A APLICAÇÃO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS NUM CURSO A DISTÂNCIA: O CASO GVnext

 

Marta de Campos Maia
Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
FGV-EAESP – mmaia@fgvsp.br

Ana Lúcia Mendonça
Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
FGV-EAESP – analucia@fgvsp.br

Jaci Corrêa Leite
Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
FGV-EAESP – jaci@fgvsp.br

 

TC – C3

Resumo
A utilização das novas tecnologias de informação e de comunicação (TIC) tem contribuído para a transformação do aprendizado. Uma parte significativa desta transformação está relacionada à aplicação de tais tecnologias com os já conhecidos recursos educacionais na educação a distância (EAD), como veículo para alcançar novos públicos e desenvolver novas metodologias de ensino, as quais possam ser utilizadas como mecanismo complementar, substitutivo ou integrante do ensino presencial. A EAD traz em si uma revolução nos paradigmas educacionais atuais, à medida que apresenta diversas oportunidades para as Instituições de Ensino Superior (IES) para integrar e enriquecer os materiais instrucionais. Além disso, proporciona novas formas de interação e comunicação entre instrutores e alunos.
Um dos fatores críticos de sucesso em EAD é o seu foco direcionado para as necessidades dos alunos e a definição de conteúdos que atendam a estas necessidades. Levando em consideração tais fatores, destacamos que o objetivo deste paper é apresentar o modelo educacional, permeados pela tecnologia de informação e comunicação, adotados pelo GVnet no curso a distância para executivos, o GVnext.

Palavras-chave:
Educação a Distância, Metodologia de ensino; Tecnologia de Informação e Comunicação.

 


2.      Introdução

O desenvolvimento de novas tecnologias permite hoje ao homem desfrutar de grandes avanços nas mais diversas áreas. Essas tecnologias estão transformando os meios de se fazer negócios, o modo de trabalhar das pessoas, assim como têm conferido outros recursos para o aprendizado: propiciaram o desenvolvimento de novas alternativas de educação a distância (EAD), que vêm sendo pesquisadas e praticadas nas IES.

O ambiente digital, baseado na aplicação ampla e em larga escala de tecnologia de informação e comunicação, está afetando o processo educacional em várias e profundas dimensões. Este efeito pode ser observado mediante análise das seguintes características: a educação não é algo que acontece somente na juventude; o conhecimento tende a tornar-se obsoleto, exigindo um ambiente que permita o aprendizado contínuo; a educação e o entretenimento estão convergindo para um mesmo ambiente; a entrega de instruções educacionais está convergindo para o meio eletrônico e mais informal; e os acessos eletrônicos a bases de conhecimento estão sendo viabilizados de forma fácil, barata e livre (Kalakota e Whinston, 1996).

De acordo com Evans (2002), todo processo educacional diz respeito à tecnologia. Nesse sentido, a EAD tem-se desenvolvido paralelamente, junto com as tecnologias de comunicação, utilizando meios como o correio, rádio, televisão, telefone e, agora, também as novas tecnologias de informação e comunicação (TICs).

Já não se discute mais se as IES devem ou não utilizar computadores, pois esta já é uma realidade na prática educacional. A questão atual é: como utilizar estas novas tecnologias da forma mais proveitosa e educativa possível?

A tecnologia deve ser utilizada como um catalisador de uma mudança do paradigma educacional. Um paradigma que promove a aprendizagem ao invés do ensino, que coloca o controle do processo de aprendizagem nas mãos do aprendiz, e que auxilia o professor a entender que a educação não é somente a transferência de conhecimento, mas um processo de construção do conhecimento pelo aluno, como produto do seu próprio engajamento intelectual ou do aluno como um todo (Neitzel, 2001).

Um dos principais desafios para as IES que estão se lançando na EAD é buscar uma linguagem pedagógica apropriada à aprendizagem suportada pelas diversas mídias disponíveis. O controle e o acompanhamento permanente do trabalho de professores, dos tutores, dos estagiários de atendimento e da secretaria são igualmente cruciais: a interação com o aluno pode assumir inúmeras formas e todas elas são essenciais ao sucesso da aprendizagem. A estruturação de uma equipe especializada, composta de pessoas que entendam de tecnologia e de pedagogia, trabalhando de forma coesa, pode garantir melhres resultados na aprendizagem do aluno.

