AVALIAÇÃO FORMATIVA E QUALIDADE EM EAD

Abril/2004

 

Andrea C. Versuti
Faculdades COC/FE- UNICAMP
Email: aversuti@coc.com.br, versuti@unicamp.br

 

Modelo de Planejamento
Tema - Planejamento, Elaboração e Avaliação de materiais didáticos para Educação à Distância (B)
Categoria - Educação Universitária (2)

Resumo
O objetivo deste artigo é apresentar e problematizar algumas das potencialidades e dificuldades da EAD, especificamente nos cursos on-line, ou seja, mediatizados pela internet, atentando para a questão da qualidade.Como definir Qualidade em cursos de EAD cujo objetivo é o de auto formação dos sujeitos e não meramente a transmissão de informações? Existirá um modelo pedagógico adequado a ser adotado que tenha como prioridade a aprendizagem significativa dos sujeitos e que assim corrobore para resultados de mais Qualidade?
Diante a complexidade e interdisciplinariedade destes temas, a proposta é discutir como avaliar qualitativamente os cursos on-line, atentando para duas de suas principais particularidades; a necessidade de definir adequadamente a orientação pedagógica somando-a a uma coerente modelagem instrucional (ferramentas que irão garantir a interatividade e a interação).

PALAVRAS CHAVES:
1. Educação à distância. 2. Avaliação. 3. Critérios de Qualidade.

 


1. Introdução

Embora a educação mediada por recursos tecnológicos não seja a solução para os problemas educacionais do país, a “aprendizagem independente” ou mediatizada assume um grande valor na sociedade atual, sendo inclusive recomendada a um grande número de alunos e profissionais. Sendo assim, é importante refletir sobre a sua qualidade e eficácia no que se refere principalmente à aprendizagem dos sujeitos, pois, educação a distância continua sendo Educação e cada vez mais surgem novas perspectivas para problematizar este novo campo de ação.

Existem acerca deste tema algumas questões fundamentais que serão abordadas neste artigo: Primeiro; como produzir ações de qualidade em EAD? Quais os elementos imprensidíveis, quais as estratégias que assegurariam a adoção de um modelo construtivista de aprendizagem? E depois; como avaliar qualitativamente os cursos oferecidos? Quais critérios são mais relevantes?

Para respoder a estas questões partimos da idéia de que a experiência com cursos presenciais não é suficiente para assegurar a qualidade dos ambientes virtuais de aprendizagem, bem como a produção de materiais adequados aos mesmos, isto porque, nestes casos há uma outra lógica de concepção e linguagem. Sendo assim, é fundamental definir o componente pedagógico do material, de forma que as ferramentas escolhidas possam agregar valor na construção de uma aprendizagem significativa dos sujeitos.

Dito de outra forma, se o objetivo é promover ações em EAD é preciso preocupar-se com três elementos interdependentes: materiais pedagógicos, metodologia e formato do ambiente virtual. Lidar com estes como se fossem “independentes”pode comprometer a ação pedagógica desejada.

O objetivo deste artigo é apresentar e problematizar algumas das potencialidades e dificuldades da EAD, especificamente nos cursos on-line, ou seja, mediatizados pela internet, atentando para a questão da qualidade. Como definir Qualidade em cursos de EAD cujo objetivo é o de auto formação dos sujeitos e não meramente a transmissão de informações? Existirá um modelo pedagógico adequado a ser adotado que corrobore para resultados de mais Qualidade? Em outras palavras, reitramos que a modalidade EAD deve ser vista como uma nova possibilidade de fazer educação desde que seja conduzida e instrumentalizada por uma determinada concepção pedagógica do que consiste este processo.

 

2. Como definir Qualidade em EAD?

O termo Qualidade em EAD será aqui definido segundo Demo (1985), para o qual o conceito resulta da preocupação e do comprometimento com a qualificação do sujeito. Sendo assim, é importante relacioná-lo com a adoção de uma determinada perspectiva ou abordagem educacional.

