Pedagogia integradora do presencial-virtual


José Manuel Moran
PUC-SP e Faculdade Sumaré
jmmoran@usp.br
www.eca.usp.br/prof/moran

(Texto original com imagens: clique aqui)


RESUMO

Este artigo relata as experiências pedagógicas do Prof. Moran em várias universidades no gerenciamento de cursos de graduação, pós-graduação e extensão de forma semi-presencial, integrando atividades docentes em sala de aula com outras em ambientes virtuais. Procura mostrar como integrar de forma equilibrada o processo de ensino-aprendizagem presencial com o virtual, que estratégias utilizar e que problemas podemos enfrentar.

PALAVRAS-CHAVE


Introdução

Na educação, o presencial se virtualiza e a distância se presencializa. Os encontros em um mesmo espaço físico se combinam com os encontros virtuais, a distância, através da Internet. E a educação a distância cada vez pode aproximar mais as pessoas, pelas conexões on-line, em tempo real, que permite que professores e alunos falem entre si e formem pequenas comunidades de aprendizagem.

Os cursos presenciais podem ser combinados com tempos e espaços não presenciais. Podemos sair, em determinados momentos de um curso, da sala de aula. Podemos aprender também em ambientes virtuais, combinando-os com os presenciais. E na educação a distância, com a comunicação on-line, podemos encontrar-nos mais, saindo do isolamento que costumavam ter.

O objetivo dos cursos presenciais e virtuais é o mesmo: que os alunos aprendam. Podem mudar algumas formas de ensinar, de organizar a aprendizagem, as mídias, mas no conjunto os processos são semelhantes. Discute-se bastante a autonomia e identidade pedagógicas dos cursos a distância. Com a comunicação on-line, a pedagogia do presencial se modifica e a da educação a distância também. Há uma convergência de métodos e técnicas de ensino-aprendizagem, com diferentes ênfases.

Em educação a distância avançamos muito nestes últimos anos. Temos grupos que se estão consolidando. Aumentam os cursos de graduação e de especialização. Mas, em geral, só falamos dos resultados positivos, dos números impressionantes de alunos que temos. Pouco se fala dos problemas, das dúvidas. Corremos o risco de fornecer diplomas a muitas turmas, sem saber se eles realmente aprenderam (da mesma forma que no presencial).

Aprendemos além da sala de aula. Aprendemos em ambientes ricos de interação e de apoio. As grandes universidades criam ambientes diversos, variados, que facilitam a aprendizagem: eventos, congressos, seminários, grupos de pesquisa, laboratórios, bibliotecas, restaurantes...

O grande desafio do ambiente virtual é recriar a riqueza de possibilidades de aprendizagem do bom campus presencial. Os cursos se baseiam em conteúdo, exercícios e alguma interação. Faltam outros serviços, ambientes diversificados, atividades paralelas. A educação a distância pode ser de qualidade, de primeiro nível, se ampliar as possibilidades de interação, a qualidade do conteúdo, dos educadores e orientadores, a metodologia inovadora, a variedade de opções de aprendizagem.

Novas questões se colocam na educação presencial e a distância:

· Como organizar o processo de aprendizagem alternando e integrando a aula física e a aula on-line

· Como organizar o processo de aprendizagem a distância, de forma mais participativa, envolvente, equilibrando o individual e o grupal.

Ensinar e aprender, hoje, não se limita ao trabalho dentro da sala de aula. Implica em modificar o que fazemos dentro e fora dela, no presencial e no virtual, organizar ações de pesquisa e de comunicação que possibilitem continuar aprendendo em ambientes virtuais, acessando páginas na Internet, pesquisando textos, recebendo e enviando novas mensagens, discutindo questões em fóruns ou em salas de aula virtuais, divulgando pesquisas e projetos.

Flexibilizar os cursos presenciais

Tendo acesso à Internet, podemos flexibilizar a forma de organizar os momentos de sala de aula e os de aprendizagem virtual de forma integrada e alternada.

No ensino superior precisamos criar a cultura da educação on-line em professores, alunos e nas instituições. Que todos se acostumem a utilizar a Internet fora da sala de aula, como uma parte integrante do curso. Os cursos podem alternar momentos de encontro numa sala de aula e outros em que continuamos aprendendo cada um no seu lugar de trabalho ou em casa, conectados através de redes eletrônicas.