 

3.      Referencial Teórico

Estruturação de um Curso a Distância

O planejamento da estrutura de um curso a distância é de fundamental importância para as IES que pretendem se lançar na EAD: além de lidar com a complexidade do cenário nacional, ainda precisam se preocupar com aspectos estruturais que garantam a certificação dos cursos, conforme requisitos do MEC. Existem questões sobre a estruturação que são comuns a todos os modelos de EAD, e levam à análise da estrutura que é necessária para as alternativas de Educação a Distância utilizadas pelas IES, considerando as especificidades do conteúdo e dos requerimentos de cada tipo de certificação.

Conforme apresentado pela University of Maryland University College - Institute for Distance Education - IDE (2001), independente do modelo adotado no estágio de planejamento de cursos em Educação a Distância, devem-se considerar os seguintes aspectos ao se planejar um curso de EAD (quadro 1):

Quadro 1: Questões comuns a todos os Modelos de Cursos

Suporte Logístico

a)      distribuição de materiais;

b)      estrutura de avaliação de aprendizagem que assegure a identificação e segurança dos testes;

c)       ressarcimento, aos professores e equipe de suporte, de custos com comunicação ou deslocamento para atendimento aos alunos.

Suporte aos Alunos

a)      orientação acadêmica;

b)      atendimento individualizado;

c)       acesso a bibliotecas, laboratórios e equipamentos de informática.

Suporte
aos Professores

a)      treinamento da tecnologia e metodologia do curso;

b)      reconhecimento financeiro e/ou acadêmico do trabalho em EAD;

c)       assessoria de especialistas na produção de materiais e acesso às ferramentas apropriadas;

d)      seleção e contratação de bons professores.

Avaliação de processo

a)      avaliação adequada dos professores;

b)      a estrutura de suporte técnico e administrativa deve ser avaliada pelos alunos e professores. A avaliação deve fazer distinção entre o desempenho dos professores e os demais sistemas de suporte;

c)       avaliação do treinamento e suporte dos professores.

Laboratório

a)      desenvolvimento de kits para uso individual;

b)      demonstração de experimentos por videoconferência;

c)       gravação e edição dos experimentos, usando gráficos e colocando questões;

d)      utilizar simulações por computador disponíveis no mercado ou especialmente elaboradas;

e)      encontros presenciais intensivos em locais com equipamento adequado.

Fonte: baseado em University of Maryland University College (2001)

Além das questões comuns apresentadas no quadro 1, os cursos a distância podem ser estruturados da seguinte forma (Moran, 2001):

a) Presencial: composto por momentos presenciais. Há um primeiro encontro, no qual o professor estabelece uma comunicação com os alunos, tentando conhecer cada um deles e combinando formas de comunicação. O aluno estudará em casa, conforme seu tempo disponível. Neste primeiro momento presencial já se estabelece a data do próximo encontro;

b) Virtual: totalmente realizada a distância, com o auxílio de tecnologias como a Internet. O aluno não tem nenhum contato presencial com o professor: a interação se faz através videoconferência, web pages, e-mails e chats;

c) Semipresencial: mescla as duas formas de educação: a presencial e a totalmente a distância, ou seja, parte na sala de aula e outra parte a distância, através do uso de tecnologias.

Sistema de Distribuição e Tecnologias disponíveis para a Educação a Distância

Analisando o trabalho desenvolvido por Vygotsky (1998), que destaca a importância da relação e da interação com outras pessoas como origem dos processos de aprendizagem e desenvolvimento humano, e o trabalho de Jensen et. al (1999), que destaca o papel da comunicação no estabelecimento de sentimentos de colaboração e confiança, conclui-se que o uso de ferramentas de comunicação que suportem as interações colaborativas de aprendizagem entre professores e alunos é de fundamental importância para a eficácia do processo educativo num curso a distância.

A comunicação de forma eletrônica pode ser categorizada de diversas formas, mas a distinção mais usual é entre a síncrona e a assíncrona. A comunicação assíncrona não requer participação simultânea, sendo portanto mais flexível: os alunos podem escolher seu próprio ritmo para a aprendizagem e podem obter os conteúdos de acordo com a sua programação pessoal. Esta comunicação pode ser feita através de correio eletrônico, de listas de discussão, apresentação de vídeos, cursos por correspondência e cursos baseados na web. As vantagens da comunicação assíncrona incluem a escolha do estudante quanto ao lugar e ao tempo. Uma desvantagem é o uso excessivo da linguagem escrita, em detrimento de outras formas de contato.

