Educação Continuada à Distância
Um Estudo de Caso
 

 

Vanderley Flor da Rosa
CEFET-PR - Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná

 
vrosa@icmc.sc.usp.br


Dilvan de Abreu Moreira

ICMC / USP – Instituto de Ciências Matemáticas e Computação

dilvan@icmc.sc.usp.br

 

(Texto original com imagens: clique aqui)


A educação enfrenta, nesse início de milênio, profundas mudanças. Existe hoje uma grande variedade de ferramentas de ensino à distância à disposição do educador, especialmente quando este faz uso de tecnologias atuais como a Internet e a Web. Frente a este fato, esforços têm sido direcionados para a adequação das técnicas tradicionais de ensino aos novos tempos. O ensino à distância via Internet têm o potencial de por a força da rede mundial a serviço da educação, seja no ensino fundamental, de graduação ou, como no caso deste trabalho, na educação continuada.
O objetivo deste trabalho foi, utilizando ferramentas desenvolvidas no laboratório Intermídia (ICMC-USP), implantar e administrar um curso à distância via Internet, em nível de curso de extensão universitária (educação continuada), coletando e analisando dados sobre seu andamento e sobre sua comunidade alunos.
 

Palavras chave:
Educação à Distância, Educação Continuada

1 – Introdução

A educação enfrenta, nesse início de milênio, profundas mudanças. Esforços têm sido direcionados para a adequação das técnicas tradicionais de ensino aos novos tempos, em que o uso da tecnologia, das telecomunicações e da informática passa a fazer parte do dia-a-dia de praticamente toda a sociedade. Os efeitos causados, na sociedade atual, pelo advento e uso da Internet, têm rompido barreiras antes intransponíveis. O ensino à distância via Internet têm potencial no serviço à educação: na graduação ou na pós-graduação, ou como no caso deste trabalho, na educação continuada, e apresenta-se como uma alternativa eficaz no aperfeiçoamento e na busca de novos conhecimentos por parte dos profissionais egressos da Universidade.  O objetivo deste trabalho foi, utilizando ferramentas desenvolvidas no laboratório Intermídia do ICMC-USP, implantar e administrar um curso à distância via Internet, em nível de curso de extensão universitária intitulado “Distributed Programing Using Java  (http://java.icmc.sc.usp.br/java_course), que doravante será tratado simplesmente como “Curso”, coletando e analisando  dados sobre seu andamento e sobre  sua comunidade ativa de alunos. 

O Curso ocorreu no segundo semestre de 2000, com etapas como: divulgação, aceitação de alunos, aulas semanais, trabalhos, avaliação final, etc. Uma das metas do Curso foi o de usar o trabalho em grupo aplicado a educação continuada, com o uso da revisão por pares (peer review), onde um grupo se torna responsável pela revisão e crítica do trabalho de um outro grupo que, por sua vez, faz a revisão do trabalho de um outro grupo, e assim sucessivamente. Toda a comunidade de alunos pode participar nos debates e argumentações (crítica e defesa) sobre os trabalhos produzidos. O Curso foi um projeto pioneiro no ICMC-USP na modalidade de educação continuada à distância, gerando certificação aos alunos participantes. Para tanto e por força das normas e regulamentos vigentes na USP e no ICMC, os alunos tiveram que se submeter a um teste presencial.  Este trabalho visou canalizar o conhecimento adquirido em benefício de projetos futuros relacionados à educação continuada à distância . 

 

2 –  Educação à Distância

Dentre as várias definições atuais, pode-se, com base em Arétio (Aretio, 1996), destacar educação à distância como um  sendo “sistema tecnológico de comunicação bidirecional (e massivo), utilizado como estratégia preferencial de ensino, substituindo a interação professor-aluno em sala de aula pela ação sistemática e conjunta de recursos didáticos, de apoio e de uma organização tutorial, propiciando a aprendizagem autônoma do estudante”. Alguns autores salientam o cunho social da EAD:  "A educação à distância nasceu sob o signo da democratização do saber" (Todorov, 1994). Finalmente, a  definição apresentada pela legislação brasileira (Brasil, 1998) contempla todos os itens necessários no seu artigo 1º:  “Educação à distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação”.

