GESTÃO DE CURSO SOBRE EMPREENDEDORISMO PELA WEB


Raissa Rossiter
SEBRAE
rossiter@sebrae.com.br

Mirela Malvestiti
SEBRAE
mirela@sebrae.com.br

Maria Lucia Scarpini Wickert
SEBRAE
wickert@solar.com.br

(Texto original com imagens: clique aqui)


RESUMO

O artigo apresenta o processo de inovação educacional do SEBRAE. O novo olhar sobre suas práticas educacionais efetuou-se a partir de reflexões sobre questões política/estratégicas que envolveram aspectos conceituais e metodológicos, culminando com o desenvolvimento de várias propostas educacionais, na modalidade a distância.

O relato do presente artigo refere-se a uma das experiências de educação a distância, pela Internet, com o curso intitulado “Iniciando um Pequeno Grande Negócio” – IPGN, direcionado às pessoas que desejam aprimorar seus conhecimentos conceituais, técnicos e instrumentais, para iniciarem, com segurança, um novo empreendimento. Discorre sobre o processo de organização do sistema gerencial, composto por três subsistemas: de produção, educacional e administrativo e sobre acertos e dificuldades encontradas no decorrer da sua implantação.

PALAVRAS-CHAVE empreendedorismo, educação popular e continuada, educação a distância pela web, educação personalizada para milhões de pessoas.


INTRODUÇÃO – INOVAÇÃO EDUCACIONAL NO SEBRAE

O SEBRAE propôs, a partir de 1999, um redirecionamento em suas ações, visando um alinhamento com as tendências econômicas, tecnológicas, educacionais e culturais e a formulação de uma resposta mais efetiva às necessidades e interesses da população brasileira.

No planejamento estratégico, o Sistema SEBRAE partiu de reflexões sobre finalidade, valores e posturas ideológicas, considerando questões política/ estratégicas que envolviam aspectos educacionais: conceituais e metodológicos e que fundamentaram a definição de sua missão e de suas linhas básicas

Em relação à Missão: “O propósito do SEBRAE é trabalhar de forma estratégica, inovadora e pragmática para fazer com que o universo das micro e pequenas empresas no Brasil tenha as melhores condições possíveis para uma evolução sustentável, contribuindo para o desenvolvimento do país como um todo”

Entre as Linhas Básicas, destacamos:

- Ampliação da abrangência de seu atendimento de milhares para milhões, promovendo a universalização do acesso ao conhecimento.

- Disseminação da cultura empreendedora, na sociedade de maneira geral.

- Implementação da cultura empreendedora no sistema educacional, apresentando novas perspectivas de inserção no mercado.

- Mobilização para o desenvolvimento de associações e cooperativas.

O olhar do SEBRAE dirigiu-se, também às tendências atuais concernentes aos sistemas sociais, de trabalho e de produção e disseminação do conhecimento, que possibilitam a projeção de possíveis cenários para um futuro próximo, permitindo que, ao invés, de simplesmente observar o mundo emergente, participe ativamente de sua criação.

Para ter uma visão mais objetiva sobre a realidade brasileira, o SEBRAE apoiou a pesquisa sobre empreendedorismo no Brasil, em que focaliza o complexo relacionamento entre o empreendedorismo e o crescimento econômico do país, propiciando uma base de sólidos fundamentos sobre a área.

O alto índice de empresas nascentes no Brasil, coloca o país, no ano de 2000 em primeiro lugar entre os países pesquisados. O índice de (12%) significa que um, em cada 8 brasileiros, está envolvido na criação de algum empreendimento. Este é um fator positivo quanto a pró-atividade do brasileiro, mas, revela também outros dados preocupantes: uma baixa rentabilidade dessas empresas, devido ao baixo valor agregado e ao baixo conteúdo tecnológico, sendo que as empresas que permanecem em operação após 42 meses de sua criação, revelam uma elevada taxa de mortandade.