A comunicação síncrona requer a participação simultânea de todos os envolvidos (alunos e professores), tendo a vantagem de ser uma interação "em tempo real". Esta interação pode ser realizada através de TV interativa, teleconferência, videoconferência e/ou chat.

A figura a seguir apresenta um modelo que relaciona instrutores e aprendizes a partir de três eixos: tempo, lugar e tamanho do grupo. Em um dos extremos, segundo Lucena e Fuks (2000), tem-se uma sala de aula típica, onde instrutores e aprendizes compartilham o mesmo espaço, ao mesmo tempo, e os aprendizes podem trabalhar individualmente ou em grupos. No outro lado, instrutor e aprendiz estão em locais diferentes, comunicando-se de modo assíncrono e os aprendizes podem juntar-se para compartilhar experiências ou colaborar/cooperar em tarefas de aprendizagem.


Figura 1: Fatores que relacionam instrutores e aprendizes
Fonte: baseado em Lucena e Fuks, 2000

Após apresentar as formas de comunicação, cabe apresentar as opções tecnológicas disponíveis para o educador a distância (Scheer, 1999):

a)      Voz - as ferramentas áudio-educacionais incluem as tecnologias interativas do telefone e de teleconferência (de sentido único). As ferramentas áudio-passivas incluem CD-ROM e rádio;

b)      Vídeo - as ferramentas de vídeo incluem imagens imóveis e imagens ativas em tempo real, combinadas com teleconferência;

c)      Dados - os computadores emitem e recebem a informação eletronicamente. Por esta razão, o termo "dados" é usado para descrever essa categoria abrangente de ferramentas educacionais;

d)      Impresso - é um elemento fundamental dos programas de EAD, a partir do qual evoluíram todos os demais sistemas de distribuição. Os vários formatos de impresso incluem livros-texto, guias de estudo, manuais de instrução, ementa do curso e estudos de casos.

A utilização de tecnologias em processos educacionais tem vários objetivos, desde abrilhantar uma aula e motivar os alunos, até atingir um grande contingente populacional. Para cumprir esta tarefa, é necessário o uso das TICs (UDESC, 2001). Os educadores devem permanecer focalizados nos resultados de aprendizagem e não na tecnologia de distribuição, por mais que a tecnologia desempenhe um papel chave na distribuição de EAD.

É importante que as informações e os materiais sejam usados de modo intencional, não aleatório e tecnologicamente orientado nas atividades de ensino-aprendizagem, pois não possuem um valor de per si. Sua possível relevância e significação existe em função: 1) dos propósitos (intencionalidade); 2) das concepções norteadoras das ações da importância que possam exercer para a aprendizagem, pois intermediam os sujeitos (professor-alunos-comunidade) e 3) do conhecimento (Fiorentini, 2002).

Nesse panorama, as TICs introduziram enormes possibilidades de interação, intercâmbio de idéias e materiais, entre alunos e professores, nos alunos entre si e nos professores entre si. De acordo com Fiorentini (2002), isto configuas as comunidades de aprendizagem em rede, bidirecionais e cooperativas,. Segundo a UFPR (1999), as tecnologias usadas em EAD (quadro 2) podem ser divididas em quatro categorias, cada uma com diversas subdivisões: material impresso, áudio, dados (computação) e vídeo. Na EAD, o uso das TICs é mais intenso por se romper com a relação face a face e, por esta razão, torna-se mais necessário.

Quadro 2: As tecnologias disponíveis para a Educação a Distância

Material Impresso

Livros-texto, guias de estudo, livros , fax

Voz/áudio

Telefone, correio de voz, audioconferência, fitas de áudio, rádio

Computador/dados

Correio eletrônico, cursos baseados na web, CD-ROM, videoconferências, ambientes/softwares de colaboração

Vídeo

Videotape, transmissão via satélite, microondas, vídeo em broadcast, vídeo de mesa (desktop vídeo)

Fonte: UFPR, 1999

Segundo a Universidade de Ohio ("Distance Education at a Glance", 2002), , essa abordagem resultará num "mix" ideal de mídias, cada uma servindo a uma finalidade específica. Usando uma abordagem integrada, a tarefa do educador e da instituição é selecionar com cuidado as opções tecnológicas disponíveis, a fim de estabelecer uma mistura de mídias educacionais que atendam às necessidades dos aprendizes de maneira eficaz e economicamente prudente.