Consideramos que o aprender é um processo ativo e dinâmico, no qual os alunos organizam novas informações utilizando pensamento crítico e criativo. Eles são estimulados por tarefas de aprendizagem que são: difíceis, relevantes, autênticas, desafiadoras e diferentes, baseadas na sua preferência, ritmo e capacidades únicas.

Para caracterizar esta abordagem pedagógica utiliza-se o termo “aprendizagem significativa”, tal como foi empregado por Jonassen (1999, p.2-6) sobre a aprendizagem com tecnologia numa pespectiva construtivista. Segundo tal perspectiva, as tecnologias de informação e comunicação devem ser usadas como ferramentas de aprendizagem e não como veículos de transmissão de mensagens. Nesse sentido, parte-se da premissa de que o conhecimento é construído e não transmitido e esta construção resulta do engajamento do aprendiz em uma atividade. O conhecimento deve ancorar-se no contexto e o processo de significação inerente à aprendizagem, “requer articulação, expressão ou representação do que é aprendido”.

Em EAD, a tecnologia empregada é um aspecto importante, mas não deve ser a sua principal finalidade. Mais importante que isso é definir qual o seu objetivo – se é a formação ou a informação dos sujeitos. Para ambientes que primam pela formação é preciso desenvolver situações do ESTAR JUNTO VIRTUAL que propiciem a troca de idéias e reflexões, ou seja, a Interação torna-se elemento fundamental. Para que tenhamos qualidade nestes ações, o foco deve estar no aprendiz.

A criação de cursos de EAD, via internet, deve constantemente questionar se as Novas Tecnologias de Comunicação (NTC) presentes serão capazes de levar o aprendiz à construção significativa do conhecimento. Diante disso, surge a preocupação com um adequado e contínuo acompanhamento de suas necessidades e interesses.

Sendo assim, a proposta do “Estar junto virtual” pode ser vista como resposta e alternativa em oposição aos modelos Broadcasting e Sala de aula virtual, ambos baseados na abordagem instrucionista (mera reprodução de conteúdo) pois, será por meio destas novas relações, (redes) de interação que serão estabelecidas as situações concretas de aprendizagem.

E ainda; disponibilizar os conteúdos de forma que estes privilegiem a construção do conhecimento pelo aluno, (VALENTE, 2002), levando em consideração o seu estágio de conhecimento autônomo, seus diferentes estilos de aprendizagem e as diversas dimensões que implicam na definição de uma estratégia para a aprendizagem significativa construtiva. Esta estratégia pode ser resumidamente descrita em uma proposta que contemple as seguintes dimensões: psico-afetiva, representacional, operatória, social e reflexiva.

Outra questão importante refere-se ao fato de que, além de repensar estratégias que viabilizem a aprendizagem significativa construtiva, privilegiando o lado racional/cognitivo dos aprendizes, (identificar seu estilo de aprendizagem) é preciso incluir elementos estéticos que motivem o lado emocional dos sujeitos, ou seja, a interface do ambiente tem que ser amigável e agregar valor ao processo de aprendizagem, elemento este que vai muito além da mera disponibilização de conteúdo. Isto ocorre porque tais ambientes são a interseção de aspectos sociais e técnicos (ROMANI, 2001) e exigem a constante revisão dos designs das ferramentas, visando assim facilitar a Interatividade.

Reiteramos que, em se tratando de EAD, não é possível a adoção indiscriminada de um modelo único de proposta, ou mesmo que depois de instaurado, este modelo seja estático e não se submeta mais à constantes reformulações.

Pode-se dizer que, em relação à Arquitetura, os ambientes não são modelos fechados, devem avaliar constantemente os interesses dos sujeitos, ressaltando a importância da tutoria e do papel do professor (garantias de interação).