O Brasil demonstra uma contradição, quanto à relação entre a atividade empreendedora e o crescimento econômico: enquanto as taxas de empreendedorismo situam-se nos patamares mais altos, o PIB per capital do país é o penúltimo dos países pesquisados, apontando para um grande contingente de excluídos do processo produtivo. Os analistas atribuem essa disparidade a vários fatores, entre eles são citados os de ordem educacional e cultural e de políticas e programas, argumentando que o Brasil oferece poucas condições de suporte e estímulo à iniciativa empreendedora.

Para tentar suprir as deficiências apontadas, tendo como origem o diagnóstico da situação atual das micro e pequenas empresas no Brasil, com projeções para o futuro, a perspectiva vislumbrada no Direcionamento Estratégico prevê o investimento maciço em educação.

O objetivo do SEBRAE é criar e desenvolver condições para que indivíduos e grupos se apropriem do conhecimento das novas tecnologias de gestão e produção, tornando-se capazes de aplicá-los e enriquecê-los. Em conseqüência, foram propostas estratégias que possibilitassem o processo de construção da aprendizagem sobre empreendedorismo e que atendessem a milhões de pessoas.

Uma das primeiras estratégias adotadas pela Unidade de Educação e Desenvolvimento da Cultura Empreendedora foi a elaboração dos “Referenciais para uma nova práxis educacional”.

Com o olhar projetado no futuro, vislumbrando uma sociedade mais justa, que ofereça mais oportunidades de evolução pessoal e empresarial, a partir da ampliação do acesso à educação e à cultura empreendedora, o SEBRAE propõe-se a orientar sua Política Educativa, fundamentado na abordagem da Comissão sobre Educação para o século XXI, apresentada no Relatório da UNESCO, pelo Presidente da Comissão, Jacques Delors.

Assim, suas orientações educacionais focalizam-se no desenvolvimento humano mais harmonioso, que se processa ao longo de toda a vida e que envolve o saber conhecer, saber ser/conviver e saber fazer. Como diz Delors, 1997 “o enriquecimento dos conhecimentos, do saber fazer, mas também e, talvez, em primeiro lugar, como uma via privilegiada da construção da própria pessoa, das relações entre indivíduos, grupos e nações”.

Consideram-se, dessa forma, nas orientações para a práxis educacional, as competências que terão de ser desenvolvidas na área do empreendedorismo e que contemplam as três dimensões humanas: cognitiva, atitudinal e operacional.

Para superar a visão fragmentada da oferta de programas de capacitação pontuais, estabeleceram-se estratégias de educação continuada para empreendedores, denominada Matriz de Soluções Educacionais, que se constitui em uma rede de conhecimentos, onde cada empreendedor poderá montar seu próprio programa de formação, escolhendo o caminho que atenda às características e ao momento por que passa sua empresa. São propostas soluções educacionais, em que cada tema esteja disponível ao aluno, embora todos os temas estejam interligados, garantindo um aprendizado contínuo.

Além de ampliar a quantidade de pessoas a terem acesso a conhecimentos ligados ao empreendedorismo, pretende-se que as soluções educacionais tenham qualidade e, para isso, o SEBRAE vem se dedicando a estudos e pesquisas sobre as metodologias mais atuais e adequadas para propor um ambiente de estudo, onde seja possível desenvolver atitudes e habilidades que o capacitem a tomar decisões, resolver problemas, criar alternativas de solução e, sobretudo, de gerenciar não só o seu empreendimento mas sua própria aprendizagem.

A Educação à Distância é a modalidade que reúne as condições ideais para cumprir as metas do SEBRAE, no que concerne a abrangência do atendimento de milhares para milhões, utilizando os meios tecnológicos, pois sua característica mais marcante é a capacidade de organização do sistema educativo - meios de comunicação, estratégias, tutoria, material de estudo autônomo e conteúdos - de forma a viabilizar ao empreendedor a construção de seus saberes e a autonomia para aprender a aprender. Além disso, a EAD é vista como poderoso instrumento para a socialização do conhecimento, a integração social e para propiciar a universalização do conhecimento, mediante educação personalizada.