O curriculum pode ser flexibilizado, segundo a portaria 2253 do MEC, em 20% da carga total. Algumas disciplinas podem ser oferecidas total ou parcialmente a distância. O vinte por cento é uma etapa inicial de criação de cultura on-line. Mais tarde, cada universidade irá definir qual é o ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual em cada área do conhecimento. Não podemos definir a priori uma porcentagem aplicável de forma generalizada a todas as situações. Algumas disciplinas necessitam de maior presença física, como as que utilizam laboratório, as que precisam de interação corporal (dança, teatro....). O importante é experimentar diversas soluções para diversos cursos. Todos estamos aprendendo. Nenhuma instituição está muito na frente no ensino superior inovador on-line.

Podemos começar com algumas disciplinas, apoiando os professores mais familiarizados com as tecnologias e que se dispõem a experimentar e ir criando a cultura do virtual, o conhecimento dentro de cada instituição para avançar para propostas curriculares mais complexas, integradas e flexíveis, até encontrar em cada área de conhecimento e em cada instituição qual é o ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual.

Dentro de poucos anos esta discussão do presencial e a distância terá muito menos importância. Caminhamos para uma integração dos núcleos de educação a distância com os atuais núcleos ou coordenações pedagógicas dos cursos presenciais. A maioria dos cursos de graduação e de pós-graduação serão semi-presenciais e os cursos a distância terão muitas formas de aproximação presencial-virtual (maior contato audiovisual entre os participantes).

Dificuldades na educação on-line

Existem dificuldades sérias na mudança de paradigma no ensino superior. A primeira é o peso da sala de aula. Desde sempre aprender está associado a ir a uma sala de aula e lá concentramos os esforços dos últimos séculos para o gerenciamento da relação entre ensinar e aprender. O modelo cultural e burocrático predominante nas organizações educacionais exerce também um peso avassalador na inércia frente a necessidade de inovar. Tudo é planejado ou decidido de cima para baixo. Os prédios, os currículos, a contratação de professores são feitos em função do atrelamento (muitas vezes, confinamento) a salas de aula.

Os professores aprenderam como alunos a relacionar-se com o modelo convencional de ensinar-aprender dentro de um espaço bem específico que é a escola e dentro dela a sala de aula. O papel principal que os professores assumem ainda é o de responsáveis por uma determinada área do conhecimento e insistem em utilizar predominantemente métodos expositivos com alguma (pouca) interação. Os alunos, por sua vez, estão acostumados a ficar ouvindo, em geral, passivos, o que os professores falam e esperam da universidade que lhes ofereçam em bandeja as informações prontas. Nas faculdades particulares é freqüente ouvir: "Eu pago, eu quero que me ensinem" e reclamam quando o professor exige mais pesquisa e trabalho em grupo.

Ambos, professores e alunos, constatam a inadequação desse modelo. Muitos intelectualmente sabem que precisam mudar. É freqüente o discurso da participação, da mudança, mas, na prática, no dia a dia, muitos ainda permanecem aferrados aos modelos tradicionais, até porque não existem muitas experiências inovadoras perto de onde eles lecionam. Por todos esses fatores, é difícil manter a motivação de forma permanente.

Existem professores que possuem qualidades pessoais de comunicação, que são "show-men", que sabem contar estórias, utilizar metáforas, piadas e outros recursos retóricos. Mas é difícil manter esse "pique" quando se dão muitas aulas por dia, ao longo de um semestre. Por outro lado, está comprovado que aprendemos mais pela experimentação do que só pela audição. É importante que o aluno se mova, pesquise, corra atrás, vivencie, entre em contato, comunique os resultados e reflita para aprender de forma mais profunda.

É difícil manter a motivação no presencial e muito mais no virtual, se não envolvermos os alunos em processos participativos, afetivos, que inspirem confiança. Os cursos que se limitam à transmissão de informação, de conteúdo, mesmo que esteja brilhantemente produzido, correm o risco da desmotivação a longo prazo e, principalmente, de que a aprendizagem seja só teórica, insuficiente para dar conta da relação teoria/prática. Em sala de aula, se estivermos atentos, podemos mais facilmente obter feedback dos problemas que acontecem e procurar dialogar ou encontrar novas estratégias pedagógicas. No virtual, o aluno está mais distante, normalmente só acessível por e-mail, que é frio, não imediato ou por um telefonema eventual, que é mais direto, mas num curso a distância encarece o custo final.