A EAD está presente desde o surgimento dos correios até a transmissão por fibra-ótica e satélite, desde as epístolas do apóstolo S. Paulo na Bíblia até o advento e uso da Internet. Moore (Moore, 1996) afirma que, em função da tecnologia de transmissão de informação adotada, a evolução da educação à distância pode ser dividida em três gerações. A primeira foi a geração ‘textual’, com textos impressos que compreendem o que ocorreu até a década de 1960. A segunda foi a geração ‘analógica’, que ocorreu entre as décadas de 1960 e de 1980. A terceira é a atual geração ‘digital’, baseada em recursos tecnológicos digitais que possui características como: eficiência, baixo custo dos modernos sistemas de telecomunicação digital, baixo custo dos computadores, alta interatividade, custo acessível e alta amplitude das redes computacionais, tais como as Intranets e a Internet. Observa que, em determinados momentos, não há necessariamente a substituição de uma tecnologia pela outra, as novas alternativas vão incorporando e se ajustando às anteriores e criando um novo modelo (Moore, 1996). A tecnologia viabiliza o tipo de interação social entre alunos e professores que supera a "distância social" bem como a "distância geográfica".

– Pontos Positivos da Educação à  Distância: (Galera, 1998): amplia as possibilidades de acesso à educação; reduz barreiras de acesso aos cursos; reduz as barreiras de tempo, espaço e idade; pode atender a um grande número de alunos a um só tempo e a um custo potencialmente reduzido; permanência do aluno em seu ambiente profissional, cultural e familiar; permite flexibilidade, com a ausência de rigidez quanto aos requisitos de espaço (”onde estudar?”), assistência às aulas e tempo (”quando estudar?”) e ritmo (”em que velocidade aprender?”); etc.

– Pontos Negativos e Limitações do Ensino à Distância: limitações em alcançar objetivos ligados à socialização, pelas escassas ocasiões para interação não virtual dos alunos com o docente e entre si; perigo de homogeneidade dos materiais instrucionais; necessidade de que o aluno possua um  elevado nível de compreensão de textos; a ambição de se alcançar muitos alunos pode provocar abandonos, deserções ou fracassos, por falta de um bom acompanhamento do processo; serviços administrativos em programas à distância são geralmente, mais complexos que na modalidade presencial; empobrecimento de experiências de troca direta, proporcionadas pela relação educativa pessoal entre professor/aluno e aluno/aluno.

A implantação da modalidade de cursos à distância, pode sugerir facilidades irresponsáveis, a começar pela insinuação de que é possível estudar menos. Porém, a EAD em nada deve eliminar a responsabilidade do educando, pelo contrário, a própria dureza crescente do mercado competitivo globalizado mostra o avesso desta pretensão: “é mister estudar muito, desesperadamente muito, para conseguir emprego e sem qualquer garantia maior, que, no fundo, estaria na própria capacidade de continuar estudando com afinco, sempre“ (Demo, 1998). Ainda com relação aos cuidados a serem observados na metodologia de desenvolvimento de programas à distância, observa-se que algumas linhas de ação devem ser seguidas, a fim de se obter êxito (Linn, 1996): os cursos devem ter metas que os estudantes consigam atingir; os estudantes devem ter a oportunidade de se engajar em um aprendizado autônomo; e os cursos devem estabelecer práticas colaborativas necessárias para a negociação com problemas complexos, semelhantes aos que os estudantes confrontam ao longo de suas carreiras.

No contexto deste trabalho foram resgatados alguns relatos de experiências, produtos, serviços e produções, relacionados à educação e a educação à distância, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP  (ICMC),  de alguma forma  ligadas à área da educação, que retratam parte do pensamento registrado. Conceitos como autoria, cooperação, avaliação, disponibilização de material, dentre outros foram considerados.  Podem se destacar o SASHE (Sistema de Autoria e Suporte Hipermídia para Ensino),  apresentado como um ambiente local de autoria e navegação em hiperdocumentos para aplicações em ensino (Nunes, 1997). EHDM (Educational Hiperdocuments Design Method), proposto como base para o desenvolvimento de ferramentas de autoria (Pansanatto, 1998). O StudyConf  (Macedo, 1999)  é uma infra-estrutura de suporte ao aprendizado cooperativo na WWW.  o HyDTS (ambiente distribuído hipermídia para ensino e aprendizagem) que explora recursos para integração de ferramentas (Moreira, 1995). O HyperBuilder, QuestBuilder e TaskBuilder, estes três programas formam um conjunto de ferramentas, atuando no contexto de documentos didáticos estruturados, e se destina à autoria e disponibilização de material didático no ambiente WWW (Santos, 1998). É importante ainda citar experiências realizadas por outras instituições ligadas à EAD: WebCT, (WebCT, 2000), AulaNet (AulaNet, 2001), Classroom 2000 (Classroom, 2001), dentre outros exemplos relevantes de programas à distância nacionais como internacionais.