A partir destes referenciais, a Unidade de Educação e desenvolvimento da Cultura Empreendedora UEDCE, do SEBRAE/NA, em parceria com os SEBRAE/UF, responsabilizou-se pela concepção, elaboração e aplicação de vários programas, na modalidade Educação a Distância:

- “Aprender a Empreender”, consta de 10 programas de TV e de material impresso, elaborado em parceria com a Fundação Roberto Marinho que, em sua primeira fase, alcançou 198.000 pessoas. Este está em sua fase de expansão, utilizando a metodologia de telessalas e pretende atender, até junho de 2002, mais 148.000 alunos.

- Programa “A gente sabe a gente faz”, veiculado pelo rádio, utilizando como piloto a Região Norte e tendo como parceiros a Caixa Econômica Federal e a Fundação Rede Amazônica, que, em sua primeira etapa, alcançou 227.830 ouvintes.

- Iniciando um Pequeno Grande Negócio - IPGN, disponibilizado via Web, que pretende até agosto de 2002, atender 24.500 pessoas

As mudanças paradigmáticas que estão sendo implantadas contribuirão para dar um (re) significado às práticas educativas do SEBRAE. Entretanto, modificar um processo, uma estratégia e, até mesmo procedimentos mais simples, é uma das tarefas mais complexas entre todas aquelas do processo gerencial. Cada sistema educacional à distância, apresenta sua própria dinâmica, condicionada aos meios, aos fins e à clientela a que se destina, o que exige uma gestão diferenciada. Selecionamos a experiência do processo de gerência de um curso pela Web, para descrever neste artigo.

EXPERIÊNCIA DE GESTÃO DE UM CURSO PELA INTERNET

Apresentação

Com o objetivo de disseminar a cultura empreendedora e propiciar a evolução dos pequenos negócios no Brasil, em maio de 2001, o SEBRAE lançou, em parceria com o IEA - Instituto de Estudos Avançados, seu primeiro curso pela Internet: “Iniciando um Pequeno Grande Negócio” IPGN, direcionado às pessoas que desejam aprimorar seus conhecimentos conceituais, técnicos e instrumentais, para iniciarem, com segurança, um novo empreendimento. O curso, composto por cinco módulos: Perfil Empreendedor, Identificando Oportunidades de Negócios, Análise de Mercado, Concepção dos Produtos e Serviços e Análise Financeira, é indicado para uma clientela com escolaridade a partir de 2.º Grau incompleto e tem a duração de dois meses.

A primeira turma transcorreu no período compreendido entre maio e julho de 2001, com 500 pessoas inscritas, divididas em 10 turmas de 50 alunos, com um tutor responsável em cada turma. Para promover a interação entre tutor e alunos utilizaram-se os seguintes recursos: módulo contendo perguntas e respostas, chats e Mural de Notícias. Nesta experiência-piloto, os tutores mantiveram uma postura mais passiva, em que aguardavam a solicitação dos alunos para dirimirem suas dúvidas, sobre conteúdos estudados.

Destacamos alguns dados sobre o perfil dos participantes, que consideramos importantes: 69% dos inscritos pertencem ao sexo masculino; 65% afirmaram ser essa, sua primeira experiência com um curso a distância e 80% apresentavam escolaridade a partir de superior incompleto.

Na Pesquisa de Opinião, realizada ao final do curso, pode-se verificar que o curso teve boa aceitação entre os participantes, pois obteve 76,5%, das respostas considerando-o “excelente” e 20,8%, “bom”. Os serviços prestados pelos tutores tiveram 42% considerando sua atuação “excelente” e 47% “boa”. A média de conclusão foi de 36%, considerada boa, para cursos gratuitos e a distância, por meio da Internet. Entre as dificuldades apontadas pelos alunos para concluir o curso, destacou-se a falta de tempo para dedicação ao estudo, significando fatores externos ao curso.

Esses resultados, no entanto, não foram considerados plenamente satisfatórios pela gerência do projeto no SEBRAE. No intuito de aprimorar a qualidade do curso e facilitar a aprendizagem dos participantes, foram efetuadas pesquisas sobre outras experiências com a aprendizagem virtual, que apontassem recursos metodológicos empregados, com êxito. A partir das conclusões e das novas reflexões possibilitadas pelos estudos, a gerência do projeto no SEBRAE, juntamente com os técnicos do IEA e da consultoria da empresa Aquifolium Educacional, partiram para a reformulação da metodologia do curso. Em outubro de 2001, O SEBRAE iniciou uma nova capacitação, contando com 2.000 participantes, divididos em 10 turmas de 200 alunos.

