BARREIRAS À IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO E TREINAMENTO A DISTÂNCIA

ABRIL/2004

 

Miramar Ramos Maia Vargas
UnB – mvargas@linkexpress.com.br

Suzana Maria Valle Lima
UnB – suzana.valle@embrapa.br

 

Gestão de Sistemas de Educação a Distância – Educação Corporativa

Resumo:
Este trabalho apresenta os resultados de pesquisa conduzida em uma organização de grande porte do setor elétrico brasileiro durante a implantação de um Programa de Educação e Treinamento a Distância. Buscou-se investigar barreiras institucionais e pessoais enfrentadas pela organização, o nível de satisfação dos alunos com o Programa e as relações existentes entre as barreiras pessoais e duas variáveis critério – persistência no curso e aprendizagem. Foram utilizadas diferentes técnicas das abordagens qualitativa e quantitativa de pesquisa. Os resultados apontaram que foi alto o nível de satisfação dos alunos com o curso piloto oferecido pelo Programa, e que vários fatores influenciaram o desempenho dos alunos no curso. Os resultados da análise de regressão logística realizada entre barreiras pessoais e a variável critério persistência evidenciaram que o modelo foi significativo e explicou 13% da variação, com gênero e crenças de aprendizagem contribuindo significativamente para a explicação do modelo. Os resultados da análise de regressão feita entre barreiras pessoais e a variável critério aprendizagem evidenciaram que o modelo foi significativo e explicou 16% da variação, com as variáveis objetivo extrínseco e ansiedade em testes contribuindo significativamente para a explicação do modelo.

Palavras-chave:
Programas de EAD, satisfação, aprendizagem, persistência.

 


1 - Introdução

A Revolução Industrial ocorrida no século XVIII cedeu espaço a uma Revolução Tecnológica iniciada em meados do século XX. Os avanços alcançados principalmente pelas áreas da informática e das telecomunicações provocaram reflexos em todos os campos da vida humana. No contexto organizacional, uma das mudanças provocada pelas novas tecnologias está relacionada às novas alternativas para treinar e desenvolver os empregados, conforme atestam pesquisadores e estudiosos envolvidos com a área de treinamento de pessoal nas organizações.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho – OIT, em sua 91a. sessão, realizada em 2003, um dos grandes princípios que deverão, doravante, balizar as políticas, leis e práticas na área de treinamento e desenvolvimento de pessoal é que cada vez mais um número maior de pessoas, instituições e programas devem fazer uso de métodos e estratégias de educação e treinamento centrados no aluno, utilizando principalmente a modalidade de educação a distância e as novas tecnologias da informação e da comunicação.

Entretanto, alterar a forma de agir das pessoas e das organizações não é uma tarefa simples. Cronin (1994) aponta que o desenho e a implementação de programas de educação e treinamento a distância que contribuam estrategicamente para a organização requerem não apenas um novo organograma, mas geralmente, a transformação da própria cultura organizacional. As dificuldades inerentes a esse processo de mudança têm levado pesquisadores a estudar as barreiras à implantação de programas de educação e treinamento a distância.

O presente trabalho trata da implantação de um Programa de Educação e Treinamento a Distância em uma organização de grande porte do setor elétrico brasileiro. Buscou-se investigar barreiras institucionais e pessoais enfrentadas pela organização, o nível de satisfação dos alunos com o Programa e as relações existentes entre barreiras pessoais e duas variáveis critério – persistência no curso e aprendizagem.

 

2 – Revisão de Literatura

Muilenburg e Berge (2001) conduziram uma revisão de literatura sobre barreiras e fatores de sucesso em educação a distância, constatando que a produção literária engloba duas grandes categorias: 1) artigos que listam numerosas barreiras à educação a distância e 2) artigos que fornecem um modelo ou categorização para facilitar a discussão das barreiras.