Fica um apontamento para a canalização de esforços, tanto do ICMC-USP quanto por parte de instituições que tenham interesse, em prosseguir nesta frente de trabalho.  Deve-se atentar tanto à tecnologia computacional usada como aos procedimentos didáticos a serem utilizados.  Os profissionais de hoje devem continuamente estar aprendendo, daí a importância da educação continuada. Uma forma de a Universidade manter-se apta a acompanhar os avanços tecnológicos, é assumindo uma linha progressista que incentive o aprendizado formal e o não formal de seus alunos, adequando-se às necessidades futuras de seus egressos, já como profissionais, através de programas de educação continuada.

 3 – Trabalho em Grupo na Internet

No Curso, os trabalhos, projeto implementados pelos alunos deveriam obrigatoriamente ser realizados e entregues em grupo, somente a avaliação final seria individual. Considera-se importante que os participantes de programas à distância possuam características de estudante autônomo (Linn, 1996). Os estudantes devem tomar para si a responsabilidade de seu próprio aprendizado, devem determinar como estudar, como alocar o tempo de estudo, e selecionar as atividades com que atinjam seus objetivos. Pedro Demo (Demo, 1998)  coloca ainda que as “ofertas de programas à distância, quando avaliadas minimamente, constatam que o público aprecia os programas, mas quase não aprende; e também que a informação é necessária para a formação, mas é apenas insumo; todo processo formativo é, em primeiro lugar, autoformativo, não cabe ser espectador, deve-se passar necessariamente pelo esforço pessoal e coletivo”. Daí a ênfase, nesse projeto, na cooperação como meio de estimular o referido esforço, tanto pessoal como coletivo,  por parte dos alunos.

O Curso foi todo estruturado sobre o trabalho em grupo com o uso de peer reviews, que se apóia na exploração positiva do debate. A idéia de se trabalhar com a modalidade de “reviews” (com grupos ‘revisores’ e grupos ‘revisados’) neste projeto, teve origem a partir de experiências de programas regulares presenciais no ICMC-USP, onde a classe é dividida em grupos e cada grupo realiza a pesquisa e produz um trabalho final. Este resultado é analisado por um outro grupo. Todos então se reúnem e cada grupo expõe seu trabalho; em seguida, os reviewers (de um outro grupo) fazem uma exposição dos problemas encontrados no trabalho, criticando e também sugerindo alternativas de resolução/implementação. Segue-se então o debate, a fim de se verificar qual grupo (autores ou críticos) tem argumentos mais sólidos e convincentes. 

 5 – WeBCoM – Ferramenta de Gerenciamento

O WebCoM - Web Course Manager - correspondeu à infra-estrutura tecnológica necessária para a implementação e administração do Curso e é formado por um conjunto de ferramentas cujo objetivo é o gerenciamento, através da Internet, de um conjunto pré-definido de atividades didáticas de um curso que pode ser à distância ou mesmo presencial (Silva, 2000). São características do WebCoM:  independência de plataforma, do ambiente de autoria e do material didático; possibilidade de escolha na utilização dos recursos das ferramentas; controle de acesso baseado no tipo de usuário; facilidade de utilização do conjunto de ferramentas: basta inserir o applet em um documento HTML e configurar o lado servidor, para permitir a utilização de todos os recursos oferecidos pelas ferramentas; gerenciamento feito através do ambiente WWW da Internet;  independência de recursos extras na máquina cliente.