O curso incorporou a metodologia de comunidades colaborativas de aprendizagem, por meio de ferramentas multissíncronas. A base metodológica fundamenta-se na premissa de que a aprendizagem ocorre quando a interatividade é possibilitada pela comunicação estabelecida com os três elementos essenciais do programa educativo: material didático, tutor e participantes.

Neste processo, a atitude e a postura do tutor são de extrema importância, pois seu objetivo não é somente o de dirimir dúvidas de conteúdo, mas o de propiciar um ambiente motivador, um clima de empatia entre os participantes, de maneira que estes se sintam confiantes e seguros para manifestarem suas dúvidas e posicionamentos. O tutor atua como animador do ambiente de aprendizagem e instigador da curiosidade e da vontade de aprender a pensar e a colaborar com a construção do saber coletivo.

Para desempenhar o papel exigido, na nova metodologia, os 10 tutores que atuaram na primeira turma passaram por uma reciclagem que reproduzia as condições que enfrentariam com seus alunos.

Os resultados obtidos acusaram uma melhora significativa. O percentual de conclusão passou para 59% e a avaliação dos serviços prestados pelos tutores teve 54,5% de respostas considerando “excelente” e 39,6% de “bom”. Na turma-piloto 6% dos concluintes não tiveram nenhuma interação com os tutores, já na segunda etapa, este índice diminuiu para 0, ou seja, todos os alunos concluintes interagiram com os tutores.

Na metodologia utilizada, a partir da segunda etapa do projeto, o SEBRAE vai capacitar 22.000 alunos, no primeiro semestre de 2002 e planeja capacitar mais 26.000 no segundo semestre. Metas consideradas factíveis pois o curso está com mais de 25.000 nomes em lista de espera. O SEBRAE pretende, também, lançar pelo menos um novo curso, em 2002.

O aprendizado adquirido com a experiência da implantação do IPGN será muito importante para a instituição, já que, a partir do segundo semestre, pretende-se disponibilizar novos cursos, utilizando essa mídia. Em 2003, o Portal de Educação SEBRAE deverá conter em torno de 25 diferentes cursos, nas áreas temáticas de Finanças, Gestão Empresarial, Mercado, Produção e Processos, Recursos Humanos e Liderança e Empreendedorismo.

Processo de Gestão

A gerência geral do programa educacional IPGN é realizada pelo SEBRAE, que organizou o sistema, de forma a agrupar atividades em três grandes subsistemas: Gestão de Produção, Gestão Educacional e Gestão Administrativa.

Ao SEBRAE cabe exercer a gerência geral e a gerência administrativa, as demais funções são atribuídas a empresas parceiras ou contratadas.

1. Gestão de Produção

Este subsistema envolve os aspectos teóricos, em que se determinam as concepções, os valores as normas, os propósitos e as teorias educacionais que lhe dão suporte, bem como, as atividades de produção do curso, a transposição para a Web e as proposições contínuas de aperfeiçoamento.

Organizaram-se atividades de pesquisa e planejamento para definição do tema e do segmento do público a ser atingido. Uma pesquisa informal com clientes, instrutores e equipe técnica do SEBRAE, apontou para o tema Iniciação Empresarial. O passo seguinte foi o estabelecimento da parceria com o Instituto de Estudos Avançados-IEA, que, além de desenvolver a plataforma do ambiente educacional, atuou nas etapas de:

- Definição do modelo e estratégias pedagógicas alinhadas aos princípios educacionais do SEBRAE e ao perfil do público-alvo;

- Transposição do conteúdo e adequação das dinâmicas de aprendizagem do curso presencial para o ambiente Web;

- Preparação de instrutores para desempenharem o papel de tutores na turma-piloto;

- Implantação e hospedagem do sistema na Web;

A Web foi selecionada como via de acesso ao curso, pois este meio pode ser considerado um dos recursos educacionais mais completos, já que através da combinação de textos, gráficos animações, sons, imagens estáticas e em movimento permitem a construção do conhecimento de forma cada vez mais interativa e multidirecional, evitando conceitos preestabelecidos de linearidade e sequenciamento.