Segundo Moore e Kearsley (1996), é necessário ter em mente que cada mídia tem seus pontos fortes e fracos, conforme quadro 3, e isso deve ser colocado lado a lado com o cenário de aprendizagem determinado.

Quadro 3: Pontos Fortes e Pontos Fracos das Diferentes Mídias

 

Pontos Fortes

Pontos Fracos

Impresso

Barato; Denso em informações; Confiável; Uso controlado pelo aluno

Passivo

Áudio/

Vídeo

Dinâmico; Denso em informações; Uso controlado pelo aluno; Experiência “viva” em termos visuais

Tempo de desenvolvimento/Custo

Rádio/

Televisão

Dinâmico; Distribuição em massa

Tempo de desenvolvimento/Custo;

Uso em real-time

Teleconferência

Interativo; Participativo

Complexidade; Não confiável; Uso em real-time

Computa-dores

Multimídia; Dinâmico

Necessidade do equipamento; Tempo de desenvolvimento/Custo

Fonte: baseado em Moore e Kearsley (1996)

Não existe tecnologia certa ou errada em EAD. Cada mídia e cada tecnologia tem suas vantagens e desvantagens. Conforme Moore e Kearsley (1996), um dos piores erros que uma organização ou um instrutor podem fazer é escolher uma única mídia. A escolha das mídias adequadas deve ser realizada para cada curso, para cada programa: cada um tem seus diferentes objetivos, diferentes alunos e diferentes ambientes de aprendizagem.

O quadro 4 apresentada uma comparação entre as propostas de uso de tecnologia de vídeo disponíveis hoje para serem utilizadas na EAD. De acordo com os autores, a opção do streaming oferece uma nova alternativa que, acreditam, poderá superar as demais em diversas situações.

Quadro 4: Comparação entre propostas de EAD

Internet

Videoconferência

Teleconferência Interativa

Streaming

Investimento

Baixo

Médio

Alto

Baixo

Rentabilidade

Baixa

Discutível

Alta

A apurar

Economia de escala

Média

Baixa

Alta

Média

Tempo de implementação

Médio

Médio/Alto

Pequeno

Baixo

Agregação de conteúdo

Trabalhosa

Relativamente complexa

Simples

Simples

Interatividade

Mediante chat e e-mail

Visual

Via hardware e software

Mediante e-mail e chat

Abrangência

Média

Pequena

Grande

Média

Aplicabilidade

Geral

Pós-graduação, tele-reuniões

Extensão, cursos abertos

Geral

Amigabilidade

Específica a internautas

Média

Grande

Boa para internautas

Capilaridade

Grande

Pequena

Média

Grande

Principal veículo

Web

Linha telefônica de banda larga

Satélite

Web

Uso no Brasil

Generalizado

IES e empresas

Incipiente

Incipiente

Fonte: baseado em Rocha e Costa Neto (2002)

Em decorrência, se por um lado, a EAD promove um conceito de autonomia por parte do aluno, por outro lado aparece uma necessidade de interação e de contato aluno/aluno e de aluno/professor, resultando como requisito uma demanda por novas maneiras pelas quais os alunos possam estar conectados (interagindo) para receber apoio e realimentação, o que resulta essencial para se manterem motivados (Tarouco, 2002).

De acordo com Litwin (1997), a Tecnologia Educacional, assim como a Didática, preocupa-se com as práticas do ensino, mas vai  mais além, pois inclui entre suas preocupações o exame da teoria da comunicação e dos novos desenvolvimentos tecnológicos: a informática, o vídeo, a TV, o rádio, o áudio e os impressos.

Sabe-se hoje que a tecnologia sozinha não é capaz de concretizar tal transformação. Os responsáveis pela estruturação dos cursos, pelo desenvolvimento do projeto pedagógico é que, após a primeira etapa de detalhamento do curso, devem determinar qual tecnologia será a mais apropriada para dar suporte à toda estrutura do curso.

 

4.      Objetivos da Investigação e Metodologia da Investigação

Além do levantamento bibliográfico para a construção do referencial teórico (Malhotra, 1999), a metodologia utilizada neste trabalho foi o estudo de caso , devido às questões básicas de pesquisa, ausência de controle dos eventos comportamentais e ênfase nos eventos contemporâneos (Yin, 2001).

