DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA E PROGRAMAS DE APRENDIZAGEM ON LINE

Abril/2004

 

Evelise Maria Labatut Portilho
PUCPR - evelisep@onda.com.br

Patricia Lupion Torres
PUCPR - patorres@terra.com.br

 

Tema D – Categoria 2

RESUMO
O presente trabalho busca acompanhar os professores universitários que se dispuseram a participar da implantação de Programas de Aprendizagem on line na PUCPR. Esses docentes fazem parte das primeiras experiências do Projeto MATICE (Metodologias de Aprendizagem via Tecnologias de Informação e Comunicação Educacionais). Foi aplicado com este grupo o questionário Honey-Alonso de Estilos de Aprendizagem, objetivando que o professor ao conhecer seu estilo de aprender, considere que seus alunos têm diferentes estilos de aprendizagem, não necessariamente iguais aos seus, o que deveria levar este professor a procurar diferentes estilos de ensinar.


PALABRAS CHAVE:
Aprendizagem – Professores – Estilos de Aprendizagem - Educação a Distância.

 


1. INTRODUÇÃO

Com as inúmeras mudanças da sociedade nos mais diversos âmbitos, observamos que um dos grandes desafios da Educação encontra-se no fato das pessoas conseguirem se adaptar a este momento, com o intuito de aprender a aprender. Para isto, a pessoa necessita estar informada, ser auto-determinada e auto-motivada, e sobretudo ser e estar consciente de seu papel de humano, pertencente a uma espécie.

Uma das possibilidades que hoje encontramos de humanização da sociedade, e em especial, da educação e mais precisamente do processo aprendizagem-ensino, está na tomada de consciência do como, por que e para que este processo acontece. As pessoas diferem em suas formas de pensar, estudar, aprender e ensinar. Essas diferenças têm implicações no processo de aprendizagem-ensino e são muito pouco levadas em consideração pelos seus agentes.

“É de consenso que a aprendizagem tem como objetivo primeiro instrumentalizar o sujeito para desvelar a sua realidade objetiva e subjetiva. Também acordamos que a vida inteira estamos aptos a aprender e podemos fazê-lo em qualquer situação, com qualquer coisa e com qualquer pessoa, contanto que haja, antes de tudo, o desejo de aprender, e como decorrência, um outro que viabilize essa empreitada” (Portilho; Parolim, 2003).

Especificamente, neste trabalho, uma das vertentes de estudo está na teoria dos Estilos de Aprendizagem, que há mais de dez anos vêm contribuindo com pesquisas, trabalhos e publicações nos mais diferentes países.

Por outro lado, a fim de responder as demandas educacionais e organizacionais, é necessário desenvolver mecanismos que permitam a flexibilização dos processos educacionais formais e não-formais e acrescentar a eficácia de comunicações. FIALHO afirmará que é a qualidade e a gestão dos processos de comunicação e informação que ampliam a aprendizagem individual e organizacional. O autor observa que: "Na prática, quem comunica está influenciando e, não raras vezes, modificando atitudes e comportamentos, criando hábitos novos e, conseqüentemente ensinando alguma coisa e manipulando, sem saber, o mecanismo da aprendizagem." (FIALHO, 2002, p.22).

Vê-se que a tão necessária flexibilização é possível graças à revolução da informática, que pode responder ao aumento da demanda social e organizacional por formação, inclusive permitindo que os bens de educação e cultura alcancem as zonas marginais eliminando, desta forma, parte das exclusões. Pode-se, também por meio da EAD, diminuir gastos, aumentando a rentabilidade de recursos disponíveis. Tais efeitos corroboram diretamente com o processo de democratização do acesso à educação; dessa forma, tem-se na educação a distância, uma possibilidade de resposta as pressões socioeconômicas e tecnológicas, e a necessidade de desenvolvimento de pesquisas para produção de conhecimento. Ao atender ao maior espectro possível de demandas por formação, por meio da EAD, as soluções organizacionais e metodológicas precisam ser reinventadas. As conjunturas são inéditas, os recursos também, o que torna inaceitável desperdiçar oportunidades de flexibilizar, de avançar, de enriquecer, de inovar, de socializar as situações formativas. Cabe, portanto, à Universidade garantir o que Buarque chamou de transgressão dos limites do pensamento existente. Para este autor:

A universidade não pode limitar seus gestos transgressores ao pensamento, ela deve transgredir a si própria, seu comportamento, seus métodos, sua estrutura. A Universidade se nega caso seja apenas uma reprodutora de velhos conhecimentos, uma desenhista das mesmas técnicas ou uma inventora de novas técnicas dentro dos mesmos objetivos na mesma estrutura. (BUARQUE, 1994, p.128)

A PUC-PR ao constatar que a maioria dos programas de formação desenvolvidos pelas Instituições de Ensino Superior estruturados com base em mídias integradas, com uso de redes de comunicação interativa, respondem apenas a duas das funções da Universidade: "o ensino" e "a extensão", procura repensar este modelo e verifica que é necessário evoluir no que diz respeito "a pesquisa", já que a Universidade não pode se omitir na busca contínua de avanços tecnológicos e pedagógicos.

Ao repensar este modelo, a PUC-PR, procura também responder a um dos principais desafios da Educação, o desenvolvimento de um modelo criativo, inovador, que responda à necessidade desta sociedade atual na qual o conhecimento envelhece aceleradamente e a produção e circulação de informações são cada vez maiores.

E é acreditando nisto que a equipe de professores da PUC, envolvidos no projeto MATICE – Metodologias de Aprendizagem via Tecnologias de Informação e Comunicação Educacionais – experimentam um modelo pedagógico mais flexível para o desenvolvimento de Programas de Aprendizagem on line. Tais professores têm a certeza de que há muito a experimentar, a inovar, a criar, quando se está diante de tecnologias (internet/videoconferência) que permitem recursos impensáveis até então.

 

2. NA LEGISLAÇÃO VIGENTE A ABERTURA PARA A EAD NA PUCPR

A Lei n.o 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, traz algumas deliberações sobre a EAD no Brasil, ao mesmo tempo que indica a necessidade de futuras regulamentações. Com a promulgação da lei fica instaurado o início da era normativa na política nacional de educação a distância no País.

Uma dessas regulamentações é publicada em 18 de outubro de 2001, pelo Ministério da Educação. Trata-se da Portaria n.o 2.253, que permite às IES "introduzir, na organização pedagógica e curricular de seus cursos superiores reconhecidos, a oferta de disciplinas que, em seu todo ou em parte, utilizem método não presencial'' (Art. Portaria 2.253/01).

Silva, ao comentar essa Portaria, afirma que ela trouxe grande incentivo a graduação on line. Conhecida como 'Portaria 20%', garante as IES a opção de oferecer 20% de suas disciplinas regulares na modalidade a distância, que tende a transitar dos suportes tradicionais para a Internet. Acelera a sofreguidão dos interesses mercadológicos por lucro imediato, mas ao mesmo tempo amplia o engajamento em educação cidadã. (SILVA, 2003, p.13)

Destaca-se que foi pensando na implementação futura de disciplinas a distância – prevista nesta portaria – que se estruturou o projeto MATICE, a fim de pesquisar alternativas metodológicas que tornassem viável tal aventura pedagógica.

 

3. DO EUREKA AO PROJETO MATICE

A PUC-PR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná em 1995 dava seus primeiros passos para uma trajetória de sucesso na implantação do Eureka – Ambiente Virtual – naquela instituição.