O curso IPGN, que já era ministrado pelo Sistema, na modalidade presencial, foi transposto para a WEB, utilizando-se, como referencial didático Teoria da Flexibilidade Cognitiva, Double Loop Learning, Component Display Theor e Gestalt. Os enfoques educacionais construtivista e sócio-construtivista de educação, preconizados por Jean Piaget e L. Vygotsky, estão presentes nas teorias citadas.

A seguir, as razões para utilização de princípios da diversas teorias:

- não existe, na nossa ótica, uma única teoria capaz de explicar o amplo espectro da aprendizagem humana. Acreditamos na complementação de princípios oriundos de cada uma delas;

- consideramos que a educação on line apresenta especificidades próprias diferentes da educação presencial, pois contemplam, entre outros fatores diferenciais, as exigências e características do ambiente tecnológico de aprendizagem e a clientela a que se destina;

Com base nas teorias citadas estabeleceram-se as entradas e saídas e objetivos que auxiliaram a modularização do conteúdo e a elaboração das atividades, exercícios, avaliações pertinentes ao conteúdo e ao ambiente. Esses elementos foram articulados em função do conteúdo a ser transposto do formato presencial para on line, dos objetivos de aprendizagem, das características do público–alvo e do contexto.

Além dos princípios e estratégias pedagógicas, outros fatores importantes foram considerados, como facilidade de acesso, rapidez de carregamento e facilidade de navegação e interação do aluno com o sistema.

O ambiente educacional foi construído considerando as diferentes tarefas executadas pelos usuários.

A interface de aluno possibilita o acesso ao conteúdo do curso, às funcionalidades de comunicação com a coordenação do curso, tutor e colegas da turma, dentre outras.

A interface do tutor dá acesso às funcionalidades que o aluno acessa e permite a execução de tarefas específicas ao tutor, tais como: respostas as dúvidas dos participantes, gestão do mural, marcação e condução de chats, condução, animação e acompanhamento do Fórum e da Lista de Discussão. Optou-se por implantar processo de interação com os colegas de turma e com os tutores.

A interface do gestor é voltada ao monitoramento das atividades relativas à tutoria e acompanhamento dos alunos.

Acompanha o curso, o material denominado “Apresentação”, que explica, de forma detalhada, os objetivos do curso, seu conteúdo e a necessidade de dedicação de tempo do participante, entre outras informações. Este material é apresentado ao participante no momento da inscrição com o objetivo de ajudá-lo a decidir-se de forma consciente pela efetivação ou não da matrícula. Esta etapa é importante pois o curso é gratuito e muitas pessoas fazem a inscrição, ocupando uma vaga, sem um real interesse no conteúdo.

A Gestão da Produção é formada por uma equipe que está continuamente efetuando pesquisas, com alunos e tutores, para melhor o material. No momento, está sendo oferecido ao público, a segunda versão do curso, que incorporou novas estratégias: possibilidade de download para leitura do material off line; alteração de alguns tópicos do conteúdo; inclusão de estudos de casos e histórias em quadrinhos, para facilitar o entendimento; inclusão das ferramentas de fórum e de lista de discussão; aprimoramento da interface dos tutores e inclusão de novos relatórios.

O levantamento das necessidades de melhoria está embasando a terceira versão, que será lançada no segundo semestre de 2002.

2. Gestão Educacional

A gestão educacional envolve a criação de um ambiente de relações educacionais, onde se promovem as correspondências entre os planos curriculares, a produção de material, os meios selecionados, os tutores e os alunos.

O SEBRAE procura valorizar o trabalho dos tutores, pois acredita que este se constitui no grande diferencial dos cursos, por meio da Internet. O sistema de tutoria, através da Web foi organizado para propiciar apoio personalizado, adequando-a às necessidades do aluno. Este é o primeiro requisito: fazer da tutoria uma presença, personalizando o atendimento. Nesse processo, a comunicação procura estabelecer a imagem de segurança e empatia, pois o aluno deve sentir que a distância não é pessoal mas apenas física.