2.1. Indicadores de Qualidade

Consideramos que alguns critérios são fundamentais para a adoção de um novo modelo de EAD, comprometido com a Qualidade dos cursos oferecidos, são eles: Definição dos objetivos, Peopleware, Hardware, Software e Avaliação. Destacaremos atenção especial ao processo de avaliação, uma vez que este deva incluir o desenvolvimento de sofisticados mecanismos de monitoração dos projetos para fornecer feed-back e ajustar os padrões implementados. A definição de parâmetros de qualidade deve considerar portanto o processo de avaliação contínua dos ambientes.

Uma vez definido o meio como internet, esta escolha exige alto grau de interação, deve-se privilegiar portanto a formação de comunidades virtuais de aprendizagem; locus onde se concretiza o aprendizado viabilizado pela troca de experiências e pela interação. O ambiente deve ser de fácil utilização, a amigabilidade da interface deve garantir a Interatividade, muito embora esta seja diferente da Interação (relação com pessoas de forma síncorna ou assíncrona).

Quando considera-se este tipo de proposta, não se pode prescindir de profissionais (professores ou tutores) preparados para lidar com as particularidades deste contexto, “(...) dispostos a utilizar os potenciais educacionais da informática e serem capazes de integrar atividades não informatizadas de ensino-aprendizagem e atividades que usam o computador”e que busquem a ruptura dos paradigmas educacionais vigentes no tocante á utilização das NTC (VALENTE, 2002, p.21).

Nesse sentido, não basta simplesmente verificar o retorno da quantidade de informação recebida pelo aluno, mas como as atividades propostas foram feitas e a sua qualidade. Em outras palavras, não é possível dissociar Interface e proposta pedagógica quando o objetivo é a aprendizagem nos cursos on-line. As ferramentas de comunicação dos ambientes (CHAT, Mural, Fórum) devem ser utilizadas em seu potencial – capacidade de ampliar e viabilizar a colaboração e a cooperação, facilitando o “Estar junto virtual”.

Todas estas ações devem ser observadas e reiteram que um modelo de EAD, mesmo atentando para todas estas especificidades, não pode ser estático. O objetivo fundamental das contínuas avaliações está justamente em manter como característica intrínseca dos ambientes o comprometimento com a mudança, o seu dinamismo e consequentemente manter elevados os níveis de Qualidade associando-os às estratégias de aprendizagem significativa. E para que isso ocorra, são necessárias constantes pesquisas e reavaliações dos cursos implementados a fim de identificar os possíveis ajustes e delinear as transformações.

2.2. Avaliação Formativa e Qualidade em EAD

Entendemos por avaliação formativa e colaborativa o processo no qual todos os sujeitos envolvidos participam e existe a preocupação com o acompanhamento e a orientação do aprendiz exigindo do professor flexibilidade e disponibilidade para a mudança, tendo portanto duas funções; uma informativa e outra reguladora. Esta avaliação contínua e abrangente é fundamental para atingir melhorias significativas na qualidade das ações em EAD e para a resolução de problemas.

Do ponto de vista operacional a avaliação pode ser feita com a utilização de certas ferramentas disponíveis nos ambientes, como as de comunicação (fóruns, chats, portifólio) e as de controle (intermap, relatórios de frequência e número de acessos). No entanto, verifica-se que somente o mero relato quantitativo destas ferramentas deixa algumas lacunas importantes para avaliar qualitativamente as participações dos usuários.

Uma alternativa para solucionar estes problemas, seria a criação de agentes gerenciadores (inteligentes) por meio dos quais o professor possa determinar/selecionar critérios do que realmente espera encontrar em uma atividade, para que então estes agentes façam a filtragem das respostas enviadas. Em outras palavras; o objetivo é a reduzição na quantidade de informações a ser analizada, visando auxiliar o formador na identificação e recuperação de informações qualitativas e quantitativas relevantes à avaliação, bem como sua análise de acordo com determinados critérios.

