Construindo
Comunidades Virtuais de Aprendizagem
Projeto TôLigado – O Jornal Interativo da sua Escola
Nome: Brasilina Passarelli
Atividade atual:
Universidade de São Paulo:
Prof. Assistente do Departamento de Biblioteconomia e
Documentação da Escola de Comunicações e Artes.
Escola do Futuro da USP:
Coordenadora da Linha de Pesquisa “Interfaces em Educação” – LintE.
Formação Acadêmica e Profissional:
Doutora
em Ciências da Comunicação pela ECA/USP em 1993, tendo estagiado como
pesquisadora visitante no Laboratório de Mídias Interativas da School of
Communications and Arts da Michigan State University,
em 1991.
Co-fundadora, em 1989, da Escola do Futuro da USP – Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Novas Tecnologias de Comunicação Aplicadas à Educação – onde criou e coordenou o primeiro grupo de Multimídia e Linguagens Interativas na Educação com produção de CD-Rom educativos.
Sua
atuação profissional inclui passagens como Gerente de Educação da Apple
Computer Brasil Inc. de 1995 a 1998.
Desde abril
de 1998, dedica-se à docência e à pesquisa na Universidade de São Paulo.
Endereço
Postal:
Rua Professor Lúcio Martins
Rodrigues, Trav. 4, Bloco 18, Cidade Universitária
CEP 05508-900 São Paulo
Telefone:
55 11 3815 6325
Fax:
55 11 3815 3083
Resumo
Este artigo apresenta o projeto TôLigado – O Jornal Interativo da sua Escola, concebido e desenvolvido por
integrantes do LIntE (Laboratório de Interfaces em Educação) da Escola do
Futuro da Universidade de São Paulo, e implementado pela Secretaria de Estado
da Educação de São Paulo em uma relação de parceria. Destinado a alunos e
professores do ensino fundamental (7ª e 8ª séries) e médio, atuantes nas 2931
escolas da rede estadual que possuem SAI – Sala Ambiente de Informática
conectadas à Internet –, este projeto de EAD – Educação a Distância – constitui
uma iniciativa para superar fragilidades presentes no processo de
ensino-aprendizagem como, por exemplo, a realização de atividades de pesquisa.
Outra vertente do projeto diz respeito à autonomia do aluno em face do processo
de aprendizagem. Também são apresentados os primeiros resultados da
implementação do projeto neste ano.
Palavras-Chave: Comunidades Virtuais de Aprendizagem; Educação a Distância; Internet na Educação; Construção do Conhecimanto via Web.
This
article introduces the TôLigado Project –Your School
Interactive Newspaper, a website conceived and developed by the Interfaces in Education Research Group
(LIntE) of the Shool of the Future of the University of São Paulo, Brazil and
implemented by São Paulo State Secretary for Education, as a result of a
partnership among both institutions. Devoted to students and teachers of the
first grade (7a and 8a series) and high school among the 2931
schools equiped with SAI – Ambient Rooms for Informatics, this distance
learning project constitutes a initiative to overcome some fragilities presents
in the teaching/learning process as, for example, the construction of knowledge
based on research activities.
The TôLigado project also tries to increase the students
autonomy facing the construction of
knowledge. Results of the first year implementation are also presented.
Key-Words: Virtual Learning
Communities; Distance Education; Internet in Education; Knowledge Construction via Web.
1 – Pós-modernidade e a Sociedade Digital
O mundo das novas tecnologias de comunicação é caracterizado por atributos como interatividade, mobilidade, convertibilidade, interconectividade, globalização e velocidade. As habilidades e o discernimento de cada indivíduo são o recurso principal de cada nação, cuja importância no cenário internacional é determinada pelo valor potencial daquilo que seus cidadãos podem acrescentar à economia global. Esta mudança de estruturas traduz a transição da era industrial para a chamada era da informação[1]. Enquanto na era industrial a ênfase estava no produto, com a educação centrada no ensino do fato, na era da informação a ênfase se desloca para a inteligência, requerendo dos indivíduos habilidades como abstração, pensamento sistêmico, experimentação de hipóteses e trabalho colaborativo[2].