 6 – A Implementação do Curso

O nosso grupo de pesquisa do ICMC desenvolve projetos no laboratório Intermidia que contam com diversos cursos on-line, porém direcionados a programas presenciais, sendo alguns deles: Sistemas Operacionais (para pós-graduação), Sistemas Operacionais II, Programação Orientada a Objetos, Introdução à Eletricidade para Computação,  Microprocessadores, e Programação Distribuída Usando Java. Esses cursos podem ser acessados via Internet, através do endereço http://java.icmc.sc.usp.br. A equipe de suporte completa era composta também pelo: prof. Dr. Dilvan de Abreu Moreira, Elaine Quintino da Silva, autora do WebCoM e que atuou também no suporte, e por Patrícia Brancalhone, como psicóloga do Curso.

Os interessados efetivaram um cadastramento prévio no site do Curso, alimentando-o com várias informações pessoais, inclusive a quantidade de horas que se comprometiam em dedicar ao Curso semanalmente. O Curso teve a duração de aproximadamente 4 meses. Teve início em  3 de setembro de 2000 e seu término em 16 de dezembro do mesmo ano, com a avaliação final presencial no ICMC-USP, campus de São Carlos-SP. Foi ainda realizada uma avaliação no dia 07 de março de 2001. O aluno, utilizando o WebCoM via Intenet, cadastrado no Curso como candidato, e devidamente aceito, devia também formar um grupo de 3 integrantes.  Os alunos seguiram o calendário que contém as seqüências das aulas, estudaram o material sugerido e realizaram as atividades práticas em grupo, comunicando-se virtualmente (e-mail, chat, etc.) ou fisicamente (caso estivessem fisicamente próximos). Estas atividades desenvolvidas foram:

-           Assignments: (no Português - missões): são tipos de atividades que permitem a realização de trabalhos em grupo de alunos. Cada assignment foi composto por vários projetos de desenvolvimento de software.

-           Tests:  (no Português - avaliações) no caso do Curso, a atividade Test foi uma avaliação presencial no final do mesmo.

Os alunos que entregaram pelo menos um assigment (dos dois previstos), puderam realizar o teste teórico, presencial, que ocorreu no campus do ICMC-USP, em São Carlos, no dia 16 de dezembro de 2000 e em 07 de março de 2001, e contemplou os conhecimentos essenciais que o aluno deveria ter adquirido durante a realização dos trabalhos. As questões desse teste foram baseadas nas questões dos testes da Sun para certificação de programadores Java. Na conclusão do curso, os alunos aprovados receberam uma certificação de sua realização pela USP.

7 - Histórico e contexto

O início do Curso ocorreu no começo do mês de setembro. Partindo de um trabalho de divulgação através da presença física em pelo menos dois grandes eventos, na COMDEX/SUCESU-2000 em São Paulo-SP, de 22 a 25 de agosto de 2000, e na 4th International Conference on Technology,  Police  and Innovations, em Curitiba-PR, de 28 a 31 de Agosto de 2000. Foi também divulgado através de listas de discussão da Internet, e ainda, a partir de uma base de dados de pessoas já cadastradas e interessadas na realização deste Curso (através de e-mail).  O período do Curso propiciou que atividades de análise ocorressem durante todo o processo, permitindo solucionar problemas técnicos encontrados. Isto viabilizou também o aprimoramento do WebCoM. Como este trabalho foi experimental (os participantes estavam cientes disto e de todas as características do Curso). Os dados e resultados estão disponíveis para análises e ainda para trabalhos futuros, que podem ser feitos por profissionais das mais diversas áreas (computação, educação,  psicologia, dentre outras).

 

 8 - Dados Coletados

Com relação aos dados do Curso proposto,  120 alunos iniciaram o Curso, com o abandono restaram 58 ativos. 14 compareceram para o teste, e 13 alunos foram aprovados e certificados. Tem-se, portanto, que, ao final, foram recebidas 14 fichas de avaliação dos que concluíram o curso, 10 fichas dos que poderiam realizar, mas por alguma razão não fizeram a prova presencial, dando um total de 24, frente a um universo de 58 alunos ativos, e ainda 5 fichas dos que formalmente desistiram do curso, que podem ser somadas às outras. Ou seja, uma amostra entre 41% e  50%.

Fichas dos Alunos que NÃO Fizeram a Prova Presencial

Fichas dos que não compareceram para a realização do teste. O número de fichas recebidas totaliza 10 (dez). Figuram aqui apenas os pontos positivos e negativos.