Com os processos convencionais de ensino e com a atual dispersão da atenção da vida urbana, fica muito difícil a autonomia, a organização pessoal, indispensável para os processos de aprendizagem a distância. O aluno desorganizado vai deixando passar o tempo adequado para cada atividade, discussão, produção e pode sentir dificuldade em acompanhar o ritmo de um curso. Isso atrapalha sua motivação, sua própria aprendizagem e a do grupo, o que cria tensão ou indiferença. Esses alunos pouco a pouco vão deixando de participar, de produzir e muitos têm dificuldade, a distância, em retomar a motivação, o entusiasmo pelo curso. No presencial, uma conversa dos colegas mais próximos, do professor, pode ajudar a voltar a participar do curso. Á distância é possível, mas não fácil.

Na educação semi-presencial e a distância com jovens teremos os mesmos problemas, só que em escala maior, que observamos no presencial. Uma parte dos jovens, que sempre dependeram financeiramente dos pais e que não trabalham para sustentar-se, se empenha menos, sente menos a necessidade de se dedicar seriamente à aprendizagem. Jovens mais entusiastas, motivados ou que trabalham, em geral, facilitam o processo de aprendizagem em sala de aula e continuarão fazendo-o no virtual. Os que no presencial vão em ritmo lento, provavelmente o manterão no virtual, se não houver propostas inovadoras, estimulantes.

A maior parte dos cursos presenciais e a distância continuam focados no conteúdo, focados na informação, no conteúdo, no professor, no aluno individualmente,e na interação com o professor/tutor. Os cursos hoje devem ser focados na construção do conhecimento e na interação; no equilíbrio o individual e o grupal, entre conteúdo e interação (aprendizagem cooperativa), um conteúdo em parte preparado e em parte construído ao longo do curso.

Mesmo com tecnologias de ponta, ainda temos grandes dificuldades no gerenciamento emocional, tanto no pessoal como no organizacional, o que dificulta o aprendizado rápido. São poucos os modelos vivos de aprendizagem integradora, que juntam teoria e prática, que aproximam o pensar do viver.

O autoritarismo da maior parte das relações humanas interpessoais, grupais e organizacionais espelha o estágio atrasado em que nos encontramos individual e coletivamente de desenvolvimento humano, de equilíbrio pessoal, de amadurecimento social. E somente podemos educar para a autonomia, para a liberdade com processos fundamentalmente participativos, interativos, libertadores, que respeitem as diferenças, que incentivem, que apóiem, orientados por pessoas e organizações livres.

As mudanças na educação dependem, mais do que das novas tecnologias, de termos educadores, gestores e alunos maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos.

Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula, no presencial ou no virtual, chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se, de agir. São um poço inesgotável de descobertas.

Vale a pena combinar uma pedagogia inovadora, focando a aprendizagem pela experiência/ação e reflexão, apoiando-se no desenvolvimento de projetos, solução de problemas, e de tornar a aula um processo de pesquisa, comunicação e análise significativos.

Todas as universidades e organizações educacionais, em todos os níveis, precisam experimentar como integrar o presencial e o virtual, garantindo a aprendizagem significativa. Precisamos vivenciar uma nova pedagogia do presencial e do virtual. Não temos muitas referências anteriores que transitem pelo presencial e pelo virtual de forma integrada. Até agora temos ou cursos em sala de aula ou cursos a distância, criados e gerenciados por grupos em núcleos específicos, pouco próximos da educação presencial. É importante que os núcleos de educação a distância das universidades saiam do seu isolamento e se aproximem dos departamentos e grupos de professores interessados em flexibilizar suas aulas, que facilitem o trânsito entre o presencial e o virtual.

Metodologia do ensino-aprendizagem semi-presencial

Do ponto de vista didático, podemos valorizar o melhor do presencial e o do virtual. O que fazemos melhor ou mais rapidamente quando estamos juntos numa sala de aula? É mais fácil conhecer-nos, criar laços, mapear os grupos, as pessoas. É mais fácil organizar o processo de ensino-aprendizagem, a seqüência de leituras, atividades, pesquisas individuais e de grupo, o cronograma, a metodologia. É mais fácil também que o professor ajude os alunos a ter as referências iniciais de um tema, o estado da arte de um assunto, os cenários de uma pesquisa.