Esta proposta, em implementação no TELEDUC ( 1 ), refere-se a um modelo de suporte à Avaliação formativa e nos revela algumas potencialidades para o uso destes sitemas gerenciadores nas avaliações on-line, que podem trazer melhorias significativas nos métodos existentes de avaliação dos cursos. No entanto outras dificuldades surgirão, como por exemplo; o formador/professor deverá ser o mais transparente possível na especificação dos seus critérios de avaliação, critérios estes muitas vezes extremamente subjetivos no presencial. Do ponto de vista da performace do ambiente, ao disparar estes agentes, haverá uma queda na velocidade o que pode desestimular os usuários.

É importante ressaltar que a escolha de utilizar estes recursos tecnológicos deve ser feita pelo professor/ idealizador do curso, é ele quem deve verificar se há necessidade de implementar as ações destes gerenciadores,ou seja, a adoção destes recursos deve estar de acordo com os seus objetivos de aprendizagem previamente definidos.

De qualquer forma, tal experiência ilustra adequadamente a constatação de que, em se tratando de EAD, a avaliação é um tema complexo, principalmente porque deve obedecer à lógica construtivista de concepção dos ambientes; deve ser colaborativa e formativa. Somente sendo coerente e atendendo a tal premissa é possível reconhecer índices de qualidade consideráveis nas ações. O desafio da utilização destes recursos é o de tornar o processo de Avaliação algo mais relacional e democrático, uma vez que deixa explícita a metodologia que será adotada pelo professor, além de potencializar a sua percepção em relação ao desenvolvimento do curso; a freqüência, a qualidade e a intensidade da relação do aluno com o ambiente.

 

3. Conclusões

Com o presente texto concluimos que ao discutir EAD, as questões fundamentais não residem apenas no nível das ferramentas, ou seja, no quanto elas precisam ser transparentes, acessíveis, mas incluir e valorizar a preocupação com as pessoas, com os usuários que estão fazendo o curso, suas especificidades e interesses e se possível utilizar o potencial das ferramentas disponíveis para atingir estes objetivos.


Isto significa dizer que a concepção pedagógica de um curso deve ser definida previamente, ou seja, definir se o que se pretende é formar (primar pelo aprender a aprender) ou informar, para então estruturar a proposta de implementação dos recursos tecnológicos - como a escolha das ferramentas -, corroborando para que sua aplicabilidade se vincule sempre à concepção pedagógica definida.

Somente mediante todas estas considerações é possível discutir as formas de avaliação e os níveis de qualidade das ações oferecidas. As ferramentas tecnológicas hoje disponíveis efetivamente ampliam as possibilidades de ensino e aprendizagem e devem ser exploradas. Os novos processos de interação e ambientes interativos podem ser estruturados a fim de ampliar níveis de qualidade hoje atingidos na educação presencial.

 


Nota:
( 1 ) Software educacional do IC- NIED/UNICAMP. O Teleduc, coordenado pela Prof ª Dr ª Heloísa Vieira da Rocha, foi desenvolvido por volta de 1997 e serve de ambiente virtual de apoio para várias disciplinas presenciais. Esta proposta de utilizar agentes gerenciadores inteligentes no apoio às avaliações foi apresentada no Seminário:Avaliação Online: O modelo de suporte tecnológico do projeto TELEDUC, apresentado em 30/04/2004, realizado na Unicamp.


Referências Bibliográficas

DEMO, Pedro. (1985). Ciências Sociais e Qualidade. São Paulo: Artmed.
JONASSEN, D. H., Peck, K.L., Wilson, B.G.(1999). Learning with technology – a constructive perspective. USA: Prentice Hall.
ROMANI, L A S., Rocha, H. V. e Silva, C.G. (2001) Ambientes para educação à distância baseados na Web: onde estão as pessoas?. Campinas, SP: Unicamp/IC.
VALENTE, J. A.(2002). A espiral da aprendizagem e as tecnologias da informação e da Comunicação:repensando conceitos. Em: JOLY, M. C. Tenologia no ensino: implicações para a aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo.