O cenário da educação a distância: compromissos da Universidade Brasileira

 

 

 

Marilú Fontoura de Medeiros

PUCRS marilu@pucrs.br

 

Gilberto Mucilo de Medeiros

PUCRS medeiros@pucrs.br

 

Adriana Beiler

PUCRS/ adrianab@inf.pucrs.br

 

 

Resumo: Este trabalho apresenta reflexões acerca da Universidade, delineando um papel extremamente relevante a ser exercido na formação de quadros da sociedade brasileira, assim como na produção do desconhecido, na necessária socialização e democratização do conhecimento e com a contínua construção de padrões de qualidade. Esse papel se concretiza pelo esforço persistente e cumulativo de educação com padrões elevados de excelência ao longo das últimas décadas, levando-nos a ressaltar o crescimento da produção científica brasileira, quintuplicada em relação à média de 20 anos atrás.

A Educação a Distância/EAD é uma delas. A PUCRS investe na construção do saber e do conhecimento significativo nas infovias que se abrem à possibilidade de inclusão de grupos cada vez mais amplos nos processos educacionais, fazendo uso, também, da educação a distância. Mais do que uma tendência e uma inovação tecnológica, são enfatizadas a capacitação de professores em um novo  paradigma educativo que contempla a atualização das múltiplas virtualidades na direção da ampliação do humano.

 

Palavras-chave: universidade brasileira, educação a distância e universidade, democratização do conhecimento

 

Introdução

 

Um desafio nos move na construção dos cenários que estão se constituindo na educação superior brasileira, relacionado menos à condição tecnológica e mais à condição humana e socioeducativa que se instaura na universidade como parte de um paradigma reconstrutivista. Mais que isso, nosso leitmotiv está postado por questionamentos vinculados à idéia de como podemos responder à “idéia de inserção e não de exclusão” (Carlos Voigt, 2001) A inclusão tem sido um desafio da maioria das universidades brasileiras. Como tal, se configura a necessidade de uma “alfabetização digital”, não só no limiar de uma sociedade do conhecimento, mas alfabetização essa que permita a criação e ampliação de uma sociedade de aprendizagem.

Não obstante, o que pode ser paradoxal no horizonte das políticas governamentais, a educação vem pontuando como elemento-chave na construção de uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado. Emerge, como resultante, uma promessa de políticas públicas, ciente de que não são poucos os desafios a serem enfrentados, de projetos e parcerias que envolvem a informatização do ensino, a capacitação de docentes e a prática de educação a distância.

 

1. Que Universidade é Essa?

 

Embora parte de uma sociedade existencialmente contraditória e desigual, em sua vida extremamente jovem, a Universidade Brasileira tem buscado encontrar-se como singular em um amplo compromisso com a qualidade da formação de quadros, assim como com a construção e socialização do conhecimento.

Nosso desafio, na esteira de Deleuze e Guattari (1995), se situa na ultrapassagem da dualidade, informação e comunicação, procurando atrair um terceiro fator, sem o qual as ações de informação, assim como de comunicação se mostram incompletas. A aprendizagem, processo eminentemente fundamental à sociedade que se instala como sociedade da informação. Pretendemos, para além dessa, da mesma forma que da comunicação, facilitar o acesso assim como a permanência no que denominamos de sociedade da aprendizagem. Uma sociedade que faça uso desses recursos como processos de inclusão e de permanente construção de saberes e de conhecimento em ações não só individuais, como coletivas. Uma universidade que potencialize essas ações.

Entretanto, alguns dos paradoxos que envolvem essa sociedade, assim como a universidade nela inserida, merecem ser destacados como emuladores de nossa reflexão: um deles, refere-se a: 

(1)         uma lógica de exclusão presente, mesmo que combatida do ponto de vista teórica ou da vontade presente nas políticas públicas;

(2)          a Universidade ainda como reduto de uma elite, pois, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre o ensino superior no país, segundo Rosa Lima (2001),  desfaz o mito corrente de que as universidades públicas são freqüentadas pelos filhos dos ricos enquanto as particulares abrigam alunos de menor poder aquisitivo. Um trabalho do sociólogo Paulo Roberto Corbucci assinala que 78% dos alunos matriculados nas instituições privadas pertencem à faixa dos 20% da população com renda mais alta. No âmbito do ensino público, 72% se enquadram nesse estrato;

(3)         uma dívida social  da Universidade Brasileira, pois, segundo Brito Cruz (2001), “enquanto países como o México e o Peru já contavam com universidades constituídas em pleno século 16, o Brasil só viria a tê-las a partir da década de 30 do século 20. Além da exclusão de milhões de pessoas das oportunidades propiciadas pela qualificação universitária, essa situação afeta notavelmente a capacidade do país de preparar, em número suficiente, profissionais capazes de gerar conhecimento e de produzir riqueza;

(4)         uma falsa lógica dual entre universidade pública e particular, com base nos resultados em  estudo acerca do predomínio da elite na universidade brasileira (Rosa Lima, 2001), que mostra a importância da rede universitária pública na formação de mestres e doutores. “Diferentemente do que ocorre ao nível da graduação, o espaço ocupado pelas instituições de ensino superior privadas, na pós-graduação stricto sensu, ainda é residual”, diz o estudo do Ipea”. E,  ainda:

(5)          a Universidade se posta, muitas vezes, como uma vestal de um templo, resguardada das multiplicidades e assimetrias da sociedade , pois, como  bem apresenta Brito Cruz(2001), no “final da década de 90, da força de trabalho existente no Brasil, apenas 0,1% estava ocupada em gerar conhecimento, percentual muito baixo em relação a países como França (0,5%), Alemanha (0,4%), EUA e Japão (0,8%). O projeto de nação madura e efetivamente independente, sobretudo num cenário internacional de extrema valorização do conhecimento como fator de autonomia, fica comprometido enquanto durar tal assimetria”;

(6)         essa mesma Universidade que auxilia na construção dessas desigualdades, tem devires voltados à uma produção integrada, mantido o horizonte da crítica necessária. A formação contínua de um contingente de pesquisadores em várias áreas do conhecimento tem permitido um bom número de iniciativas ousadas, como, por exemplo, o projeto Genoma, realizado por pesquisadores das universidades paulistas e organizado pela Fapesp, os projetos da Embrapa, de forte impacto na economia agropecuária, e o alto valor agregado dos aviões da Embraer, hoje um dos principais itens de nossa pauta de exportações. Nada disso se faria não tivesse havido um esforço persistente e cumulativo de educação com padrões elevados de excelência ao longo das últimas décadas ”(Brito Cruz, 2001).

 

 

2. Produções da Sociedade que interpenetram as relações Universidade e Sociedade, provocando e induzindo  a novos desafios

 

A partir de 1995, o MEC procurou imprimir um entendimento das instituições públicas e privadas como um conjunto complexo, do qual as universidades são uma parte do sistema, mas que, por sua própria natureza, não podem e não devem responder a todas as demandas da sociedade em matéria de ensino pós-secundário. É, ainda, o governo que aponta como  problemas: o tamanho do sistema, extremamente modesto para as dimensões e necessidades do país;  o processo de credenciamento de novas instituições, burocrático e cartorial;  a falta de um sistema abrangente de avaliação da graduação;  o desafio de modernizar o ensino de graduação, superando as distorções e o conservadorismo que se instalaram no sistema.

            A partir dessas  áreas de ação, alguns princípios são erigidos pelo governo:  expansão, diversificação do sistema para democratizar o acesso, avaliação, supervisão, qualificação e modernização.

Questionamos como essa demanda projetada de 875 mil novas vagas poderá ser atendida? Pela oferta de novos cursos? Sem sombra de dúvida! Pela construção de novos espaços físicos? Viável, porém não suficiente! Ou, buscaremos atentar às possibilidades que a maturidade das universidades, assim como as tecnologias de informação e comunicação já nos oferecem em termos de condições ao maior acesso, permanência e garantia de qualidade?

Com relação a esse desafio, o MEC aponta à diversificação para democratizar o acesso e, nesse sentido, o governo dirige seu olhar para os Centros Universitário,  os Cursos seqüenciais, o Ensino a distância e a Universidade virtual como alternativas viáveis à  sua implementação. Afirma, ainda, que, nos Estados Unidos, no Canadá e nos países europeus, os cursos seqüenciais já absorvem grande parte da demanda por vagas no ensino superior. A expectativa do governo é de que eles se tornem fundamentais para ampliar o acesso ao ensino superior no Brasil. Da mesma forma, ressalta a  educação a distância  e, nessa linha, tinha como previsão, parte de um  grande desafio,  formar, em sete anos, cerca de 600 mil docentes.

Há muitos caminhos para alcançar essa aliança. Não apenas um. O que necessita ser mudado é a lógica implícita dentro dessa busca. Uma lógica não dualista; uma lógica que, no lugar de separar, busque a aproximação entre todos os setores: o primeiro, o segundo e o terceiro setor ou, ainda, em outra linguagem, o público, o privado, o povo. Porque não aprendermos com os múltiplos governos que buscam apoio também dos setores produtivos em nome dos interesses do povo? Importa aqui os interesses habermasianos (Habermas, 1996) que movem essas ações. Ainda, não estabelecemos completamente essa aliança  entre a universidade e o povo; há outros horizontes que nos permitem visualizar e  estabelecer alianças, não filiações (Guattari e Deleuze, 1995) entre o pensamento universitário, o terceiro setor, o setor produtivo. Sem existir aqui um dualismo, um alijamento entre esses diferentes setores, como se os mesmos estivessem irremediavelmente separados e antagônicos. Esses são alguns dos grandes desafios a que nos vemos frente a frente.

 

3. Como conseguir isso?

A Educação a Distância vem se evidenciando como uma nova função da Universidade ou, em uma perspectiva mais ampla, uma nova Universidade que vem dispor-se a superar e a transcender a si própria, não só sendo espaço privilegiado à difusão, crítica e construção do conhecimento, mas também um espaço de criação de inclusão social, direcionada ao desenvolvimento da maioridade humana do homem. São desafios da Universidade nessa entrada de milênio como algo exigido dos profissionais da universidade e dos formadores de formadores.

Há um razoável consenso em torno do fato de que a Universidade deve estar atenta aos seguintes aspectos (Azevedo, 1999): (1)        “Cada vez mais exige-se, hoje, profissionais e cidadãos capazes de trabalhar em grupo, interagindo em equipes reais ou virtuais; (2)         Cada vez mais trabalhar e aprender se tornam uma só coisa, e como trabalhar se torna cada vez mais algo que se faz em equipe, aprender trabalhando se faz cada vez mais em grupo; (3) Mais do que o sujeito "autônomo", "auto-didata", a sociedade hoje requer um sujeito que saiba contribuir para o aprendizado do grupo de pessoas do qual ele faz parte, quer ensinando, quer mobilizando, respondendo ou perguntando. É a inteligência coletiva do grupo que se deseja pôr em funcionamento, a combinação de competências distribuídas entre seus integrantes, mais do que a genialidade de um só; (4) Dentro desse quadro, aprender a aprender colaborativamente é mais importante do que aprender a aprender sozinho, por conta própria. Co-laborar, mais do que simplesmente laborar”.

São desafios, propostas que instigam a reconstrução da relação hierarquizada e assimétrica entre professor e aluno. Assimétrica ela será pela própria natureza do conhecimento acumulado; entretanto, esse diálogo se faz coletiva e cooperativamente como espaços de troca de saberes, de construção de outros platôs, patamares na produção desse conhecimento. Na Educação a Distância, mais do que nunca, e pela própria natureza e matéria de trabalho, as relações se instituem em outras bases, diferentes das velhas hierarquizações, sem perda da qualidade e do rigor acadêmico.

A EAD vem se mostrando muito mais que “uma tecnologia que permite coisas impensáveis em outras modalidades que utilizam outras tecnologias, como, por exemplo, a formação de comunidades virtuais de aprendizagem colaborativa, isto é, comunidades compostas por pessoas que estão em diversas partes do mundo e que interagem todos com todos sem que necessariamente estejam juntas ou conectadas na mesma hora e no mesmo lugar - em modo assíncrono, como dizem os especialistas” (Wilson Azevedo, 1999).

Como já afirmamos, o professor que vai trabalhar em EAD ou que trabalha em EAD não está pronto. Não é algo dado. Não se trata de uma simples transposição. São necessárias reconfigurações teórico-práticas  de um paradigma que dê suporte a essa prática.

São desafios grandes que exigem um grande esforço, como defendem Azevedo (1999, 2000), Palloff e Pratt (1999), Tavares(2002), Coelho(2000, 2002), Medeiros e outros (2001) e que contemplam: (1)           primeiro, uma perspectivação diferenciada da condição da Universidade, pois essa necessita voltar-se à instituição de espaços de aprendizagem, nos quais a tecnologia atue como mediadora dos processos de criação; (2)            segundo, um devir de subjetivação institucional empreendendo comunidades virtuais de aprendizagem, seja na modalidade de EAD, seja na modalidade semi-presencial, como requisito à aprendizagem que o novo milênio está a nos exigir; (3) terceiro,  uma reaprendizagem, como defende Azevedo, de ser um aluno de EAD ou um aluno que, mesmo em situação semi-presencial faz uso de processos mediatizados por tecnologias digitais; (4)     quarto, não se faz Educação a Distância com a mera transposição da velha sala de aula para o mundo virtual, esteja ele organizado em que plataforma for. Como defendem os autores supracitados, em especial, Azevedo (1999), ser professor nessa modalidade; (5)       Finalmente, esse novo aluno e esse novo professor ainda não existem. Precisam ser criados e aperfeiçoados continuamente nesta nova área de prática educativa. Não se faz isto de um dia para o outro. É coisa que nossa sociedade vai viver por muitos anos, talvez décadas (Tavares, 2000, 2002).

Outras ações (Gunawardena, 1998; Moore, 1993; Moore e Kearsley, 1996; Peraya, 1997, Steiner, 1995; Tiffin, 2002; Tiffin e Rajasingham, 1995) vêm se delineando neste campo, em uma contínua preocupação com a qualidade, traduzindo-se pela(o): (1) seleção, credenciamento e capacitação dos professores no conteúdo específico, associado ao entendimento do papel da tecnologia nos processos de aprendizagem; (2) foco no denominado "time-on-task measures", implicando em um tempo por semana, dedicado ao estudo, mediante imprescindíveis processos de interação com o professor e ou tutor/monitor em diferenciadas plataformas de comunicação, virtualmente ofertadas em qualquer tempo; (3) ênfase em processos programáticos e apoio/suporte com vistas aos resultados desses mesmos objetivos; (4) o mais relevante, o aprender a instituir-se em rede e a criar redes nos processos de constituição de ambientes virtuais de aprendizagem.

Além desse esquema de distribuição tradicional no sentido do transporte da informação, há que considerar a idéia de ambientes de multimídia interativa e aprendizagem, desenfatizando a reprodução de um ensino enciclopédico, cartorial, com suposta carga de erudição e sobrecarga cognitiva; a problemática referente ao aprendizado colaborativo e cooperativo (Mathews e Cooper (1995) a dificuldade na concepção de softwares e os descompassos entre os objetivos de aprendizagem; as barreiras entre a produção de materiais de ensino e os estudantes no uso de hipermídia; os desvios na elaboração dos materiais impressos, de apoio e no uso das demais mídias (Willis, 1996); além do problema da compatibilidade cognitiva dos materiais e softwares (Guadamuz, 1997, p.30).

Na linha da interatividade, a potencialidade da maioria das tecnologias reside não só na integração multi-sensorial da interatividade, mas numa mudança de paradigma educativo: da transmissão de informações para a construção do saber pelo usuário ou aluno. O aluno competente do ponto de vista cognitivo-emocional e sociais, será aquele que aprende a fazer perguntas e é capaz de dizer como pode, de alguma maneira, responder a essas perguntas. Os estudantes que utilizam as multimídias fazem todas as etapas ao mesmo tempo, não uma navegação linear das mídias clássicas (Guadamuz, 1997; Gunawardena, 1998).

Assim, os tipos de interatividade apresentados por Gadamuz (1997): interatividade da máquina – transitiva ; interatividade intransitiva – do usuário garantem uma outra interação, mais sociocognitiva.

A distância transacional entre professor e estudantes, a função de variáveis de estrutura e de diálogo (Moore, 1993; Moore & Kearsley,1996; Berge, 1995; Collins e Berge, 1996; Belloni, 1999; Jonassen, 1996; Kerr, 1986; Moran, 2001; Wilson, 2002), referem-se ao desenvolvimento e adaptação dos objetivos, das estratégias de ensino e dos processos de avaliação aos objetivos dos alunos e aprendizes. O diálogo refere-se ao fluxo de comunicação entre professor e aprendiz(es). O cuidado em criar uma estrutura de curso flexível e em encorajar um fluxo livre de comunicação mediada por qualquer meio pode diminuir a distância transacional. Da mesma forma, Coelho(2001), assim como em nossos estudos na PUCRS VIRTUAL (Medeiros e outros, 2002), pressupomos e, mais do que isso, operamos nessa modalidade e, nesse caso, “sentimos a importância de considerar o que tem sido denominado de letramento tecnólogico. Isto se aplica tanto ao professor, como orientador da aprendizagem quanto aos aprendizes. A articulação dos resultados de processos de pesquisa fundamenta a idéia de letramento múltiplo ou multi-letramentos a partir da necessidade de compreensão intertextual de como significados mudam e se relacionam, ao longo de mídias, gêneros e quadros de referência culturais. Ler e escrever, seja  na Internet, seja em  ambientes de comunicação, não são processos lineares, exigem compreensão de novas linguagens e de intertextualidades, de relações entre idéias, de conexões, de pensamento lateral, de conhecimento relacional, de comunicação intercultural, de participação responsável e ética no ciberespaço, além de habilidades técnicas. É preciso uma leitura multimodal de recursos de informação. Animação, símbolos, texto impresso, fotografias, clips de filmes ou gráficos tridimensionais ou manipuláveis, geralmente lateralmente conectados, multi-embutidos e, além disto, ligados com destaque (hot links) demandam habilidades específicas de leitura”(Coelho, 2000b; Coelho 2000).

Gunawardena (1998) propõe nesse processo interativo, além dos três propostos por Moore (1989) , que incluem aluno-aluno; aluno-conteúdo e aluno-instrutor, o quarto tipo, a interação entre "aluno-interface com as tecnologias", mediante negociações sociais.    

As negociações sociais que se estabelecem nesse letramento que não é só tecnológico traz a proposta de educação a distância implementada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/Brasil (PUCRS), em maio de 2000, fundamentando-se, principalmente, na  virtualidade. A topologia proposta prevê um processo de aprendizagem em que, o professor, apesar de distante, está na presença do aluno; os recursos pedagógicos estão disponíveis  e o professor, tutores, monitores  e seus alunos participam e interagem 24 horas por dia na construção do conhecimento.

           

4. Enfim, à guisa de conclusão

 

Assumimos consciente e persistentemente (Medeiros e outros, 2001; Herrlein e outros, 2001), embora a capacitação docente em EAD seja considerada por nós uma estratégia vital para o sucesso da modalidade virtual,  que ela não é portadora de soluções definitivas, pois em suas implicações há componentes não só técnicos, mas também ideológicos, sociais e econômicos de várias ordens que estão, ainda, para serem esclarecidos. Diferentemente das inovações anteriores, a natureza da mudança que a inserção dos meios cibernéticos/telemáticos promovem no campo do fazer docente, afeta não só o professor mas também o aluno. Este passa a ser solicitado a interagir com diferentes meios e sujeitos e a compartilhar o conhecimento para construir novas relações, fazendo e desfazendo as informações dadas, reconstruindo-a em novos espaços, em diferenciados significados e novas formas de organização.

Isto implica superação da matriz identitária individualista por meio de ações não isoladas, do ponto de vista das mídias, das interações, das construções, no qual, respeitadas as partes, o trabalho vem do todo, com o todo,  para o todo, (Medeiros, 2000) e também,  na crença em uma construção da subjetividade, da intersubjetividade crítica e reflexiva  por meio de uma dupla comunicação,  múltiplas relações e interações estabelecidas entre diversificados agentes. Há muito a fazer neste campo de trabalho docente. Vale enfatizar que, para uma mudança na cultura educativa, a ação do professor assim como a do aluno e da equipe necessária em EAD mudam radicalmente. Não se trata de um mecanismo técnico de consciência profissional, do tipo "o professor entra por uma porta tradicional e sai por um portal virtual”. Mais do que isto, trata-se de uma mudança gradual e permanente com referência ao auto-aperfeiçoamento. A melhoria do conhecimento prático docente pode dar-se em qualquer ordem, porque a ordem lógica não é a mesma ordem fenomenológica.

Dos processos construtivos e construcionistas elaborados pelos indivíduos e grupos depende a constituição dos mesmos indivíduos e grupos - professores e alunos que, enquanto criam,  recriam-se nessa caminhada em direção a esse novo, situado, hoje, na virtualidade, na hipertextualidade e mediado por ações de interatividade não só reativa, que auxiliem no processo de autonomização de cada um e de todos.

Corroborando com Carlos Henrique de Brito Cruz, Reitor da Unicamp, 2001, reafirmamos não ser irrealista imaginar que esse quadro, a que nos propusemos, seguirá evoluindo nas próximas décadas e que a universidade brasileira, mesmo desigual e heterogênea, virá a desempenhar um papel ainda mais importante ao longo do século que se inicia. O país, aliás, exige isso dela. Muito além da inovação tecnológica - atividade que, nos países centrais, a universidade partilha com a sociedade - é o quê o século cobrará dela, cada vez mais intensamente, a tarefa primordial de educar melhor e de preparar inteligências que, nos diferentes campos de ação da sociedade, sejam capazes de gerar conhecimento, produzir riqueza e contribuir mais efetivamente para a solução de nossos problemas sociais.

Pode-se lançar como idéia instigadora, ainda que não seja inovadora, a dúvida sobre qual a Universidade que se busca hoje em meio a idéias de transdisciplinaridade, ainda que um tanto etéreas quando se atreve a penetrar a prática. Como sairmos dos compartimentos, dos departamentos, enfim de territórios completamente demarcados e esgotados dentro de si mesmo? Como alcançarmos a transmutação dos saberes instituídos na direção de algo por vir, novo e por ser assim com todo o temor e felicidade que o desconhecido emana? Almeja-se e discursa-se no sentido da construção do ser holístico, mas para isso existem muitos muros, barreiras e barricadas a serem desmanchados, na Universidade que se atrever a atingir tal construção. É algo que deve ser desconstruído em níveis viscerais enquanto constituem e fazem a Universidade como ela é. Quem se atreverá?

 

 

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