a Interação na ead é necessária?

 

 

 

Vânia Bem

Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL

vaniaben@terra.com.br

 

Wilson Schuelter

Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL

wilson@unisul.br

 

Dulce Márcia Cruz

Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL

dulce@unisul.br 

Resumo

Este artigo tem por objetivo apresentar algumas reflexões sobre o processo de interação aluno-professor nos ambientes virtuais de aprendizagem. No âmbito da educação a distância as tecnologias da informação e da comunicação atuam como mediadoras  do processo de ensino e aprendizagem implicando a construção de novos conhecimentos. Esta nova pedagogia da comunicação e da interação implica encurtar distâncias físicas e romper barreiras psicológicas, sócio-culturais e comunicativas que coexistem ainda na prática pedagógica. Frente às novas exigências da sociedade, o acesso ao conhecimento deve implicar uma constante preocupação com a qualidade no ensino e com a formação de novos valores, atitudes e processos interativos. Conclui-se que a preocupação com a inovação dos processos de ensino e aprendizagem deve ser uma das prioridades da educação a distância nos ambientes virtuais de aprendizagem, em que o aluno constrói seu aprendizado no processo de interação.

 

Palavras-chave: interação, interatividade, educação a distância.

 

1.      INTRODUÇÃO

A educação a distância vem desempenhando uma função extremamente importante e imprescindível na sociedade. Permite o acesso ao conhecimento, além de introduzir a interação no processo de aprendizagem. Então, interação na educação a distância é necessária?

A sala de aula virtual ou ambiente virtual favorece as interações entre professor/aluno; aluno/aluno; aluno/hipertexto. Vygotsky sugere que o estágio de desenvolvimento mental do indivíduo constitui-se no processo de internalização, fundado nas ações, interações sociais e na linguagem. As tecnologias da informação e da comunicação estão inseridas no contexto sócio-cultural. As mutações educacionais podem aglutinar-se às inovações, contribuindo positivamente para o benefício da sociedade.

 

2.      Aula virtual e sócio-interacionismo

Aula virtual ocorre via Internet, on-line. Com o aumento do número de computadores e o acesso à Internet, surge também o crescimento das aulas em ambientes de aprendizagem virtual. Mesmo estando a distância, a comunicação ocorre entre os participantes:

"virtual collaboration" é o processo de comunicação via Internet ou outras ferramentas baseadas na Web (e-mail, chats - tanto de texto como de voz, fóruns de discussão, etc.). O computador age como mediador da comunicação por meio de ferramentas específicas, apoiando e promovendo as discussões a distância. Isso permite interações síncronas (todos os participantes interagem ao mesmo tempo no mesmo lugar virtual), comunicações assíncronas (comunicação acontece por meio de ferramentas e cada indivíduo interage quando estiver on-line) ou uma mistura destes dois tipos (SLOWINSKI apud SILVA, 2001, p. 1).

A Sala de Aula Virtual pode ser vista, conforme Hiltz (2001, p. 1) como “um sistema computacional aprimorado para o aprendizado e a comunicação. Na Sala de Aula Virtual os alunos dividem seus pensamentos, questões e reações com professores e colegas, através do computador e do software”. Com a disponibilidade dos recursos, a interação ocorre entre professor e aluno, aluno e aluno, e principalmente aluno e hipertexto. Isso em diferentes horários e espaços, possibilitando, assim, o acesso aos sistemas de informação e de comunicação. Hiltz acredita que a comunicação mediada por computador está particularmente adaptada à implementação de estratégias e soluções de aprendizado colaborativo, no qual tanto os alunos como os professores são participantes ativos no processo de ensino.

A sala de aula virtual ou ambiente virtual contribui como uma opção viável para a qualidade da educação, obtendo melhores resultados em que eles:

são pelo menos tão bons quanto os resultados dos cursos presenciais tradicionais. Alunos que participaram do experimento relataram que tanto o acesso quanto a qualidade educacional foram melhoradas. Um resultado interessante é que alunos expostos à experiência de explorar uma Sala de Aula Virtual se tornam mais autodisciplinados e adquirem habilidades verbais acima da média. Alunos com estas características são mais propensos a obter melhores resultados em um ambiente baseado na Sala Virtual do que em cursos tradicionais (HILTZ, 2001, p. 2).