Bem de acordo com essa posição prospectiva, o Lami – Laboratório de Mídias Interativas – inicia o desenvolvimento deste ambiente. Surge, assim, uma proposta pioneira de uso de ambiente virtual para o apoio às atividades acadêmicas presenciais, modalidade inovadora que se utiliza da Internet para criar novas possibilidades de exploração pedagógica. Atuando em programas de graduação, de educação continuada, no pós-graduação e também por meio de parcerias com empresas e instituições, a PUC busca o desenvolvimento de competências em novos modalidades de ensino para a educação superior. O Lami investe no "desenvolvimento de pesquisas e projetos cujas características principais são elaboração de aplicações baseadas em tecnologias de mídias interativas" (GOMES, 2003, p.83).

Alunos e professores envolviam-se na construção de um ambiente virtual. Trabalhavam, pesquisavam, descobriam, cresciam, e assim nascia o EUREKA.

Em 1999, o EUREKA encontra-se definitivamente consolidado como uma ferramenta de apoio para os professores da PUCPR. Neste ano diversos professores vivenciaram a experiência de utilização deste ambiente para apoio de suas aulas, buscando melhorar a qualidade do ensino. Observava-se um fervilhar de projetos e experiências de implantação para dar apoio aos diversos programas de graduação e pós-graduação. Foram aproximadamente 50 as salas abertas, com aproximadamente 1000 usuários. Cabe aqui destacar que o processo de solicitação das salas era extremamente simples, bastando apenas solicitar à equipe gestora a abertura da mesma. No final de 2000, já eram 10.000 usuários credenciados no sistema, passando no final de 2001 para 20.000 pessoas cadastradas e 600 salas abertas.

Para Gomes (2003, p.84), esses pioneiros foram de suma importância para o processo de disseminação, pois foi a partir deles que a universidade foi se familiarizando ou culturalizando com este novo conceito, até então desconhecido para a grande maioria.

Em julho de 2002 inicia-se o desenvolvimento do projeto MATICE – Metodologias de Aprendizagem via Tecnologias de Informação e Comunicação Educacionais – após a aprovação do pré-projeto pela Pró-Reitoria Acadêmica da PUCPR.

Buscava-se naquele momento responder a algumas questões: como democratizar o acesso ao conhecimento disponível na universidade diminuindo os custos? Como garantir uma aprendizagem aberta, flexível, em tempo parcial e em lugares distintos? Como propor uma "Universidade Virtual" de qualidade? De que maneira garantir a superação do modelo de acumulação, que se limita à reprodução do conhecimento? Como superar o tradicional modelo de educação? Como promover a interatividade entre os diversos atores envolvidos no processo?

Muitos eram os questionamentos, mas também e principalmente destacava-se a certeza, a convicção de que não bastavam as soluções tecnológicas, o ambiente virtual ou ainda equipamentos de última geração para se alcançar os objetivos educacionais propostos para o MATICE. Fazia-se necessário o desenvolvimento de uma proposta pedagógica, de uma metodologia que pudesse ser aplicada por todos e cada um.

O objetivo do MATICE (Metodologias de Aprendizagem via Tecnologias de Informação e Comunicação Educacionais) é desenhar uma metodologia de ensino alternativa baseada no acompanhamento do uso de um ambiente de aprendizagem colaborativa via web, no momento atual, o Eureka, em parceria com professores convidados. O Eureka é uma ferramenta pedagógica de apoio ao desenvolvimento dos programas de aprendizagem, com foco no ensino presencial. A ampliação da utilização do EUREKA nos cursos de graduação – para a utilização do EUREKA na implantação dos possíveis 20% da grade horária de um curso de graduação ministrada não presencialmente, conforme estabelece o artigo 1.o da Portaria n.o 2.253. do Ministério da Educação de 18 de outubro de 2001.

Nesse cenário, ao final de 2002, o MATICE encontrava-se estruturado, ficando estabelecido, pelos professores participantes e pelo grupo de trabalho, que logo no início do primeiro semestre de 2003, alguns Programas de Aprendizagem já utilizariam este recurso. Nesse momento, os registros do EUREKA apontavam o cadastramento de 35.000 usuários.