A interatividade é um dos indicadores principais da qualidade do sistema de EAD e tem como parâmetro a capacidade de proporcionar um determinado grau de interação entre os participantes. No curso foi planejada para ser contínua, isto é, se processar durante todo o ciclo de aprendizagem.

A gestão educacional iniciou-se com a seleção dos tutores, a partir dos instrutores do curso IPGN presencial. Foram convidados aqueles que apresentavam domínio do uso da Internet e que demostravam disponibilidade para serem capacitados e, interesse em participar do desenvolvimento do modelo pedagógico dos cursos a distância pela Internet.

Os tutores receberam treinamento de 16h, das quais 8h foram sobre técnicas de tutoria e 8h sobre a operação do curso. Após a capacitação, cada tutor ficou responsável por uma turma de 50 alunos e tinha acompanhamento direto da gerência geral do Projeto.

As ferramentas de interação disponíveis na primeira turma foram:

- Perguntas/Respostas: durante o curso, o aluno podia inserir suas dúvidas para o tutor responder. Inicialmente, pensou-se que este seria o principal instrumento de interação aluno-tutor-aluno, porém, a prática não confirmou a hipótese. A inserção de dúvidas foi muito pequena. Durante 2 meses de curso, com 500 alunos, as perguntas não chegaram a 200.

- Mural de Notícias: local, onde o tutor incluía informações para serem visualizadas por todos os alunos de sua turma.

- Chat: não demonstrou efetividade, uma vez que o número de participantes sempre foi muito pequeno.

Após prospecção no mercado, contratou-se a consultoria da empresa Aquifolium Educacional que, em conjunto com as equipes técnicas do SEBRAE e do IEA, desenvolveu o novo projeto de tutoria do curso IPGN. As principais mudanças se relacionaram à forma de atuação do tutor e à complementação das ferramentas disponíveis na interação tutor-aluno, aluno-tutor e aluno-aluno.

Reformulou-se o ambiente de aprendizagem, agregando-se as ferramentas necessárias e aperfeiçoou-se o módulo do tutor. O novo sistema permite saber o tempo de acesso de cada aluno, seu andamento no curso e todas as interações feitas, dessa forma o tutor tem condições de fazer um acompanhamento detalhado de toda a turma e de cada aluno individualmente.

Outra mudança significativa foi a inclusão de um coordenador pedagógico para acompanhar o trabalho dos tutores. A interação acontece por meio de uma lista de discussão que possibilita a troca de experiências entre coordenação e tutores e dos tutores entre si. A gerência geral também acompanha a discussão na lista e interfere, quando necessário.

A partir das melhorias implementadas resolveu-se ampliar o número de alunos em uma mesma turma. Passou-se de 50 alunos por turma para 200. Na segunda experiência foram formadas10 turmas, com 200 alunos, totalizando 2.000 alunos. Vale ressaltar que o grupo de tutores foi o mesmo da turma piloto. A mudança ocorreu na forma de atuar dos tutores. A postura passou de passiva para pró-ativa. Os resultados desta experiência foram muito superiores. Alunos e tutores ficaram muito mais satisfeitos com o curso. Assim, a gerência decidiu manter a quantidade de 200 alunos por turma.

Na expansão do projeto 50 novos tutores estão passando pelo processo de capacitação em técnicas de tutoria. Na experiência-piloto o curso para os tutores ocorreu de forma presencial e a partir da segunda turma foi reformulado para ser ministrado a distância. Este procedimento reduziu os custos do projeto, uma vez que os tutores do IPGN residem em várias regiões do país e a capacitação a distância evita gastos com viagens.

A diversidade cultural no país é significativa e no processo de aprendizagem colaborativa é importante a identificação cultural entre os alunos e destes com seu tutor. Por isso, a formação das turmas também ocorre por estado e/ou por região, com tutor da mesma localização geográfica.

O modelo pedagógico do curso não está concluído e sim em construção. Os avanços foram significativos, por conseguinte, o SEBRAE sente segurança em utilizá-lo na capacitação de 50.000 pessoas, meta a ser cumprida até o final do ano de 2002.