Dentre os novos pensadores da sociedade digital e seus impactos
sobre os domínios do saber e das organizações humanas, Don Tappscott [3] apresenta algumas considerações que
julgamos importantes para iluminar as fronteiras da sociedade pós-moderna que
vivenciamos. Segundo Tappscott, a era digital é baseada no cérebro e não na
força. Assim, o ativo passa a ser ativo intelectual e os meios de produção
passam de físicos para humanos.
Um outro aspecto a ser destacado é o caráter de convergência da nova economia, que passa a aglutinar campos diversos como o das artes, da pesquisa, da saúde, dos serviços educacionais, proporcionando infra-estrutura para a criação de riquezas em todos os setores. Também já não há mais intermediários entre produtores e consumidores: os processos tornam-se mais rápidos e ágeis. A mudança do comportamento analógico para o digital permite o acesso instantâneo à informação, eliminando a necessidade da pessoa física para o desenvolvimento das atividades. Novas questões sociais, com grandes traumas e conflitos, têm surgido, aprofundando abismos entre os que têm e os que não têm, os que conhecem e os que não conhecem, aqueles que têm acesso às redes da informação e os que não têm. O imediatismo passa a ser a mola propulsora do sucesso comercial. A nova economia ocorre em tempo real. Há queda nos ciclos de vida, inclusive na validade de conhecimentos. Assim, o conhecimento passa a ser um produto que deve ser renovado, atualizado a fim de garantir sua sustentabilidade. A molecularização passa a ser a característica de uma economia que está baseada no indivíduo; mais do que nunca, estamos em posição de criar riqueza acrescentando conhecimento a todo produto em cada etapa. E a conexão entre as moléculas se faz por meio de redes específicas para cada área. Produtores e consumidores estão mais próximos: o consumidor torna-se um produtor, o consumidor passa a ser cada vez mais ativo e, em muitos casos, chega a ser o próprio produtor.
As coisas físicas podem tornar-se
virtuais, alterando o metabolismo da sociedade. Estamos diante de situações em que existem
estrangeiros virtuais, amigos virtuais, quadro de avisos virtuais, corporações
virtuais, órgão governamental virtual, emprego virtual, congresso virtual, educação
virtual.
2- Multimídia – Convergência das Mídias e Narrativa Não-Linear
Ao combinar textos, diagramas, sons, figuras, animações e imagens em movimento gerenciados por um sistema de hipertexto, a multimídia permite ao usuário “folhear” os diversos documentos e “navegar” entre os elementos da rede informacional construída. Esta navegação se faz, prioritariamente, à mercê dos ventos da descoberta, desconstruindo a linearidade que o livro, com a leitura da esquerda para a direita de forma seqüencial, imprimiu à cultura humana ao longo dos últimos quinhentos anos. Além disso, a multimídia fala, prioritariamente, à intuição, deixando o usuário trabalhar ou brincar sem que tenha que pensar sobre a tecnologia que está usando.
A multimídia viabiliza, assim, a interligação dos conteúdos seja por associações de contexto, seja por relações lógicas e semânticas (para citar algumas dentre as várias possibilidades), criando um ambiente instigante e propício à descoberta e à construção do conhecimento. Neste contexto, as ferramentas associadas aos recursos da multimídia podem se definir como instrumentos inovadores para a prática do ensino e da aprendizagem, resgatando o papel da escola como catalisadora do conhecimento, promovendo a troca de idéias e experiências entre indivíduos e coletividades em um mundo em transformação.
Em grande medida, porém, a escola ainda mantém sua visão paroquial, localizada, ignorando as profundas alterações que os meios e tecnologias de informação introduzem na sociedade contemporânea, não percebendo que eles criam novas maneiras de "apreender" e "aprender" o mundo. Essa inovadora multiplicidade de pontos de vista, essa riqueza de leituras precisa ser digerida e incorporada pela escola caso ela tenha a pretensão de sobreviver como locus privilegiado de produção e disseminação do saber humano.
