cerca de 57% dos cursos analisados que aplicam avaliações presenciais ao seu final, avaliam seus alunos também pela participação no decorrer do curso, ou seja, a participação em chats, fóruns, e outras atividades.

Todos os cursos que aplicam suas provas de forma presencial também calculam a média final do aluno através de um conjunto de avaliações, que incluem provas, participação em chats, fóruns, exercícios, aulas presenciais e, ainda, por um trabalho final, à exceção de apenas um dos cursos analisados. Este trabalho final, nos cursos de Especialização, corresponde à elaboração de uma monografia. Apenas 13% dos cursos analisados nesta amostra aplicam uma prova final a distância.

9.      Custo

para o aluno

O preço médio do curso de Mestrado é o mais elevado de todos, em média R$ 6.000. Além destes cursos, os cursos de Especialização e Graduação também cobram valores elevados, se comparado com o restante da amostra. O elevado custo destes cursos é explicado pelo fato destes serem mais longos, com mais de 360 horas de duração, o que demanda muitas horas, tanto para o desenvolvimento do material como para a tutoria. Na amostra analisada, cerca de 40% dos cursos são gratuitos.

Se analisarmos os cursos oferecidos a distância que compõem a amostra, o custo mais elevado para o aluno é o curso de Graduação em Administração e bacharelado, com habilitação em Administração Geral, oferecido pela Faculdade de Administração de Brasília – AIEC/FAAB.

O valor total deste curso é equivalente R$ 22.640,00, no final de 2002. Hoje, neste curso estão matriculados 600 alunos. Os cursos de Extensão são os cursos mais curtos e cobram os menores preços de seus alunos. É possível encontrar cursos gratuitos entre os cursos de Graduação e de Aperfeiçoamento.

6.      Conclusão

Os resultados da pesquisa indicam que o grande crescimento da demanda dos cursos a distância no Brasil, deve-se a diversos fatores como a necessidade de aprendizado constante do adulto, a reciclagem de conhecimento, a necessidade de especialização do conhecimento e, a flexibilidade de acesso através da queda de barreiras físicas entre os alunos e as IES.

Este trabalho foi realizado em duas etapas, consistindo a primeira em um levantamento da situação atual dos cursos nas Instituições de Ensino Superior (IES) que utilizam a Educação a Distância (EAD); e a segunda, da comparação das características das metodologias de ensino adotadas e os cursos oferecidos. Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória, na qual foram realizadas inúmeras visitas e entrevistas não-estruturadas em IES nacionais que adotam a Educação a Distância.

Na amostra analisada, o número total de alunos inscritos em cursos a distância no Brasil atualmente é de 80.929 alunos, sendo a grande maioria deles nos cursos de Graduação a distância, representando cerca de 85% do total de alunos.

Todas as IES Públicas que oferecem Graduação a distância utilizam praticamente um mesmo modelo de ensino/aprendizagem, que se define pelas seguintes características: todos os cursos são semipresenciais; o conteúdo do curso é impresso e entregue aos alunos; utilizam a Internet como forma de interação aluno-professor; a maioria deles utiliza videoconferência ou teleconferência para dar aulas a distância; nenhuma delas dispõe de tutoria oferecida pelo próprio conteudista do curso; a maioria delas utiliza uma plataforma própria, ou seja, um ambiente de ensino desenvolvido internamente; possuem cerca de 58.000 alunos inscritos e quase 900 alunos formados; e todos estas IES aplicam avaliações presenciais, mas também calculam a média final do aluno através de um conjunto de avaliações, que incluem provas, participação em chats, fóruns, exercícios, aulas presenciais e, ainda, pelo valor do trabalho final apresentado pelo aluno.

Observa-se que dentre os cursos analisados, os cursos a distância mais procurados no Brasil são os cursos de mais longa duração, com mais de 360 horas-aula, o que contradiz a idéia de que a Educação a Distância está, na maioria das vezes, associada a treinamentos e cursos rápidos, nos quais o aluno não participaria de nenhuma atividade como encontros presenciais com tutores ou professores, avaliações, entre outros.

De modo geral, os cursos a distância são todos muito novos para as IES, uma vez que a maioria está na segunda ou terceira turma. Talvez este fato explique o porquê do índice de evasão ainda ser muito alto em alguns cursos, algo em torno de 68%. O menor índice de evasão relatado foi de 1%. Nos cursos aonde há menores índices de evasão, a interação é muito intensa entre os participantes do curso e, deste fato, pode-se concluir que o aluno que se sente “abandonado” desiste com maior facilidade. Observa-se também que o tamanho das turmas é muito diversificado: o maior grupo conta com 17.000 alunos e o menor com 30 alunos. Cerca de 40% dos cursos analisados são gratuitos.

Dada a situação atual do ensino superior no Brasil, que demanda um aumento circunstancial do número de vagas para os próximos anos, a EAD poderia ser utilizada como uma forma de ampliação do alcance dos cursos ministrados pelas IES, proporcionando maiores chances de ingresso aos alunos interessados.

A tendência é que no futuro próximo falaremos em Educação na Distância, ao invés de Educação a Distância, pois a maior preocupação será com o projeto pedagógico, com o aprendizado, com técnicas de aprendizagem e não somente com a tecnologia.

Uma vez que aprender se tornará uma atividade a ser prolongada por toda a vida, é preciso buscar desenvolver um ambiente que permita o compartilhamento de experiências entre os envolvidos neste processo, a fim de criar comunidades de aprendizagem. O comprometimento de alunos e professores envolvidos será decisivo neste processo de ensino. Mas, apesar de toda tecnologia existente e disponível, não devemos nunca deixar de ter em mente que o elemento fundamental continua sendo o humano.

 


7.      Referências Bibliográficas

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