Depois desses contatos pessoais, podemos ir ao virtual e aí aproveitar as vantagens que nos propicia. A flexibilidade de tempo e lugar para acessar. Cada um organiza o curso dentro das outras atividades pessoais e profissionais. Além dessa liberdade de organização e de acesso, podemos no virtual desenvolver atividades de pesquisa individual e em pequenos grupos. Cada grupo pode ter seu próprio espaço de comunicação para eventuais trocas de resultados, antes de divulga-los para toda a classe. Podemos discutir alguns textos, fazer comentários num fórum ou em alguns momentos em um chat ou sala de bate-papo. Podemos tirar dúvidas com algum professor ou assistente sem ter que ir pessoalmente a um lugar. Podemos divulgar os resultados das pesquisas individuais e grupais em algum espaço da página do curso e aprendermos juntos. E depois podemos voltar a encontrar-nos fisicamente para aprofundar os resultados obtidos no virtual, fazer as sínteses possíveis e encaminhar uma nova etapa de aprendizagem, sempre envolvendo os alunos, com prática, leitura e reflexão.

Não podemos perder de vista, a integração dos dois espaços - presencial e o virtual - e de fazer transições suaves entre ambos. Provavelmente necessitaremos de encontros mais freqüentes no começo de um curso e depois podemos espaça-los à medida que sintamos mais confiança, conhecimento das pessoas e dos procedimentos didáticos.

A partir de diversas experiências de cursos organizados de forma semi-presencial e utilizando ambientes virtuais de aprendizagem na USP, PUC, MACKENZIE, Faculdades SUMARÉ, SENAC, entre outras instituições, propomos um roteiro metodológico básico de organização do processo de ensino-aprendizagem, como ponto de partida para uma discussão mais ampla.

Antes do curso começar, é importante conhecer o perfil dos alunos, o entorno do curso (o que tiveram antes, o que estão vendo simultaneamente, o grau de amadurecimento, o tempo disponível para estudo, o acesso e domínio tecnológico). Esse conhecimento se atualiza nos primeiros encontros, onde perguntamos pelos seus gostos, expectativas, hobbies.

Diante desse perfil planejamos as atividades, as leituras, o formato do curso, as ações inovadoras e a integração das tecnologias. Selecionamos as ferramentas que vamos utilizar e as personalizamos. Colocamos a estrutura do curso, os temas principais, uma biblioteca virtual com os links principais comentados. Preparamos os textos básicos que vão sendo colocados conforme o andamento do curso. Consideramos importante planejar o curso como um todo e, ao mesmo tempo, estar atentos às situações concretas que se apresentam com cada grupo, para incorporar o que nos pareça mais válido, para valorizar as qualidades dos alunos, para interagir efetivamente ao longo de curso.

Nas primeiras aulas é importante motivar os alunos para o curso, criar boas expectativas, estabelecer laços de confiança e organizar o processo de aprendizagem. Podemos valorizar os primeiros encontros com os alunos para que se tornem agradáveis, interessantes, cativantes. Isso facilita todo o processo posterior. Se os alunos compreendem que vale a pena participar do processo de aprender juntos, o nosso trabalho fica extremamente facilitado. Depois, procuramos organizar uma aula com uma boa apresentação tecnológica (PowerPoint), vivências, navegação on-line pela Internet e idéias inovadoras. Damos muita importância a criar um clima de apoio, de incentivo, de afeto, partindo de nós. Mostramos que estamos gostando de estar lá, que vale a pena investir esse tempo juntos, porque todos vamos aprender muito (eu também). Procuramos ter uma sala de aula o mais rica possível de tecnologias: computador e multimídia para apresentação e ponto de Internet para acesso on-line. Isso nos permite uma grande flexibilidade na passagem de um momento de apresentação de idéias, para outro de ilustração, de pesquisa, de contribuições dos alunos. Se um aluno conhece um texto ou site interessante, vai lá e o mostra diretamente à classe. Esse clima cordial e otimista contagia à maior parte dos alunos e os predispõe a colaborar mais, a dar o melhor de si.

Como uma parte do curso vai acontecer no ambiente virtual, mostramos esse ambiente ao vivo, onde estão os textos, o espaço de colaboração, o que facilita a navegação dos alunos depois.

É importante também orientar o processo de pesquisa, tanto do ponto de vista metodológico como tecnológico (como fazer pesquisa na Internet). Assim é mais simples realizar pesquisas orientadas, no virtual.

As primeiras aulas também podem ser utilizadas para organizar os alunos em equipes, em grupos de pesquisa, de projetos. Assim poderemos orientá-los melhor a distância.

Quando propomos flexibilizar o tempo presencial e virtual damos mais importância ao estarmos juntos. Nada supera a presença física. O virtual é um pálido reflexo das possibilidades de contato e intercâmbio que o presencial propicia e que exploramos pouco. O virtual é mais "cômodo", facilita o acesso a distância, a comunicação em qualquer momento sem sair do nosso espaço profissional ou familiar. Mas é uma interação muito pobre comparada com a de estarmos juntos.