O aluno aumenta as conexões lingüísticas, as geográficas e as interpessoais. As lingüísticas porque ele interage com inúmeros textos, imagens, narrativas, formas coloquiais, e formas elaboradas; com textos sisudos e textos populares. As geográficas, porque se desloca continuamente em diferentes espaços, culturas, tempos e adquire uma visão mais ecológica sobre os problemas da cidade. As interpessoais, porque se comunica e conhece pessoas próximas e distantes, da sua idade e de outras idades, on-line e off-line (ALAVA, 2002).

O educando desenvolve a aprendizagem interativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a interação prevalece. Com o pluralismo cultural, desigualdade econômica e geográfica, as representações simbólicas, e as leituras de mundo ocorrem de modo diferenciado. O mundo se constituiu pelos significados das palavras expressos pela linguagem.

Gadamer (1998) destaca as funções cognitivas, comunicativas e a categorizadora. A primeira está relacionada aos enunciados que descrevem o estado e possuem um papel básico, no conceito do que é linguagem e seu funcionamento. A comunicativa é a descrição do mundo, entender e compreender o que se passa e a última que constitui o mundo e que se pode falar. A palavra encerra em si o sentido do texto, ela não é individual, mas tem um significado coletivo relacionado com o social. A facilidade da comunicação não pode tornar o ensino e aprendizagem em “pacote” de informações previamente elaboradas por especialistas e transmitidas verticalmente, segundo Reis (2000). É ainda um problema que se enfrenta no ensino, a dissociação entre a biografia do aluno e a sua compreensão do mundo, dos conteúdos, dos textos e as interpretações superficiais feitas por alguns professores ou por alunos.

Numa relação, o indivíduo estabelece processos interativos consigo mesmo e com os outros, nos quais é enfatizada a importância da empatia,  no sentido de colocar-se no lugar do outro, pois assim ocorrerá o compartilhamento e a compreensão de significados. O indivíduo poderá reinterpretar conforme a realidade ao seu alcance; nos processos de interação, cada uma das partes envolvidas influencia as demais. No âmbito educativo, escutar, compreender e colocar-se no lugar do outro são atitudes essenciais do processo comunicativo. Os graus das expectativas e das influências são diferentes de uma pessoa para outra:

en otras palabras, su conducta en la comunicación se vê afectada por el nivel de conocimiento que tiene sobre sus própias actitudes, por las características de su receptor, por las distintas formas en que puede emitir o tratar los mensajes, por los distintos tipos de elección que puede hacer con respecto a los canales de la comunicación, etc. El conocimiento sobre la comunicación afecta a la conducta de comunicación (BERLO, 1976, p. 39).

Diante dos crescentes sistemas e do uso de tecnologias, é exigida a aquisição de novas habilidades e de novas linguagens capazes de pertencer, decidir, aprender e participar de certas regras, comportamentos e saberes impostos pela sociedade. Os suportes multimídia estão incorporados no ensino:

novos modos de aprender começam a ser criados a partir de relacionamentos virtuais dentro dos ambientes informatizados. A Internet possibilita ao mesmo tempo o acesso ao conhecimento massificado e personalizado. O fim da distinção entre o que é ensino presencial e a distância parece ser bastante provável já que o uso das redes de telecomunicações e dos suportes multimídia interativos vem sendo progressivamente integrados às formas mais clássicas de ensino (CRUZ, 2001, p. 192).

As instituições de ensino precisam buscar novos caminhos para envolver-se na transformação dos espaços, conforme Freire (1978), um dos principais desafios da comunicação para a educação, hoje, é permitir e incentivar a expressividade e a participação do aluno. O conceito sociocultural de ação mediado supõe que toda a ação está intrinsecamente relacionada com o meio e o fim, por isso os instrumentos de mediação entram em ação, como: a linguagem, sistemas e ferramentas que constituem o contexto tecnológico, conservam interesses distintos, dependendo de quem possui e de quem coordena. O processo mental é desenvolvido por sujeitos isolados, pois segundo Reis (2000, p. 40) “Mesmo que os professores falam através das ferramentas tecnológicas, os alunos de cursos a distância estão em constante diálogo, com sua história pessoal, com sua cultura, interesse e necessidades”. Em qualquer trabalho educativo deve haver liberdade, espontaneidade, coesão para que cada aluno possa desenvolver sua criatividade, entendida como a capacidade de desenvolver potencialidades baseadas na solidariedade e no compromisso do grupo, formado pelo docente e pelos discentes.