 

4. ESTILOS DE APRENDIZAJE

Conceitos importantes no sistema educativo, como é o de avaliação individual, avaliação da prática docente, atenção à diversidade, podem e devem ter um apoio conceitual e metodológico importante na avaliação e conhecimento das diferentes maneiras de aprender que possuem os sujeitos. Este conhecimento permitirá adequar a programação docente aos estilos dos alunos em alguns casos, e em outros, ajustar a programação para melhorar aqueles estilos em que são mais deficitários, assim como auxiliar o professor a diversificar seu estilo de ensinar.

Acreditando na relação entre Estilo de Aprendizagem e estilo de ensinar é que se optou por fazer esta pesquisa com professores universitários e conseqüentemente, seus diferentes estilos de ensinar e aprender.

O conceito “Estilos de Aprendizagem” (learning styles), em geral aparece como sendo o “como as pessoas gostam de aprender”, e para alguns autores também é considerado como a maneira como as pessoas pensam.

Como fundamento deste estudo destaca-se a proposta que Catalina Alonso formula em sua tese de doutorado, apresentada em 1993, e que posteriormente (1994) foi adaptada a um livro, onde participaram Domingo Gallego e Peter Honey.

Fazendo referência a Keefe, Alonso (1994) define Estilos de Aprendizagem como sendo os traços cognitivos, afetivos e fisiológicos que servem de indicadores relativamente estáveis de como os alunos percebem, interagem e respondem a seus ambientes de aprendizagem. Os estilos de aprendizagem trabalhados por Alonso são: ativo, reflexivo, teórico e pragmático.

Esta autora adaptou o instrumento LSQ de Honey, da língua inglesa para a espanhola, nascendo assim o C.H.A.E.A., (Cuestionario de Honey y Alonso de Estilos de Aprendizaje) – Questionário Honey e Alonso de Estilos de Aprendizagem, do qual resultou a tradução e adaptação em 2003 para a língua portuguesa por Portilho.

Dentre suas conclusões, Alonso detectou correlações significativas entre os ambientes de aprendizagem e os Estilos de Aprendizagem e entre os métodos de ensino e os Estilos de Aprendizagem, o que justifica a realização deste estudo, ao analisar o professor universitário envolvido no projeto MATICE.

 

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

4.1. Professores Participantes

Para o desenvolvimento desta pesquisa, trabalhou-se com 24 professores de graduação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, envolvidos no projeto MATICE.

Definiu-se neste estudo desenvolver a abordagem metodológica denominada Pesquisa Descritiva, pelo fato de a mesma permitir a observação e a descrição de processo sem, contudo interferir no andamento do processo educacional. Para Preti, os estudos descritivos: "descrevem sistematicamente fatos e características presentes em determinada população ou área de interesse. (...) É a observação de fatos tal como ocorrem espontaneamente" (PRETI, 2002, p.10).

4.2. Os Instrumentos

Foram aplicados a cada um desses professores dois questionários:

4.1.1. Questionário Honey-Alonso de Estilos de Aprendizagem, uma adaptação e tradução para o português de Portilho (2003), que nesta pesquisa, visa levantar quais os estilos de aprendizagem docente;

4.1.2. Questionário com perguntas abertas que objetiva verificar a implantação do projeto MATICE sobre a ótica docente.
A avaliação qualitativa serviu-se de uma seleção de dados e observações relevantes para o aprofundamento e complementação da interpretação dos dados colhidos pelos questionários.

4.3. Relatos Docentes

Entende-se também pertinente apresentar neste estudo os relatos docentes.

Os professores cujas turmas participaram de Programas de Aprendizagem “maticiados“, julgaram que a maior dificuldade para a implantação da proposta foi a resistência dos alunos a mudanças, conforme se verifica nos relatos a seguir:

- "O desconforto inicial da semipresencialidade e a preocupação com a efetividade da proposta foi a maior dificuldade";
- "A maior dificuldade foi fazer com que os alunos compreendessem a metodologia";
- "A maior dificuldade em princípio foi a resistência inicial.