3. Gestão Administrativa

A gestão administrativa refere-se aos processos de gerenciamento administrativo do sistema onde se congregam esforços de coordenação das inter-relações e interfaces entre os vários subsistemas. A equipe da gerência administrativa apresenta competência para estabelecer a sincronização da infra-estrutura operacional, da central dos meios tecnológicos de aprendizagem, dos aspectos econômicos/financeiros, dos aspectos de formação e treinamento da equipe de profissionais necessários.

A seleção, contratação e acompanhamento de todas as empresas parceiras e tutores envolvidos no projeto requer especial atenção, pois a competência e integração de todas as equipes refletem-se nos resultados obtidos.

A gestão administrativa contempla todas as ações de divulgação que constaram de divulgação de matérias gratuitas em jornais, através da Assessoria de Imprensa, de distribuição de folders nos pontos de atendimento do SEBRAE e de divulgação no site do SEBRAE.

No âmbito interno, a gestão administrativa tem a função de manter um sistema de informações sobre o andamento do projeto e os resultados alcançados para subsidiar as gerências, a Diretoria da Instituição e todo o Sistema SEBRAE , envolvendo a todos e facilitando a aprovação de projetos de continuidade e de expansão.

Para o processo de inscrição, adotou-se a lista de espera, pois como o IPGN é um curso gratuito, muitas pessoas demonstram interesse em participar e a gerência administrativa necessitava organizar as turmas. O procedimento consiste no seguinte: o cliente acessa o site do SEBRAE e inclui seu e-mail numa lista de interesse no curso. Quando as turmas são abertas, as pessoas são chamadas a confirmar sua inscrição.

As atividades da Gestão Administrativa são suporte para as demais atividades de gestão.

Conclusão

Quando se observam os números surpreendentes do público do SEBRAE no Brasil, constituído por: 4,5 milhões de pequenos negócios formais;14 milhões de pequenos negócios informais; 60 milhões de pessoas envolvidas; o que representa 98% dos empreendimentos existentes; 42% da massa salarial e 20% do PIB, e se considera o percentual de jovens que não tem acesso aos estudos universitários e, que podem ter a opção de criar seu próprio empreendimento percebe-se o motivo dos esforços do SEBRAE em promover incentivo e a sustentação da atividade empreendedora.

Ao pretender a inclusão social de milhões de brasileiros no setor produtivo, o SEBRAE não deseja somente melhorar os indicadores econômicos e de progresso do país, mas, elevar o capital humano e social ´para a gestão na área de empreendedorismo e intensificar a conscientização das populações no que concerne à cidadania e participação social, rumo à uma sociedade mais justa e eqüitativa.

A exclusão social está relacionada à falta de mecanismos das instituições educacionais para promover o acesso às informações a um grande contingente de pessoas pertencente aos níveis mais baixos da escala social.

Essa é uma problemática complexa que suscita diversas questões relacionadas aos desafios que temos de vencer, nas dimensões políticas e econômicas do país, mas que tem como referência as transformações nos processos de disseminação do conhecimento.

A educação a distância, utilizando os mais diversos recursos tecnológicos, tem se revelado uma modalidade excelente para a universalização do conhecimento.

A utilização da Internet para fins educacionais é uma prática em que muitas instituições educacionais estão desenvolvendo experiências, com objetivo de entender as novas linguagens e produzir cursos cada vez melhores. O progresso demonstrado pelo SEBRAE, em um ano de atividades, na área de educação a distância pela Internet foi bastante significativo, o que é fator de estímulo para prosseguir pesquisando e procurando melhores práticas metodológicas para alcançar a excelência, nos produtos ofertados a seus clientes.

Bibliografia

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PERAYA, Daniel; HASSIG, Claus. Conception et Production de matériel d’enseignement à distance. Étude comparative des pratiques de la FernUniversitat (D) et del’Open UniverSiteit (NL). Genève: Université de Genève. FAPSE. Cahier no. 75, 2000.

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Referencial para uma nova práxis educacional. Edição SEBRAE: Brasília, 2001

SILVA, Cassandra Ribeiro de O. Bases pedagógicas e ergonômicas para a concepção e avaliação de produtos educacionais informatizados. Florianópolis, 1998. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – PPGEP/UFSC.