 

3.      Interação e interatividade na EAD

Barros e Cavalcante (apud LACOMBE, 2000, p. 7) citam que  a interação pode ser dividida em duas correntes: a do construtivismo-interacionista e a sócio-interacionista. A primeira corrente possui como expoente  Piaget, segundo o qual  é através de estágios mentais e a interação com pessoas e objetos que o indivíduo constrói o seu aprendizado. Vygotsky aborda a segunda, enfatizando o aspecto sócio-interacionista, pois considera que é no plano intersubjetivo, isto é, na troca entre as pessoas, que têm origens às funções mentais superiores, resultando a aprendizagem. Na relação aluno e professor, o segundo é um mediador do processo de construção do conhecimento por meio de interações sociais. Na relação aluno e aluno, ele é parte de um contexto social e deve ter iniciativa para questionar, descobrir e compreender o mundo a partir de interações com os demais. Na relação aluno e objeto do conhecimento a ser aprendido, o aluno é capaz de interagir com os objetos (amplificadores culturais), construindo assim seu conhecimento. No que diz respeito aos recursos computacionais, eles passam a ser encarados também como um meio de comunicação e interação entre aprendizes e orientadores.

Segundo Lacombe (2000), Vygotsky faz referência à mediação na formação mental do indivíduo, na corrente construtivista sócio-interacionista:

mediadores são todos os instrumentos criados pelo homem (a linguagem em especial) em sua interação com outros e com o meio. Os mediadores são heranças culturais de outras gerações, determinados por sua materialidade sócio-histórica. Todas as funções psicológicas superiores são necessariamente mediadas, ou seja, os processos mentais do homem em sociedade são moldados pelo conhecimento de gerações anteriores que está em cada objeto (amplificador cultural) criado pelo homem. Portanto, nesta visão, a interação com objetos modifica e funda processos mentais que de outra forma não existiriam e eliminam outros processos tornados desnecessários pela presença do instrumento. (LACOMBE, 2000, p. 8-9).

Vygotsky  (1998) valorizou o mecanismo que intervém no desenvolvimento das funções psicológicas complexas, ao processo de internalização. Concebeu este processo como uma reconstrução interna de uma operação externa, tendo como base a linguagem. O plano interno para ele não preexiste, mas é constituído pelo processo de internalização, fundado nas ações, nas interações sociais e na linguagem. A linguagem é o meio através do qual se generaliza e se transmite o conhecimento. A apropriação dos conteúdos veiculados pela linguagem se dá num contexto social e historicamente determinado.

A função inicial da linguagem é comunicativa, é ser um meio de expressão e compreensão. Na verdade, a linguagem combina a função comunicativa com a de pensamento. Vygotsky estudou a relação entre pensamento e linguagem, chegando à conclusão de que o desenvolvimento da fala e do pensamento não são processos paralelos e que existem pontos de conexão entre ambos; já que existe o estágio pré-lingüístico no aumento do pensamento e o pré-intelectual no desenvolvimento da fala, sendo assim, o pensamento transforma-se em verbal e a fala em racional. Interligado a isso está a reflexão de Schuelter:

o desenvolvimento pleno do pensamento e da linguagem só se verifica no desenvolvimento simultâneo e interligado de ambos, pois são intercomplementares. As estruturações lingüísticas refletem em muito as estruturações mentais, exatamente porque uma das funções primordiais da linguagem é transmitir o que se passa na mente humana, ou seja, o pensamento (SCHUELTER, 2001, p. 101).

Vygotsky  (1988) expõe objetivamente a intimidade que há entre pensamento e linguagem, dando reverência à estrutura lingüística. Pode-se citar o importante envolvimento mental existente com as estruturas lingüísticas, já que elas desempenham papéis fundamentais na interação com o outro e na vida. Vygotsky prioriza o papel da linguagem na organização e desenvolvimento dos processos de pensamento. O elemento cultural é importante, os instrumentos e formas que o homem utiliza para dominar o ambiente são aperfeiçoados ao longo da história do homem em sociedade.

A linguagem carrega consigo os conceitos generalizados, que são a fonte do conhecimento humano. Instrumentos culturais especiais, como a escrita e a aritmética, expandem enormemente os poderes do homem, tornando a sabedoria do passado analisável no presente e passível de aperfeiçoamento no futuro (VYGOTSKY, 1988, p. 26).