Destacaram ainda que a aceitação por parte dos alunos:

- "Foi de média para ruim;"
- "A princípio foi ruim, melhorando no decorrer do processo";
- "Assustaram-se no início, mas depois ‘pegaram o jeito’“;
- "Foi ótima, acredito que a turma estava madura para aceitar a proposta”.

Os professores elecam algumas vantagens do MATICE sobre a proposta tradicional:

- "A possibilidade de se dedicar a atividades com exercícios, laboratórios, com a diminuição substancial de aulas expositivas”;
- “Flexibilidade de tempo e espaço. Co-responsabilidade. Autonomia”;
- “O aluno tem mais chance de aprender, pois corre atrás do conteúdo”;
- “Permite ao aluno determinar o ritmo de seu processo de aprendizagem”.

Apresentam também algumas desvantagens, entre as quais destaca-se que a proposta é trabalhosa e exige do professor uma maior dedicação:

- "Aumento de trabalho do professor no acompanhamento das tarefas”;
- "Mais trabalho para o professor”;
- "Mais trabalhosa. O nível de exigência dos alunos aumenta";
- "É mais trabalhosa pois o professor necessita mudar a sua postura em sala de aula";
- "Para ser bem feita, é uma proposta que exige tempo de dedicação do professor”.

Os professores apresentam também como dificuldade a pouca maturidade discente:

- “Até o entendimento da proposta todos acharam que tudo era festa (pela ausência de aulas)";
- “Na verdade, a falta de maturidade de alguns alunos. Para estes, o método é mais ‘penoso’“.

A maioria dos professores, ao descrever como trabalharam com o PA, não relataram atividades colaborativas, embora nas reuniões verbalizassem ser esta a proposta:

- "Foi dado no início do ano um cronograma com datas específicas para a entrega de trabalhos determinados”;
- “Material apostilado com cronograma de estudo, atividades de avaliações presenciais ao final de cada capítulo (50% da média), uma prova (40%) e participação no fórum (10%)”;
- “Divisão do horário em duas unidades: uma presencial e outra semi-presencial, conforme a disponibilidade dos alunos”;
- "Material disponibilizado no conteúdo, encontro presencial para sanar duvidas e para avaliação”.

Também por escrito, ao responderem à questão sobre colaboração, afirmam que seguiram os princípios da aprendizagem colaborativa, mas ou não descrevem como fizeram isto ou descrevem atividades em grupo não necessariamente colaborativas.

Os professores relatam ainda que em média dedicaram 6 horas semanais para o trabalho on line, sendo que a maioria também afirma que esteve presencialmente aproximadamente 30% do tempo do PA.

Todos os professores afirmam que utilizaram em seus programas de aprendizagem material complementar. Alguns citam que utilizaram materiais disponível na WEB, em multimídia ou ainda fornecido pelo próprio professor no formato de texto.

São unânimes ao declarar que houve uma melhora no processo ensino-aprendizagem, conforme se constata nas seguintes respostas:

- "Sim, houve uma melhora significativa no processo ensino aprendizagem;”
- "Sim. Percebi isto pelo comentário dos alunos na avaliação do processo;”
- Para alguns sim, pois verifiquei o empenho e o interesse, bem como o resultado. Mas pelo resultado final (100% de aprovação) acho que houve progresso.

A análise e discussão dos dados desta pesquisa possibilitam estabelecer as conclusões e recomendações a seguir apresentadas.

 

5. TECENDO ALGUMAS CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A teoria dos Estilos de Aprendizagem vem sendo utilizada mais precisamente com estudantes primeiramente para que eles, conhecendo seu estilo de Aprendizagem predominante, possam melhorar o desempenho acadêmico e também possam apresentar versatilidade na hora de aprender, uma vez que poderão ter mais consciência das diferenças entre as disciplinas e os estilos de ensinar, partindo do conhecimento pessoal do como eles mesmos gostam de aprender.

Nesta pesquisa o objetivo foi a análise do Estilo de Aprendizagem dos professores, e especificamente, universitários, que participam do projeto MATICE da PUCPR.

Os dados levantados na pesquisa demonstram algumas relações que são importantes serem destacadas. A primeira delas assinala a questão da idade: os professores que apresentavam menor idade média foram mais criativos e eficientes , confirmando que a mudança é melhor aceita por aqueles que são mais jovens. Albuerne (1994), em seu artigo sobre Estilos de Aprendizagem e desenvolvimento, fazendo referência a Kolb, assinala que o processo de desenvolvimento parece estar fortemente baseado em diferentes maneiras de aprendizagem, sugerindo uma certa relação entre os Estilos de Aprendizagem e o processo de desenvolvimento. Sua pesquisa parece confirmar as diferenças presentes entre o Estilo de Aprendizagem e a idade dos envolvidos, como é o caso apontado no nosso estudo.

Uma outra relação interessante na pesquisa, mesmo não sendo considerada significativa no tratamento estatístico, foi com relação ao estilo ativo de aprendizagem. Os dados nos permitem concluir que os professores envolvidos no projeto MATICE apresentam características concernentes a este estilo. O que nos leva a afirmar que características como animação, ousadia, espontaneidade, improvisação, criatividade, participação, gosto pela mudança, inovação, estão muito mais presentes no Estilo de Aprendizagem das pessoas mais jovens.

A variável sexo não aparece como um dado significativo na pesquisa, confirmando o que Cano García (2000) já havia observado em seu estudo com estudantes universitários. Segundo este autor, as diferenças de gênero são muito poucas, e ainda, dependem do tipo de profissão estudada. O que explicaria o fato de que em muitas pesquisas essas diferenças não aparecem. Esta conclusão nos permite observar com mais detalhamento o dado ressaltado na nossa investigação sobre a forte tendência dos professores homens que apresentam mais características do estilo teórico na sua aprendizagem, do que as mulheres. Parecem ser eles muito mais metódicos, lógicos, objetivos, críticos, disciplinados, sistemáticos, perfeccionistas e curiosos.

Outra relação que os dados da pesquisa colocam em evidência, mostra que o estilo reflexivo continua sendo o Estilo de Aprendizagem predominante na nossa cultura, tanto em alunos como em professores, o que foi confirmado nas investigações de Alonso (1994) e Portilho (2003). Isto nos leva a acreditar que a sociedade, o contexto em que vivemos e o nosso sistema de ensino privilegiam características de aprendizagem que valorizam pessoas ponderadas, conscientes, receptivas, analíticas, persistentes, observadoras, detalhistas, prudentes, cuidadosas, de maneira muita mais intensa do que as características dos outros Estilos de Aprendizagem estudados neste trabalho.

Por outro lado, os dados também indicam uma tendência entre dos professores do projeto MATICE para o crescimento do uso dos estilos ativo, teórico e pragmático. Este fato nos leva a perguntar: será que a utilização de novas tecnologias na prática pedagógica está mudando o Estilo de Aprendizagem dos professores universitários? Qual a conseqüência deste aspecto no estilo de Aprendizagem dos alunos? Quais os Estilos de Ensinar que deveriam ser destacados na universidade diante desta nova tendência?

Vale destacar que trabalhar com novas tecnologias educacionais, para a implantação de disciplinas virtuais ainda constitui um desafio metodológico. As soluções pedagógicas possíveis são inúmeras, especialmente quando se propõe ultrapassar o paradigma do trabalho estritamente individualizado em que a reprodução do conhecimento é a tônica central.

Como observamos nos relatos dos professores, a interatividade deu-se espontaneamente entre todos os atores do processo, discentes e docentes, facilitada pela ferramenta utilizada – o e-mail – comprovando a eficiência da comunicação on line.