A literatura aponta alguns estudos sobre barreiras à implantação de programas de educação e treinamento a distância, mas eles são mais específicos do contexto acadêmico como os trabalhos de Yap (1996); Berge (1998); Dickinson, Agnew e Gorman (1999) e vários outros. Um estudo mais abrangente que pretendeu envolver os dois contextos, o acadêmico e o corporativo, foi feito por Berge, Muilenburg e Haneghan (2002), mas o foco do trabalho considerou apenas as barreiras do nível institucional, dando pouca atenção às barreiras do nível individual, ou seja, aquelas relacionadas às características demográficas, motivacionais e cognitivas dos indivíduos.

Essas duas lacunas observadas na literatura - escassez de estudos com foco no contexto corporativo e nas características dos indivíduos - delimitaram o problema de pesquisa a ser investigado.

 

3 – Metodologia

3.1 - Objetivos da Pesquisa

Geral:

a. investigar as barreiras à implantação de um programa de educação e treinamento a distância em uma organização de grande porte do setor elétrico brasileiro.

Específicos:

a. Investigar a presença de barreiras institucionais e pessoais na implantação de um programa de educação e treinamento a distância.
b. Investigar o nível de satisfação dos indivíduos que participam de um programa de educação e treinamento a distância.
c. Investigar se barreiras pessoais têm influência sobre os níveis de aprendizagem e persistência no curso, exibidos pelos indivíduos que participam de um programa de educação e treinamento a distância.

3.2 - Estratégia Metodológica

A pesquisa desenvolvida caracteriza-se como um estudo de caso. O trabalho tomou por base o processo de implantação do EDUCAR – Programa Eletronorte de Educação a Distância, bem como a Especialização Técnica para Agentes e Assistentes Administrativos – ETAAA, curso de longa duração escolhido como piloto para o lançamento do Programa. Na condução da pesquisa foram utilizadas as abordagens qualitativas e quantitativas, reforçando a visão de Bauer e Gaskell (2002) sobre a importância de se trabalhar com delineamentos de pesquisa paralelos, com múltiplos métodos.

3.3 - Quadro Teórico Geral da Pesquisa

Na visão de alguns autores, apesar de ser importante descobrir a variedade de barreiras citadas pela literatura, é difícil estudar ou extrair conclusões significativas sobre tantas barreiras específicas. Por essa razão, a existência de um modelo ou de um número menor de categorias para discussão das barreiras é altamente desejável. Buscando contribuir com esse processo de redução e ordenação das barreiras, bem como resgatar a importância das barreiras do nível individual, a presente pesquisa propôs uma classificação em dois níveis: barreiras institucionais e barreiras pessoais. Propôs, também, a criação de categorias abrangentes para acolher as barreiras específicas referentes a cada um desses níveis:

Além dos dois níveis de barreiras, institucionais e pessoais, mais três variáveis foram investigadas na pesquisa:

3.4 – Organização-Alvo

A pesquisa foi desenvolvida na Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. – Eletronorte, empresa de geração, distribuição e transmissão de energia elétrica, com Sede em Brasília e área de atuação na Amazônia Legal.

3.5 – Sujeitos da Pesquisa

Pesquisa Qualitativa – Seleção de sujeitos envolvendo dois grupos distintos. O primeiro, com 12 pessoas, formado por dirigentes e técnicos do Programa EDUCAR em Brasília, além dos coordenadores de treinamento das Regionais da Eletronorte. Buscou-se trabalhar com pessoas que participaram desde os primeiros estágios de desenvolvimento do EDUCAR até a finalização do curso ETAAA. O segundo, com 27 pessoas, formado por alunos que não concluíram o curso. A seleção dos sujeitos foi de conveniência, aproveitando-se a presença e a disponibilidade dos alunos no momento da entrevista.