Haverá aprendizagem na medida que houver interação com o social, com o outro, igualmente com a valorização de sua cultura.  Silva (2002) faz uma abordagem sobre o início da interação. Na física o conceito é dado ao comportamento das partículas cujo  movimento é alterado pelo movimento de outras partículas enquanto que na sociologia e na psicologia social nenhuma ação humana ou social existe isoladamente, separada da interação.

A interação entre professor e aluno é extremamente importante. Segundo Belloni (2002) a situação de intersubjetividade e retorno imediato ocorrem na troca de mensagens com aspecto sócio-afetivo; já na interatividade há a busca e a troca de informações. Estes dois tipos facilitam e auxiliam na aprendizagem, tendo significado útil e complementando de forma sofisticada a educação a distância.

 E fundamental esclarecer com precisão a diferença entre o conceito sociológico de interação — ação recíproca entre dois ou mais atores onde ocorre intersubjetividade, isto é, encontro de dois sujeitos — que pode ser direta ou indireta (mediatizada por algum veículo técnico de comunica­ção, por exemplo, carta ou telefone); e a interatividade, termo que vem sendo usado indistintamente com dois significados diferentes em geral confundidos: de um lado a potencialidade técnica oferecida por determina­do meio (por exemplo CD-ROMs de consulta, hipertextos em geral, ou jogos informatizados), e, de outro, a atividade humana, do usuário, de agir sobre a máquina, e de receber em troca uma "retroação" da máquina so­bre ele (BELLONI, 1999, p. 58).

A interatividade é mais recente, surgiu na década de 70 a 80 juntamente com o contexto das novas tecnologias da informação e da comunicação. Lévy (1993) explica que o computador era uma máquina centralizada, porém mais tarde passou a incorporar a tecnologia do hipertexto. Há vários estudiosos que dizem que a interação refere-se às relações humanas, e interatividade está estritamente ligada a homem-máquina (tecnologias, equipamentos, sistemas hipertextuais). Para Silva (2002, p. 3) “a interatividade está na disposição ou predisposição para mais interação, para uma hiper-interação, para bidirecionalidade (fusão emissão-recepção), para participação e intervenção”. Silva defende tal idéia porque um indivíduo pode se predispor a uma relação hipertextual com outro indivíduo. A princípio concorda-se com tais posicionamentos, considerando-os viáveis à reflexão.

Os processos interativos sempre pressupõem uma relação do indivíduo com os demais e consigo mesmo, havendo necessidade de empatia, de  colocar-se no lugar do outro: as partes implicadas na interação precisam assumir necessariamente o papel de cada um dos indivíduos envolvidos. Para indicar o que uma pessoa deve fazer, é importante colocar-se no lugar de quem recebe, argumenta Brumer (1981).

 Bolzan (1998) cita quatro tipos de interações na educação a distância: aluno/interface; aluno/conteúdo; aluno/professor; aluno/aluno. Na interação aluno/interface, a tecnologia deve ser amigável para o aluno. Na interação aluno/conteúdo, este deve ser capaz de estimular a compreensão e a cognição do aluno, como também ser possível prender a atenção do aluno por longos períodos. Na interação aluno/professor, o professor deve ter a capacidade de manter o seu interesse, motivando o aluno ao ensino pela descoberta  apresentando múltiplas oportunidades de aprendizado ao aluno. As interações aluno/ aluno incentivam muito a participação e discussão, possibilitando, através da informação recebida, a construção de novos conhecimentos aplicáveis ao cotidiano das pessoas e da sociedade. Para se alcançar uma compreensão mais interessante da interação, pode-se entendê-la como uma relação. Assim, pressupõe a comunicação, em que há um emissor e um receptor, que vão alterando constantemente a relação. Nesta perspectiva, a aprendizagem e o conhecimento podem ser frutos das interações e relações sociais que o ambiente virtual proporciona.

As interações constituem parte importante de todo o processo em qualquer sistema de ensino. Elas oferecem a oportunidade de expandir e aprimorar o conhecimento do material de apoio. Primo e Cassol (2001, s.p.) sugerem que seja ampliada a percepção da interação, pois esta, “[…] inclui as relações que se dão de forma mútua e negociada”. Entendem ainda que “...entre os interagentes emergem um terceiro fator desconsiderado por muitos paradigmas que é a relação em si.” E esta é definida pelos participantes da interação no decorrer do processo.