Pontos positivos do Curso:

-  A facilidade de acesso em casa e na hora que puder, boa supervisão; Qualidade do material; Site bem apresentado; A entidade é de renome; A avaliação dos trabalhos através de reviews; O conhecimento dos assignments assim que o Curso se iniciou permitindo que cada um faça os trabalhos na época em que achar melhor; Poder realizar um Curso sem precisar deslocar-me de casa; Acredito que o fator custo neste Curso (grátis) ajudou muito; É diferente, inovador, estimula o aluno a ser autodidata; Gratuito, e tema interessante; Assistir aula quando quiser; Boa divisão da matéria em tópicos; Boa assistência da organização; Áudio nas aulas (pelo menos nas primeiras); Qualidade do material; Achei importante para eu ter um contato com novas tecnologias.

Pontos negativos do Curso:

-  Dificuldade de manter contato com os membros do grupo, e executar as tarefas; Falta de interesse por parte de algumas pessoas que participaram do Curso (como foi o caso dos demais integrantes do meu grupo), que acabam por prejudicar outras pessoas que estão realmente interessadas;  Muito pouco tempo para os assignments; O fato de ter de me deslocar para fazer a prova, pois acredito que deveria ser on-line; O principal ponto do Curso é a possibilidade de estudar a qualquer hora, em qualquer lugar; A exigência de um trabalho em grupo pode ter inviabilizado a participação de algumas pessoas que não possuíam tempo para reuniões ou horários  não compatíveis com outras; Inflexibilidade; Trabalhos de dificuldade incompatível com o material posto OnLine; Falta de áudio em partes essenciais do Curso (e o áudio é que ajudou realmente a aprendizagem); A forma de funcionamento do Curso deveria ser mais bem explicada aos participantes; O material didático deixou a desejar; As explicações (áudio) não estavam boas; elas eram muitos superficiais; A idéia de a avaliação para obtenção do certificado ser em São Carlos, prejudicou as pessoas que moravam longe; como a idéia era um Curso pela internet, acredito que as pessoas  não precisariam deslocar-se até São Carlos para fazer a prova.

Críticas e sugestões:

-  Gostaria de ter atividades que pudessem ser propostas pelo aluno, dentro da realidade do aluno e das suas expectativas; Devido à distância entre Belo Horizonte e São Paulo, não pude fazer a prova presencial; Acredito que seria válido ampliar este Curso oferecendo as provas em outras capitais do Brasil. Talvez através de convênios com outras universidades. Assim, certamente o interesse pelo Curso seria bem maior; poderiam ser incluídos testes "on-line" para cada parte da lição, dando um feedback para o estudante; Melhorar as páginas de explicação teórica do Curso, estimular troca de e-mails na lista, horários para chat (uma vez por semana ou todos os dias), horários de tira duvidas; Aumente o número de vagas da próxima vez, já contando com o pessoal que vai desistir no meio do caminho; Melhorar o visual das páginas do Curso; Melhorar os textos, deixando-os mais didáticos (isso é importante na ausência de um professor); Usar um sistema para tirar dúvidas, o e-mail é um que já está sendo usado por muitas escolas; Quanto a idéia de o Curso ser pago em sua próxima edição, eu acho que não vai funcionar; Melhorar os áudios (a gravação estava ruim); Pense na implementação de explicações por vídeo; Quanto aos problemas das desistências, ninguém deveria deixar o Curso; deveria ter um termo de compromisso que deveria ter sido firmado.

 

Pontos positivos do Curso:

-  Formação do grupo; Flexibilidade de horário, som gravado; Fácil de acessar o material; Interesse e preocupação pelo conteúdo; Bom para quem tem conhecimento básico no conteúdo;  Material de boa qualidade e ótimos links; Vale pela iniciativa; O fato de se poder fazer o próprio horário, flexibiliza a organização pessoal; O conteúdo é muito bom;

-  O som gravado ajuda; Flexibilidade para o estudo; O material está disponível totalmente desde o início; Não depender de horário fixo; Internet, conteúdo.