Pesquisa Quantitativa – Amostra de sujeitos, extraída da população de 344 alunos aprovados para o ETAAA. O critério de seleção foi o preenchimento correto dos instrumentos “Motivated Strategies for Learning Questionnaire” – MSLQ” e de “Reação à Tecnologia”. Foram devolvidos 300 instrumentos, perfazendo um total de 87,2% da população. O perfil demográfico da amostra foi: a) escolaridade = 67,7% com nível de 2o. grau; b) faixa etária = 43,0% com idade entre 41 a 50 anos; c) gênero = 58,7% do sexo feminino; d) lotação = 21,7% trabalhavam na Sede; e) tempo de serviço = 31,7% entre 11 a 15 anos de serviço; f) tipo de vínculo empregatício = 67,0% de empregados efetivos.

3.6 – Instrumentos e Procedimentos de Coleta de Dados

Pesquisa Qualitativa - Foi usado um roteiro para a entrevista individual semi-estruturada. As entrevistas foram feitas pessoalmente pela primeira autora da pesquisa, na Sede da Eletronorte em Brasília e em cada uma das Regionais situadas nos outros Estados. As entrevistas duraram, em média, 30 minutos cada uma, perfazendo um total de 19h e 50minutos de gravação.

Pesquisa Quantitativa - Foram usados três instrumentos de pesquisa: 1) “Motivated Strategies for Learning Questionnaire – MSLQ” (versão traduzida e adaptada para avaliar a motivação dos alunos de cursos a distância no contexto corporativo); 2) “Reação à Tecnologia” (construído para avaliar a relação que os alunos a distância têm com o computador); 3) “Avaliação de Reação de Curso a Distância” (construído para avaliar a satisfação dos alunos com cursos a distância). Os dois primeiros instrumentos foram aplicados no início do curso, pela Intranet, e devolvidos, via e-mail, para a coordenação do EDUCAR em Brasília. O terceiro instrumento foi aplicado ao final de cada uma das 13 unidades de estudo do ETAAA, pela Intranet, e seus dados caíam diretamente em um banco de dados pré-estruturado.

3.7 – Procedimentos de Análise de Dados

Pesquisa Qualitativa – Os dados foram analisados com base na técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 1977; BAUER; GASKELL, 2002).

Pesquisa Quantitativa – Com o Statistical Package for Social Sciences (SPSS) foram feitas análises estatísticas descritivas e inferenciais, bem como análises fatoriais e de consistência interna dos itens para verificação da estrutura dos instrumentos construídos ou adaptados para a pesquisa.

 

4 – Resultados e Discussão

4.1 - Pesquisa Qualitativa

A presença das duas categorias de barreiras – infra-estrutura organizacional e infra-estrutura instrucional - propostas para o nível de barreiras institucionais, foi percebida pelos dois grupos formados pela seleção de sujeitos entrevistados, Grupo do Programa EDUCAR (dirigentes, técnicos e coordenadores de treinamento) e Grupo de Alunos Desistentes do ETAAA.

Na barreira infra-estrutura organizacional, alguns relatos comuns aos dois grupos relacionava-se com a capacidade tecnológica da organização. A estabilidade da rede e a velocidade de acesso à Internet não eram as mesmas em todas as localidades, e nem todas as unidades da Empresa contavam com equipamento adequado para a realização do curso.

Schreiber (1998) fala que a primeira característica cultural que impacta significativamente a implementação de programas de educação e treinamento a distância é o nível de capacidade da organização para utilizar tecnologia. Essa autora apresenta um modelo de quatro estágios que descreve o grau de sofisticação com que a tecnologia é aplicada em programas dessa natureza. Berge (2003), ao analisar o modelo proposto por Schreiber, esclarece que os estágios de capacidade tecnológica representam pontos ao longo de um contínuo. Os estágios pelos quais passa uma organização quando implanta um programa de educação e treinamento a distância não ocorrem de forma linear. Segundo o autor, embora seja conveniente descrever uma organização como estando em um determinado estágio, isso não significa que todos os elementos dos estágios iniciais estão ausentes, ou que todas as unidades dentro de uma organização estejam dentro de um mesmo estágio. Os resultados da análise dos dados qualitativos desta pesquisa reforçam a visão de Berge, ao mostrarem que o estágio de capacidade tecnológica da sede da Eletronorte em Brasília é diferente daqueles encontrados em outras localidades da Empresa.

Na barreira infra-estrutura instrucional, os relatos comuns aos dois grupos sinalizaram problemas com relação a pouca divulgação do curso piloto que lançou o Programa, à carga horária do curso e ao desempenho de alguns tutores que demoravam em repassar informações e esclarecimentos aos alunos. Com relação aos tutores, o relato reforça o resultado encontrado na pesquisa conduzida por Rekkdal (1983 apud COOKSON, 1990), o qual observou diferenças no desempenho e persistência dos alunos quando o tempo de entrega do feedback pelo tutor foi reduzido. Quando esse tempo de retorno foi baixado de 8.3 para 5.6 dias, as taxas de conclusão em quatro unidades de um curso subiram de 69 para 91%.

No nível das barreiras pessoais, das três categorias que nele estão ancoradas somente uma - barreiras tecnológicas - foi percebida pelos dois grupos investigados. A categoria – barreiras motivacionais – somente foi percebida pelo Grupo dos Alunos Desistentes do ETAAA. A presença da terceira categoria – barreiras demográficas – não foi percebida por nenhum dos dois grupos de entrevistados.

Quanto às barreiras tecnológicas, os resultados encontrados na pesquisa qualitativa sinalizaram que alguns alunos tiveram problemas com relação à mídia principal do curso – o computador. Galusha (1997) aponta que muitos alunos adultos não estão bem preparados para usar uma tecnologia como a de computadores e a de Internet. O uso de mídia eletrônica no processo de ensino e aprendizagem a distância pode, inadvertidamente, excluir os indivíduos que não possuem habilidades escritas ou de domínio do computador.

Com relação às barreiras motivacionais, percebidas somente pelo Grupo dos Alunos Desistentes do ETAAA, foi observado que a motivação dos alunos em continuarem fazendo o curso mudou em função de outras prioridades, como concluir o curso superior, ou em função de acontecimentos imprevistos como acidentes ou doenças enfrentadas pelos alunos ou seus familiares. A mudança na motivação em função de outras prioridades como optar por fazer um curso superior, reforça os relatos da literatura com relação ao construto “Utilidade do Curso”, o qual significa o quão interessante, importante e útil representa para o indivíduo a atividade de aprendizagem que ele está realizando. A mudança na motivação por causa de situações imprevistas é relatada por Cross (1982) que a ela se refere como barreiras situacionais. Essas barreiras são acontecimentos que ocorrem em determinado momento da vida do indivíduo, como problemas de saúde, familiares e outros.

4.2 - Pesquisa Quantitativa

4.2.1 – Satisfação dos Alunos com o Curso ETAAA (curso piloto)
A avaliação do nível de satisfação dos alunos com o ETAAA foi realizada por meio da aplicação do instrumento Avaliação de Reação de Curso a Distância, feita ao final de cada uma das treze unidades de estudo que formam a estrutura do curso. Os dados gerados foram analisados por meio de análises estatísticas descritivas e inferenciais, tomando-se por base a média das respostas dadas pelos alunos aos seis fatores que formam o instrumento: desempenho do aluno, desempenho do tutor, desenho do curso, suporte organizacional, utilidade do curso e relacionamento interpessoal.

Os resultados demonstraram que, com exceção do fator Relacionamento Interpessoal, que ficou com uma média intermediária (3,87), todos os demais fatores foram bem avaliados pelos alunos, obtendo média alta (>4,00), na escala de cinco pontos do instrumento. Os desvios padrões nas médias de todos os fatores foram baixos (< 1,00), indicando um consenso de opiniões entre os respondentes quanto à satisfação com o curso.