Paradoxalmente o uso das NTICs ainda é restrito a condutas ligadas a um paradigma mais tradicional de ensino, principalmente aquelas nas quais cabe ao professor “entregar“ conteúdos e “esclarecer” dúvidas.

A validação da proposta do projeto MATICE em diferentes grupos (turmas) sob a ótica docente permitiu estabelecer a hipótese de que o modelo é adequado para a educação superior, cabendo destacar, aqui, a necessidade de mudanças nos papéis desempenhados por alunos e professores que atuarão nesta proposta.

Para concluir, hoje podemos afirmar que o MATICE pode representar um avanço nas propostas de educação virtual, por permitir uma flexibilização do processo ensino-aprendizagem, que ultrapassa as fronteiras da educação tradicional e formal.

Significativa e capaz de responder às demandas apresentadas por uma nova sociedade do conhecimento, a experiência do MATICE revela-se como uma possibilidade para o avanço da educação virtual na PUCPR. Considerando que existem limitações nesta pesquisa decorrentes do método escolhido, que permite discutir os dados, estabelecer hipóteses, mas não permite generalizações e inferências definitivas, sugere-se a continuidade das pesquisas para o aperfeiçoamento da proposta.

Recomenda-se ainda especial empenho na formação dos professores que irão trabalhar com Programas de Aprendizagem “maticiados”, principalmente no que diz respeito às metodologias utilizadas, considerando os diferentes estilos de aprendizagem, a fim de evitar que seja feita a simples transposição do paradigma da tradicional sala de aula para o ambiente virtual. É preciso tornar clara a necessidade de se buscar modelos pedagógicos que respondam às necessidades de uma educação virtual de qualidade.

 


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUERNE, F. Estilos de Aprendizaje y desarrollo: perspectiva evolutiva. Infancia y Aprendizaje, vol. 67 – 68, p. 19 – 34, 1994.
ALONSO, C.M.; GALLEGO, D.J. y HONEY, P. Estilos de Aprendizaje. Que són. Como se diagnostican. Bilbao: Mensajero, 1994.
BUARQUE, Cristovam. A aventura da universidade. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista; Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
CANO GARCÍA, F. Diferencias de género en estrategias y estilos de aprendizaje. Psicothema, vol. 12, n. 3, p. 360 – 367, 2000.
FIALHO, F. A. P. Gestão estratégica do conhecimento: In: Apostila da disciplina de mestrado em gestão estratégica do conhecimento da FAE. Curitiba, 2001.
GOMES, P. Internet e universidade: o EUREKA da PUCPR, 35.000 usuários depois. In: MAIA, Carmem (Org.) ead.br: experiências em educação a distância no Brasil: reflexões atuais, em tempo real. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2003.
GOMES, P. O MATICE da PUCPR: Uso da Internet no Ensino de arquitetura. In: CREAD – Congresso de Educação a Distância Mercosul 2003, 7., 2003, Florianópolis. Aprendizagem e Trabalho: Políticas e Tecnologias, Anais..., Florianópolis.
PORTILHO, E. M. L. Aprendizaje Universitário: Um Enfoque Metacognitivo. Madrid: Universidad Complutense. Tese de Doutorado, 2003.
PORTILHO, E. M. L.; PAROLIN, I. Conhecer-se para conhecer. IN: Um portal para a Inserção Social. Org: AMARAL, S. et al. São Paulo: Vozes: 2003.
PRETI, Oreste. A aventura de ser estudante: um guia metodológico. 4 - Os caminhos da Pesquisa. 4.ed. rev. Cuiabá, EDUFMT, 2002.
SILVA, Marco. (Org). Educação on-line. São Paulo: Loyola, 2002.
TORRES, P. L. Laboratório on line de aprendizagem: uma proposta metodológica critica de aprendizagem colaborativa para a educação. Florianópolis. Tese (Doutorado) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC. Disponível em: <http://www.eps.ufsc.br/tese02/ l Acesso em: 15/10/03, 2002.