Como até agora a aprendizagem é feita basicamente de forma presencial, não lhe damos valor. Em cursos semipresenciais, se demoramos muito para retornar à sala de aula, há uma expectativa pelo reencontro, um desejo de ver-nos, de estar juntos, de colocar em comum nossas impressões. A flexibilização curricular re-valorizará a importância de aproveitar os momentos de presença física.

Depois das primeiras aulas presenciais, podemos marcar uma primeira leitura virtual de um texto e o início da primeira pesquisa. Os alunos lêem o texto, colocam suas observações no fórum. Voltamos ao presencial, aprofundamos as questões que apareceram no fórum e vamos dando mais tempo para o virtual, vamos espaçando mais os encontros, de acordo com a maturidade da turma, com o tipo de assunto. Como orientação pode-se fazer a primeira aula virtual curta e depois manter uma relação de duas por uma: uma presencial e duas virtuais. No virtual pode-se manter uma parte do tempo ocupado em compreensão de textos fundamentais. Os resumos vão para o fórum. As questões principais são resumidas pelo professor e se marca um encontro virtual em tempo real (chat) para aprofundar algumas das questões do fórum. Os alunos fazem suas pesquisas sobre o mesmo tema, as colocam na página e as aprofundam no próximo encontro presencial.

Algumas atividades no chat são para tirar algumas dúvidas, onde quem quiser coloca alguma questão em relação ao texto projeto e o professor procura orientá-lo. Em outros momentos, organizamos grupos para discutir um tema bem específico dentro de cada sala de aula virtual, com a supervisão do professor.

Cada experiência virtual on-line tem o seu valor. Tirar dúvidas pode ser útil, se o grupo for disciplinado e não muito numeroso. Os nomes dos alunos e do professor aparecem em um canto da tela e todos sabem quem entra, sai ou permanece lá. Discutir um texto ou questão em pequenos grupos em salas virtuais é interessante. Corresponde à discussão feita em grupos numa sala de aula presencial. Através da lista de discussão ou fórum o professor organiza os grupos com seus coordenadores e salas respectivas e discutem o texto ou assunto indicado durante um tempo determinado. O professor navega pelas várias salas, acompanha a discussão, participa quando percebe que é conveniente. Essa conversa de cada grupo fica registrada para acesso posterior de qualquer aluno na hora que ele quiser. É importante que cada grupo faça uma síntese do que foi discutido para facilitar o próprio trabalho de aprendizagem e de quem acessar depois. Essa síntese pode ser colocada também no fórum para dar-lhe mais visibilidade.

É conveniente ter um assistente para acompanhar no gerenciamento do chat. A seqüência de perguntas e respostas é muito rápida. Ele se envolve mais com as respostas imediatas e o professor fica observando mais o ritmo, o movimento e faz rápidas sínteses ou colocações em menos momentos, mas significativos. Assim consegue-se perceber melhor o que está acontecendo, quando há dispersões desnecessárias ou quando ressaltar um aspecto que está sendo apresentado.

Como nem sempre é possível reunir os alunos em horários predeterminados, o professor pode organizar também discussões gerais ou grupais no fórum. É um espaço onde se podem criar tópicos de discussão e cada um escreve quando o considera conveniente. Há fóruns gerais, para todos e podem também ser organizados em grupos, para discutir assuntos específicos e facilitar a interação. Os fóruns de grupos podem ser abertos a todos ou só para cada equipe, dependendo do grupo e da atividade. O importante é que os grupos participem, se envolvam, discutam, saiam do isolamento, um dos grandes problemas da educação a distância até agora.

As ferramentas de comunicação virtual até agora são predominantemente escritas, caminhando para ser audiovisuais. Por enquanto escrevemos mensagens, respostas, simulamos uma comunicação falada. Esses chats e fóruns permitem contatos a distância, podem ser úteis, mas não podemos esperar que só assim aconteça uma grande revolução, automaticamente. Depende muito do professor, do grupo, da sua maturidade, sua motivação, do tempo disponível, da facilidade de acesso. Alguns alunos se comunicam bem no virtual, outros não. Alguns são rápidos na escrita e no raciocínio, outros não. Alguns tentam monopolizar as falas (como no presencial) outros ficam só como observadores. Por isso é importante modificar os coordenadores, incentivar os mais passivos e organizar a seqüência das discussões.