Com o intuito de observar em que medida o fator desempenho do aluno no curso pode ser explicado pelos demais cinco fatores de reação, foi feita uma análise de regressão linear múltipla padrão. Encontrou-se que o modelo foi capaz de explicar 77% da variância do desempenho do aluno, e que todos os fatores haviam contribuído significativamente para a explicação dessa variação. Esses resultados reforçam os achados da literatura com relação ao fato de que o desempenho do aluno em cursos a distância é influenciado por um conjunto de fatores como por exemplo: desenho do curso; qualidade do conteúdo; seleção das mídias e outros.

Para se verificar o quanto o fator desempenho do tutor explicaria o fator relacionamento interpessoal, foi feita uma análise de regressão linear simples padrão, encontrado-se que o modelo foi significativo e que desempenho do tutor explicou 34% da variância no relacionamento interpessoal. Esse resultado reforçou relatos da literatura que falam da importância da “interação” para o sucesso de um curso on-line (GIBSON, 2003; MILTIADOU; SAVENYE, 2004 e outros).

4.2.2 – Barreiras Pessoais x Aprendizagem
Os resultados da análise de regressão linear múltipla padrão realizada entre as barreiras pessoais e a variável critério aprendizagem demonstraram que o modelo foi significativo e explicou 16% da variância dessa variável critério. As variáveis motivacionais objetivo extrínseco e ansiedade em testes (do instrumento Motivated Strategies for Learning Questionnaire – MSLQ) contribuíram significativamente (p<0,05) para a explicação do modelo.

A variável objetivo extrínseco refere-se ao grau em que o aluno percebe a si próprio como engajado em uma atividade de aprendizagem por razões externas como notas, prêmios, desempenho, avaliação de outros, competição. O aluno que possui uma alta orientação extrínseca para fazer um curso indica que essa atividade de aprendizagem é um meio para alcançar um fim. Os resultados encontrados na análise de regressão apontaram que os alunos que possuíam uma baixa orientação extrínseca (a atividade de aprendizagem não é um meio para alcançar um fim), foram os que obtiveram médias mais altas no curso, sinalizando que os alunos que estavam engajados no curso por razões outras como curiosidade, desafio e aprimoramento (objetivo intrínseco) conseguiram melhor desempenho. Em um estudo com cursos de graduação a distância, da Open University de Hong Kong, Ng (2002) encontrou, entre outros resultados, que os indivíduos com objetivo extrínseco faziam uso somente de estratégias superficiais de aprendizagem, e que objetivo extrínseco foi preditor para níveis de desempenho, mas não para atitudes positivas com relação ao curso. Segundo Miltiadou e Savenye (2003), juntamente com outros construtos motivacionais, objetivo intrínseco versus extrínseco tem sido bastante estudado nos cursos presenciais, mas ainda são pouco explorados nos cursos on-line.

Com relação à variável ansiedade em testes, que também contribuiu significativamente para a explicação do modelo de regressão entre barreiras pessoais e a variável critério aprendizagem, os resultados encontrados apontaram que os indivíduos com maior ansiedade em testes foram os que obtiveram melhor desempenho. Pesquisas recentes sobre ansiedade em testes, afirmam Wolf e Smith (1995), têm focado na noção de que ela interfere na habilidade do indivíduo de se concentrar no teste, enquanto outras argumentam que ela interfere com a habilidade de aprender o conteúdo necessário e de reproduzi-lo durante o teste. Entretanto, uma outra vertente de autores, também citada por Wolf e Smith (1995), corrobora os resultados aparentemente contraditórios obtidos na análise de regressão feita na presente pesquisa. Nessa vertente, alguns autores relatam que: a) a influência da ansiedade em testes é mais proeminente naquelas situações onde a situação de teste é muito competitiva; b) a pressão de tempo, bem como a pressão no nível de avaliação que são impostas aos alunos pelos instrutores, influenciam o grau de correlação entre ansiedade em testes e resultados alcançados (aprendizagem) e c) a ansiedade somente inibe o desempenho de indivíduos que experimentam condições ameaçadoras de testes (como os testes com alto valor intrínseco ou importância), ou seja, sob condições não ameaçadoras, mesmo os indivíduos que têm esse tipo de ansiedade desempenham tão bem quanto aqueles que não as exibe.