O novo cenário digital promove mudanças na
maneira como pensamos, conhecemos e aprendemos. Isso pressupõe novos papéis
para estudantes e professores: estes podem ser considerados não apenas como
facilitadores como também
administradores de curiosidades, ao passo que os alunos devem ser vistos como arquitetos do
conhecimento.
3-O Projeto TôLigado – O Jornal Interativo da sua Escola
No Brasil, como na maior parte do
mundo, a introdução das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) na
educação ainda está em fase de experimentação. Há muitos projetos em curso, de
natureza, alcance e duração variáveis, que geralmente:
·
não se articulam entre si, operando sem
fluência, mesmo quando têm entre si mais semelhanças que diferenças;
·
não têm escala, não se perenizam e,
dessa forma, não têm impacto direto no currículo formal, via de regra
complementam atividades curriculares e sua articulação com o currículo é tênue;
·
não encontram ressonância concreta na sociedade
sendo, via de regra desconhecidos fora do contexto onde nasceram;
·
não trabalham com a filosofia da
convergência de mídias – os projetos baseados em vídeo pouco usam a informática
e vice-versa. O uso de CD’s e da Internet ainda é
incipiente;o do rádio, irrelevante.
Para tentar superar as dificuldade da inserção das TIC nas escolas
brasileiras, pesquisadores da “Laboratório de Interfaces em Educação - LIntE”
da Escola do Futuro da USP conceberam, desenvolveram e implementaram o projeto
TôLigado (www.toligado.futuro.usp.br) criado para incentivar, ancorar e
divulgar atividades de pesquisa, produção do conhecimento e comunicação entre
alunos do ensino fundamental (7ª e 8ª séries) e do ensino médio das 2931
escolas públicas estaduais do Estado de São Paulo que possuem SAI – Sala
Ambiente de Informática. A metáfora do jornal interativo, utilizada no site,
cria um ambiente de aprendizagem propício à socialização do conhecimento e
conseqüente criação de comunidades virtuais de aprendizagem e
prática.
3.1
Objetivos
Considerado em seus objetivos gerais,
este projeto pretende disponibilizar acesso à
infoesfera mundial e, desta forma, democratizar o acesso à informação aos
alunos e professores das escolas públicas, bem como aos membros das comunidades
envolvidas com estas escolas. Além disso, o projeto busca incentivar atividades
de pesquisa e produção do conhecimento, bem como a troca de experiência entre
professores e alunos por meio de Listas
de Discussão e Salas de Chat, e também criar e
disponibilizar material didático e paradidático.
Dessa forma, o projeto se propõe a
preparar os alunos para conviver com a idéia de mudança, adaptação e
compreensão de realidades pontuadas por conflitos e contradições; criar
“comunidades multiculturais” de prática e de interesses especiais; capacitar os
professores na utilização da tecnologia digital para atuarem como facilitadores
na interação entre tecnologia e aprendizagem e promover atividades de pesquisa
através da Internet.
3.2 O site
TôLigado – O Jornal Interativo de sua Escola
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centralizada)
Trata-se de um site através do qual o aluno se insere no ambiente da rede mundial
de computadores assessorado por seus professores. A interação pretendida entre
tecnologia digital e aprendizagem é propiciada através das atividades de
publicação propostas no site. O resultado final dos trabalhos de pesquisa a
serem realizados pelos alunos será uma publicação assinada pelos mesmos e
veiculada na Internet. Além de disponibilizar diferentes atividades
interdisciplinares a alunos e professores, o site dispõe de um espaço destinado
a atividades interacionais – com fórum,
chat e vídeo conferência – e também de uma área de apoio como itens como: quem somos, fale conosco, mostre sua cara, tá perdido?
e sala dos
professores.
As atividades propostas incluem
desde as humanidades até as ciências exatas e biológicas, estimulando a
comunicação e a pesquisa em todas as fontes disponíveis, inclusive a virtual.
Trata-se de atividades como entrevistas, passeios ecológicos, confecção de
quadrinhos e conhecimento sobre a comunidade na qual a escola se localiza. As
atividades estimulam também a capacidade criativa dos alunos e a curiosidade
sobre como funcionam os objetos que permeiam nosso mundo. Ao desenvolvê-las, os
alunos têm a possibilidade de representar seus conhecimentos através de
diferentes linguagens como textos, sons, música, imagens, animações e vídeos,
que ficarão publicados no site.