O estudo considerou e respeitou os vários aspectos, condições, recomendações, componentes e requisitos, definidos por vários autores, dentre eles Yin (2001). Um estudo de caso é um questionamento empírico que investiga um fenômeno contemporâneo com seus contextos de vida real, quando as fronteiras entre fenômeno e contexto não são claramente evidentes, e nos quais fontes múltiplas de evidência são usadas (Yin, 2001).

A aplicação da metodologia de estudo de caso foi realizada por meio de uma série de entrevistas com os coordenadores do Centro de Educação a Distância em questão, utilizando um protocolo elaborado especificamente para este fim. O caso em estudo é de um curso do Gvnet - Centro de Educação a Distância da FGV-EAESP, Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. Dando continuidade aos programas voltados à formação profissional, esse Centro desenvolveu o GVnext - Curso de Especialização em Negócios para Executivos.

O objetivo deste paper é analisar os processos educacionais permeados pela tecnologia de informação que são utilizados pelo GVnet no curso a distância GVnext. A questão básica desta pesquisa: como são usadas as TICs nos processos educacionais no curso a distância no GVnext - Curso de Especialização em Negócios para Executivos?

 

5.      Análise do Caso

O Gvnext, que recentemente obteve certificação do MEC, é uma pós-graduação lato sensu, com 396 horas-aula de atividades, podendo ser cursado em dois semestres com aulas semanais ou em três semestres, com aulas quinzenais. As turmas são de aproximadamente 90 alunos.

No GVnext utiliza-se uma metodologia de aprendizagem que combina o ensino a distância e ensino tradicional, de forma a aproveitar as facilidades e flexibilidade das tecnologias de ensino a distância, mas ao mesmo tempo preservandos os benefícios dos contatos pessoais. A metodologia baseia-se na teoria cognitivista: o processo mental de aquisição de informação durante o processo de aprendizagem recebe o enfoque principal. O aluno é estimulado a adquirir conhecimento e habilidades através de atividades que são pré-determinadas, com objetivos e propósitos específicos. Parte das atividades é presencial e, parte é a distância.

O foco principal do curso é a reciclagem e especialização de executivos já graduados. O público alvo abrange profissionais com formação superior em qualquer área, coposto, em geral, por executivos já de uma certa senioridade, na faixa dos 35 aos 40 anos e, em sua maioria, gerentes ou diretores de empresas. A taxa de desistência varia de acordo com a localização do aluno e também de acordo com a turma, e situa-se entre 5 e 10%. .

O material adota a estratégia cognitiva de “chunking” : os textos são estruturados e divididos em pequenas unidades, parágrafos e marcadores,. Para o estímulo visual, são usados mnemônicos, analogias e imagens.

Quanto à elaboração e disponibilização do material do curso, observou-se que parte encontra-se disponível via Internet e parte é entregue de forma impressa. Uma parcela das leituras é oferecida via download. Outra parcela é oferecida através de indicação de leituras de livros e outra através de indicação de links. Ao final do curso, é fornecido aos alunos um CD-ROM com diversos arquivos, que formam um consolidado do conteúdo daquele grupo: trata-se de um CD-ROM que contém todo material dos professores, mais o conhecimento gerado pelos alunos durante o curso, como por exemplo o conteúdo dos chats.

As sessões presenciais são aulas conduzidas por um professor da FGV-EAESP e realizadas sempre em datas coincidentes com as videoconferências, de forma a minimizar a exigência da presença física do aluno. Como metodologia de ensino, também são utilizadas sessões de chat, sempre mediadas e conduzidas por um professor. A dinâmica de grupo é incentivada através de discussões assíncronas a distância, com o uso do fórum de discussão: o professor escolhe um tema a ser discutido e os alunos participam individualmente, postando seus comentários em qualquer dia e horário, até o prazo limite.

A interação aluno/professor ocorre por videoconferências e encontros presenciais. Como ferramentas de suporte ao aluno, são utilizados: e-mail, fóruns, chats e encontros presenciais com professores.

O curso é composto por 10 disciplinas, que correspondem a 33 horas-aula, dispostas em 5 módulos semanais ou quinzenais. Também estão programados trabalhos em grupo, feitos em equipes virtuais, que podem utilizar as salas de chat para se comunicar, realizados com supervisão e orientação pedagógica dos professores.