Para Primo (1998, s.p.), a interação plena considera a “[...] complexidade global de comportamentos (intencionais ou não, verbais ou não), além de contextos sociais, físicos, culturais, temporais, etc.”. Sendo assim, a interação pode ser um elemento catalisador da construção do conhecimento, desde que sejam valorizados o diálogo, a negociação, a cooperação com o outro nos ambientes virtuais de aprendizagem.

Piqué (1996, s.p.) afirma “[...] é através de um diálogo que a educação encontra sua melhor forma e onde a participação dos alunos é decisiva, não se limitando ao papel de mero ouvinte de uma exposição feita por um professor diante de um quadro-negro”.

A educação a distância viabiliza a interação social entre alunos e professores que superam as distâncias sociais e geográficas, possibilitando dispor de espaços para interação informal, os quais ajudam a fortalecer os vínculos afetivos e o espírito de apoio. Ao utilizar os ambientes virtuais de aprendizagem, a postura dialógica e cooperativa são elementos essenciais. Nesse sentido, é importante valorizar a consciência social e a tolerância no convívio com as diferenças. Ao perceberem sua importância no processo, os sujeitos sentem-se responsáveis pelo seu próprio aprendizado e pelo do grupo em que estão inseridos.

O fórum de discussão e o hipertexto são maneiras de registrar as interações que ficam armazenadas numa base de dados. Esta tem valor como depósito de informações, necessárias à construção do conhecimento. Entretanto, essa base de dados só terá valor e significado pela ação do ser humano. A interação em qualquer ação educacional, seja presencial ou a distância possui relevância. Para Placco (2001, p. 53)“[...] o desenvolvimento do homem, seu conhecimento e sua cultura dependem das interações que ele mantém com outros homens e com a natureza”, a formação de cidadãos mais críticos e conscientes, capazes de atuar nesta era de rápidas transformações sem perderem sua identidade e cidadania.

O risco de uma despersonalização imposta pela distância entre professor e aluno requer o desenvolvimento de uma atenção particularizada em relação a cada estudante e em relação ao grupo como coletivo, que não apresenta um comportamento homogêneo. Por outro lado, como cita Reis (2000), os manuais e a tendência de utilizar de modo crescente as ferramentas tecnológicas nos cursos a distância, e inclusive nos presenciais, diminuem o espaço de encontros personalizados frente a frente, portanto, introduzem trocas na comunicação e no hipertexto, existente nos sistemas educativos.

A mediatização e a codificação das mensagens pedagógicas está, pois, no “motor” dos processos educacionais, traduzindo-as sob diversas formas, segundo o meio técnico escolhido, isto é, as características técnicas e as peculiaridades de discurso do meio técnico.

Conforme Braga (2001), a interatividade estaria centrada na reciprocidade constitutiva, que determina um dialogismo imediato. Ocorre uma construção em tempo real das trocas, reação e respostas entre interlocutores resultado expressivo da interação está no teor da conversa, está sendo construído ao vivo; a troca não está pronta a ser iniciada; ela existe e se constrói na interação. Outro ponto relevante é de que os valores humanos e sociais não dependem de um modelo formal, mas sim das situações e estruturas sociais em que as interações específicas ocorrem.

Segundo John B. Thompson (1998) há aspectos importantes no modelo conversacional: “Interatividade mediada” (cartas, telefone). A reciprocidade, o dialogismo direto, a sucessividade de “falas” e a alternância da ocupação do lugar de “escuta” se mantêm na troca de correspondência, nas conversas telefônicas e, mais recentemente, nos espaços onde a interatividade por rede informatizada se desenvolve nesta direção (troca de mensagens por e-mail e chats).

 É conveniente expor, que em relação aos meios ditos de “massa”, televisão, rádio, cinema, há autores que dizem que não existe interação, porém Braga explica que as tentativas de tornar cada vez mais interativo o processo de reciprocidade aumentam, isso também nas redes informatizadas:

o rádio hoje se apresenta como mais interativo que a TV, com grande número de programas em que os ouvintes reagem via telefone (trabalhando afinal a mesma substância, sonora, do rádio). As redes informatizadas são definidas como interativas porque viabilizam aqueles procedimentos “conversacionais” – esquecendo-se que uma parte significativa das ações na rede não é deste tipo; ou então, apressada e equivocadamente, assimilando àqueles procedimentos conversacionais interações decididamente de outros tipos (hipertexto, ações do usuário sobre “objetos”, decisões de busca, variabilidade de percursos, etc.) (BRAGA, 2001, p. 112).