4.2.3 – Barreiras Pessoais x Persistência no Curso
Os resultados das correlações não-paramétricas efetuadas entre as barreiras pessoais e a variável critério persistência no curso demonstraram que persistência se relaciona significativamente (p<0,05) com as seguintes variáveis demográficas, motivacionais e tecnológicas: gênero, ansiedade em testes, crenças de aprendizagem e aversão ao computador.

Os resultados da regressão logística demonstraram que o modelo composto pelas variáveis antecedentes que integram as barreiras demográficas, motivacionais e tecnológicas foi significativo (p<0,05) e explicou 13% da variação na variável critério persistência. As variáveis foram melhores para explicar aqueles que não persistiram no curso (96% correto) do que aqueles que persistiram (21% correto). A variável gênero e a variável crenças de aprendizagem contribuíram significativamente para a explicação do modelo.

Com relação ao gênero, as mulheres formaram o grupo mais persistente e os homens o grupo menos persistente. Esse resultado corrobora a revisão sobre questões relacionadas a gênero e aprendizagem on-line, feita por McSporran, Macleod e French (2003), a qual apontou que as mulheres geralmente desempenham melhor do que os homens, apesar das diferenças observadas nos estilos de interação praticados pelos dois grupos.

Quanto às crenças de aprendizagem, os indivíduos que menos acreditavam que seus esforços para aprender iriam dar resultados positivos, foram os que mais persistiram no curso (lócus de controle externo). O conceito de crenças de aprendizagem usado pelo MSLQ é o mesmo descrito na literatura para lócus de controle, uma crença sobre a eficácia pessoal. O lócus de controle interno é a crença de que o resultado de um desempenho é contingente com o esforço de cada pessoa, enquanto o lócus de controle externo é a crença de que esse resultado está fora do controle pessoal.

Embora pareçam contraditórios, uma vez que há relatos na literatura associando melhor desempenho dos alunos com lócus de controle interno e não externo, os resultados encontrados nesta pesquisa reforçam aqueles obtidos por Liu, Lavelle e Andris (2002) em estudo que investigou a relação entre curso on-line e lócus de controle. No referido estudo, o instrumento de lócus de controle foi aplicado em três momentos - início, meio e final do curso -, e os resultados apontaram que os alunos tendem a exibir um lócus de controle externo no início de um curso on-line, e um lócus de controle interno ao final do curso. Como o MSLQ foi aplicado somente no início do curso ETAAA, os resultados apóiam os achados de Liu et al. (2002).

 

5 - Conclusão

A presente pesquisa teve como objetivo geral investigar as barreiras à implantação de um programa de educação e treinamento a distância em uma organização de grande porte do setor elétrico brasileiro. Para organizar o estudo dessas barreiras foi criada uma classificação em dois níveis – barreiras institucionais e barreiras pessoais – com categorias abrangentes para ancorar as barreiras específicas referentes a cada um desses níveis.

Os resultados das pesquisas qualitativa e quantitativa sinalizaram que a Eletronorte enfrentou algumas barreiras à implantação do seu programa de educação e treinamento a distância. Esses resultados reforçam a literatura existente na área, a qual enfatiza que são grandes os desafios encontrados pelas organizações que optam por implantar uma nova estratégia para treinar e desenvolver pessoas no trabalho.

As autoras esperam que os resultados encontrados neste estudo de caso estimulem a realização de pesquisas mais abrangentes que possam contribuir para ampliar o conhecimento sobre as barreiras à implantação de programas de educação e treinamento a distância.

 


Referências

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