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Destacamos a seguir as principais ações para implementação do projeto,
que se constituíram em oficinas de capacitação de professores da rede de ensino
público do Estado de São Paulo, intituladas Internet na Educação. Apresentamos
também dados referentes à participação das escolas no site TôLigado.
Oficinas de Capacitação
·
Carga
horária: 40 horas/aula.
·
160 ATPs (Assistente Técnico Pedagógico) capacitados entre
outubro e novembro de 2001. Estes profissionais são responsáveis pela
capacitação dos PCPs (Professor
Coordenador-Pedagógico) em seus respectivos NRTEs (Núcleo Regional de
Tecnologia Educacional), multiplicando o conhecimento dos sites;
·
195 PCPs capacitados entre abril e junho de 2002 abrangendo as
DEs (Delegacia de Ensino) da Grande São Paulo e Capital que não possuem NRTE –
são os casos de Osasco, Guarulhos, Mauá, Sul 1 e Leste 2;
·
34
professores “responsáveis pelo PEC (Programa de Educação Continuada) de informática” capacitados, representando DÊS de todo o Estado que
não possuem NRTE, totalizando 726 escolas de 319 municípios.
Atividades Publicadas no Site TôLigado
·
325
escolas já publicaram no TôLigado;
·
mais de
1550 atividades publicadas – abrangendo atividades do Comunidade Viva, Como
Funciona?, Central de Patentes, O Repórter é Você e Quadrinhos Interativos;
·
cerca de
6.000 pageviews/dia, mais de 1 milhão
de hits.
Bibliografia
BARRETO, R. G. (Org.) et al. Tecnologias educacionais e educação a distancia: avaliando políticas e práticas. Rio de janeiro: Quartet, 2001.
BELLONI, M.L. Educação a distância. Campinas, Autores Associados, 2001.
MORIN, E. A cabeça bem-feita. Tradução de Eloá Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
PASSARELLI, B. Hipermídia na aprendizagem: construção de um protótipo interativo – A escravidão no Brasil. São Paulo, 1993. Tese (Doutorado) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.
RAMAL, A. C. Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre, Artmed, 2002.
REICH, R. B. The work of nations.
TAPSCOTT, D. Growing up digital: the rise of the net generation.
TOFFLER A. Powershift - knowledge, wealth and violence at the edge of the 21st
century.
[1] Alvin Toffler popularizou a idéia de que o
homem tem vivenciado uma sucessão de eras e que cada uma delas possui
características que determinam o seu futuro. Com efeito, Toffler [1990] mostra
como a vida mudou com a descoberta da agricultura, inaugurando a Era da
Agricultura, que reinou absoluta
por aproximadamente 6.000 anos, durante os quais a vida em si mesma e seus
valores estavam estruturados em função da organização do alimento. Este período
foi seguido pela Era Industrial, que
durou cerca de 300 anos , sendo substituído pela atual
Era da Informação. Cf. Alvin Toffler. Powershift - Knowledge, Wealth and Violence at the Edge of the 21st
Century.
[2] Robert Reich, professor
titular da Harvard University e Ministro do Trabalho da primeira gestão do
governo Clinton nos Estados Unidos , aponta em seu livro The Work of Nations para três categorias de trabalho necessárias na
sociedade futura: serviços rotineiros de produção, serviços feitos pessoa-a-pessoa
e serviços analítico-simbólicos.
Argumenta que o tipo de educação oferecida pelas escolas,
atualmente, atendem às duas primeiras categorias. Mas, é da terceira
categoria que dependerão a competitividade e o bem estar de cada nação. Os
profissionais que lidarão com serviços analítico-simbólicos atuarão com
manipulação de símbolos (dados, palavras, representações orais e visuais) em
três tipos de atividade: (1) identificação de problemas ,
(2) solução de problemas e (3) agenciamento estratégico. Cf. Robert B. Reich. The Work of Nations.
[3] Don
Tapscott. Growing up digital: the rise of the net
generation.