A interatividade deve ser vista como um processo socialmente construído, sendo importante também se importar, efetivamente como é o que circula na sociedade, desde sua produção até seus usos, incluindo a presença como objeto de cultura. É imprescindível “lembrar que a democratização passa não apenas pelo acesso às mídias, mas pelo conhecimento e uso crítico que fazemos delas” (CRUZ, 2001, p. 195).

Um produto mediático é posto na sociedade, então inevitavelmente ocorre a interatividade. Ela ultrapassa a situação concreta de espaço e de tempo em que alguém produz ou de quem lê (usa) um produto. Deve-se perceber que uma parte significativa das interações na sociedade se desenvolve em conseqüência e em torno de mensagens, proposições, produtos, textos, discursos, etc. Essas interações devem ser diferidas no tempo e no espaço, o que permite a ampliação numérica e a diversificação dos interlocutores, ultrapassando as ações mútuas entre produtor e receptor. No que se refere às mediações culturais, convém destacar as ações e as interações denominadas como subsistema crítico-interpretativo. Conforme Braga (2001, p. 112), “o sistema analítico-crítico não se desenvolve separadamente, com relação ao sistema de interações dos processos mediáticos: mas sim em relação de mútua implicação com este”. Ainda, conforme o autor, existem indagações:

como os receptores estão interpretando não apenas os conteúdos e informações propostos por determinado tipo de produtos, mas os próprios procedimentos e estruturas? Como interagem criticamente com estas? Que tipos de competências acionam para trabalhar com tais estruturas? Até que ponto sua própria interação com tais tipos de produto parece ter gerado competências de edição? Ou (inversamente) até que ponto parecem depender de competências desenvolvidas extramediaticamente?... Para observar como os receptores resistem a determinadas proposições via mídia, que outras interações desenvolvem em maior profundidade, resultando em aprendizagem, modificações de atitude, formação de perspectivas sobre questões da sociedade e como monitoram auto reflexivamente estas interações? (BRAGA, 2001, p. 143-135).

As relações entre produtor e o produto são de interatividade. Os envolvidos interagem sobre os produtos, na forma direta e imediata de conversas e re-interpretações, além de informação, leituras e interpretações, o processo se coloca como efetivamente interativo com interações culturais e posições na sociedade. As reflexões acerca da interação e interatividade pressupõem mudanças implicadas na conduta do fazer pedagógico, onde a aprendizagem assuma espaços e conexões com as inovações tecnológicas sociais e culturais.

 

4.      Considerações finais

    A educação a distância também amplia o espaço educativo. A aprendizagem cumpre uma função social a respeito da liberdade e autonomia do aluno. É necessário insistir mais nos trabalhos em grupos, e que estes possam promover estratégias de interação e dinâmicas pelas quais os alunos possam colaborar com iniciativas próprias que não sejam impostas. Através dos recursos tecnológicos se deve incrementar o desenvolvimento de projetos interculturais na prática pedagógica e nos processos interativos humanos.

Esta nova pedagogia da comunicação e da interação implica encurtar distâncias físicas e romper barreiras psicológicas, socioculturais e comunicativas que coexistem ainda na prática pedagógica. É preciso grande esforço para mudar as atitudes tradicionais já que os processos específicos de interação e intercâmbios na educação a distância são uma experiência privilegiada à inovação. No entanto, as facilidades apontadas pelas tecnologias avançadas de comunicação e informação não podem transformar a educação num processo massivo para o transporte da informação e do conhecimento. Frente às novas exigências da sociedade, o acesso ao conhecimento deve envolver uma constante preocupação com a qualidade no ensino e com a  formação de novos valores, atitudes e processos interativos.

Conclui-se que a preocupação com a inovação dos processos de ensino e aprendizagem deve ser uma das prioridades da educação a distância nos ambientes virtuais de aprendizagem, em que o aluno constrói seu aprendizado no processo de interação.    

 

5.      REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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