 

Pontos negativos do Curso:

-  Falta algum aspecto para estimular  a assiduidade dos alunos; Distante da minha cidade; Material em Inglês; Maior apoio pedagógico; Nem sempre é possível formar um grupo de estudos com membros engajados; A obrigatoriedade de se realizar tarefas em grupo; Pouco acompanhamento (mas a causa maior é a pouca procura dos alunos); Conteúdo disponível metade em cada língua; a parte de áudio deveria estar escrita; Prova presencial em um único local; Falta de exercícios próximos ao estilo da prova, ao menos para alertar quanto ao conteúdo da mesma; Layout das páginas; Trabalhos muito extensos, consumindo muito tempo; Como as aulas estavam sempre disponíveis, o estudo acaba “ficando sempre pra depois” ; Dificuldade de comunicação entre os membros do grupo; Site lento.

 

Críticas e sugestões:

-  Traduzir e disponibilizar o material em Português; Talvez pessoas que já fizeram o Curso com uma maior experiência, poderiam ajudar novos alunos. Não sei porque a lista de discussão não funcionou, li poucas mensagens sobre o assunto. Acho que os coordenadores deveriam estimular mais os grupos e diminuir a desistência. Estou à disposição para ajudar no que for preciso. Conte comigo; Buscar formas melhores de acompanhamento dos alunos; Passar sons para outro formato; Um número maior de homeworks com talvez escopos menores para dar mais dinamismo ao Curso e possibilidade de abranger melhor todo o conteúdo do Curso; Ser implementado algum tipo de avaliação on-line, com um tempo máximo para a resolução, dispensando assim a vinda de alunos para fazer o teste; Algumas aulas “on-line” forçariam o aluno a se manter atualizado.

 

Quando comparamos alguns desses resultados aos de outras cursos online (o índice de desistência, por exemplo) encontramos valores compatíveis. Infelizmente não foi encontrada uma pesquisa que explorasse tantos aspectos do ensino à distância como a nossa, para uma melhor comparação de resultados.  Com o exposto, consideramos que estes resultados podem ser generalizados e levados em consideração quando da oferta de outros programas similares (ou outras edições desse mesmo curso) dirigidos ao mesmo público alvo.

 

9 - Conclusões

O objetivo deste trabalho foi, utilizando ferramentas desenvolvidas pelo nosso grupo de pesquisa, implantar e administrar um Curso à distância via Internet na modalidade de educação continuada. Dados sobre seu andamento e sobre sua comunidade ativa de alunos foram coletados e analisados. Este é um trabalho pioneiro no ICMC-USP, que, ao explorar as implicações de um Curso a distância na Internet, abre caminho para trabalhos mais aprofundados em linhas variadas de pesquisa e frentes de trabalho. Os dados mostram que existe demanda para Cursos à distância, e a comunidade demonstra estar carente de iniciativas como esta. Comparando os dados de evasão obtidos com os encontrados na pesquisa bibliográfica conclui-se (ou comprova-se) que a mesma é uma característica própria da educação à distância.

Quanto ao uso de reviews, com debates e trocas, destacamos a sua importância implícita, e citamos Freire: “Daí a exigência de que se devem impor, de ir tornando-se cada vez mais tolerantes, de ir pondo-se cada vez mais transparentes, de ir virando cada vez mais críticos, de ir fazendo-se cada vez mais curiosos; quanto mais tolerantes, quanto mais transparentes, quanto mais críticos, quanto mais curiosos e humildes, tanto mais assume autenticamente a prática da educação” (Freire, 1994).

Quanto ao material didático do Curso, como demonstrado no decorrer deste trabalho, a única fonte de estudo indicada era a WWW e suas páginas (haviam livros disponível para download); porém, como a experiência sugeriu, seria importante a diversificação das mídias (material impresso, CDs, vídeo, etc.) para um melhor aproveitamento por parte dos alunos. Pesquisas (Galera, 1998) demonstram a diversidade de estratégias e meios que as Universidades Abertas de 3 diferentes continentes adotam em diferentes contextos,  mostrando a necessidade de: adaptação ao cenário externo, considerações sobre o número de alunos, questões de acesso à tecnologia e às características culturais de cada país ou região.

Com relação aos que continuarão os estudos nesta área é importante que os mesmos tomem consciência da dimensão, da condução, acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem à distância: Participar dos cursos de aprofundamento teórico, relativos aos cursos de diferentes áreas a serem trabalhadas no curso; Familiarizar-se com a modalidade de EAD; Conhecer e participar das discussões relativas à confecção e uso do material didático; Suprir as possíveis deficiências do material didático; Auxiliar o aluno na aquisição de conceitos e habilidades; Auxiliar o aluno a superar dificuldades, motivando-o a buscar, no material didático complementar, respostas às suas dúvidas; Detectar os principais problemas dos alunos, tentando diagnosticar as causas para auxiliar na solução; Auxiliar o aluno em sua auto-avaliação; Avaliar fatores ligados ao processo ensino-aprendizagem. Estas e outras considerações deste trabalho podem ajudar a gerar uma base sobre a qual programas de educação continuada à distância pela Internet poderão ser desenvolvidos de forma científica. Fica a sugestão de aproveitamento do know-how adquirido com este trabalho e oferecendo opções de cursos em outros tópicos.

A missão da educação continuada à distância via Internet, não é substituir a educação presencial e o professor. Mas pode-se afirmar que ela poderá trazer, sim, novos horizontes e desafios à figura do docente, às instituições de ensino e permitir aos profissionais formados que se mantenham em contato com as últimas novidades tecnológicas e com a Universidade durante toda a sua carreira profissional.

 

11 – Referências Bibliográficas

 (Aretio, 1996)            ARETIO, L. G. La educación a distancia y la UNED. Madrid: Impresa, 1996

(AulaNet, 2001)             PROJETO AulaNet. Disponível em: <http://aulanet.les.inf.puc-rio.br/aulanet>. Acesso em: 20/Fev/2001.

(Brasil, 1998)              BRASIL. Decreto n. 249, de 10 de fevereiro de 1998. Diário Oficial da União.

(Classroom, 2001) Classrrom 2000. Disponível em <http://www.cc.gatech.edu/fce/eclass>. Acesso em: 01/Mar/2001.

(Demo, 1998)             DEMO, P. Questões para a teleducação. Petrópolis: Vozes, 1998.

 (Freire, 1994)             FREIRE, P. Pedagogia da Esperança. São Paulo: Paz e Terra, 1994.  245p.

(Galera, 1998)             GALERA, J.M.B. Missão brasileira sobre educação a distância na Inglaterra e Espanha. Brasília: CONSED, 1998 (Relatório Técnico CONSED)

(Linn, 1996)             LINN, M. C. Cognition and distance learning. Journal of the American Society for Information Science, v. 47, n.11, p. 826-842, 1996.

(Macedo, 1999)             MACEDO, A.;  PIMENTEL, M. G. C.;  FORTES, R. P. M. StudyConf: infra-estrutura de suporte ao aprendizado cooperativo na WWW.  Revista Brasileira de Informática na Educação, n. 5,  p.  77-99, 1999.

 (Moore, 1996)              MOORE, Michel G. Distance Education: a systems view. Belmont (USA): Wadsworth Publishing Company, 1996. 290p.

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(Moreira, 1995)             MOREIRA, E. S. ;  NUNES, M. G. V.; PIMENTEL, M. G. C.; Design issues for a distributed hypermedia-based tutoring system (HyDTS). IASTED International Conference – Computer Applications in Industry,  4. Proceedings. Cairo, 1995.  p. 108-113. 

(Nunes, 1997)              NUNES, M.G.V. et al. Sashe: autoria de aplicações hipermídia para o ensino. Simpósio Brasileiro de Informática na Educação. 7.  Anais.  São José dos Campos, 1997.   v.1, p.425-440.

(Pansanatto, 1998)   PANSANATTO, Luciano T. E. EHDM: método para projeto de hiperdocumentos para ensino. São Carlos: 1998. Dissertação (mestrado) - Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo.

 (Santos, 1998)             SANTOS Jr, J. B. Documentos estruturados para o domínio de aplicação ensino: modelagem, autoria e apresentação no ambiente WWW. São Carlos: 1998. Dissertação (mestrado) - Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo.

(Silva, 2000)             SILVA, E. Q. “Agente Gerenciador de Cursos a Distância via Internet”. São Carlos, 2000. Dissertação (mestrado) - Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo.

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 (WebCT, 2000)             WebCT homepage. Disponível em: <http://homebrew1.cs.ubc.ca/webct/>. Acesso em: Mai/2000.