Os alunos também seguem um aprendizado dirigido, através do auto-desenvolvimento via Internet, no qual há oportunidade de se aprofundar na disciplina lendo o conteúdo básico, que está na plataforma de gestão de cursos do GVnext, além dos documentos para download, bem como pesquisar e visitar sites selecionados e indicados pelos professores.

O Gvnext utiliza a plataforma Blackboard, que está conectada ao sistema de gestão da escola, que já existe e funciona com um de banco de dados, onde tudo é controlado: como notas, faltas etc.

O ambiente de colaboração entre aluno professor é construtivista: incentivam-se o debate, colaboração, discussão, interpretação, reflexão e construção do conhecimento, habilidades e atitudes. A FGV-EAESP está fazendo um esforço para consolidar uma comunidade virtual, uma rede dos alunos que lhes permita desenvolver e manter relacionamentos de longo prazo.

Como sistema de avaliação, o Gvnext adota o seguinte: o aluno deve ter presença em pelo menos 80% das atividades (quer sejam elas presenciais ou a distância); a nota final deve ser igual ou superior a 6 em cada disciplin a e 7 na média final do curso. Ao término de cada uma das 10 disciplinas, os alunos fazem uma prova presencial com duração de 2 horas. A participação em chats e fóruns também é avaliada.

 

6.      Conclusão

O sucesso de um curso a distância depende muito da escolha de uma linguagem pedagógica apropriada à aprendizagem, suportada pelas diversas mídias disponíveis, estruturando processos, definindo objetivos e problemas educacionais utilizando, para tanto, as técnicas de desenho instrucional. Nenhuma tecnologia pode resolver todos os tipos de problemas, e o aprendizado depende mais da forma como esta tecnologia está aplicada no curso, do que do tipo de tecnologia utilizada.

As metodologias de ensino e as TICs adotadas pelo GVnext apresentam diversos aspectos de flexibilidade: exceto para as atividades presenciais, o curso pode ser acompanhado em casa ou em qualquer outro lugar escolhido pelo aluno; os materiais que compõem o curso são desenvolvidos por diferentes professores, não somente pelo instrutor responsável pelo curso; o professor (tutor) que é responsável por um estudante não é necessariamente parte da equipe que desenvolveu o material do curso; os cursos são disponibilizados em diversas cidades. Neste caso, pôde-se concluir que as tecnologias de informação e comunicação possibilitaram uma maior facilidade de acessos e posicionamentos entre alunos e professores.

No futuro, os benefícios da implantação das TICs nos processos educacionais também serão sentidos no ensino presencial. A mudança na educação tradicional está sendo implantada aos poucos, de forma gradativa, através da aplicação das TICs na educação. Neste sentido, a EAD tem contribuído muito para esta reestruturação, pois tem exigido uma postura diferente dos professores, dos alunos e na metodologia de ensino.

Mas, o que é imperativo nos dias de hoje não é somente aprender, mas sim “aprender a aprender” . Para tanto, é necessário que a relação pedagógica seja elaborada com base metodológica e planejamento para cada curso. Ao professor caberá o maior esforço reconstrutivo neste processo, pois será necessário agrupar todas as teorias modernas de aprendizagem para que os objetivos dos cursos sejam alcançados.

Possivelmente, a principal característica do GVnext é que ele partiu de uma concepção inteiramente nova: sua criação foi norteada pela identificação d as possibilidades viabilizadas pelas tecnologia, mas que não seriam exeqüíveis no ambiente convencional. Destaque-se que a proposta em si é focada na aquisição de três competências: maior autonomia na solução de problemas (e de fato os alunos se capacitam a buscar, selecionar e interpretar informações), visão multidisciplinar (viabilizada pela intensa troca de experiências que só é possível observar-se no meio eletrônico, especialmente chat e fórum) e, finalmente, a capacidade de gerar resultados por meio de equipes virtuais. Todas elas são essenciais ao executivo e dificilmente podem ser adquiridas num curso convencional, em que o aluno adota uma postura mais passiva.

Em síntese, observa-se que a EAD pode efetivamente ampliar os horizontes, não só pela flexibilidade, mas acima de tudo ao proporcionar novas competências e novas formas de aprendizado.

 


7.      Referências Bibliográficas

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