Interatividade
na prática: A construção dE UM texto colaborativo, por alunos da educação a
DISTÂNCIA
Universidade
do Estado de Santa Catarina/UDESC, Centro de Educação a Distância/CEAD, marthakaschny@hotmail.com
Tema: Educação a Distância nos Sistemas
Educacionais
Projeto
de pesquisa em andamento
Este artigo apresenta a
elaboração e a utilização de uma ferramenta de construção textual coletiva, o “Texto
Colaborativo”, bem como os primeiros resultados de uma pesquisa que se encontra
em andamento, sobre o seu uso pelos alunos do Curso de Pedagogia a Distância da
Universidade Estadual de Santa Catarina – UDESC.
Essa ferramenta foi criada por
uma equipe multidisciplinar e está sendo aplicada na disciplina de “Tecnologia,
educação e aprendizagem” do referido curso. Ela tem como pressuposto teórico a
concepção sócio-cultural de educação, principalmente no que se refere à
aprendizagem colaborativa em ambientes coletivos, aos conceitos de interação e
de interatividade e de gênese instrumental.
Os primeiros resultados apontam uma participação significativa dos
alunos, apesar das dificuldades que esses enfrentam quanto ao acesso aos
instrumentos e à sua apropriação. Essa participação ocorre em função do tipo de
atividade proposta: uma atividade de co-autoria e de produção coletiva, o que
possibilita uma aprendizagem significativa.
Palavra-chave
1: Educação a
distância
Palavra-chave
2: Aprendizagem
colaborativa
Palavra-chave
3: Ferramenta
informática interativa
1.
Introdução
Vivemos
hoje um momento de transição de paradigmas nas mais diferentes áreas do
conhecimento, que influenciam mudanças nas práticas sociais cotidianas, em
praticamente todos os setores, na economia, na religião, na política, nas
artes, etc. Um dos fenômenos responsáveis por essas mudanças é a apropriação
cada vez maior das novas Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC) por sujeitos
numa sociedade cada vez mais informatizada.
Na
educação, não poderia ser diferente, a introdução das TIC nos ambientes
escolares contribui para o re-pensar e para a re-construção da prática
educativa, modificando a concepção de educação, de professor, de aluno, de
escola, de universidade.
Esses
instrumentos podem potencializar a aprendizagem dos alunos, pois possibilitam
atividades que estimulam o pensar e o agir crítica e criativamente,
desenvolvendo novas competências intelectuais, novas habilidades para o
trabalho em grupo, para a iniciativa e para a autonomia. Ao aluno cabe o papel de produtor de conhecimento,
percebendo seu caráter transitório, onde o importante é « aprender a
aprender ».
Na
educação a distância, o desenvolvimento das TIC proporcionou a expansão e o redimensionamento dessa
modalidade educacional, a partir de novas formas de comunicação que elas
possibilitam, minimizando as limitações relativas ao tempo e ao espaço.
É dentro
desse novo contexto que a Universidade do Estado de Santa
Catarina – UDESC, uma instituição pública em funcionamento desde 1963, mantida
pelo Governo Estadual, oferece à comunidade catarinense o Curso de Pedagogia
na Modalidade a Distância através da portaria n. 769, de 01 de junho de
2000.
O Curso representa uma alternativa e uma conquista na qualificação em educação a distância dos quadros docentes, em especial àqueles que não dispõem do acesso às condições para ter esta formação na forma presencial, consideradas as circunstâncias e implicações mediante as quais esta se realiza. O Programa atende as exigências sociais e pedagógicas de educação, favorecendo a demanda de professores da educação básica que necessita de formação por exigência da LDB e o acesso à Universidade, e foi desenvolvido para oferecer uma educação de qualidade a distância.
Ele se
faz presente em mais de 160 municípios, atendendo aproximadamente 15 mil alunos
em todo o Estado e licencia professores para atuarem no magistério das Séries
Iniciais e/ou da Educação Infantil, estruturado de acordo com as novas
diretrizes curriculares.
Diversos instrumentos mediáticos são
utilizados visando a participação e a interlocução entre os alunos e os
professores, tais como: caderno pedagógico, vídeo-aula, teleconferência,
debates via canal de TV aberto e a plataforma UDESC virtual (http://virtual.udesc.br).
O curso se estrutura a partir da coordenação
pedagógica e administrativa, da supervisão regional, dos professores de
disciplinas e também do sistema de tutoria. Os professores/tutores desenvolvem um
conjunto de ações educativas junto aos alunos, com o objetivo de contribuir
para desenvolver e potencializar as suas capacidades básicas, orientando-os
para obterem seu crescimento intelectual e sua autonomia, e os auxiliando a
tomarem decisões em vista de seus desempenhos e suas circunstâncias de
participação como aluno.
Dentro desse contexto, a disciplina “Tecnologia, Educação e Aprendizagem” se colocou como desafio, vivenciar na prática a aprendizagem colaborativa. Entendemos a aprendizagem colaborativa como sendo um conjunto de atividades educacionais que possibilitam aos sujeitos envolvidos (professores, tutores e alunos) desenvolver competências intelectuais, habilidades e autonomia no processo de ensino e de aprendizagem. Para isso, constituiu uma equipe multidisciplinar de criação e desenvolvimento da ferramenta informática “Texto Colaborativo”, que possibilita a construção de um texto coletivo, através da participação textual de todos os sujeitos.
2.
Aprendizagem colaborativa
Para
definirmos o conceito de aprendizagem colaborativa, buscamos referência nos
trabalhos de Ramal (2002), de Pallof e Pratt (2002) e Vigotsky (1998). Ela se
caracteriza pela realização de atividades que envolvam participantes de uma
equipe, de forma colaborativa e cooperativa, num processo de mútua complementação. Trata-se de uma
atividade educativa em que duas ou mais pessoas trabalham e constroem o seu
conhecimento em conjunto, motivadas por intenções e por finalidades comuns a
todos os sujeitos envolvidos, seja através de discussões, seja através da
reflexão ou da tomada de decisões em grupo.
Os trabalhos
realizados de forma colaborativa possibilitam aos sujeitos envolvidos a
construção de um conhecimento significativo e, ao mesmo tempo, a sua
interdependência enquanto participantes ativos
no processo de aprendizagem (Palloff, 2002), com responsabilidade tanto para si
próprio quanto para os demais sujeitos do grupo. Para Vigotsky (1998), a colaboração entre alunos ajuda a
desenvolver estratégias e habilidades gerais de soluções de problemas pelo
processo cognitivo implícito na interação e na comunicação. A linguagem
torna-se fundamental na estruturação do pensamento, sendo necessária para
comunicar o conhecimento, as idéias do indivíduo e para entender o pensamento
do outro envolvido na discussão e na conversação. E através dos grupos ou comunidades, os
alunos terão grandes possibilidades de trocas e de negociações. Um mostrando ao
outro no que e porque acredita em alguns conceitos, e o outro concordando ou
discordando. Este processo faz com que se pense sobre o objeto em estudo,
contribuindo para o aprendizado.
A ferramenta interativa, que possibilita a aprendizagem colaborativa em um ambiente virtual, é uma das possibilidades de promover a interatividade (Ramal, 2002) entre os sujeitos envolvidos nesse processo. A constituição de uma equipe multidisciplinar para a criação e o desenvolvimento da ferramenta interativa que possibilita a construção do “Texto Colaborativo”, permite a construção de um texto coletivo com a participação aberta, para todos os alunos, através da participação textual de todos os sujeitos.
Os alunos têm
duas formas de participação: uma, via on-line, e outra, através de produção
escrita, enviada por correio. Essa produção escrita será digitalizada e inclusa
no “Texto Colaborativo”, no ambiente virtual, de forma que mesmo os alunos que
não tenham familiaridade ou fácil acesso à Internet, possam contribuir, e não
fiquem alijados dessa produção digital.
A ferramenta
permite que cada aluno tenha a possibilidade de fazer comentários sobre a
contribuição dos seus colegas, possibilitando uma troca entre os autores do
texto colaborativo. Essa interatividade entre os colegas, via ferramenta
virtual, deve ser fomentada pelo professor, pois ajuda o colega a pensar sobre
seu trabalho, favorecendo a colaboração e a análise das idéias iniciais sob
outras perspectivas. Segundo Palloff (2002), explorando o consenso e a
diferença, os alunos serão capazes de construir uma visão colaborativa do
material ou do tema que está sendo analisado e elaborado. Um ponto fundamental
para a aprendizagem colaborativa, é a interação dos sujeitos na produção de
níveis de compreensão mais profundos e na análise crítica do material
desenvolvido pelos mesmos.
A troca entre os alunos, via um ambiente virtual, de suas expectativas,
possibilita reorganizar os passos da caminhada e, se necessário, redefinir os
objetivos e as metas iniciais. Para os alunos que não tem familiaridade com o
processo de aprendizagem via ambiente on-line, essa troca de expectativa e anseios,
contribui para a formação de um grupo e para a cooperação e colaboração dos
sujeitos na construção da aprendizagem, além de ajudar a romper com as
resistências em aprender via mediação tecnológica (Palloff,
2002).
Na aprendizagem
via ambiente on-line, quanto mais os sujeitos envolvidos relatarem suas
experiências e o que pensam sobre o assunto em debate, mais subsídios terão
para compreender o que aprendem. O processo de vincular a aprendizagem do
cotidiano à aprendizagem on-line confere aos envolvidos a valorização do seu
conhecimento e sua importância na contribuição para a aprendizagem do outro. A
ferramenta de construção do “Texto Colaborativo” permite que os alunos
troquem suas experiências e façam intervenções, contribuindo no texto produzido
pelo colega, num processo de co-autoria. Nesse processo, o professor assume o
papel de mediador, orientando a participação e a interlocução dos alunos na
construção do texto. O professor deixa de ser o centro do processo de
aprendizagem para dividir com os alunos a responsabilidade de comentar, de
discutir e de construir o texto colaborativo, tornando mais aberta o seu papel
como mediador do processo.
A
abordagem teórica dos instrumentos tecnológicos, que fundamenta essa pesquisa,
prioriza a dimensão cognitiva e social de uso desses instrumentos, uma vez que
ela se refere à criação e ao uso de uma ferramenta informática de produção
escrita e colaborativa, num ambiente coletivo de ensino e aprendizagem.
Tradicionalmente,
os objetos tecnológicos têm sido pensados e analisados segundo sua performance técnica. Os objetos
são compreendidos como instrumentos superiores ao homem, pois realizam um maior
número de atividades em menos tempo e são mais eficazes. Eles se constituem em
uma espécie de “próteses” para suprir as insuficiências ou deficiências dos
operadores. Nessa abordagem, os objetos não cometem erros, ao contrário,
impedem os sujeitos de os cometerem. O pesquisador francês Pierre Rabardel
(1995) chama essa abordagem de téchnocentrique (ou tecnocêntrica). Nela,
os objetos, os artefatos tendem a ocupar o lugar dos homens, no sentido de uma
automatização da atividade humana. Essa percepção reflete uma visão pessimista
da tecnologia com relação às intervenções humanas, que se limitam apenas em
atividades residuais (RABARDEL, 1995, p. 18).
Porém,
o desenvolvimento de instrumentos tecnológicos (principalmente na área da
inteligência artificial) deu impulsão a pesquisas relativas ao estudo das
relações estabelecidas entre esses instrumentos, as atividades humanas e a
sociedade em geral. Dessa forma, o instrumento se torna um sistema
sócio-técnico, que não se constitui mais, apenas, na atividade individual, mas
também na atividade coletiva.
Essa
outra abordagem dos instrumentos, apontada por Rabardel, é chamada de abordagem
anthropotécnique (antropotécnica) dos instrumentos. Nela, o homem retoma
seu lugar central no processo de concepção, criação, modificação e usabilidade
dos instrumentos. Mas nesse processo, o homem também se modifica ao
apropriar-se dos instrumentos, em termos cognitivos e comportamentais. Assim, a
noção de instrumento se modifica, o instrumento não é mais pensado apenas à
partir de sua dimensão técnica, mas como sendo uma entidade mista, que
contempla o seu aspecto técnico mas também o sujeito. Segundo Rabardel:
O
instrumento compreende, dentro dessa perspectiva:
·
um artefato material ou simbólico
produzido pelo usuário ou por outros sujeitos;
·
um ou mais esquemas de utilização
associados, resultantes de uma construção individual ou de apropriação de
esquemas sociais pré-existentes. (RABARDEL, 1995, p. 117)
Na
verdade, a apropriação dos instrumentos pelo sujeito não ocorre de forma
espontânea, mas através de um processo de gênese instrumental (RABARDEL, 1995).
Esse processo é o resultado de um duplo processo de apropriação dos
instrumentos:
·
um processo de instrumentalização,
relativo ao artefato: onde o sujeito seleciona, re-agrupa, modifica e produz
funções, atribui propriedades aos artefatos, transforma suas estruturas, seu
funcionamento, etc. O sujeito “enriquece” o artefato.
·
um processo de instrumentação, relativo
ao sujeito: onde o sujeito cria, produz, re-produz, modifica, atualiza seus
esquemas de utilização dos artefatos e de ações instrumentadas, ele coordena,
assimila e transforma seus esquemas de utilização associando-os a novos
artefatos. O sujeito “enriquece” seus esquemas mentais de uso.
Dessa
forma, os alunos, aos participarem da construção do texto colaborativo, também
estarão criando, modificando seus esquemas mentais de utilização dos
instrumentos informatizados e também se instrumentalizando.
4.
Interação x interatividade
A
ferramenta “Texto Colaborativo” tem como objetivo proporcionar aos sujeitos
participantes uma vivência prática de interatividade. Mas afinal, qual é a
diferença entre os conceitos interação e interatividade?
O
conceito de interação tem suas origens, principalmente, na sociologia e na
psicologia. Nessas áreas do conhecimento, a interação refere-se a ações humanas, a
relações de reciprocidade entre duas ou mais pessoas. Dessa forma, as pessoas
agem a partir de uma relação de trocas culturais entre sujeitos, ou seja, as
pessoas modificam a si mesmas, aos outros e à natureza.
Podemos ainda,
decompor a estrutura dessas palavras. O termo interação é composto pelo
prefixo "inter-" mais a palavra "ação". O prefixo
"inter-" significa "relações entre pessoas". A palavra
"ação" significa "agir sobre algum objeto, fazer". Assim,
para nós, o termo interação significa a realização de uma ação no coletivo.
Essa ação caracteriza-se por ser espontânea, automática, resposta a uma ação
anterior (reação).
O
conceito de interatividade é um conceito que vem sendo discutido no seio da
comunidade acadêmica, principalmente a partir da década de 80, como decorrência
do avanço das tecnologias informáticas (internet). Essas tecnologias rompem com
a comunicação unidirecional veiculada pelas tecnologias de comunicação
monológicas e massivas da televisão, do rádio, da imprensa tradicional.
Assim, o termo interatividade é composto pelo mesmo prefixo "inter-" mais a palavra "atividade". O termo "atividade", segundo a teoria sócio-histórica, é um termo muito importante e tem uma conceituação própria. Nessa teoria, "atividade" significa a realização de ações e operações, que podem ser físicas e mentais, resultando num produto. A atividade define-se a partir de finalidades, objetivos e motivos conscientes e comuns para uma coletividade e pode originar uma multiplicidade de ações (Leontiev, 1988). Interatividade significa, então, a realização de ações coletivas, processo em que as pessoas desse coletivo têm os mesmos objetivos e finalidades; dessa forma, essa ação é intencional, planejada e esses sujeitos são co-autores do produto construído.
As
tecnologias possibilitam a interatividade (Silva, 2000) entre seus usuários,
uma vez que esses participam, intervém e manipulam a informação, numa ação
conjunta, bi-direcional, intencional e planejada de produção e de construção do
conhecimento, sob forma de co-autoria, de co-responsabilidade e de co-produção.
Assim, participação-intervenção significa interferir na mensagem. Nesse caso, são permitidos questionamentos dos alunos nas ações cotidianas que dizem respeito ao ensino e à aprendizagem. Ele passa a ser o emissor de mensagens.
A
bidirecionalidade-hibridação é a comunicação é produção conjunta da emissão e
da recepção, é co-criação, os dois pólos codificam e decodificam. A
bidirecionalidade rompe com a transmissão unilateral e autoritária. Na
comunicação bidirecional, todos fazem parte do processo da produção da
mensagem, são emissores e receptores, ao mesmo tempo.
Permutabilidade-potencialidade
ocorre quando a comunicação supõe múltiplas redes de conexões e liberdade de
trocas, associações e significações possíveis. A permutabilidade-potencialidade
permite a troca de conhecimento, a liberdade de consulta a múltiplas
informações. Os conteúdos curriculares são tratados como uma rede de conexões,
com roteiros originais e não-lineares, permitindo, aos envolvidos no processo,
percorrer diversos caminhos em suas aprendizagens.
Por
essas razões, podemos perceber que só é possível a interatividade a partir da
interação, no entanto a interatividade a suplanta. Só ocorre interatividade
onde é possível haver intervenção, co-autoria e possibilidade de traçar
caminhos diferentes, pressupostos da ferramenta de “Texto Colaborativo” que
está sendo utilizada junto aos alunos do Curso.
Essa
ferramenta possibilita aos nossos alunos a divulgação de suas atividades
pedagógicas, realizadas junto aos seus alunos das Séries Iniciais ou da
Educação Infantil e ao mesmo tempo, a analise e a reflexão sobre as atividades
apresentadas no texto por seus colegas de curso. Os professores da disciplina
participam dessa construção textual mediando e organizando o texto. O material
produzido será parte integrante do próximo Caderno Pedagógico da disciplina,
constituindo assim um capítulo específico em que relatará as atividades
desenvolvidas em sala de aula pelos nossos alunos e a análise destes sobre o
uso dos recursos tecnológicos no processo de ensino-aprendizagem. A ferramenta
interativa possibilita a interlocução entre alunos e professores, a
familiaridade com o ambiente virtual e a co-autoria na construção do material
pedagógico.
A construção dessa ferramenta faz parte de
um projeto de pesquisa que compreende as seguintes etapas:
1.
criação, em equipe multidisciplinar, da ferramenta interativa de
construção do “Texto Colaborativo” e sua disponibilização na plataforma virtual;
2.
apresentação e discussão da ferramenta junto aos alunos (objetivos e
finalidades);
3.
participação dos alunos através do envio de relatos de atividades e/ou
comentários e análises sobre o uso dos recursos tecnológicos em sala de aula
(potencialidade e limites);
4.
mediação e inserção do material enviado no texto, num processo de
constante atualização;
5.
publicação do texto colaborativo no próximo Caderno Pedagógico da
disciplina “Tecnologia, Educação e Aprendizagem”.
A opção pela construção de um texto coletivo
em parceria com os alunos do curso visa a valorização e a inclusão dos alunos,
em sua maioria professores que já atuam em sala de aula. Assim, ninguém melhor
do que eles para relatarem experiências ou analisarem o uso de uma tecnologia
no processo de ensino-aprendizagem, avaliando os pontos positivos e as
limitações do uso das tecnologias. Através do texto colaborativo, os alunos
podem escrever sobre suas experiências, discutindo (virtualmente) com seus
colegas, tutores e professores.
Para participar da construção desse texto
colaborativo, o aluno pode acessar a ferramenta via ambiente UDESC Virtual (http://www.virtual.udesc.br) ou, também
pode participar através do envio de relatos de experiência ou análise por
escrito. A interatividade da ferramenta de construção colaborativa está na
possibilidade do aluno escolher como o seu texto será inserido no grande texto.
Além disso, o aluno pode tecer comentários sobre relatos de seus colegas, ou,
se posicionar frente à análise feita por outro colega.
A pesquisa foi realizada
com alunos, distribuídos em todas as regiões de Santa Catarina. Dos 900 alunos,
76,2% são professores que atuam nas Séries Iniciais e/ou na Educação
Infantil (Melo, 2002). Dessa forma, suas contribuições refletem sua prática
profissional relativa ao uso de recursos tecnológicos. Eles participaram de
duas maneiras: com relatos de atividades realizadas em sala de aula ou com
análise do material já disponível on-line. O número total de participantes foi 261
alunos (29% do total). Desses, 217 o fizeram via Internet e 44,
via correio convencional, no período de novembro de 2002 a março de 2003.
O texto se
compõe de 35 relatos e 67 análises, já que alguns alunos
participaram em equipes (42%) e outros individualmente (58%). Esse fato sugere
que os relatos, por se estruturarem sob a forma de planejamento (tema, série,
conteúdos, objetivos, forma de utilização dos instrumentos e avaliação),
exigiram uma atividade intelectual mais intensa dos alunos do que a análise.
Através do
e-mail, foram encaminhados 21 relatos e 59 análises. Através do
correio, 14 contribuições foram relatos e 08, análises. A
participação via Internet foi maior quando as contribuições eram menos extensas
(análises). As contribuições mais extensas (relatos), foram encaminhadas via
correio. Isso reflete uma opção de participação segundo o custo financeiro: a
participação on-line tem um custo maior do que a via correio, já que poucos
alunos (5%) utilizaram a ferramenta “anexos” do e-mail.
Mesmo que a
porcentagem de alunos co-autores do “Texto Colaborativo” ter sido relativamente
baixa, é importante enfatizar o interesse demonstrado durante sua
construção. Vale ressaltar ainda, que o
acesso à Internet, em alguns municípios, é ainda bastante limitado e difícil
(há municípios em que os alunos têm somente um computador conectado à Internet,
há outros em que o acesso à Internet tem o custo de ligação interurbana, etc.).
Assim, o fato dessa participação ter sido também viabilizada através do
correio, foi determinante para que mais alunos pudessem contribuir na
construção do texto colaborativo. Essa pesquisa traz ainda, subsídios para o
aprimoramento dessa ferramenta interativa, atualmente em fase de re-avaliação.
A próxima fase do trabalho prevê a inclusão de outras linguagens mediáticas.
Além da linguagem textual, serão incluídos fotos, registros dos alunos e, se
possível, pequenos filmes das atividades, além da possibilidade de realizarmos
conecções com outros sites relacionados ao assunto (links).
A partir dos
resultados obtidos, verificamos que efetivamente o “Texto Colaborativo” se
constituiu em um potencializador da aprendizagem dos alunos e contribuiu para o
re-pensar de sua prática pedagógica, uma vez que essa produção se efetivou
através da cooperação, da colaboração entre os alunos e os professores da
disciplina, onde os alunos puderam intervir, criticar, analisar ou (re)elaborar
comentários elaborados pelos colegas.
8.
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