O ritmo do presencial-virtual depende de muitos fatores. Não se pode estabelecer a priori um padrão rígido. Cada professor encontrará o seu ponto ideal de equilíbrio e depende também do grau de maturidade e cooperação da classe. O importante é que prever uma espécie de aula-sanfona, que vai do presencial para o virtual e volta para o presencial de acordo com o ritmo do grupo.

Hoje a possibilidade que temos de troca no presencial é muito maior que no virtual (embora não aproveitemos, em geral, o seu potencial). Com o avanço da banda larga, ao ver-nos e ouvir-nos facilmente, recriaremos condições de presencialidade de forma mais próxima e sentiremos mais o contato com os outros, que estão em diversos lugares.

Pela avaliação feita com os alunos, vale a pena utilizar ambientes virtuais como ampliação do espaço e tempo da sala de aula tradicional, mas não são uma panacéia para a aprendizagem nem substituem a necessidade de contatos presenciais periódicos. Equilibrando o presencial e o virtual podemos obter grandes resultados a um custo menor de deslocamento, perda de tempo, e de maior flexibilidade de gerenciamento da aprendizagem.

Educar em ambientes virtuais exige mais dedicação do professor, mais apoio de uma equipe técnico-pedagógica, mais tempo de preparação - ao menos nesta primeira fase - e principalmente de acompanhamento, mas para os alunos há um ganho grande de personalização da aprendizagem, de adaptação ao seu ritmo de vida, principalmente na fase adulta.

Com o aumento do acesso dos alunos à Internet, poderemos flexibilizar bem mais o currículo, combinando momentos de encontro numa sala de aula com outros de aprendizagem individual e grupal. Aprender a ensinar e a aprender, integrando ambientes presenciais e virtuais, é um dos grandes desafios que estamos enfrentando atualmente na educação no mundo inteiro.

É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe: integrar as dinâmicas tradicionais com as inovadoras, a escrita com o audiovisual, o texto seqüencial com o hipertexto, o encontro presencial com o virtual.

O que muda no papel do professor? Muda a relação de espaço, tempo e comunicação com os alunos. O espaço de trocas se estende da sala de aula para o virtual. O tempo de enviar ou receber informações se amplia para qualquer dia da semana. O processo de comunicação se dá na sala de aula, na internet, no e-mail, no chat. É um papel que combina alguns momentos do professor convencional - às vezes é importante dar uma bela aula expositiva - com um papel muito mais destacado de gerente de pesquisa, de estimulador de busca, de coordenador dos resultados. É um papel de animação e coordenação muito mais flexível e constante, que exige muita atenção, sensibilidade, intuição (radar ligado) e domínio tecnológico.

Cada curso, cada professor vai fazer isso de forma semelhante e ao mesmo diferente. Não podemos padronizar e impor um modelo único do presencial-virtual. Cada área do conhecimento precisa mais ou menos do presencial. É importante experimentar, avaliar e avançar até termos segurança do ponto de equilíbrio na gestão do virtual e do presencial. Creio que a área de humanas e a de exatas ou biológicos não podem, em princípio, seguir o mesmo esquema. O ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual pode ser diferente.

A coragem de mudar

Estamos aprendendo, fazendo. Os modelos de educação tradicional e de EAD não nos servem mais. Por isso é importante experimentar algo novo em cada semestre. Fazer as experiências possíveis nas nossas condições concretas. Perguntar-nos no começo de cada semestre: "O que estou fazendo de diferente neste curso? O que vou propor e avaliar de forma inovadora?" Assim, pouco a pouco iremos avançando e mudando.

Podemos começar pelo mais simples na utilização de novas tecnologias e ir assumindo atividades mais complexas. Começar pelo que conhecemos melhor, pelo que nos é familiar e de fácil execução e avançar em propostas mais ousadas, difíceis, não utilizadas antes. Experimentar, avaliar e experimentar novamente é a chave para a inovação e a mudança desejadas e necessárias.

Caminhamos para uma flexibilização forte de cursos, tempos, espaços, gerenciamento, interação, metodologias, tecnologias, avaliação. Isso nos obriga a experimentar pessoal e institucionalmente de modelos de cursos, de aulas, de técnicas, de pesquisa, de comunicação. Precisamos desenvolver e encontrar um estilo pessoal de ensinar no presencial e no virtual.

Vivemos um período de grandes desafios no ensino focado na aprendizagem. Podemos encontrar novos caminhos de integração do humano e do tecnológico; do racional, sensorial, emocional e do ético; integração do presencial e do virtual; da escola, do trabalho e da vida.

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